segunda-feira, 5 de agosto de 2013

GRAMSCI CONTRA TROTSKY NO CAMPO TEÓRICO-DOUTRINÁRIO

III.B.

GRAMSCI CONTRA TROTSKY

NO CAMPO TEÓRICO-DOUTRINÁRIO



Texto de Autoria de
Portau Schmidt von Köln

A Enfermidade Gramsciana
no Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica Trotsky e Gramsci  : Gramsci e Trotsky 
O SU-QI e a Corrente Franco-Gramsciana
de Atualização, Correção
e Superação do Marxismo
(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)
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O Capítulo III em destaque é composto pela presente página de Internet e pelas seguintes subdivisões :

Capítulo III. Introdução : Qual a Compatibilidade entre os Posicionamentos de Gramsci e de Trotsky

Capítulo III.A. : O Stalinismo de Gramsci no Campo Político-Partidário

Capítulo III.C. : A Lógica Filosófica de Gramsci contra o Socialismo Científico de Marx e Engels

Capítulo III.D. : A Via ao Socialismo Democrático-Pacifista da “Guerra de Posição” de Gramsci    


Reservando a possibilidade de analisar mais adiante as implicações das citações de Gramsci aqui apresentadas, indico, a seguir, sinteticamente, o que efetivamente escreveu e expressamente doutrinou Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere, sua obra maior e mais madura, elaborada entre 1928 e 1937, acerca da doutrina marxista da Revolução Permanente, tal como defendida por Lev Davidovitch Bronstein, Léon Trotsky:

“É necessário verificar se a famosa teoria de Bronstein (i.e. de Trotsky) sobre a permanência do movimento (i.e. sobre a revolução permanente) não é o reflexo político da teoria da guerra de manobra (recorde-se a observação do General dos Cossacos Krasnov), em última análise o reflexo das condições gerais-econômicas-culturais-sociais de um país em que os quadros da vida nacional são embrionários e relaxados e não podem tornar-se “ trincheira ou fortaleza ”.[1]


Nesse caso, poder-se-ia dizer que Bronstein, que aparece como um “ocidentalista” era, pelo contrário, um cosmopolita, i.e. superficialmente nacional e superficialmente ocidentalista ou europeu.
Ao invés disso, Ilitchi (i.e. Lenin) era profundamente nacional e profundamente europeu.
Nas suas memórias, Bronstein recorda que lhe disseram que sua teoria havia se demonstrado boa depois ... de quinze anos e responde ao epigrama com um outro epigrama.[2]


Na realidade, a sua teoria, como tal, não era boa nem quinze anos antes nem quinze anos depois : como ocorre com os obstinados, acerca dos quais fala Guicciardini.[3]


Ele ( i.e. Trotsky ) adivinhou de grosso modo, i.e. teve razão na previsão prática mais geral, tal como ao dizer-se que se está predizendo que uma menina de quatro anos tornar-se-à mãe.
E, quando ela se torna mãe aos vinte anos, diz-se que “já se o havia adivinhado”, não se recordando, porém, que, quando a menina tinha quatro anos, queriam-na estuprar, seguros que haveria de se tornar mãe. ...
A teoria de Bronstein pode ser comparada àquela de certos sindicalistas franceses acerca da greve geral e à teoria de Rosa(i.e. Rosa Luxemburg), contida no opúsculo traduzido por Alessandri :  o opúsculo de Rosa e a teoria de Rosa influenciaram, de resto, os sindicalistas franceses como resulta de certos artigos de Rosmer acerca da Alemanha, contidos em “Vie Ouvrière(Vida Operária)” (primeira série em pequenos fascículos) : depende em parte também da teoria da espontaneidade”. [4][5][6]

 



Diante do presente texto, a conclusão necessária a ser extraída por todo lutador trotskista que conhece o significado histórico adquirido pela teoria da Revolução Permanente de Trotsky no quadro da Revolução de Outubro e de sua importância na luta contra o stalinismo, é a de que Gramsci não apenas se opõe, frontalmente, à teoria da Revolução Permanente, tal como surge defendida por Léon Trotsky - rejeitando-a impiedosa e ostensivamente -, senão que a ridiculariza, com pretensões de ironia sardônica, lançando mão da fábula da menina de quatro anos que pretendiam estuprar ...

