No
momento em que escrevemos estas linhas, com risco da própria vida,
ouvimos o assobio assassino das balas sobre a cabeça. Vidros
estilhaçados saltam por todos os lados, convertidos em milhares de
projecteis mortais. E com um bocadinho de imaginação até é possível
sentir o trovejar dos canhões não muito longe, ali ao pé da serra. A
terra treme. Caracas é um caos. Caracas? Não. A Venezuela! O país arde
de Norte a Sul. De Este a Oeste. Estamos à beira da guerra civil!...
Quem
se limitar a ver a situação da Venezuela através dos meios de
comunicação da burguesia não pode senão acreditar a pés juntos no que
acabamos de escrever, que é, diga-se já, uma colossal peta. Uma
intrujice que a direita trata de impingir ao mundo – não esqueçamos que
82 jornais da América Latina se confabularam para publicar uma página
diária contra o governo bolivariano – para justificar uma intervenção
militar que ponha ponto final ao processo revolucionário, na certeza de
que ele é a coluna vertebral do grande movimento nacionalista
latino-americano que está a pôr termo ao domínio colonial de Washington
sobre todo o subcontinente. Washington, enquanto instrumento político e
militar ao serviço das grandes multinacionais, está como sempre disposto
a tudo, incluindo uma guerra civil, tal como podemos ver hoje, por
exemplo na Síria, onde as contas lhe estão a sair furadas mas com uma
enorme destruição das infra-estruturas do país.
Isso
é o que está desenhado nos mapas de guerra dos estrategas do Pentágono.
Na Venezuela, uma vez mais, meteram o pé na argola. Mesmo no auge das guarimbas
(barricadas) terroristas, elas só existiram em 18 dos 385 municípios do
país. Depois desceram para nove, logo para seis e mais tarde para duas.
Sempre em municípios governados pela extrema direita aparentada com os
fascistas. Hoje podemos afirmar que estas guarimbas –
encadeadas num golpe lento – estão derrotadas, depois de terem provocado
perto de 30 mortos, vários feridos e milhares de milhões de dólares de
perdas em instalações governamentais e propriedade privada.
A
que se deve este surto de nova violência fascista? A direita não quer
perder os privilégios de sempre e não aceita as 18 derrotas das últimas
19 votações. Para maior desastre, meteu-se no beco sem saída de ter
feito da última eleição autárquica um plebiscito contra o presidente
Maduro. Essa estupidez política saldou-se num fracasso total porque as
forças bolivarianas superaram amplamente as da direita, o que não estava
nos seus cálculos. Agora terá de esperar até 2016 para um eventual
referendo revogatório. A direita não tem paciência e muito menos
esperança de vitória. Daí o recurso ao golpe de estado – rápido ou
lento – uma opção sempre presente na agenda fascista.
Perigo permanece
As últimas sondagens sobre as guarimbas
informam que a população está contra. Últimas Noticias diz que, segundo
uma pesquisa própria sobre 2400 pessoas, elas são rechaçadas por 64%
dos entrevistados. A empresa Pronóstico revela resultados semelhantes:
72,1% vê-as como «negativas» ou «muito negativas». As guarimbas
são um erro político tão grande que Gerardo Blyde, presidente do
município de Baruta e membro do partido promotor das mesmas, declarou
que deviam cessar porque impediam a passagem dos camiões do lixo: «...há
mil maneiras de protestar sem ter de barricar as ruas porque nos
prejudicamos a nós próprios». No mesmo sentido se pronunciou o
presidente do Chacao, de outro partido guarimbero, o próprio
Capriles e várias figuras da oposição. Contudo, nenhum dos presidentes
das autarquias da direita fez algo por impedir essas guarimbas e
as suas polícias limitam-se a proteger os terroristas. Objectivamente,
estavam de acordo com elas, só que não era politicamente correcto
defendê-las e, criticado-as mas permitindo-as, jogavam também ao golpe
de estado porque havia a esperança de os chavistas caírem na provocação
fascista e tudo descambasse numa guerra civil, que justificasse a
intervenção «salvadora» de Washington. O seu cinismo foi tão longe que
pretendiam que fosse o governo nacional a repor a ordem. Ou seja,
queriam que fossem as autoridades bolivarianas a actuar sobre os guarimberos para as acusarem depois de repressão sobre «manifestantes pacíficos».
Esta
nova conspiração fracassou, mas se as autoridades voltarem ao que
oportunamente denunciou Bolívar – a cada conspiração segue um perdão e a
cada perdão uma nova conspiração – não há dúvida de que a direita
voltará a tentar a sua no futuro.
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