segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Meio ambiente: Fumaça e cinzas no Sudeste Asiático


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Hanói (Prensa Latina) Passada a temporada das monções asiáticas para dar passo à estação seca, volta de novo a ameaça de incêndios nos bosques da Indonésia, os quais de maneira recorrente afetam também com a fumaça e cinzas que desprendem, aos vizinhos Malásia e Singapura, no convertido em cíclica crise regional.
Calor e sequidão são dois incômodos parceiros destrutivos na natureza florestal dos ambientes mediterrâneos, nos quais grande parte da vegetação se adapta com estratégias de reflorestamento ou de germinação depois do sinistro. No fim das contas, trata-se de um fenômeno com o qual há que conviver.

Bem diferente resulta, diferentemente, quando os homens os provocam e este é principalmente o caso dos fogos frequentes em cinco das ilhas do arquipélago indonésio, sobretudo em Sumatra, a sexta em extensão do mundo, separada de Malásia e Singapura por uma tênue faixa marítima.

Em 1982-83, 1997-98 e 2002, os piores períodos reconhecidos, milhões de hectares de bosque de montanha e de planície, de floresta e de pântano arderam, enquanto os animais e a população fugiam em massa. Em algumas ocasiões o nevoeiro que cobriu uma área tão grande como a Europa interrompeu a aviação e a navegação por meses e causou sérios problemas de saúde.

Ainda que com menor intensidade, em junho passado os incêndios provocaram um índice de contaminação de 371, considerado de nível perigoso pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na cidade-estado de Singapura que ocultou seus arranha-céus, entre outros muitos efeitos.

"Trata-se da pior contaminação vivida", disse o ministro de meio ambiente, Vivian Balarkishman, para uma população de cinco milhões de habitantes, quem ademais pediu a Indonésia que atue "de maneira decisiva e urgente para tratar o problema na sua origem".

Na Malásia a situação tomou parecidos ribetes, com índices de ar insalubre contaminado de 114 pontos no sul da península e em Riau, a zona de Sumatra onde se originaram os incêndios; 10 mil residentes sofreram severas infecções respiratórias.

Cinzas, fumaça e neblina desataram a pior crise de poluição entre os três países na qual não faltaram reproches e exigências a Indonésia, que adotou suas próprias medidas de emergência, consistentes na instalação de efetivos militares, equipes de bombeiros em lugares de sinistros e a injeção de chuvas artificiais em nuvens.

A raiz do acontecido, autoridades ambientais celebraram uma cúpula de emergência encaminhada a encontrar soluções permanentes ao repetido contratempo, que a julgar pelas alternativas propostas passa por um sistema de intercâmbio de informação preventiva, mapas e buscas satelitais de focos.

A Indonésia comprometeu-se por sua vez a salvar obstáculos parlamentares e conseguir a pendente ratificação do Acordo da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) sobre Poluição Transfronteiriça, que permitir-lhe-ia aceder a mais recursos humanos e equipas e se aproveitar do monitoramento satelital para executar respostas rápidas.

No entanto, para além de todas essas necessárias medidas de coordenação recorrendo a meios tecnológicos de ponta, o nódulo do problema se situa em inescrupulosos interesses de companhias privadas que desde faz tempo recorrem a queimas de árvores em alarmantes dimensões para fomentar investimentos.

Denunciadas inúmeras vezes por organizações ambientalistas, ao menos Jacarta reconheceu poucas semanas atrás semelhante profundidade e anunciou o eventual processamento de duas dessas empresas, ao mesmo tempo em que retoma no órgão legislativo uma aletargada proposta de modificação da lei vigente com o fim de endurecer as sanções a infratores.

Dando certo, depois de uma década de adormecimento, e segundo disse Assinam Subagyo, um membro proeminente da comissão de agricultura e florestais, aplicar-se-ão sentenças de 15 anos de prisão e multas equivalentes a 10 milhões de dólares aos que usem fundos provenientes das áreas protegidas, junto com o confisco de propriedades.

Os legisladores adiaram em abril a primeira discussão da iniciativa depois que grupos ambientalistas objetaram-na com a preocupação de que, uma vez feita, a lei seja usada para julgar membros de comunidades indígenas, que viveram por gerações nas zonas arborizadas, em vez de se centrar nos poderosos depredadores.

Cobiça por diante, dezenas de companhias dedicaram-se por anos a devastação e queima de árvores para extrair carvão vegetal de alto valor e substituir o arrasado por mais benéficas plantações oleaginosas, madeireiras e caucheiras, sem se atentar às consequências ecológicas e humanas.

Um relatório publicado depois do desastre de 1997-98 assinalou que além do forte impacto dos incêndios florestais nas pequenas economias, são grandes geradores de gases tóxicos que contaminam o ar ao espalhar na atmosfera e uma fonte de gases de efeito estufa e reativos.

A OMS advertiu sobre os resultados da fumaça sobre a saúde, citando os riscos de contrair câncer a curto e longo prazo, bem como de infecções respiratórias agudas, uma das principais causas de mortalidade entre crianças pequenas, ante um episódio que por então se fez sentir no Brunei, Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia.

Em Papua Ocidental, Indonésia, com a destruição dos bosques, 200 mil pessoas viram-se expostas à escassez de alimentos, e 423 delas morreram de inanição e cólera.

Durante meses reduziu-se drasticamente o fluxo de turistas, um importante ponto de suas economias, procedente da Europa e outros países asiáticos, em procura justamente das ofertas da indústria sem fumaça, ao interromper-se os voos comerciais.

Semelhantes temores se concentram agora outra vez à medida que se aproxima a temporada mais vulnerável para que se manifeste em toda sua gravidade um problema atiçado sem cessar pelo afã desmedido de enriquecimento a todo custo, causa de raiz a sufocar.

*Corresponsável da Prensa Latina no Vietnã.

arb/hr/cc
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