Bertone Souza, o professor de história que mentiu para mim!
Por Cristiano Alves
Existe um
consenso na direita de que "as universidades e escolas brasileiras estão
impregnadas de historiadores marxistas", que promovem a "doutrinação
comunista". Esse tipo de ideias pode ser encontrada em artigos de
filósofos como Leandro Pondé, economistas como Rodrigo Constantino,
sites como o Mises Brasil ou ainda no arquirreacionário Mídia Sem
Máscara. A realidade, entretanto, é bem diferente do que pensam esses
nefelibatas. Aqueles que acompanham ao site "A Página Vermelha" devem
ter ciência de um artigo que critica um jornalista de extrema-direita
escrito por indivíduo chamado Bertone Souza, denominado "Olavo de
Carvalho, um filósofo para racistas e idiotas". Apesar do teor do
artigo, uma rápida troca de ideias no blog deste revelou que este não
difere muito daquele a quem critica. Como já alertava o grande autor
Aldous Huxley, "aquele que promove uma cruzada não pelo seu deus, mas
contra o demônio que existe nos outros corre o risco de tornar o mundo
igual ou até pior". O aparentemente "democrático" e autointitulado
"moderado" Bertone Souza revelou-se ligeiramente um indivíduo
intolerante, de mente estreita, sectário, dogmático e disseminador do
flagelo do anticomunismo, classificado por intelectuais americanos como o
Profº Dr. Michael Parenti como "a mais influente de todas as ideias",
mais do que o comunismo, o liberalismo, o anarcocapitalismo, anarquismo e
outras.
Mas quem é o
tal Bertone Souza? O autor gaba-se de ser professor da UFT e
historiador, o que é ainda mais grave, pois trata-se de um educador e
formador de opiniões para jovens que muitas vezes acreditam ser o
professor uma espécie de "iluminado" que sempre sabe mais do que todos
num país onde o cidadão médio lê em média apenas um livro por ano. Essa
crença é reforçada a partir do momento em que o dito cujo apresenta-se
como tal, inclusive censurando jornalistas em seu blog, ainda que estes
exponham diferentes versões dos fatos. Numa tentativa de desacreditar o
autor de "A Página Vermelha", este acusou o site de ser panfletário
simplesmente por que não vai de encontro às suas visões limitadas e
medievais de mundo, tentando desmerecer e rebaixar A Página Vermelha.
A Página
Vermelha surgiu quando o autor deste artigo, cursando então o 2º ano do
segundo grau, que desde 1997 tem acesso à internet, então acessada a
partir de 00:00 da madrugada para acessar internet discada contando
apenas um pulso na linha telefônica, começou a pesquisar a respeito do
socialismo e principalmente da URSS, principal pais socialista,
verificando nítidos contrastes entre historiadores anglófonos e livros
tradicionais paradidáticos de história. Em suas pesquisas o autor
começou a descobrir coisas que não saiam em livros didáticos de
história, grande parte através de autores como o imortal William "Bill"
Bland, da Aliança Marxista-Leninista do Reino Unido, em língua inglesa. O
autor percebeu que o britânico apresentava fontes que corroboravam os
seus argumentos, que este "matava a cobra e mostrava a cobra", recheando
seus artigos com ampla bibliografia e números estatísticos. A partir
daí e de leituras da obra do historiador belga e médico humanitarista
Ludo Martens, o autor percebeu que muitas coisas não chegavam ao público
lusófono, decidindo assim criar uma página em língua portuguesa que
trouxesse informações sob uma ótica diferente. O site A Página Vermelha
foi um grande sucesso durante seu lançamento, inicialmente hosteado pelo
site da "Hpg", foi visitado por milhares de pessoas, incluindo
descendentes de Che Guevara, por nomes como o Prof. Mestre Lemuel
Rodrigues, um dos maiores, senão o maior, historiador do Rio Grande do
Norte, professor da disciplina de história deste autor, e por juízes
