segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Mike Whitney / A "catastrófica derrota” de Obama na Ucrânia


Mike Whitney
15.Set.14 :: Outros autores
Moscovo apelou repetidamente ao fim da violência e à retomada das negociações, mas cada apelo foi recusado pela marionete de Obama em Kiev levando a nova série de hostilidades. Washington não quer a paz. Washington quer a mesma solução que impôs no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria. Mas o “pivot” de Washington está a esbarrar contra um muro.


“Estamos a assistir actualmente a um acontecimento histórico e épico. O exército regular da Ucrânia e os batalhões punitivos estão a sofrer uma derrota catastrófica a sul de Donetsk… Não é ainda claro como é que a Junta tenciona evitar aqui uma derrota total … Ao delapidar as brigadas de combate mais capazes em operações ofensivas sistemáticas, a Junta sofreu enormes perdas e ao mesmo tempo uma esmagadora derrota puramente militar. A frente sul desmoronou-se.”
- The Southern Front Catastrophe – 27 de agosto, 2014″, Coronel Cassad, Informação Militar, Novorossiya, Ucrânia
“Os relatórios que chegam da Novorussia (Nova Rússia) são pouco menos que incríveis… segundo algumas fontes, as forças novorussas ultrapassaram Mariupol pelo norte e entraram na região de Zaporozhie!”
- News from the Front, Vineyard of the Saker
Barack Obama empurrou a Ucrânia até à beira do colapso político, económico e social. Agora, pretende acusar a Rússia pelo mal que provocou. É absurdo. Moscovo não é de nenhuma forma responsável pela queda da Ucrânia na anarquia. Tudo se deve a Washington, tal como no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e agora na Síria se deve a Washington. Se querem culpar alguém, culpem Obama.
Os problemas na Ucrânia começaram quando o Departamento de Estado derrubou em Fevereiro o presidente eleito e o substituiu por um títere obediente que aceitou seguir as directivas de Washington. O novo governo da “junta” lançou rapidamente uma guerra em toda a escala contra os ucranianos de fala russa no leste, a qual dividiu a população civil e levou o país à ruína. O plano de “pacificação” do leste foi cozinhado em Washington, não em Kiev e certamente não em Moscovo.
Moscovo apelou repetidamente ao fim da violência e à retomada das negociações, mas cada apelo foi recusado pela marionete de Obama em Kiev levando a nova série de hostilidades. Washington não quer a paz. Washington quer a mesma solução que impôs no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria, isto é, um estado falhado caótico em que as animosidades étnicas e sectárias sejam mantidas em efervescência, de modo a poder assim instalar sem resistência bases de operações, de modo a que os recursos possam ser extraídos à vontade e assim um país formalmente independente possa ser reduzido ao “estado de permanente dependência colonial” (Chomsky). É esse o plano de jogo que Washington está a seguir. A mesma regra se aplica à Ucrânia. A única alternativa que o povo tem é armar-se e lutar. Que é o que tem feito.
Donetsk e Lugansk formaram milícias e fizeram guerra ao inimigo. Enfrentaram o exército ao serviço de Obama no campo de batalha e transformaram-no em carne picada. É por isso que Obama lançou os seus propagandistas a mentir sobre a fictícia “invasão russa”. O governo de Obama precisa de uma manobra de diversão porque as forças da Novorússia (também referidas como “separatistas pró-russos”) estão a esmagar as legiões de Obama. É por isso que Washington e Kiev estão em pânico, porque nada disto deveria ter acontecido. Obama imaginou que o exército ia acabar com a insurreição, esmagar a resistência e fazê-lo dar mais um passo para o seu objectivo de estabelecer bases da NATO e sistemas de defesa de mísseis no flanco ocidental da Rússia.
