quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Qual é a verdadeira força das Farc hoje?

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013



Num detalhado e minucioso informe denominado O estado do conflito na Colômbia durante o ano 2013, realizado pela Fundação Paz e Reconciliação, o analista Ariel Ávila e sua equipe investigativa, no capítulo concernente às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo [FARC-EP], conseguem elucidar com dados fácticos como se encontra essa guerrilha no presente, em meio a uma negociação de paz em Havana.


Assim as coisas, o documento revela que as FARC hoje têm pouco mais de 11 mil combatentes, nove mil menos dos que tinha nos tempos do processo de paz em El Caguán. Não obstante, segundo este estudo, se calcula que entre membros do Partido Comunista Clandestino, do Movimento Bolivariano, milicianos e pessoas que, em certo grau, são colaboradores, esta guerrilha não contaria com 11 mil seguidores, mas sim com 40 mil. Um dado que está bastante longe dos 9 mil guerrilheiros que a força pública pensa que deve combater, seduzir e eliminar.


Este movimento guerrilheiro se encontra distribuído em 11 regiões e 242 municípios da Colômbia. Os quais se dividiram em 20 companhias móveis, 21 colunas guerrilheiras e 4 frentes urbanas que se movem clandestinamente nas cidades de Bogotá, Cali, Medellín e Barranquilla. Para obter todo o controle estratégico, as Farc criaram cinco grandes Blocos Guerrilheiros, dois Comandos Conjuntos e um Bloco Móvel.


A respeito dos golpes obtidos pela Força Pública entre janeiro e setembro de 2013, se apresentaram 815 desmobilizações; ademais, as capturas foram 1927, quase 100 menos que no ano imediatamente anterior. O que, sim, aumentou um pouco foram as baixas, das quais se tem o registro de 361 abatidos nos primeiros nove meses do ano em curso. Enquanto que, na outra margem, o Estado pôs exatamente 288 mortos e a considerável soma de 1991 feridos causados pela investida desta guerrilha que não deu seu braço a torcer, apesar de encontrar-se em plenos diálogos de paz. De fato, as ações armadas que protagonizaram tiveram a mesma média que as do ano 2011, quando apenas começaram os diálogos; neste ano se contabilizaram 2075 ataques.


Nas panelinhas dos meios de comunicação e dos analistas da guerra se começou a forjar a hipótese de uma suposta divisão entre as Farc pelo processo de paz. Se chegou a pensar que o Bloco Oriental e o Bloco Sul não estavam de todo convencidos da deixação de armas e, por isso, estavam atuando como roda solta, sabotando as negociações de seus superiores em Cuba. No entanto, dentro da trégua natalina do ano 2012 e agora na de 2013, foram os grupos que mais respeitaram ditas condições. Não por isso estes dois blocos deixaram de ser os mais efetivos; por fora dessa trégua foram os que mais atuaram, inclusive causando mais de 200 atentados contra a infraestrutura energética e petroleira do país.


Em graça de discussão, segundo o informe, arremeter contra a empresa privada que extrai petróleo e energia foi o grande objetivo durante os últimos anos para as Farc. Durante o ano de 2013, a infraestrutura energética do país sofreu 65 atentados diretos, enquanto que outros 170 golpes de pequeno e alto impacto foram realizados contra oleodutos e demais estruturas do ‘ouro negro’.


Talvez por isso o país hoje conta com 14 grandes estruturas militares criadas para manter a salvo as milhares de torres de energia e dos diferentes oleodutos em toda a extensão do território nacional. Ademais, desde o ano 2002 até o momento foram criadas 17 brigadas móveis para proteger as mais de 130 companhias energéticas e petroleiras que trabalham em solo colombiano.


Porém, a estratégia armamentista do Estado parece não ter sido a melhor. Se tapou a cabeça, porém deixou a descoberto os pés. Exemplificando: “em Arauca, por exemplo, 81% do total da tropa do estado vigia a infraestrutura energética e só 19% combate”, revela o documento, o qual deu um poderio guerreirista à guerrilha na referida zona do país. Por sua vez, as Farc impulsionaram um plano de extorsões no qual conseguiram intimidar aos empresários estrangeiros. O objetivo das “vacinas” não são as companhias como tal, mas sim seus empreiteiros, os quais se encontram desprovidos de qualquer segurança. Se cita o caso, por exemplo, da companhia argentina Pluspetrol que, ante assédio a seus trabalhadores, decidiu abandonar o país.


Resulta paradoxal crer que uma guerrilha com apenas 11 mil homens, ou os 9 mil que o próprio Estado registra, exerça tanto poder nas políticas da Colômbia se se tem em conta que atualmente –entre mulheres e homens- o país conta com pelo menos 500 mil membros inscritos na sua Força Pública. Mais de 1% da população colombiana, diz o documento. “Ao analisar as diferentes regiões onde operam, se poderia concluir que as FARC nunca estiveram tão fragilizadas, como se disse no segundo mandato de Álvaro Uribe”, consegue concluir este valioso estudo de Paz e reconciliação.


*O informe da Fundação Paz e reconciliação pode ser acessado na íntegra na página web www.pares.com.co


Tradução: Joaquim Lisboa Neto

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Começa 18º ciclo de negociação entre governo colombiano e Farc


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Negociadores das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do governo retomaram ontem (17) os diálogos pelo fim do conflito armado no país. A delegação do governo seguiu para Cuba na tarde do dia (16) para continuar o debate sobre o problema das drogas ilícitas, o terceiro item da pauta de negociação.

No dia 8 de dezembro, as Farc anunciaram um cessar fogo unilateral. A trégua terá um mês e foi iniciada nesse domingo (15), em razão das festividades de Natal e fim de ano. O governo do país, no entanto, manterá a ofensiva militar.

No encerramento da última rodada, as Farc e o governo divulgaram comunicado conjunto com o relatório acerca do acordo parcial sobre a participação política, firmado em novembro. Além do tema das drogas, a agenda tem três assuntos pendentes para discussão: a reparação das vítimas do conflito, o desarmamento e a desmobilização de guerrilheiros e as garantias para o cumprimento dos acordos firmados no pós-conflito. Já houve consenso também sobre o desenvolvimento agrário, o primeiro item de negociação.

Há pouco mais de um ano, no início das negociações, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, dizia que esperava que o processo fosse concluído até as eleições presidenciais previstas para maio do ano que vem. Agora, ele já não fala em tempo.

"Não há como falar em uma data para terminar o processo, mas hoje eu estou cem por cento confiante de que vamos conseguir firmar um acordo total com essa negociação”, disse Santos, durante café da manhã promovido na semana passada com correspondentes internacionais, entre eles a Agência Brasil.

O clima deste ciclo de negociações, entretanto, pode enfrentar certa tensão, porque os diálogos serão retomados após a destituição do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro. Ex-guerrilheiro do M-19 e representante importante da esquerda colombiana, ele é um dos grandes apoiadores do processo de paz. Após o anúncio da destituição, as Farc se pronunciaram dizendo que a decisão poderia "afetar o andamento das negociações em Havana”.
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