federais(cujo nome será mantido em sigilo) do Sudeste do Brasil, que
contribuíram para o site com o envio de 4 importantíssimas obras,
"Stalin, um novo olhar", do belga Ludo Martens, "A carta chinesa", sobre
o revisionismo soviético e iugoslavo, "Código civil dos Soviets", em
português, e "The Soviet State and the Law", obras raríssimas! No
decorrer deste período, o autor também foi agraciado com a opus "O
assassinato de Júlio César", presente do magíster americano Michael
Parenti após um saudável debate e troca de ideias e conhecimentos. Mas
por que falar de A Página Vermelha? Por que este não se trata de um
"trabalho panfletário", mas de um resultado de mais de 10 anos de
pesquisas epistemológicas em obras de direito e de história de
diferentes correntes historiográficas e diferentes matizes
político-ideológicas, entretanto para o tal profº Bertone Souza, o autor
do site "é só um moleque petulante a escrever asneiras de forma
quixotesca e patética". Saliente-se que o autor desta passagem é autor
da seguinte passagem:
"Cristiano
deve ser mesmo um grande pesquisador para provar que virtualmente todos
os grandes historiadores do mundo nos últimos vinte anos estão errados
em suas pesquisas sobre os massacres e genocídios ocorridos na União
Soviética"
O filósofo
alemão Friedrich Engels escrevia em sua obra Anti-Dühring que "não
existem verdades eternas", ou melhor, que "existem e não existem".
Exemplos de verdades eternas, segundo o sábio teuto, é a verdade segundo
a qual "todas as águas de uma cachoeira caem para baixo", ou que antes
do dia 31 vem o dia 30 no calendário ocidental gregoriano, enfim,
verdades eternas limitam-se a afirmativas pueris. Talvez o professor
Bertone Souza não saiba, mas a história não é uma ciência exata como a
matemática ou a física, mas mesmo essa última, ainda sendo uma ciência
"exata", teve sua estrutura abalada com as descobertas de físicos como
Tesla e Albert Einstein, que até então era um "Zé Ninguém" no mundo da
física. Historiadores podem errar ou usar-se de má-fé conforme sua
agenda política. O professor da UFT, que nem em seus sonhos leu "todas
as obras de história"(algo humanamente impossível), tenta ridicularizar o
autor deste artigo por sua ignorância em obras históricas de correntes
historiográficas que fogem às suas crendices eclesiásticas. A história,
como uma ciência humana, está sujeita a diversas interpretações com
escopo político-ideológico. Um exemplo clássico disso já demonstrado
aqui nessa página é II Guerra Mundial. Se buscarmos um livro soviético
ou mesmo russo sobre a IIGM, ele vai dizer que o grande vencedor da
guerra foi a URSS; se buscarmos o mesmo tema em livros americanos, então
a "verdade" é que a guerra realmente "esquentou" não a partir do início
da Operação Barbarrossa, mas sim a partir do Ataque a Pearl Harbor,
pelos japoneses, e esses autores americanos, para reforçar sua versão
tendem a omitir a participação soviética na IIGM, quando muito dedicando
apenas uma linha numa breve cronologia em que são mencionadas batalhas
na Frente Oriental, dando ao autor a impressão de o combate que envolveu
80% das tropas do III Reich e envolveu diretamente no conflito mais de
50 milhões de pessoas não passou de meros detalhes. Mas como um
historiador pode chegar à verdade real? Através de estatísticas, por
exemplo, de quantos homens foram envolvidos em cada frente. A partir de
estatísticas referentes ao número de baixas de guerra que cada exército
foi capaz de infligir, bem como a partir do número total de perdas de
cada exército. Assim, e só assim, pode-se saber "quem lutou mais" no
conflito. O problema é que para indivíduos como Bertone Souza, números
são irrelevantes, e é de praxe que anticomunistas em geral espumem
quando se fala de números e estatísticas.
