sexta-feira, 29 de novembro de 2013
A quase
impossibilidade da astronomia observacional nunca foi tão clara. Com
astrônomos tendo registrado tantos eventos em tantos instrumentos
diferentes, simplesmente apontar telescópios para as estrelas tem
proporcionado retornos decrescentes. Para que continuemos avançando,
precisamos nos voltar a eventos mais incomuns e até violentos do
universo, a fim de conquistar dados verdadeiramente novos. Não é apenas
uma questão de paciência, uma vez que a indústria do espaço não pode
configurar telescópios suficientes para olhar para todos os lugares ao
mesmo tempo. Com tanta coisa esperando pelo zoom certo, poderia parecer
uma causa perdida tentar capturar eventos inesperados de curta duração.
E, no entanto, esta semana, um evento
importante aconteceu em algum lugar do universo, agora denominado GRB
130427A, e uma “armada de instrumentos” em todo mundo o viu produzir uma
explosão de raios gama mais poderosa do que o que muitos pesquisadores
acreditavam ser teoricamente possível. Aparentemente, vimos o colapso de
uma estrela gigante e o nascimento de um buraco negro, evento descrito
como um “momento de pedra de Roseta” para a astronomia – em referência
ao fragmento de uma coluna monolítica que permitiu que os hieróglifos
egípcios fossem decifrados. Ele enviou informações que os astrônomos
ainda estarão estudando por muitos anos, e, por mais que ainda seja cedo
para chegar a qualquer conclusão, já existe uma excitação generalizada
sobre a absoluta novidade no fenômeno.
E, no entanto, o GRB 130427A só durou
cerca de 80 segundos com intensidade observável. Com tanto espaço vazio
de para monitorar, como é que os astrônomos conseguiram observar o
evento, quanto mais documentá-lo tão profundamente? A resposta está no
Novo México (EUA), nos Laboratórios Nacionais de Los Alamos, na forma de
seis câmeras robóticas referidas coletivamente como RAPTOR ou RAPid
Telescópios de Resposta Óptica. Os telescópios RAPTOR são interligados
em rede e todos obedecem um cérebro de computador central. Entre seu
hardware de computação dedicado e suas estruturas robóticas giratórias,
eles podem se virar para ver qualquer ponto no céu em menos de três
segundos.
Como são os dispositivos mais rápidos do
mundo em “resposta óptica”, os telescópios do RAPTOR têm um grande
dever: ter certeza de que você não perca as coisas grandes quando elas
acontecem, porque em astronomia não há segundas chances. Acredita-se que
esta explosão de raios gama seria a mais brilhante das últimas décadas,
talvez do século, e se os astrônomos a tivessem perdido, é bem provável
que ninguém trabalhando hoje teria tido a chance de capturar uma
novamente. Os aparelhos cumpriram seu objetivo. Quando um dos
telescópios vê uma sinal de algo interessante, ele e os outros
rapidamente se reorientam e dão zoom para capturar os pormenores. Os
telescópios têm diferentes especializações – por exemplo o RAPTOR-T, que
vê todos os eventos através de quatro lentes alinhadas com quatro
filtros de cor diferentes.
Ao olhar para as diferenças na
distribuição de cor na amostra, o RAPTOR-T pode fornecer informações
sobre a distância de um evento ou sobre alguns elementos do seu
ambiente. No entanto, o GRB 130427A também foi visto por uma série de
outros instrumentos, detectores de raios gama e telescópios de raios-X
que são muito mais lentos do que o RAPTOR. Os satélites Fermi, NuSTAR e
Swift, da Nasa, conseguiram ver alguma parte do evento durante o seu
desenrolar, porém a maioria dos telescópios se juntou para ver o chamado
arrebol do evento – uma espécie de persistência luminosa que fica no
céu depois de um episódio como este. Este foi um acontecimento
extremamente violento e lançou detritos ao longo de um grande raio. Todo
este raio brilhou por várias horas e os astrônomos observaram quando
ele desapareceu.
A intensidade dos raios gama de alta
energia naquele arrebol desapareceram junto com suas emissões de luz
convencionais. Esse é a primeira destas ligações que os astrônomos
encontraram entre raios gama e fenômenos ópticos. E é apenas o começo
das descobertas que virão desta Pedra de Roseta da astronomia. Podemos
esperar por uma série de atualizações emocionantes ao longo dos próximos
meses, à medida que os astrônomos desvendarem as implicações de terem
testemunhado o nascimento de uma singularidade sem precedentes.
Fonte: Hypescience.com
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