No mesmo diapasão, Gramsci procura invalidar a teoria da Revolução Permanente, tal como desenvolvida por Trotsky, a partir da dogmática político-doutrinária de Josef Stálin, escrevendo, nitidamente, acerca do tema, em seus Cadernos do Cárcere :

„Diferenças entre a França, a Alemanha e a Itália no processo de tomada do poder por parte da burguesia (e Inglaterra).
Na França, tem-se o processo mais rico de desenvolvimentos e de elementos políticos ativos e positivos.
Na Alemanha, o processo desenrola-se, em alguns aspectos, em formas que se assemelham àquelas italianas, em outros, àquelas inglesas.
Na Alemanha, o movimento de 1848 fracassa pela escassa concentração burguesa (a palavra de ordem de tipo jacobino foi dada pela extrema esquerda democrática : „revolução em permanência“) e porque a questão da renovação estatal encontra-se entrelaçada com a questão nacional. ...(p. 215)
A propósito da palavra de ordem „jacobina“, formulada em 1948-49, deve-se estudar seu complicado destino.
Retomada, sistematizada, elaborada, intelectualizada pelo grupo Parvus-Bronstein (obs.: Gramsci refere-se aqui a Parvus e Trotsky), manifestou-se inerte e ineficaz em 1905 e, em seguida : tornou-se uma coisa abstrata, de gabinete científico.
Pelo contrário, a corrente que a antagonizou nessa sua manifestação literária (obs.: Gramsci alude aqui à corrente de Stálin), sem empregá-la „de propósito“, aplicou-a, de fato, em uma forma aderente à história atual, concreta, viva, adaptada ao tempo e ao lugar, como decorrente de todos os poros da dada sociedade que era necessário transformar, como aliança de dois grupos sociais, com hegemonia do grupo urbano(p. 217).“[7]



Esposando os mesmíssimos argumentos, dogmaticamente condensados e plasmados para serem lançados, sistematicamente, por burocrátas da classe trabalhadora contra as concepções de Trotsky, Stálin escreveu, em Acerca das Questões do Leninismo, anos antes da redação dos Cadernos do Cárcere, da seguinte forma, de maneira, digamos assim, ainda mais criativa e inovadora do que Gramsci, posto que o fez em 1926, enquanto que Gramsci apenas a partir de 1930 :

“Lenin foi o único marxista que entendeu e desenvolveu corretamente a idéia da Revolução Permanente.
Lenin diferencia-se nessa questão dos “permanentistas”(i.e. dos trotskystas) pelo fato de que os “permanentistas” deturpam a idéia marxista da Revolução Permanente, na medida em que a transformam em uma sabedoria livresca sem vida, enquanto Lenin a toma em sua forma pura, tornando-a um dos fundamentos de sua teoria da revolução.”[8]



Eis aí como, segundo a apreciação de Gramsci, Stálin, antagonizando „a idéia da Revolução Permanente, na medida em que a transformam em uma sabedoria livresca sem vida“, aplicou-a, efetivamente, „em uma forma aderente à história atual, concreta, viva, adaptada ao tempo e ao lugar, como decorrente de todos os poros da dada sociedade que era necessário transformar, como aliança de dois grupos sociais, com hegemonia do grupo urbano“, tendo em vista que Parvus e Trotsky haviam a transformado em „uma coisa abstrata, de gabinete científico“.

Sua crítica amarga à Revolução Permanente - que foi, entretanto, defendida e aprimorada argutamente por Trotsky - é, portanto, coerente e compatível não com o trotskysmo, mas sim com aquela imensa síntese de sabedoria científica de autoria do próprio Gramsci, consignada em sua extensa produção intelectual, de que “um estúpido não pode compreender que ele mesmo é um estúpido”.[9]

 

 

Passemos ainda em revista o método segundo o qual Gramsci julgou correto examinar as questões concernentes ao internacionalismo e à política nacional :

 

[Internacionalismo e Política Nacional] Trata-se de um escrito (estilo perguntas e respostas) de José Vessarione (i.e. Stálin), de setembro de 1927, sobre alguns pontos essenciais de ciência e arte política.[10]

 

 

O ponto que me parece dever ser desenvolvido é o seguinte : como, segundo a filosofia da práxis (na sua manifestação política), seja na formulação de seu fundador, seja especialmente nas precisões de seu maior teórico recente, a situação internacional deve ser considerada em seu aspecto nacional.