Mas voltando aos ataques histéricos do bobalhão acadêmico, será que o nosso reles ignóbil sabe o que é uma "fonte histórica"? Por que se diz, por exemplo, que os nazistas mataram 27 milhões de soviéticos? Por que dados demográficos, numéricos, revelam uma redução populacional durante a época de 1941-1945, os mesmos anos da guerra. Além disso, é possível encontrar no Mein Kampf e em discursos de Hitler a defesa do extermínio de populações da Rússia, Bielorrússia, Ucrânia e de outros povos. Assim, temos uma fonte histórica que revela a intenção de exterminar, de um autocrata anticomunista, e uma fonte história que nos dá números sobre as perdas populacionais ocorridas no período da guerra, de uma fonte demográfica. Mas quantos autores citados pelo profº Bertone Souza trazem pelo menos algum dado demográfico sobre os supostos "milhões de mortos no terrível regime comunista"? Ora, onus probandi incubere acusatio1, quem alega que "o comunismo matou 10, 100 ou 500 milhões" deve estar disposto a provar o que alega", a apresentar-nos estatísticas que revelam uma redução populacional tão gritante e provar sua relação direta com o governo daquele país, lembrando que "morte no comunismo" é diferente de "morte pelo comunismo". Não é culpa do "malvado Stalin" se alguém morre após escorregar no banheiro nem se um soldado acidentalmente dispara contra seu colega na instrução militar de tiro de pistola. Curiosamente, ao contrário do que aconteceu na Alemanha nazista com os judeus durante o Holocausto, cuja população foi seriamente reduzida, o historiador russo Alexander Zemskov nos diz que a população de russos(grandes-russos, russos-brancos e pequenos-russos, isto é, russos, bielorrussos e ucranianos) nos tempos da direção de Stalin aumentou em cerca de 1,3-1,5 milhões por ano, bem diferente do que ocorre hoje em países como a Rússia e a Ucrânia, cuja população encurtou durante a direção de líderes como Yeltsin, Putin, Kuchma e Yuschenko. Obras demográficas como a de E. M. Andreev2, referente à população por completo da URSS, nos dão os seguintes números:
Janeiro 1897 (Rússia): 125,640,000
1911 (Rússia): 167,003,000
Janeiro 1920 (Rússia): 137,727,000*
Janeiro 1926 : 148,656,000
Janeiro 1937: 162,500,000
Janeiro 1939: 168,524,000
Junho 1941: 196,716,000 (início da guerra, nota de C.A.)
January 1946: 170,548,000**
January 1951: 182,321,000
January 1959: 209,035,000
January 1970: 241,720,000
1985: 272,000,000
July 1991: 293,047,571
*Diz
respeito aos dados da RSFSR, novo Estado surgido após a desintegração do
Império Russo, que abrangia mais 30 milhões de habitantes(18 milhões de
poloneses, 3 milhões de finlandeses, 3 milhões de romenos, 5 milhões de
bálticos e 400 mil cidadãos perdidos para os turcos).
**Diz
respeito à população após as perdas da II Guerra Mundial na URSS,
estimadas entre 25 e 30 milhões de vítimas, mais 1,5 milhão em
mortalidade infantil.
Ressalte-se
que esse número vai de encontro aos dados da CIA3, que excluem da
população soviética a população dos países bálticos(Estônia, Lituânia e
Letônia) referentes ao ano de 1991.
