segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Síria / A Guerra Civil dos Escorpiões


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Por Assad Frangieh.
Os confrontos entre o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (E.I.I.L) de um lado e a Frente Islâmica (F.I.) composta por uma dezena de agrupamentos armados unificados recentemente sob a tutela declarada da Arábia Saudita, são de fato uma luta de Sobrevivência e de Poder no comando dos “Mujaheeden de Deus”, o braço armado da ideologia takfirista, chamada de Al-Qaeda.
abu-BakrClique para ampliar a imagem. Abu-Al-Bakr está indicado pela seta
O E.I.I.L tem em seu comando Abu-Al-Bakr-Al-Baghdadi. Um religioso desconfiado que atuou em Fallouja e Samarra, criou um Estado maior de 8 a 13 membros 100% iraquianos e com braço direito um ex-tenente coronel (já assassinado) do Exército de Saddam Hussein, que abdicou do pensamento do Baath e aderiu ao pensamento religioso. Apesar do nome se referir à Baghdad, o comandante é de Samarra e alega descendência da tribo Al-Qoraisch, uma condição para seu posto de Emir do E.I.I.L. As finanças para o E.I.I.L eram recolhidas em pedágios, impostos ilegais aos comerciantes locais e contrabandistas, roubo e revenda de petróleo e também generosas doações de sheiks sauditas, alguns com apoio governamental e outros por convicção mesmo. O comando sempre fazia suas relações publicas através de chefes tribais locais e a inteligência da Arábia Saudita, que nunca negou sua simpatia pelos “sunitas” renegados do Poder do Iraque pós-Saddam.
Al-JulaniClique para ampliar a foto. Abu Mohamad Al Joulani
Um de seus comandados era o sírio Abou-Mohamad Al Joulani que recebeu a missão de organizar a base do E.I.I.L. na Síria sob a denominação de Joubhet Al-Nousra. Por conveniência e golpes de traição, Al Joulani conseguiu estruturar a organização com dinheiro dos mesmos patrocinadores da Península da Arábia em contatos diretos e com um discurso mais regional e coordenado com o interesse do trio turco-saudita-qatarino em suas investidas na Guerra contra o Estado Sírio. Quando o aluno Al Joulani começou se destacar mais que o professor Al-Baghdadi, veio duas ordens: a primeira, se livrar de alguns comandantes bem relacionados com a Turquia e o Qatar que poderiam constituir uma brecha na segurança física e ideológica do E.I.I.L. e uma segunda ordem de declarar a lealdade da Joubhet Al-Nousra ao comando do  E.I.I.L. A primeira ordem foi negada e a segunda ordem questionada abertamente. Até Ayman Al Zawahari, o chefão supremo, entrou na divergência, reconhecendo a autonomia de Joubhet Al-Nousra. Em outros termos, Al-Joulani foi corrompido pelo Poder e pelos mesmos patrocinadores que decidiram apostar nele em suas guerras.
Quando Bandar Bin Sultan declarou a formação da Frente Islâmica para agregar todos os grupos armados que combatem o Estado Sírio, precisou incluir Joubhet-Al-Nusra dentro da frente, num mosaico complexo e contraditório já que a própria Joubhet-Al-Nousra faz parte da lista norte-americana e europeia de terrorismo internacional. Diferente do E.I.I.L. que se distribui na região norte e nordeste da Síria na fronteira turca menos populosa, a Joubhet Al-Nousra se concentra na fronteira oeste da Síria com a Turquia e ao sul com a Jordânia, nas passagens mais populosas em direção ao coração da Turquia e… da Europa.
Nos nove dias de confrontos recentes, as mídias da oposição já falam em mais de 700 mortos dos quais 246 do E.I.I.L., 351 dos outros grupos agregados e o restante civil. Há centenas de detidos entre ambas as partes, com destino indefinido e provavelmente sombrio.
O canibalismo é uma prática comum entre todos os aracnídeos. Nada mais correto do que comparar os terroristas aos escorpiões. Você pode domá-los por um tempo mas não tira o instinto deles. O E.I.I.L. é um escorpião que saiu do controle e não serve mais para os interesses supremos dos Estados Unidos e os interesses regionais dos Sauditas. A meta próxima é destruir o E.I.I.L. na Síria e no Iraque. Porém, acreditar que a Joubhet Al-Nousra será para sempre domesticada e “politizada” dentro de uma frente fictícia hollywoodiana é apenas um jogo de desespero na tentativa de vencer a guerra contra a Síria.
O confronto deverá continuar,  desgastar ambos os lados e servirá apenas para definir melhor o alvo da luta internacional contra o Terrorismo, que cedo ou tarde, será cumprido pelo acordo russo-americano.
A Síria e o Iraque já enfrentam os escorpiões criados pela Saudita, Turquia, Qatar e aliados americanos, árabes e europeus. Senão acabar com eles, será a vez de seus criadores levarem as picadas…

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