La
Paz, 9 ago (Prensa Latina) Caldos e raízes, tipos de pó, essências,
ungidos, ervas misteriosas, mate e xaropes são os ingredientes
principais de uma espécie de tantra andino, as singulares e milenárias
tradições associadas à prática do sexo na Bolívia.
Como todas as nações com larga história, os povos originários
bolivianos também nos deixaram técnicas, receitas e feitiços para tentar
controlar e remediar as dores e prazeres das paixões humanas, apesar de
ter se instalado no senso comum da sociedade uma férrea mentalidade
conservadora com a chegada dos espanhóis e da Igreja católica, que se
mantém até hoje.
Os conselhos do Tantra indiano ou do próprio
Kamasutra são muito conhecidos, mas muito poucos sabem que neste lado do
mundo, na cordilheira dos Andes, os primeiros povos também criaram uma
filosofia própria do prazer e experimentaram com seus produtos naturais a
procura de fazer com que o encontro dos corpos seja mais prazeroso.
Infelizmente, muito desse conhecimento ancestral se perdeu nas ruínas
do tempo e da Conquista; mas ainda, em comunidades originárias da
Bolívia, e inclusive entre as pessoas comuns, alguns afrodisíacos,
técnicas e filosofias perduram em forma de comidas, bebidas, e inclusive
rituais.
Entre as comidas, provavelmente a mais conhecida seja o
chamado Caldo de cardán, uma espécie de sopa cujo ingrediente principal
é o órgão reprodutivo do touro que supostamente garante a potência dos
homens, inclusive depois de uma ressaca.
Um prato desse caldo
custa ao redor de dois dólares e, segundo María Bernal, uma idosa de 68
anos que o prepara em um restaurante popular perto da Plaza San
Francisco de La Paz, é consumido por todo tipo de pessoas,
principalmente nos fins de semana.
Mas explica que não serve só para a virilidade: também é utilizado para a anemia, as dores musculares e a fraqueza corporal.
Conta que o segredo está no preparo, que demora quase 10 horas. Na
noite anterior começa a ser cozinhado a fogo lento, para que esteja bem
concentrado no dia seguinte.
O caldo pode levar ou não, como
outro de seus ingredientes, a milenária 'papalisa', uma espécie de
tubérculo que utilizavam os incas e que, de acordo com o senso comum, é
um saudável substituto para o viagra.
É tão conhecida aqui, que
até o próprio chanceler boliviano, David Choquehanca, falou dela em uma
reunião da Organização de Estados Americanos.
"Temos em aimara o
'ullucu', que é conhecida como 'papalisa', que provavelmente não se
come aqui nos Estados Unidos, ou, algum de seus países não o conhecem
(...), mas quando se come 'papalisa', não se precisa de viagra",
afirmou.
Outro tubérculo com propriedades afrodisíacas para os
bolivianos é a 'maca', parecida à cenoura, cujos produtos se vendem em
farmácias de produtos naturais.
Patricia Aguilar é dona de uma
dessas farmácias, perto da igreja da Graça, e conta que a raíz é secada,
moída e o pó, preparado em forma de mate, é utilizado para estimular o
órgão sexual masculino.
Mas se as farmácias naturais oferecem
algumas opções, a apoteose destes peculiares produtos está no Mercado
das Bruxas, no centro da capital, onde um grupo de mulheres aimaras
conserva os conhecimentos e produtos ancestrais dos povos originários.
Elas mesmas fabricam perfumes para encontrar parceiro ou seduzir
amantes, com nomes tão sugestivos como 'Venham a mim'; 'Siga-me
siga-me'; 'Sete machos'. Marca registrada (sic); 'Pusanga: Amor, sexo,
prazer'; cuja embalagem traz a legenda: 'O único e autêntico perfume que
amarra e atrai o ser amado'.
Vendem também diferentes pós para
atrair olhares, e xaropes e ungidos com nomes comerciais: Erectol e
Sexovit, e "vigorantes instantâneos" chamados Vita Homem, Vigorón e
Quebra Colchão, entre outros.
Juanita Quispe, uma das
'chifleras' ou 'bruxas', conta que devem ser tomados três vezes por dia
para obter os melhores resultados, dissolvidos em água, ou puro com a
medida que trazem nas próprias embalagens.
Adverte que não se
deve passar dessa medida, porque ela então não se responsabilizaria
pelos resultados. Depois pergunta se vou comprar algo finalmente, porque
caso contrário, não entende porque pergunto tanto.
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