Como um historiador sério pode encontrar evidências de que líder X tinha a intenção de exterminar povo Y? Se queremos mostrar, por exemplo, que o General von Trotha, líder da colônia alemã na Namíbia, queria exterminar os nativos hereros, então pesquisamos a sua carta aos hereros e seus resultados:
"Qualquer herero encontrado dentro da fronteira alemã, com ou sem armas ou gado, deverá ser executado. Eu não puparei nem mulheres nem crianças. Eu darei a ordem para que os expulsem e fuzilem. Essas são as minhas palavras para o povo herero" General von Trotha em 1904
Como um historiador sério pode encontrar evidências de que líder X tinha a intenção de exterminar povo Y? Se queremos mostrar, por exemplo, que o General von Trotha, líder da colônia alemã na Namíbia, queria exterminar os nativos hereros, então pesquisamos a sua carta aos hereros e seus resultados:
"Qualquer herero encontrado dentro da fronteira alemã, com ou sem armas ou gado, deverá ser executado. Eu não puparei nem mulheres nem crianças. Eu darei a ordem para que os expulsem e fuzilem. Essas são as minhas palavras para o povo herero" General von Trotha em 1904
Quando falamos da história da União Soviética, há que se tomar em conta que a maioria das obras disponíveis no ocidente, especialmente no Brasil, são obras politicamente motivadas, que podem ou não trazer informações verdadeiras. Segundo o Profº Dr. John Archibald Getty, III(adiante, apenas Arch Getty), doutor pela Boston College e professor(que nos EUA e países desenvolvidos é um alto título acadêmico) da University of California, a esmagadora maioria do que se escreve na historiografia ocidental sobre a União Soviética é falsa, este inclusive propõe uma história alternativa da URSS no século. Este sovietólogo, insuspeito de "partidarismo comunista" ou "propagandismo stalinista", destrói vários mitos criados acerca da figura de Joseph Stalin, e vai mais longe! Conforme bem nos mostra o estudante do curso de história da UnB Paulo Gabriel, "não há nenhuma evidência que aponte a URSS como um Estado genocida", pode-se pesquisar os resultados da pesquisa de John Arch Getty sobre o sistema penal soviético após a abertura dos arquivos no início dos anos 90, pode-se até pesquisar gigantes da história como Robert Thruston, como Yuriy Júkov, membro da Academia de Ciências da Rússia, que não será encontrada nenhuma evidência de "genocídio comunista". Estabelecendo um diálogo entre gigantes da história do mundo ocidental, temos uma convergência de opiniões por parte de historiadores como Arch Getty e Grover Furr, que alegou, num debate universitário, que "a história soviética, assim como a americana, é falsificada sob propósitos políticos". Ressalte-se que A. Getty e G. Furr são os dois únicos historiadores no ocidente que tem acesso aos Arquivos de Moscou em sua língua original, o russo, sendo ambos fluentes na língua, inclusive com trabalhos nela publicados, algumas com grande número de tiragens vendidas, como é o caso da obra "Antistalinskaya podlost"(Vilania antistalinista), de Grover Furr, sobre o Discurso de Khruschov no XX Congresso do PCUS.
Logo quando
alguém afirma que existe uma "falsificação histórica ao redor da
história soviética e especialmente do período de Stalin, isso não se
trata de um "complô para difamar Stalin", trata-se de um fato
politicamente motivado, comum a um país capitalista, atestado por
historiadores internacionalmente renomados como Grover Furr(EUA), Arch
Getty(EUA), Sven-Eric Holmstrom(Suécia), Ludo Martens(Bélgica), Yuriy
Júkov(Rússia), dentre outros, incluindo inúmeros depoimentos de quem
viveu na época. Será que o "ex-toureador" Bertone Souza acredita
piamente que tudo o que vem da boca dos poucos historiadores que ele
conhece é uma "verdade absoluta" e incontestável? Segundo o sábio alemão
F. Engels(Anti-Dühring), somente as bestas e os charlatões acreditam em
"verdades absolutas"! Será que o ex-toureador Bertone Souza já leu ou
pelo menos sabe da existência de historiadores russos na Academia de
Ciências da Rússia? Será que o orgulhoso ex-toureador Bertone Souza já
leu alguma obra em língua inglesa? Ora, um grande sábio alemão, o Dr.
