Havana, 9 jan (Prensa Latina)
A variedade de mitos e lendas da África Subsaariana deve-se à
multiplicidade de grupos étnicos que a habitam que tinham em grande
estima tudo o relacionado com seus ancestrais e mostram uma poderosa
riqueza imaginativa.
Em qualquer país da região convivem cerca de uma dezena de etnias como
média que guardam os mitos e crenças herdados de antigas gerações, cujas
origens se perdem no tempo.
Ainda quando o território
foi invadido pelos colonialistas europeus, os quais desde o século XV
implantaram um bárbaro sistema escravista causando graves danos às populações autóctones, estas nunca deixaram que seus mitos e ritos desaparecessem.
Suas crenças e a força de seus mitos não perderam espaço ante as ideias
e costumes diferentes que trataram de impor os estrangeiros e seguiram
adorando aos espíritos e gênios que moravam na natureza.
Segundo
essas crenças, aos espíritos fazia-se necessário aplacar e manter
contentes, para que as colheitas não se esgotassem e para que a pesca
fosse abundante. Ambas constituíam os meios fundamentais de subsistência
devido ao escasso desenvolvimento produtivo da sociedade.
O ar, a terra e o rio estavam repletos de espíritos, o que implica o
conceito animista que da natureza tinham as populações subsaarianas, aos
quais se ia e se invocava quando se fazia necessária a ajuda de um ser superior para melhorar ou incrementar a colheita ou a pesca.
Havia também certas lendas nas
quais aparecia o onívoro gigante, Markaque. Para satisfazer seu voraz
apetite precisava devorar animais tão enormes como os hipopótamos e
quando se dispunha a saciar sua sede, alguns dos lagos próximos se viam seriamente minguados.
MITOS DA CRIAÃ�ÃO
Muitos povos africanos
contam também com numerosas lendas para explicar a origem da espécie e,
ao mesmo tempo, elaboraram curiosos mitos sobre a criação do primeiro
homem e a primeira mulher. A narração dos fatos aparece repleta de
inventividade e fantasia.
Segundo contam, havia um tempo em que o
ser superior Muluku, que nas populações centro-africanas esta deidade
suprema era conhecida pelo nome de Woka, se propôs fazer brotar da terra
mesma o primeiro casal do qual todos descendemos.
Muluku que dominava o ofício da semeadura, ou melhor, era um semeador por excelência, fez dois buracos no solo: de um surgiu uma mulher e do outro surgiu um homem.
Ambos gozavam das simpatias e o carinho de seu criador e decidiu lhes
ensinar tudo o relativo à terra e seu cultivo. Proveu-lhes as
ferramentas para cavar e preparar o solo e para cortar ou podar árvores
secas e para fincar estacas. Pôs em suas mãos sementes de milho para
semear na terra e mostrou-lhes a maneira de viver por si mesmos sem
depender de outras pessoas.
No entanto, conta a lenda que o
primeiro casal de nossa espécie desobedeceu todos os conselhos que a
deidade lhe tinha dado e que abandonou as terras, que terminaram se
convertendo em areais e campos ermos.
E assim, o primeiro casal
consumou sua desobediência, com a qual seu criador os transformou em
macacos. O mito ou a fábula conta que Muluku ficou encolerizado e
arrancou a calda dos macacos para pôr nos humanos e nos humanos que
fossem macacos.
Muluku depositou nos macacos sua confiança, enquanto retirava-a dos humanos e disse aos macacos:
Sejam
humanos, e aos humanos, sejam macacos. Uma lenda formosa em sua singela
fantasia que correu de boca em boca por toda a região.
DUAS LUMINÁRIAS
Dentre as numerosas lendas destacam-se as das etnias do Senegal sobre o
sol e a lua. Suas fábulas mostram que as duas luminárias, isto é, tanto
o sol como a lua estavam já considerados como superiores aos demais
astros. Os dois sempre representavam grandes mistérios para o homem
desde a antiguidade.
O mito pretendia estabelecer as diferenças
entre os dois corpos astrais e se propunha explicá-los de maneira muito
simples ainda que carregada de conotações míticas e emblemáticas.
O brilho, o calor e a luz que se desprendem do astro rei impedem que
sejamos capazes de olhá-lo fixamente; em contraposição, pode-se
contemplar a lua com insistência sem que nossos olhos sofram dano algum.
Isso é assim porque em certa ocasião estavam se banhando nuas as mães
de ambas luminárias.
Enquanto o sol manteve uma atitude
carregada de pudor, e não dirigiu seu olhar um instante para a nudez de
sua progenitora; a lua, em contrapartida, não teve problemas para
observar a nudez de sua antecessora.
Depois de sair do banho,
foi-lhe dito ao sol: filho meu sempre me respeitou e desejo que a única e
poderosa deidade abençoe você. Seus olhos - continuou - apartaram-se de
mim enquanto me banhava nua e por isso quero que desde agora nenhum ser
vivo possa olhá-lo sem que a vista fique danificada, nem se cansem seus
olhos.
Os primeiros africanos "homens e mulheres" levaram aos
territórios da América e do Caribe, onde foram escravizados, algumas
dessas lendas; no continente africano essas fantasias do imaginário
popular fazem parte de uma cultura ancestral que prevaleceu apesar da barbárie escravista e seu sucessor, o não menos bárbaro regime colonialista.
* Colaborador da Prensa Latina
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