segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A Turquia, elo mais fraco da aliança contra o Estado Islâmico

A Turquia, elo mais fraco da aliança contra o Estado Islâmico

Nare Hakikat
14.Set.14 :: Outros autores
No complexo atoleiro do Médio Oriente, o “aliado” num lugar é o “adversário” noutro. As ambições da Turquia à condição de potência regional – e as alianças que estabelece, e as hordas de bandidos que apoia - podem explodir-lhe dentro de casa.

Ankara prepara-se para autorizar aviões militares americanos a utilizarem – apenas com objectivo humanitário e logístico - a base de Incirlik. Mas mantém-se reticente perante a ideia de participar numa operação militar aérea ou terrestre.
“A base de Incirlik abre-se ao apoio logístico e humanitário contra o Estado Islâmico” titulava na quarta-feira o jornal turco Radikal. Com efeito, Ankara dispõe-se a autorizar que aviões militares americanos utilizem, unicamente com objectivos humanitários e logísticos, a base de Incirlik, situada no sul do país. Um gesto que era esperado agora que o presidente Barack Obama acaba de anunciar a sua estratégia para destruir o Estado Islâmico.
Convidada a juntar-se à coligação que será constituída para esse objectivo, a Turquia permanece reticente à ideia de participar numa operação militar aérea ou terrestre. Segundo o jornal Yeni Safak, próximo do governo, uma “cimeira de segurança” reunida quarta-feira pelo primeiro-ministro Davutoglu teria aprovado a decisão relativa à base de Incirlik. Com efeito, Ankara sente-se na obrigação de dar provas de uma mudança de atitude face às acusações de, no passado, ter favorecido o desenvolvimento do Estado Islâmico.
Numerosos artigos nos meios de comunicação turcos falam do controlo acrescido nas fronteiras com a Síria e o Iraque bem como da expulsão de estrangeiros considerados susceptíveis de participar nos grupos jihadistas. Todavia, ainda há poucas semanas um campo de treino apresentado como pertencente ao Estado Islâmico funcionava em Gaziantep, no sul da Turquia, de acordo com uma reportagem difundida pela cadeia pública alemã ARD.
Reféns a defender
«Desde o último mês de Abril o controlo das fronteiras foi reforçado. Mas a Turquia está enfiada num tal atoleiro que não conseguirá sair dele com recurso a medidas simples», afirma o jornalista Fehim Tastekin, especialista em assuntos da região. «Desde há três anos que militantes, mesmo que procurados pela Interpol, passaram pelas fronteiras turcas. Quando se estabelecem relações de tal forma anormais com uma tal organização, acaba-se refém dela. Se a Turquia empreende hoje um recuo, a ameaça do Estado Islâmico pode virar-se contra ela.»
Ankara afirma, nomeadamente, recear pela vida dos 49 cidadãos turcos capturados no consulado turco de Mossoul e mantidos reféns pelo Estado Islâmico. Mas o que está a atar as mãos de Ankara não parecem ser apenas esses reféns. Os militantes jihadistas que utilizaram a Turquia como base de retaguarda desde há três anos poderiam ter promovido células que ameaçariam as cidades turcas com atentados. Mas é sobretudo uma política sectária, hostil aos Curdos e favorável ao sunismo, que Ankara não parece ainda ter abandonado, que impede o país de assumir uma posição clara contra o Estado Islâmico.
Passagens clandestinas
«A Turquia apoia a Frente islâmica (reunião de diversos movimentos rebeldes sírios), apresentada com mais moderada do que o Estado Islâmico. Ora a Frente islâmica actua com al-Nosra que, por seu lado, coopera com o Estado Islâmico na frente do Líbano. A Turquia é constrangida pela implicação crescente dos Curdos sírios do YPG na sua luta contra o Estado Islâmico. Recusa também que os shiitas sejam reforçados. Mas quem poderá então lutar contra o Estado Islâmico? As condições que a Turquia coloca estão desfasadas da realidade», considera Fehim Tastekin.
Mehmet Ali Ediboglu, deputado CHP (oposição kemalista) de Antakya, cidade na fronteira síria, verifica poucas mudanças no terreno. «Os militantes continuam a passar para a Síria através da fronteira turca. Simplesmente, agora tentam fazê-lo de forma um pouco mais discreta», afirma. «Vimos camiões que suspeita transportarem ajuda aos jihadistas atravessar de noite, clandestinamente, para a Síria pela aldeia fronteiriça de Bükülmez. As autoridades proibiram a entrada de jornalistas nessa aldeia. O pretenso reforço das fronteiras não passa de poeira para os olhos. As pessoas que as autoridades declaram ter prendido são de imediato libertadas». Cidades turcas como Urfa, próxima de Ragga, na Síria, continuariam dessa forma a ser lugar de passagem de militantes do Estado Islâmico.

  ODiario.info
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