Bom, e o que aconteceu? As coisas não se passam dessa maneira, nem provavelmente alguma vez irão passar-se. Os combatentes da Novorussia são demasiado duros, demasiado espertos e estão suficientemente motivados para alguma vez serem vencidos pelas ineficazes tropas de Obama. (Ver este curto vídeo e verificar como os rebeldes estão a vencer. Fonte: Vineyard of the Saker)
Putin não enviou tanques, nem artilharia para a Ucrânia. Não precisa. As milícias estão cheias de veteranos de guerra endurecidos que sabem como combater e que são bons nisso. Pergunte-se a Poroshenko, cujo exército tem estado a apanhar pancada no último par de semanas. Veja-se esta notícia de quinta-feira em Itar Tass:
“Na semana de 16-23 de agosto, os combatentes de autodefesa das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk capturaram 14 tanques T-64, 25 veículos de combate de infantaria, 18 veículos blindados de transporte de pessoal, um veículo blindado de reconhecimento e patrulha, um sistema de lançamento múltiplo de rockets Uragan, duas armas de artilharia autopropulsadas Gvozdika, quatro obuses D-30, quatro morteiros, um sistema de defesa aérea ZU-23-2 e 33 veículos.” (Milícias do leste da Ucrânia apreendem grande quantidade de armamento ucraniano, Itar Tass)
Dá para ver o panorama? O exército ucraniano está a ser batido em toda a linha, o que significa que a gloriosa “estratégia do pivot” de Obama simplesmente esbarrou num muro de pedra.
Em poucas palavras: a Rússia não invadiu a Ucrânia. A propaganda nos media tenta esconder o facto de que as Forças Armadas da Novorussia (NAF, apelidada de “separatistas pró-Rússia”) estão a desancar o exército ucraniano. É isso que se passa. E é por isso que Obama e a sua pandilha de facínoras neoconservadores estão furiosos. É porque não sabem o que fazer a seguir que eles voltam à posição que é habitual em todos os casos: mentir que nem uns doidos até assentarem num plano.
Claro que vão acusar Putin pelo caos em que se encontram. Que mais podem fazer? Estão expondo suas cabeças às mãos de um exército superior. Como explicar isso lá em casa? Veja-se o seguinte excerto do escritor de ficção nº1 do New York Times, Michael “tubos-de-alumínio” Gordon [1] (o qual não surpreendeu quando fez em co-autoria com a infame Judy Miller peças de preparação para a guerra do Iraque.):
“Decidida a proteger a revolta pró-russa no leste da Ucrânia, a Rússia reforçou o que funcionários ocidentais e ucranianos descreveram como uma invasão secreta na quarta-feira, com o envio de tropas blindadas através da fronteira, ao mesmo tempo que alastrava o conflito a uma nova parte do território ucraniano.
A última incursão, que os militares ucranianos disseram incluir cinco veículos blindados de transporte de pessoal, foi pelo menos o terceiro movimento de tropas e armas da Rússia através da parte sueste da fronteira nesta semana, cortando ainda mais o ímpeto das forças ucranianas contra os rebeldes nos redutos de Donetsk e Lugansk mais a norte. A evidência de uma possível inversão da situação foi visível na retirada de soldados ucranianos em pânico na quinta-feira em fuga de uma força que disseram proveniente da fronteira.” (A Ucrânia anuncia invasão russa numa nova frente, New York Times)
“Invasão secreta”? Digamos que Gordon encontrou um substituto para as armas de destruição em massa. Que surpresa.
Isto nem sequer é boa ficção, é mais como as Histórias de Fadas dos Grimm. E onde estão as fotografias? Se tem provas, Gordon, deixe ver. Mas, por favor, faça melhor do que na última vez, sabe, com essas falsas fotografias de soldados russos supostamente a operar na Ucrânia. Foi outra aldrabice, não é? (Ver: Outro exclusivo NYT-de Michael Gordon?, Robert Parry, Consortium News)
É como o acidente das linhas aéreas da Malásia, não é? Lembremos como Kerry fez uma corrida por cinco programas de TV no dia a seguir à queda do avião, fazendo todo o tipo de acusações espúrias sobre mísseis terra-ar e comboios fantasma russos, sem uma ponta de provas, e depois, no dia logo a seguir, peritos militares russos calmamente mostraram claras provas, a partir de dados de radar e satélite, de que um avião de combate ucraniano era visto aproximando-se do MH 17 momentos antes de este ser abatido (a BBC também entrevistou testemunhas oculares que viram o SU 25 a aproximar-se do avião de passageiros).
