sexta-feira, 8 de novembro de 2013
A greve dos profissionais da educação em 2013: entre acertos e erros, precisamos avançar! A luta tem que continuar!
UC-RJ
A greve dos profissionais da educação deve ser entendida no conjunto
de mobilizações e lutas que ocorreram no país após “as jornadas de
junho”, em que transporte público, saúde, educação de qualidade e a
contestação aos investimentos públicos nos megaeventos foram temas
recorrentes. Diferentes setores da sociedade não só sinalizavam a sua
insatisfação, como também exigiam respostas do Estado.
Os governos, todos comprometidos com a lógica do capital, apressaram-se
em rebater com propostas de redução ou congelamento de tarifas nos
transportes, promessas de “reforma política”, destinação de royalties do
petróleo para a saúde e educação – privada inclusive. A mídia burguesa
fazia sua parte, tentando domesticar as manifestações e condenando os
“excessos“, com a ajuda inconsciente – queremos acreditar – de campos
equivocados da dita esquerda. Deveria ser tudo passageiro.
É nesse contexto que os movimentos sociais organizados, sindicatos e
partidos políticos comprometidos com a classe trabalhadora assumem um
papel fundamental. Era necessário dar continuidade ao clamor popular das
jornadas de junho, era preciso qualificar e aprofundar alguns debates,
denunciar as falácias dos governos, romper com as falsas verdades da
mídia burguesa. Essa luta deveria continuar onde havia começado: nas
ruas.
A nossa greve cumpriu um importante papel: voltamos às ruas com apoio
popular, com diversos movimentos sociais organizados que também pautaram
a suas reivindicações. Qualificamos o debate sobre educação pública com
a população levantando temas como a privatização e a meritocracia,
incompatíveis com uma educação de qualidade e com os interesses dos
trabalhadores. Nesse aspecto, fomos vitoriosos.
Tensionamos o estado burguês a mostrar a sua verdadeira face, pois na
ausência de argumentos resgatou as antigas práticas fascistas de
repressão aos trabalhadores organizados. Ficou claro para a sociedade
que essa mesma política de segurança pública que há anos faz vítimas nas
favelas também reprime sem limites todos aqueles que ousam se opor à
opressão, seja na educação, na saúde ou nas remoções de populações para
atender a interesses empresariais. Nossa luta foi e é fundamental.
Contudo poderíamos ter avançado mais. Houve erros de avaliação quanto à
dimensão política de nossa greve, que poderia ter sido apontada para
todas as redes públicas de educação do Estado do RJ, já que praticamente
todas elas são permeadas pela mesma lógica e regida pelos mesmos
princípios contra os quais os profissionais da educação se insurgiram. A
ausência de uma mediação, papel da diretoria do sindicato, entre as
diferentes posições que compõe a vanguarda da categoria gerou
desconfianças e inseguranças que minaram o movimento.
Nesse sentido, a inexistência de um fundo de greve também mostrou-se
aguda, exigindo quase uma disposição à “imolação” dos militantes da
greve frente ao crescimento da intransigência e covardia do governo.
Soma-se a isso fato de que, por mais que alguns ignorassem, a conjuntura
geral não fez com que o movimento da rede estadual deixasse de ter
algumas especificidades. Embora situado no momento atual de muitas lutas
e grande desgaste dos governos, é marcado também, entre outras coisas,
pela memória desmobilizante dos sucessivos erros em greves e
paralisações anteriores e pelo afastamento entre grande parte da
categoria e o Sepe.
Num dado momento, tornou-se gritante um descompasso entre a diretoria do
Sepe e a base da categoria. Guardadas as devidas proporções, ficou
evidente que havia também muitas divergências de fundo entre os grupos
que compõem a própria diretoria. Com suas próprias características,
havia ainda grande descompasso no interior da própria base, entre seus
diferentes setores, inclusive os que se arrogam a autoridade de falar
por toda a base. Não bastasse isso, houve ainda um descompasso entre as
greves no município e no estado, as quais, embora simultâneas, estiveram
pouco articuladas. A maior parte da diretoria priorizou a greve
municipal, causando a sensação de abandono da rede estadual.
