sexta-feira, 13 de junho de 2014

“Time de ameaçados” pelo Estado brasileiro lança campanha em defesa dos direitos humanos

“Time de ameaçados” pelo Estado brasileiro lança campanha em defesa dos direitos humanos

José Francisco Neto
Representantes de movimentos da cidade e do campo se unem para expor as perseguições que sofrem por lutarem por seus direitos; lançamento ocorreu hoje (10), em SP
10/06/2014
José Francisco Neto,
De São Paulo (SP)
Do massacre dos povos indígenas às periferias urbanas. Da luta contra a homofobia aos direitos dos quilombolas. É nessa amplitude de debates que ocorreu nesta terça-feira (10) o lançamento da campanha ‘Linha de Frente: Defensores de Direitos Humanos’. A iniciativa da campanha é das organizações Justiça Global, Terra de Direitos e Front Line.
 
Lançamento da campanha ‘Linha de Frente: Defensores de Direitos
Humanos. Foto José Francisco Neto.
 
Com o objetivo de expor as ameaças sofridas por quem luta pela garantia dos direitos básicos das classes oprimidas pelo Estado, seis lideranças participaram de uma coletiva de imprensa realizada no auditório da ONG Conectas, em São Paulo. Um time composto por mães que tiveram seus filhos assassinados, indígenas e quilombolas que lutam pela demarcação de suas terras e defensores dos direitos das pessoas homossexuais. Por mais que os detalhes de suas lutas sejam diferentes, o ponto em comum é que ambos são perseguidos e ameaçados pelo Estado brasileiro.
Um dos exemplos é o Cacique Babau, liderança indígena do povo Tupinambá, da Bahia. Com fortes críticas ao Governo Federal, que segundo ele é quem promove o verdadeiro genocídio dos índios, o cacique transcorreu por todo o período histórico relatando o massacre e a luta de sua tribo até os dias atuais.
“A ordem é de extermínio total. E quando é com o governo Dilma, ela diz: concordo. Qualquer morte de índio: abafa. Não divulgue no país. E pronto. Assim está declarada uma guerra silenciosa. A situação de violação conseguiu superar o tempo da ditadura”, declara, em tom de voz alto e firme.
Não muito diferente é o caso do Quilombo do Rio dos Macacos, também na Bahia. O local, onde vivem cerca de 70 famílias tradicionalmente há mais de 200 anos, carrega um histórico de violência pela disputa de terra promovida pela Marinha do Brasil.
Rosimeire dos Santos, uma das representantes do quilombo, disse que ela e seu irmão já foram humilhados e torturados por militares da base naval. Sem medo de morrer, ela declara que se o povo de sua comunidade não se levantar, eles não terão a ‘carta de alforria’.
“Lá a gente não tem médico, não tem rede de esgoto, não tem colégio, não tem energia e não tem água. Os militares da base naval entram na comunidade e humilham as pessoas. Já pedi socorro pra Dilma, pro Lula e pro governador da Bahia. Cheguei a me ajoelhar, pedindo socorro, e até hoje esse socorro não chegou. Hoje estou aqui pedindo socorro pela nossa comunidade”, suplica.
PNDH e Copa
Fortes críticas também foram endereçadas ao Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), da Presidência da República. No geral, os defensores afirmaram que é uma ferramenta que te dá uma falsa segurança, como declarou Márcio Marins, do movimento LGBT.
“Muitas pessoas de movimento sociais estavam empenhadas tentando fazer a diferença e a transformação, mas não conseguiram porque o sistema não deixou. Diretores, superintendentes, chefes de gabinetes e ministros não deixavam a política caminhar”, ressaltou.
Os defensores também alertaram que com a Copa do Mundo, que será realizada a partir desta quinta-feira (12), muitos problemas se agravaram. “Isso tudo se agravou com o período da Copa do Mundo com esse processo de higienização, com a retirada dos moradores de rua. Eles quiseram mostrar um país mais bonito, mas pra isso fizeram toda essa higienização”, comentou Marins.
“Em 2006 quando houve as chacinas em São Paulo também teve Copa. A Copa fez com que as pessoas se esquecessem o que tinha ocorrido meses antes, o massacre dos nossos jovens”, lembrou Débora Maria, do Movimento Mães de Maio, se referindo aos Crimes de Maio de 2006.
“Se a gente, do povo Tupinambá, fizer uma festa em nossa casa e convidarmos pessoas de fora, logicamente teremos que arrumar a nossa casa e estarmos todos felizes. Como que você quer receber visitas na sua casa pra uma festa, se você e sua família não estão felizes. Então essa Copa do Mundo tá errada. As pessoas estão sendo perseguidas, ameaçadas. O Brasil tinha que arrumar a casa antes, pra depois convidar as pessoas. É a Copa mais triste de toda a história", finalizou o Cacique Babau. 
Fonte:Brasil de Fato
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