Karl Heinrich Marx, filósofo, aclamado por algumas pesquisas como o
maior filósofo de todos os tempos, nos ensinou há quase 200 anos atrás,
que "as ideias predominantes de uma época são as ideias da classe
dominante". Qual a classe dominante da maioria dos países do mundo? É a
classe capitalista, então nada mais normal que os capitalistas
incentivem obras que difamam, caluniam e injuriam o sistema socialista. E
isso não é "panfletarismo marxista", ora, o coronel Roger Trinquier,
especialista da guerra anticomunista da OTAN corrobora,
involuntariamente, a tese do magíster alemão:
"A
guerra é hoje um conjunto de acções de todas as naturezas — políticas,
sociais, econômicas, psicológicas, armadas, etc. — que visa o
derrubamento do poder estabelecido num país"4
Como vimos,
o coronel anticomunista demonstra a atualidade e veracidade da tese de
Marx, cuja inteligência sobrevive pelos séculos, expondo que é parte
integrante do modus operandi anticomunista a promoção de uma "guerra de
informação". É por isso que se o leitor neste exato momento for a uma
livraria qualquer, ele terá pelo menos 95% de chance de encontrar
exclusivamente obras de historiadores dedicadas a caluniar e difamar o
modelo comunista. Os 5% restantes referem-se a possibilidade dele
encontrar em sua maior parte obras anticomunistas e uma ou duas obras
com uma visão alternativa. É claro que todas essas obras anticomunistas
tentam dar alguma credibilidade aos seus escritos através de métodos
nefastos, por exemplo usando como fontes emigrados colaboradores de
nazistas, obras de professores nazistas e até mesmo apresentando falsas
fotos em suas obras. Joseph Smith, especialista da CIA em "propaganda
negra", isto é, a "ciência da mentira", conceito integrante de
Inteligência Militar, nos diz que utilizou por anos o Senhor Li, o
melhor jornalista de Cingapura, para espalhar mentiras que facilitaram a
intervenção americana no Vietnã, mobilizando a opinião pública. O
espião americano, em sua auto-biografia, expõe-nos uma técnica
comumente utilizada por nomes como Olavo de Carvalho e muitos
historiadores anticomunistas, a mentira sempre de uma forma convincente:
"Dizer
que os comunistas são maus é apenas tagarelice. Apresentar actos maus,
mascarados de comunistas, eis o que pode ter uma credibilidade efectiva"5
Compreender
esse recurso, idealizado por Goebbels, é fundamental para que possamos
entender por que é que todos os dias, em alguma parte do mundo, existe
toda essa histeria antistalinista(em realidade, anticomunista).
Subestimar essa realidade, assim como subestimar os bilhões que o mundo
capitalista investe no anticomunismo, seja através de livros ou grandes
produções cinematográficas é agir como nefelibata, num mundinho ideal
onde "todos são puros e honestos". Para a burguesia e mesmo parte da
esquerda, é inaceitável defender Stalin, isso "foge aos padrões
politicamente corretos" definidos pelo establishment, uma heresia alarmante que deve ser anatematizada.
"Sobre a questão do rock, o sujeito é tão idiota que acha isso uma grande vantagem"
Não há
nenhuma vantagem nisso, nem desvantagem, apenas uma constatação de que
quem afirma que "o rock era proibido na URSS" falta com a verdade!
Desinformado e desconhecedor do que é uma "fonte primária", o palpiteiro
Bertone Souza inclui em sua escatologia a tese de que na URSS o "rock
era proibido". Embora esse tenha depois voltado atrás, após este que vos
escreve ter provado a existência de bandas de rock na URSS como o Pesnyary, Kinó, Samotsvety e BI-2, e até bandas de rock na Polônia como o Czerwony Gitary,
esse lançou o argumento escatológico de que "o rock não, mas o jazz foi
proibido". Ora, como um historiador pode comprovar tal tese? Do mesmo
jeito que alguém poderia comprovar que o estelionato é proibido no
Brasil, isto é, apresentando o artigo 171 do Código Penal Brasileiro.
