"Denunciamos o modelo de sociedade capitalista, excludente, baseado
na propriedade privada dos meios de produção, o que serve para legitimar
a concentração de terra nas mãos de uma minoria, trazendo muito
sofrimento e injustiças"
Nós, romeiros e romeiras, do campo e da cidade, do Estado de Minas
Gerais, reunimo-nos na cidade de Miradouro, Diocese de Leopoldina, Zona
da Mata Mineira, para celebrar a 17ª Romaria da terra e das águas do
estado de Minas Gerais e a 9ª Romaria do/a Trabalhador/a Rural da
Diocese de Leopoldina. Anunciamos os projetos de vida, em sintonia com o
Evangelho de Jesus Cristo, e denunciamos os projetos de morte que
afligem o povo e o meio ambiente.
O compromisso com o Evangelho da Vida para todos – que gera esperança -,
a fidelidade ao Deus dos pobres, aos pobres da terra e de Deus, nos
convoca à reflexão sobre a realidade, ouvindo os clamores que vêm dos
campos, dos camponeses, das cidades e do povo urbano. Em sintonia com os
clamores do povo mineiro, em especial, as juventudes do campo e da
cidade, escolhemos o Tema: Juventude no campo e na cidade, e o Lema:
Defendendo nosso chão, nossa gente e a criação.
Denunciamos como projetos de morte a concentração de terras nas mãos de
poucos, a privatização da terra e das águas, a monocultura de
eucaliptos, da cana de açúcar, da soja e do capim. Nenhuma monocultura
presta.
Todas oprimem, violentam e devastam socioambientalmente. Denunciamos o
modelo de sociedade capitalista, excludente, baseado na propriedade
privada dos meios de produção, o que serve para legitimar a concentração
de terra nas mãos de uma minoria, trazendo muito sofrimento e
injustiças principalmente para as populações tradicionais que são
expropriadas de suas terras, pela grilagem que continua desde o processo
latifundiário das capitanias hereditárias até nossos dias com seus
projetos grandes e monstruosos de barragem atingindo gravemente as
comunidades tradicionais, os pescadores artesanais, extrativistas,
camponeses e agricultores familiares.
Repudiamos a falta de compromisso dos governos com a reforma agrária,
com a agricultura familiar e com a agroecologia. É uma grande injustiça
destinar bilhões para o agronegócio e apenas migalhas para os pequenos
do campo.
Repudiamos como injusto e violento a liberação dos governos de projetos
de mineração, de construção de grandes barragens, de monoculturas,
projetos que trazem um rastro de destruição para o povo e para as
comunidades.
No campo, nas poucas matas, nos resquícios de cerrado, na caatinga, nos
lagos e rios violados pelo arame farpado do latifúndio, pelo uso
indiscriminado de agrotóxicos, pelo maquinário das madeireiras e das
mineradoras, pelos projetos faraônicos das monoculturas, das barragens,
das hidrovias e hidrelétricas, dos minerodutos etc. Basta desses
projetos de morte!
Estão envenenando a comida do povo brasileiro com agrotóxico. Através de
minerodutos, os minérios e as águas de Minas estão sendo roubadas de
nós e ficando só devastação. Isso tudo repudiamos.
Sejamos humanos e libertadores! Abracemos o antigo jeito novo de cuidar
da terra como uma mãe cuida de seus filhos. Salvemo-nos dos transgênicos
lutando pela reforma agrária e pelo fortalecimento da agricultura
familiar na linha da agroecologia. Agasalhemos a vida e o cosmo, como se
agasalha nos ninhos as asas do futuro.
No desejo de fortalecer a solidariedade e a luta por justiça, em defesa
da vida e do meio ambiente, com a juventude, num só grito em defesa da
vida da terra e das águas, do povo e de toda a criação. A terra que Deus
prometeu a todos, enquanto de todos não for, é um pecado da humanidade
que clama aos céus.
Alegramo-nos com as conquistas e os avanços nas lutas travadas pelos
movimentos sociais do campo. Gratos pela acolhida e hospitalidade do
povo de Miradouro e Diocese de Leopoldina, voltamos para nossas
comunidades, revigorados para seguirmos lutando por Justiça e Paz. Com
bênção do Deus da Vida, gritamos: Juventude no campo e na cidade,
defendendo nosso chão, nossa gente e a criação.
Que São Francisco de Assis, Santa Rita de Cássia e Nossa Senhora Aparecida nos inspirem e nos protejam.
Miradouro, Diocese de Leopoldina, Zona da Mata de Minas Gerais, 21 de julho de 2013.
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