Realmente, a relação “nacional” é o resultado de uma combinação “original” única (em um certo sentido) que, nesta originalidade e unicidade, deve ser compreendida e concebida, caso se pretenda dominá-la e dirigí-la.

Certamente, o desenvolvimento é em direção do internacionalismo, mas o ponto de partida é “nacional” e, a partir desse ponto de partida, cumpre agarrar os movimentos. 

É necessário estudar, portanto, exatamente, a combinação das forças nacionais que a classe internacional deverá dirigir e desenvolvê-la, segundo a perspectiva e as diretivas internacionais.

A classe dirigente o é apenas se interpretar, corretamente, essa combinação, da qual essa mesma é componente e, como tal, pode dar ao movimento, precisamente, uma certa direção, em certas perspectivas.

Sobre esse ponto, parece-me residir o dissídio fundamental entre León Davidovitch (i.e. Trotsky) e Vessarione (i.e. Stálin), como intérprete do movimento majoritário.

As acusações de nacionalismo são inaptas, se se referem ao núcleo da questão.”[11]

 

 

 

Aqui, encontramos mais uma vez Gramsci em face de Trotsky, em seus Cadernos do Cárcere, dessa vez, entretanto, defendendo, mais ostensivamente, as posições teórico-doutrinárias de quem considerou ser “il più recente grande teorico” em matérias de internacionalismo, i.e. Josef Stálin.

Considerando os posicionamentos de Trotsky como prenhes de elementos vagos, cosmopolitas e puramente ideológicos, in senso deteriore, i.e. no pior sentido, Gramsci louva os posicionamentos de Stálin no domínio relativo a como conceber a problemática do internacionalismo no sentido de uma ”politica realistica”.[12]



No que tange à posição defendida por Trotsky acerca da industriaização da União Soviética, escreve o pensador e protagonista da stalinização do antigo Partido Comunista Italiano :

 

“A tendência de Léon Davidovitch (i.e. Trotsky) estava, estreitamente, conectada com essa séria de problemas (i.e. relacionados com a racionalização da produção e do trabalho), o que não parece ter sido colocado bem à luz.
Seu conteúdo essencial, desse ponto de vista, consistia na vontade “excessivamente” resoluta (portanto, não racionalizada) de dar supremacia, na vida nacional, à indústria e aos métodos industriais, de acelerar, com meios coercitivos exteriores, a disciplina e a ordem na produção, de adequar os costumes às necessidades do trabalho.
Dada a colocação geral de todos os problemas conexos à tendência, essa devia desembocar necessariamente em uma forma de bonapartismo, daí a necessidade inexorável de destroncá-la (no original italiano : stroncarla).
As suas preocupações eram justas, mas as soluções práticas eram profundamente erradas : nesse desequilíbrio entre teoria e prática estava inserido o perigo que, além disso, já havia se manifestado precedentemente, em 1921.
O princípio da coerção, direta e indireta, no ordenamento da produção e do trabalho é justo, porém a forma que esse havia assumido era errada : o modelo militar tinha se tornado um prejuízo funesto e os exércitos de trabalho faliram.”[13]



Mais uma vez nessa sede de seus Cadernos do Cárcere, Gramsci diverge, teórica e politicamente, não apenas de Trotsky, senão ainda de uma das principais orientações contidas no Programa da Oposição de Esquerda, em sua luta pela construção de um socialismo internacionalista proletário-democrático na União Soviética e pela derrubada impiedosa da burocracia stalinista.
Gramsci, com base em seus argumentos retro-apresentados, acusando agora a oposição trotskysta de tendências bonapartistas, pretendeu legitimar teoricamente a necessidade de seu aniquiliamento, de sua supressão, de sua demolição, ou “da ruptura de seus troncos” - para permanecer fiel à bastante sugestiva terminologia gramsciana -, fundamentando, pelo contrário, a emergência e a consolidação do stalinismo burocrático na União Soviética.
Como é possível perceber diante de todo exposto, o trotskysmo distingue-se do gramscismo diametralmente, na mesma proporção em que se distancia do stalinismo, já no que tange à teoria da Revolução Permanente, já no que concerne à concepção de internacionalismo, já no que respeita às tarefas de construção do socialismo no Estado Soviético.



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