Assim, em quem acreditar: em Kerry ou nos factos? E em quem acreditar agora: no “tubos-de-alumínio” Gordie ou no monitor da Organização para a Segurança e Cooperação Europeia (OSCE) Andrey Kelin que ontem disse:
“Dissemos que nenhum envolvimento russo foi detectado, nem há soldados ou equipamento presentes.”
“As acusações referindo veículos blindados de transporte de pessoal ouvidas na semana passada e na semana anterior provaram-se todas falsas na altura e provam-se falsas de novo agora.” (RT)
Repito: “Nenhum envolvimento russo”. Todas as acusações se “provaram falsas.” “Falso” é palavra equivalente a falsificado, espúrio, mentiroso, trapaceiro, o que aliás parece ser a área de especialidade do Gordon.
Quem tenha seguido o conflito sabe como a junta de Kiev apoiada por Washington desencadeou uma guerra contra o seu próprio povo no leste e como bombardeou hospitais, escolas, bibliotecas, apartamentos, edifícios públicos, áreas residenciais, etc., tudo num esforço para arrastar Putin para a guerra que sabotasse a integração económica UE-Moscovo e favorecesse os interesses americanos na zona. É tudo geopolítica, tudo até ao mais ínfimo pormenor. Recordam o pivot para a Ásia? É o que parece ser agora em tempo real. Uma quantidade de gente chacinada para que os tipos da massa em Washington mantenham as garras sobre o poder global por mais um século ou assim.
Bom, essa fantasia pode agora ser posta de lado, principalmente porque um grupo de ex-militares mal-encarados do leste da Ucrânia se constituiu como milícia eficiente e mortal que mudou as coisas de um momento para o outro. Se se acompanhar a evolução da situação pelos blogs que relatam os acontecimentos diários, sabe-se que é essa a verdade. A desorganizada e desmoralizada malta a que chamam Exército da Ucrânia tem sido derrotada em quase todas as refregas contra a milícia da Novorussia. Eis como o blog “Moon of Alabama” resumiu na passada quinta-feira:
“O moral é baixo, o equipamento velho, as munições poucas e todo o objectivo da campanha duvidoso. Agora, mesmo só com uns fracos contra-ataques, a “contra-ofensiva” pô-los a fugir.”
A única coisa que podia ser acrescentada à litania é o facto de serem chefiados pelo maior idiota a ocupar alguma vez um alto cargo, Petro Poroshenko, o gordo bufão que se julga Heinz Guderian a lançar os seus Panzers através das Ardenas até Paris. Que piada!
Até o New York Times admite que o exército ucraniano está bastante desmoralizado. Veja-se o seguinte:
“Alguns dos soldados ucranianos pareciam sem vontade de combater. O comandante da unidade, que faz parte da nona brigada de Vinnytsia, na Ucrânia ocidental, gritou para voltarem para trás, sem resultado. “Está bem,” disse o comandante, “os que se recusam a combater sentem-se à parte dos outros.” Onze homens fizeram-no, enquanto os outros voltaram para a cidade.