Esse código legal é a prova que nos apresenta a verdade inexorável de
que "no Brasil o estelionato é proibido". O ex-toureador Bertone não nos
mostra nem sequer fragmentos do direito soviético, seja uma lei,
decreto ou pelo menos uma portaria que comprova a "proibição do jazz na
URSS". Talvez no "Fantástico mundo do bobo" a URSS, Estado de Direito
Socialista, era uma espécie de "bodega" onde tudo funcionava sob normas
orais e informais, "do jeito que Stalin gosta". A fim de tentar
corroborar seu ponto de vista, ele nos dá como "prova" um... blog do
Nassif! Em que pese o respeito por esse jornalista, o artigo peca em
omitir as razões pelas quais a URSS não promovia concertos de jazz(não
promover não é o mesmo que proibir!). O jazz, nos EUA e fora dele, era
um estilo novo e desacreditado por muitos músicos e críticos de cultura,
mas além disso, também era um lugar de reunião de criminosos e
traficantes, o que nos é informado por Malcolm X em sua autobiografia,
que critica o estilo. Bertone nos fala de tal "proibição" como se isso
fosse um erro imperdoável(talvez por seu interesse pessoal no estilo),
mas parece ignorar que foi na época de Stalin que a música soviética
floresceu, tanto a erudita, com grandes compositores como a pianista
Maria Yudina, com compositores como Dmitriy Shostakovich, Alexander
Alexandrov, dentre outros. Além de canções que hoje fazem parte da
idiossincrasia russa como "Katyusha", sobre amor e amizade,
"Smuglyanka", sobre uma bela jovem moreninha, dentre outras que
encontram-se difundidas na rede mundial. Mas a tagarelice de nosso
ex-toureador palpiteiro não para por aí...
"Eu poderia trazer abordagens de autores como Hannah Arendt"
![]() |
Segundo a britânica Frances Stonor Saunders, em Quem pagou a conta?, Hannah Arendt, assim como o ex-presidente FHC, estiveram na folha de pagamentos da Agência Central de Inteligência, CIA |
Ingênuo
como Macabéia e cheio de bazófias, Bertone acha que alguém que estuda o
socialismo e a URSS há mais de 10 anos "nunca ouviu falar de Hannah
Arendt". Bertone por certo acha que todos que o cercam são idiotas. Este
que vos escreve não apenas conhece H. Arendt como sabe quem pagou suas
contas! Frances Stonor Saunders(autor de Quem pagou a conta?),
intelectual britânica, teve acesso aos arquivos da CIA e dos serviços
secretos britânicos, expondo uma lista de intelectuais que direta ou
indiretamente colaborou com a CIA em sua guerra de informação
terrorista, dentre os quais figuram nomes como Fernando Henrique(que
recebeu 145 mil dólares da CIA para fundar o Cebrap), George Orwell,
Louis Armstrong(para promover a ideia de que os EUA eram tolerantes com
os negros) e Hannah Arendt, encarregada de equiparar o comunismo ao
nazismo por uma postura supostamente "de esquerda", no esforço de guerra
ideológica contra o comunismo, uma corrupta intelectual!
Assim, como
o obnóxio professor tira conclusões sobre fato de grande relevância?
Lendo autores que tem fontes indiretas propagandistas do nazismo e
mercenários ideológicos da CIA, umas das maiores organizações
terroristas da humanidade, responsável pela tortura e morte de milhões
de comunistas, golpes de Estado na América Latina, assassinatos de
presidentes ao redor do mundo, formação, treino e patrocínio de grupos
terroristas fundamentalistas islâmicos, corrupção de intelectuais ao
redor do mundo, terrorismo ideológico anticomunista, acobertamento de
criminosos de guerra nazistas, corrupção de chefes de Estado,
monitoramento da vida privada de milhões de cidadãos ao redor do mundo,
dentre outros crimes! Ora, a Macabéia de calças quer formar uma opinião
sobre o socialismo a partir de fontes ocidentais e anticomunistas, é o
mesmo que querer formar uma opinião sobre os judeus perseguidos na
Alemanha a partir de livros editados pelos nazistas. Só faltou mesmo
Bertone sugerir, sem conhecer, o Discurso de Khruschov, que a maioria
dos palpiteiros cita sem sequer conhecer, ter investigado seu teor ou os
interesses aos quais serviu. Não é preciso ser gênio nem superdotado
para chegar a tais conclusões. O eterno amigo e professor dos
trabalhadores e amantes da justiça, o grande Lenin, admoesta seus
pupilos, em suas Obras, a sempre fazer a seguinte pergunta: a que
interesses serve? Aquele que honra ao seu mestre honra a si mesmo!
