quinta-feira, 17 de abril de 2014

Singapura, brilhos e sombras


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Hanói (Prensa Latina) O nome de Singapura teve relevante notoriedade mundial nos anos 90 do século passado quando fez parte dos chamados "tigres asiáticos" de impetuosos crescimentos, e ainda que a recessão global da década seguinte tenha sacudido seus alicerces, continua sendo uma importante economia com a qual se deve contar.
Apesar de uma extensão territorial de míseros 701 quilômetros quadrados, o menor país do Sudeste Asiático, entre os fundadores da Associação regional (Asean), tem um considerável peso no comércio e investimentos dentro do conjunto dos 10 integrantes do bloco e além, incluindo a América Latina.

Denominada cidade-Estado, chegou ao nível de desenvolvimento em que se encontra depois de vários séculos de administrações estrangeiras sob sultanatos indianos, invasões procedentes da ilha de Java, arrendamento comercial pela Companhia Britânica das Índias, convertida depois em colônia do império e ocupada pelo Japão na Segunda Guerra Mundial. Tornou-se independente em federação com a Malásia em 1963 mediante um arranjo de descolonização delineado pela metrópole, mas dois anos depois se separou para trilhar seu próprio rumo.

Toda referência à cidade-Estado alude inevitavelmente a que é o quarto centro financeiro global, possui o porto que maneja o maior número de toneladas de cargas e o terminal aéreo mais espetacular por sua avançada tecnologia, dimensões e multiplicidade de surpreendentes serviços.

A economia depende principalmente das exportações, fundamentadas no setor manufatureiro que em 2005 já representava 26 por cento do produto interno bruto e se estendeu rapidamente à indústria química, ao refinamento de petróleo com a maior planta da Ásia, a engenharia mecânica e as ciências biomédicas.

Chama a atenção que o investimento de Singapura em ativos na América Latina, a um ritmo de crescimento anual de 7,7 por cento, atingiu em 2010 um montante de 35 bilhões de dólares de 400 empresas registradas, e em 2013 forneceu ao México 17 caras plataformas petroleiras.

Entidades internacionais avaliadoras avaliam Singapura no primeiro lugar para fazer negócios, o segundo mais competitivo e inovador da Ásia, bem como o menos burocrático e corrupto.

Alguns especialistas acham que talvez seja o único dos países do chamado Terceiro Mundo inserido na negociação da controversa Associação Transpacífica, que consegue sair airoso num eventual pacto no qual participam vantajosamente Estados Unidos, Japão e Austrália.

Graças ao seu auge econômico pode expandir os serviços de transporte com uma moderna rede, que nestes momentos se projeta estender ao vizinho Malásia, em um ambicioso projeto conjunto de circulação rápida que fortaleça os estreitos vínculos bilaterais.

Ambos estados enfrentam ademais em comum os efeitos contaminantes de incêndios florestais periódicos nas ilhas próximas indonésias de Riau, causa de atritos e preocupação da Asean.

Singapura também se converteu em um dos 10 principais destinos turísticos mundiais nos últimos 50 anos, segundo o vice-ministro de comércio e indústria S. Iswaran, ao passar de 18 mil visitantes em 1963 aos prognosticados 16,8 milhões em 2014, que representarão rendimentos de 18 bilhões de dólares.

Ao dispor de todas essas fontes para uma população de algo mais de cinco milhões de habitantes, pode dedicar significativos investimentos em coberturas médicas de alto nível e num sistema educacional de ponta, que colocou o país, ao lado da Coreia do Sul, à frente nas provas CALCA sobre conhecimentos e capacidades de estudantes para resolver problemas.

Mas este último teve sua contrapartida para ambos líderes que registram alguns dos mais alarmantes índices de suicídio entre crianças e adolescentes pela asfixiante pressão que sofrem nas escolas, em um meio que incentiva a competitividade em excesso.

Outro reverso do sucesso econômico identifica-se nas crescentes taxas de obesidade, diabetes e mortes cardiovasculares, causadas pelo consumismo irrefreável.

Depois de décadas de uma aparente estabilidade social, em dezembro de 2013 estourou um motim de protesto na comunidade de trabalhadores imigrantes indianos, que analistas internos interpretaram como primeiro sinal de uma explosão demográfica.

Meios semi-oficias atribuíram-lhe um caráter racial, dada a multiplicidade de etnias que convivem no país, mas especialistas apontaram que o ocorrido refletiu o descontentamento entre mais de um milhão de sul-asiáticos contratados para realizar os trabalhos sujos. O acadêmico local Mukul Asher opinou, em entrevista de imprensa, que "Singapura se vale desses trabalhadores com baixos salários e condições de vida para manter sua competitividade e altas taxas de crescimento".

Um repórter do jornal The Straits Times mostrou os recintos de alojamento de imigrantes de Bangladesh, onde se amontoam em estreitos dormitórios, sem suficiente ventilação, irregulares fornecimentos de água e endemia de insetos.

Informou que todos eles, junto aos nacionais do Myanmar, empregam longas horas no transporte e em seus trabalhos pelo que recebem 20 dólares diários, muito abaixo do salário mínimo dos singapurenses e insuficientes para enfrentar o custo da vida.

Já de por si a diversidade étnica da população nacional se reflete em 76 por cento de chineses, 13 por cento de malaios, quase oito por cento de indianos e 1,4 por cento restante proveniente de outros diversos países latino-americanos e europeus.

Esta variedade põe-se de manifesto em quatro idiomas declarados oficiais que são o inglês, chinês (mandarim) e tamil e bahasa, respectivamente da Indonésia e Malásia, enquanto diversas religiões convivem.

42 por cento da população, em sua maioria de origem chinesa, professa em três vertentes principais junto a outras que se têm popularizado, e a seguir lhe seguem o islamismo, o cristianismo com todos seus ramos e o taoísmo.

Singapura, com um sistema unicameral, tem estado governado desde sua independência pelo Partido de Ação Popular, amplo ganhador de todas as sucessivas eleições capitalizando os resultados econômicos e bem-estar atingido pelos nacionais.

Em política exterior o atual premiê, Le Hsien Loong, continua priorizando os vínculos bilaterais com a China, ao mesmo tempo em que dá albergue à frota naval estadunidense na Ásia-Pacífico, entre brilhos e sombras.

*Co-responsável da Prensa Latina no Vietnã.

arb/hr/cc
Modificado el ( miércoles, 16 de abril de 2014 )
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