sexta-feira, 21 de março de 2014
Unidade Classista - RJ
por Ney Nunes
Um mundo a ganhar, por aqueles que não têm nada a perder.
As recentes greves dos garis da COMLURB e dos trabalhadores do
COMPERJ marcaram o início desse ano em termos de luta de classes em
nosso estado. A primeira foi de curta duração, impactou a vida da cidade
em pleno período do carnaval e obteve uma expressiva vitória econômica,
além de impor uma clara derrota política ao arrogante Prefeito Eduardo
Paes (PMDB). A segunda se estendeu por mais de um mês, teve pouquíssima
visibilidade e terminou com resultados bem abaixo das reivindicações dos
trabalhadores.
Apesar das diferenças acima, as duas greves revelaram algumas facetas
semelhantes que valem ser ressaltadas. As duas categorias estão entre as
camadas mais exploradas da classe trabalhadora, enfrentam condições
duríssimas de trabalho, recebendo pouco acima do salário mínimo. Os
respectivos Sindicatos (Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e
Conservação do município do Rio de Janeiro, filiado a CGTB e o
Sindicato dos trabalhadores da Construção Civil de São Gonçalo e
Itaboraí, filado a CUT), que deveriam estar à frente da luta em defesa
dos interesses desses trabalhadores, se colocaram de forma descarada
como verdadeiros agentes patronais.
No caso dos garis, a diretoria do Sindicato após a assembleia ter
deliberado pela greve, publicou, na calada da noite, um boletim
informando a suspensão do movimento. Depois desse ato de traição à luta
dos trabalhadores, esses sindicalistas de mentirinha se colocaram
inteiramente a serviço do Prefeito, boicotando a greve e assinando um
acordo rebaixado. Não satisfeitos os traíras fizeram mais um comunicado
afirmando que “o Sindicato não foi responsável pela deflagração da
greve”.
Já no COMPERJ nas assembleias conduzidas pelo Sindicato não se permitia
que os trabalhadores fizessem uso da palavra para discutir os rumos do
movimento, apenas os diretores do Sindicato e da CUT podiam falar. Nem
assim eles conseguiram deter a força da greve, foram vaiados em todas as
assembleias. Inconformados, os pelegos e as empresas contrataram
capangas para ameaçar os trabalhadores. Numa das manifestações bandidos
passaram atirando e balearam dois grevistas, isto sim, pode ser
classificado como um verdadeiro ataque terrorista, no qual acabaram
feridos dois operários.
Além de enfrentar aqueles que deveriam estar ao seu lado (os
Sindicatos), os garis e os trabalhadores da construção civil se
defrontaram com a repressão do estado. A PM do governador Sergio Cabral
(PMDB) reprimiu duramente uma passeata dos garis no sábado de carnaval,
espancando, jogando bombas e atirando balas e borracha contra os
manifestantes. Igualmente em Itaboraí foi montado um forte aparato
policial para agir contra as movimentações dos trabalhadores do COMPERJ,
vários confrontos foram registrados, sempre com a marca da brutalidade e
da covardia na ação policialesca contra os grevistas.
Outra experiência similar para essas duas categorias foi como a mídia,
concentrada nas grandes redes de TV, rádio e jornais, cobriu essas
greves, ou seja, da mesma maneira que sempre fazem. Os trabalhadores
quase nunca tiveram voz, mas, o Prefeito, as empresas e os Sindicatos
pelegos obtiveram ampla cobertura. Eduardo Paes e o presidente da
COMLURB se referiam aos garis em greve como “marginais”. De imediato
anunciaram 300 demissões na tentativa de derrotar o movimento, mas não
contavam com a determinação dos garis e com o apoio que grande parte da
população carioca manifestou a greve, reconhecendo a importância do
trabalho desses profissionais para a manutenção das condições de vida na
cidade.
A disposição de sair para a luta demonstrada por aqueles que, muito
pouco, ou quase nada, têm a perder, indica que o processo iniciado com
as jornadas de junho de 2013 se desdobra para as mobilizações dos
trabalhadores, o que pode significar mudanças profundas na conjuntura
social e política brasileira. Não é por acaso que o exemplo dos garis do
Rio de Janeiro já "contaminou" os trabalhadores da limpeza urbana em
varias cidades. A greve no COMPERJ vem na esteira de outras realizadas
em grandes obras. Outras categorias superexploradas, como os motoristas e
cobradores de ônibus, retomam também o caminho das greves.
Todo esse movimento se defronta com o governo do PT/PMDB e seus sócios
menores trabalhando a serviço das grandes empresas capitalistas. A
fórmula deles é a mesma, quando a economia está aquecida só oferecem
migalhas aos explorados, já ao menor sinal de crise ou diminuição da
atividade econômica, tratam de intensificar os mecanismos de exploração
sobre a classe trabalhadora. Nossa luta, portanto, não deve se limitar
aos resultados imediatos, esses apenas sinalizam que a causa fundamental
das nossas péssimas condições de vida e trabalho é o sistema econômico e
político burguês, este ainda está por ser derrotado.
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