Palpiteiro
incorrigível, Bertone vomita críticas a governos "genocidas e malvados"
como o da Albânia, China, Coreia do Norte, países que talvez sequer
consegue encontrar no mapa. Para não se estender muito, a Coreia do
Norte é o maior exemplo de que notícias da mídia ocidental que atacam a
nação de Koryo devem ser tidas como falsas até que o contrário seja
provado! Há algum tempo, jornais da burguesia gritavam sobre uma absurda
"lei que proibia mulheres coreanas de usar calças", matéria que
curiosamente não nos dizia o número desta lei nem em que circunstâncias
foi aprovada, se é que existiu. Quando três jovens brasileiros visitaram
a Coreia do Norte, a primeira coisa que flagraram no "inferno
comunista" foi mulheres usando calças, saias e variadas vestimentas,
inclusive militares, em seu regresso ao Brasil até criaram um blog que desmente várias mentiras criadas sobre a Coreia Popular na grande mídia. Para se ter uma ideia do tipo de distorção que se faz sobre a Coreia, uma matéria do portal de notícias G1 sobre brasileiros fazendo turismo na Coreia do Norte nos
mostra como "prova de como o povo é fechado" o fato de que uma criança
se recusou a lhe dar seu endereço para "troca de cartões postais". Em
qualquer país da Europa Ocidental, esse turista poderia ser facilmente
tido por populares como um "pedófilo", por mais inocente que fosse seu
pedido. Como "prova do atraso coreano", um publicitário ficou espantado
por um grupo de coreanos desconhecer a morte de Michael Jackson, como se
isso fosse uma desatualização lastimável. Ora, quantos artistas
coreanos, antes de Psy, conhecemos aqui no Brasil? Há quem pense em sua
visão estreita e etnocêntrica que a Coreia é uma espécie de "zoológico".
"E
sobre o Olavo de Carvalho, eu o critico como extremista de direita como
critico extremistas de esquerda como você. Aprendi com Aristóteles a
arte do equilíbrio e da moderação, coisa que vocês claques nunca
entenderam"
Tão
moderado equilibrado que para Bertone Souza, um regime promovia o
extermínio de negros como o do Apartheid na África do Sul, que segregava
pessoas negras e brancas, proibindo-as até de se casarem, como ocorria
nos Estados Unidos(o casamento de brancos e negros lá era considerado
crime passível de prisão pelo Ato de Integridade Racial de 1924),
ou ainda governos como o da Alemanha nazista, exterminador de eslavos,
negros e judeus; todos esses governos, só para citar alguns, eram
logicamente considerados melhores(ou talvez menos ruim) do que um Estado
que promovia a igualdade social e até criminalizava a prática do
racismo(artigo 123 da Constituição Soviética de 1936). Afinal, Bertone
escreveu claramente que
"O comunismo foi a maior tragédia humanitária do século XX".
O leitor
pode pensar por alguns instantes, que esse artigo corresponde a algum
tipo de "quixotismo" ou mesmo de uma "ira" sem respaldo racional.
Thommas Mann, novelista alemão que fugiu da Alemanha nazista, um dos
maiores do século XX, escreveu certa vez que a "tolerância torna-se um
crime quando é aplicada para com o mal". Quando alguém compara o
comunismo ao fascismo, temos a resposta na própria obra de Mann, citado
por Losurdo em "Stalin, a história de uma lenda negra":
“Colocar
no mesmo plano moral o comunismo e o nazifascismo, como sendo ambos
totalitários, no melhor dos casos é superficialidade, no pior dos casos é
fascismo. Quem insiste nesta equiparação pode bem considerar-se
democrático, mas na verdade e no fundo do coração já é... fascista...”