A falta de percepção de algumas “correntes” de que a conjuntura era
composta por movimentos com ritmos diferenciados e, portanto, demandavam
formas de enfrentamento diferenciadas, passou um sentimento de derrota
para setores da categoria, especialmente quando a greve se esgotava
taticamente. Tudo isso ocorre em meio a uma feroz disputa interna. A
disputa interna no sindicato é essencial, mas o que deve estar em
primeiro lugar são as necessidades da categoria, sem autofagia. Isso nem
sempre foi levado em conta, deixando os militantes em greve expostos.
Além disso, é bom lembrar que uma luta pressupõe a existência de pelo
menos dois lados e que as suas consequências não dependem, portanto,
apenas das ações de cada um deles isoladamente. Ambos se movem. A
resultante de uma luta é síntese de múltiplas determinações, sendo
incorreto, portanto, pretender reduzir a um ou poucos fatores. Além dos
erros cometidos do nosso lado, não se deve esquecer que o governo age
para nos dividir, amedrontar, desgastar, etc., não sendo razoável
subestimar em demasia seus meios para tais fins.
Vacilações na condução dos atos de rua criaram feridas abertas. Posições
equivocadas – na forma e no conteúdo – em relação a grupos como os
Black Blocs, decisões unilateriais e posturas dúbias quanto ao caráter
de classe tiveram consequências nefastas, como a criação de um certo
clima golpista no seio do Sepe. Houve hesitação até mesmo na relação com
a Polícia Militar, por parte tanto de grupos que estão na diretoria do
sindicato como de outros que não estão. Por fim, o excessivo peso dado a
aspectos jurídicos e parlamentares constitui-se em um erro político,
pois trata-se de um estado de classe, instrumento de dominação (por mais
mediações e complexidades que apresente), um estado burguês, que sempre
utilizará de seu aparato judiciário e legislativo para sua defesa,
nunca para a defesa da classe trabalhadora.
Acreditamos que um balanço do movimento é extremamente importante e
necessário, porém o seu objetivo deve ser o de fortalecer o sindicato, a
serviço dos profissionais da educação, de um projeto contra hegemônico
de educação, numa perspectiva maior de transformação da sociedade.
Hoje temos tarefas prioritárias:
- intensificar o debate com a base da categoria e com setores organizados dos trabalhadores;
- assegurar que não haja retaliações aos que participaram da greve;
- formular propostas profundas para discutir próximo Congresso do Sepe;
- contribuir para o fortalecimento da categoria em si, superando o imobilismo de grandes parcelas;
- construir o fortalecimento da categoria para si, extrapolando o corporativismo e a pequena política;
- fomentar a atuação do Fórum Estadual Em Defesa da Escola Pública, indo além da dimensão sindical e incrementando a luta em unidade com os movimentos que apoiaram nossas pautas nas ruas;
- fazer a defesa acirrada dos princípios e práticas de sindicato pela base e organização no local de trabalho, desenvolvendo o papel dos conselhos de representantes de escola;
- massificar a bandeira do poder popular nas escolas, com eleições diretas para diretores, conselho escolar como instância máxima deliberativa e fim dos agentes do governo dentro das unidades;
- por um plano estadual de educação da classe trabalhadora;
- contra o privatismo, ampliar o debate por um projeto de educação, associado ao projeto de uma nova sociedade.
- contribuir para o fortalecimento da categoria em si, superando o imobilismo de grandes parcelas;
- construir o fortalecimento da categoria para si, extrapolando o corporativismo e a pequena política;
- fomentar a atuação do Fórum Estadual Em Defesa da Escola Pública, indo além da dimensão sindical e incrementando a luta em unidade com os movimentos que apoiaram nossas pautas nas ruas;
- fazer a defesa acirrada dos princípios e práticas de sindicato pela base e organização no local de trabalho, desenvolvendo o papel dos conselhos de representantes de escola;
- massificar a bandeira do poder popular nas escolas, com eleições diretas para diretores, conselho escolar como instância máxima deliberativa e fim dos agentes do governo dentro das unidades;
- por um plano estadual de educação da classe trabalhadora;
- contra o privatismo, ampliar o debate por um projeto de educação, associado ao projeto de uma nova sociedade.
Manter viva a chama das jornadas de junho. À luta companheiros!
BASE DE EDUCADORES DA UC-RJ
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