Algumas tropas estavam em retirada. Um autocarro da cidade cheio deles passou pela auto-estrada em direcção a oeste com as cortinas roxas a esvoaçar através das janelas partidas pelos disparos.” (New York Times)
Alguma vez se ouviu um comandante perguntar aos seus homens se queriam combater? É patético. É mais que claro que se trata de um exército derrotado. E é fácil perceber como se sente o recruta médio. O jovem trabalhador normal não tem estômago para matar os seus iguais. Não é qualquer coisa que se vá sentir bem a fazer. O que ele quer é que a guerra acabe para ir para casa, e esta é a razão que explica porque estão a ser tão maltratados. O seu coração não está com aquilo. Em contrapartida, os agricultores, os lojistas e os mineiros que formam a milícia estão altamente motivados, porque ao fim e ao cabo não se trata para eles de nenhum jogo geopolítico. A maior parte dessas pessoas viveram nessas cidades toda a sua vida. Agora assistem a vizinhos que são abatidos nas ruas ou retiram amigos dos destroços de edifícios bombardeados. Para estas pessoas, a guerra é real e é pessoal. Defendem as suas cidades, as sua famílias e a sua maneira de viver. Isto tende a reforçar a sua decisão e a concentrar a sua mente. Eis mais alguma coisa do NY Times:
“Os Estados Unidos têm fotografias que mostram a artilharia russa introduzida na Ucrânia, dizem funcionários americanos. Uma fotografia datada da última quinta-feira, mostrada a um repórter do New York Times mostra unidades militares russas movendo artilharia auto-transportada para a Ucrânia.
Defesas aéreas avançadas, incluindo sistemas desconhecidos no arsenal da Ucrânia, foram também usadas para combater o poder militar aéreo da Ucrânia, disseram oficiais americanos. Além disso, disseram eles que os militares russos fazem voar drones rotineiramente sobre a Ucrânia e partilham a espionagem com os separatistas.” (A Ucrânia anuncia invasão russa numa nova frente, New York Times)
Fotos? Quais fotos? O Gordon não tem nenhumas fotos. Ah, mas ouviu um repórter do New York Times que viu uma foto!
É ridículo, mas, também aqui, não será isso o que há a esperar de um jornalista que ajudou a fabricar o pretexto para a invasão do Iraque?
Eis como o ministro russo dos estrangeiros Sergei Lavrov respondeu aos protestos da invasão russa. Disse:
“Não é a primeira vez que ouvimos conjecturas loucas, embora até agora nunca tenham sido apresentados os factos…
Houve notícias de imagens de satélites mostrando movimentos de tropas russas. Afinal eram imagens de jogos vídeo. Acontece que as últimas acusações são da mesma qualidade…
Respondemos persistindo nos nossos esforços para reduzir o banho de sangue e apoiar as negociações sobre o futuro da Ucrânia com a participação de todas as regiões e forças políticas, algo sobre o qual se chegou a acordo em Abril em Genebra e que está agora a ser deliberadamente evitado pelos nossos parceiros ocidentais.” (RT)
Aí têm: houve tanto uma invasão russa como houve armas de destruição em massa, laboratórios móveis de armas, tubos de alumínio, gás Sarin, etc., etc., etc. Tudo um monte de esterco preparado por meios de comunicação servis prosseguindo a agenda de um sistema político belicista que pretende fazer aumentar a todo o custo a conflagração na Ucrânia oriental. Mesmo que isso conduza a uma Terceira Guerra Mundial.
Nota:
[1] Autor com Judith Miller de um artigo de fundo publicado no New York Times a 8 de Setembro de 2002 sobre uns supostos tubos de alumínio que Sadam Hussein teria adquirido para construir uma bomba atómica. A rocambolesca e falsíssima história valeu a Gordon desde então a alcunha do “tubos-de-aluminio”. (Nota da versão espanhola em http://www.rebelion.org/noticias/2014/9/189091.pdf)
MIKE WHITNEY vive no estado de Washington. Colaborou em Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press). Hopeless está também disponível numa edição Kindle. Pode ser contactado em fergiewhitney@msn.com.
Tradução do original em http://www.counterpunch.org/2014/08/29/obamas-catastrophic-defeat-in-ukraine/: Jorge Vasconcelos

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