Assim, como
vemos, conscientemente ou não, o que Bertone Souza e outros
intelectuais que insistem em tal comparação, descrita pelo cientista
político russo de origem armena Sergey Kurginyan como "idiotia filosófica",
não fazem outra coisa senão promover e propagandear o fascismo! O reles
ignóbil acha, de modo ingênuo, que é "equilibrado e moderado", que
"está em cima do muro". O muro é sempre um ótimo lugar para quem quer
fugir de mordidas de pitbull, há quem consiga até pular de um
muro para outro com agilidade, só que muros apenas fornecem uma visão
para outros muros, para as casas ao redor, não para o horizonte. Muros
são desconfortáveis, pois são estreitos, como a visão de quem está em
cima deles, muros também podem ser perigosos, pois muitos muros tem
pregos, cacos de vidro e até cercas elétricas. O destino de quem fica em
cima do muro, tal como um covarde, é um dia cair desse muro, e
normalmente se cai para o lado que mais se admira. O ex-toureador
promove, ainda que de forma "tímida", sobre seu muro, sua própria
cruzada anticomunista, aquela que serve aos interesses dos exploradores,
que negam à humanidade a possibilidade de construir um mundo novo e
socialista, que promovem o culto da personalidade jurídica de sua trademark,
do lucro e da banalidade, serve aos interesses dos fomentadores da
guerra imperialista. Adotando aqui as palavras do célebre cantor alemão
Ernst Busch, esses ataques à "Zôviet Unión", são um ataque à própria ideia de "revoluzión".
Para
concluir, que "historiador" ignora conceitos tão elementares? Que
"historiador" não sabe o que é uma "corrente historiográfica"? Que acha
que "conhece todos os historiadores" do mundo só por que leu alguns do mainstream?
Em que buraco Bertone Souza, que não serve nem para escrever história
de escola de samba, tirou seu diploma em História? Se é que realmente o
fez por meios legítimos... Não é difícil entender todo esse furor e ódio
do professor filofascista da UFT se levarmos em consideração sua
afirmação de que "o comunismo foi a maior tragédia humanitária". É
exatamente esse tipo de ideias, conforme bem nos mostra o Profº Dr.
Michael Parenti, ele próprio um ex-anticomunista(como o autor desta
página), que motivou campanhas genocidas como a Guerra do Vietnã, o
extermínio de milhões de comunistas na Indonésia, dezenas de tiranias
fascistas na América Latina, regimes racistas como o do Apartheid e o
maior banho de sangue história, a Operação Barbarrossa, iniciada pelos
fascistas alemães sob a liderança de Hitler, o mais célebre
anticomunistas. Afinal, se "o comunismo é o mal encarnado", se ele é "a
maior tragédia", se ele "matou mais do que o nazismo", logo todos os
meios para seu combate estão automaticamente justificados. O
anticomunismo, e não o comunismo, levou aos mais opressivos governos do
século XX. Adaptando as palavras de Ivan Karamazov, do romance
Dostoyevskiy, "se o fantasma do comunismo existe, então tudo é
permitido". E é exatamente por isso que a escória da humanidade, os
anticomunistas, devem ser desmascarados, denunciados e combatidos, pois
sua ideologia, por mais que finjam estar em cima do muro, é o
anticomunismo, que é reacionário e facínora. Aqueles que defendem a sua
ideologia nefasta ou simplesmente com ela simpatizam são cúmplices
morais de todos os seus crimes!
1- "O ônus da prova cabe à acusação"
2- Andreev, E.M., et al., Naselenie Sovetskogo Soiuza, 1922-1991. Moscow, Nauka, 1993.
3- CIA Factbook 1990 Em 10/04/2009
4- Trinquier Roger, La guerre moderne, éd. La Table Ronde, Paris, 1961, p. 15
5- Smith Joseph, Portrait of a cold warrior, Ballantine books, Nova Iorque, 1976, pp. 164 e 80
O debate original, censurado por Bertone Souza, pode ser visto neste link, acessado pela última vez às 10:30 da manhã de 31/08/13:
http://bertonesousa.wordpress.com/2013/05/04/lenin-e-o-comunismo/comment-page-1/#comment-3093
Fonte - A Página Vermelha
O debate original, censurado por Bertone Souza, pode ser visto neste link, acessado pela última vez às 10:30 da manhã de 31/08/13:
http://bertonesousa.wordpress.com/2013/05/04/lenin-e-o-comunismo/comment-page-1/#comment-3093
Fonte - A Página Vermelha
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