sexta-feira, 5 de julho de 2013
Imagem da Galáxia de Andrómeda, usando um filtro que selecciona a luz da linha espectral do hidrogénio.Crédito: Adam Evans
Há já muitos anos
que os cientistas acreditam que a nossa Galáxia, a Via Láctea, vai
colidir com a sua vizinha, a Galáxia de Andrómeda, daqui a cerca de 3
mil milhões de anos e que essa será a primeira vez que tal colisão terá
lugar. Mas uma equipe europeia de astrónomos, liderada por Hongsheng
Zhao da Universidade de St. Andrews, propõe uma ideia muito diferente;
que os dois Universos-ilha já colidiram no passado, há cerca de 10 mil
milhões de anos atrás e que a nossa compreensão da gravidade está
fundamentalmente errada. Notavelmente, isto explicaria perfeitamente a
estrutura observada das duas galáxias e dos seus satélites, algo que tem
sido difícil explicar até agora. O Dr. Zhao apresentou ontem o seu novo
trabalho numa reunião da Sociedade Astronómica Real em St. Andrews,
Escócia.
A Via Láctea, composta
por cerca de 200 mil milhões de estrelas, faz parte de um grupo de
galáxias chamado Grupo Local. Os astrofísicos frequentemente teorizam
que a maioria da massa do Grupo Local é invisível, constituída pela
chamada matéria escura. A maioria dos cosmólogos acreditam que em todo o
Universo, esta matéria supera a matéria "normal" por um factor de
cinco. A matéria escura tanto em Andrómeda como na Via Láctea torna a
interacção gravitacional entre as duas galáxias forte o suficiente para
superar a expansão do Cosmos, de modo que estão movendo-se na direcção
uma da outra a cerca de 100 km/s, rumo a uma colisão que ocorrerá daqui a
3 mil milhões de anos.
Mas este modelo é
baseado no modelo convencional da gravidade desenvolvido por Newton e
modificado por Einstein há um século atrás, e esforça-se por explicar
algumas propriedades das galáxias que vemos ao nosso redor. O Dr. Zhao e
a sua equipa argumentam que, actualmente, a única maneira de prever com
sucesso a força gravitacional de qualquer galáxia ou pequeno grupo
galáctico, antes de medir o movimento das estrelas e do gás, é fazer uso
de um modelo proposto pela primeira vez pelo professor Mordehai Milgrom
do Instituto Weizmanne, em Israel, em 1983.

Esta
teoria modificada da gravidade (MOND ou Modified Newtonian Dynamics)
descreve como a gravidade se comporta de forma diferente em escalas
maiores, divergindo das previsões feitas por Newton e Einstein. O
Dr. Zhao e colegas usaram esta teoria pela primeira vez para calcular o
movimento do Grupo Local de galáxias. O seu trabalho sugere que a Via
Láctea e a Galáxia de Andrómeda tiveram um encontro há cerca de 10 mil
milhões de anos atrás. Se a gravidade está em conformidade com o modelo
convencional em escalas maiores, então tendo em conta a suposta atracção
gravitacional adicional da matéria escura, as duas galáxias ter-se-iam
fundido. A matéria escura age
como mel: num encontro próximo, a Via Láctea e a Galáxia de Andrómeda
ficariam 'coladas' uma à outra, figurativamente falando," afirma o
membro da equipa professor Pavel Koupa da Universidade de Bona,
Alemanha. "Mas se a teoria de Milgrom está certa," afirma o colega Dr.
Benoit Famaey (Observatório Astronómico de Estrasburgo)," então não
existem partículas escuras e as duas grandes galáxias poderiam
simplesmente ter passado uma pela outra, atraindo assim matéria uma da
outra através da formação de grandes e finos braços de marés."
Formar-se-iam então
pequenas novas galáxias nestes braços, "um processo frequentemente
observado no Universo actual," acrescenta o membro da equipa Fabian
Lueghausen, também de Bona. O Dr. Zhao explica: "A única maneira de
explicar como as duas galáxias poderiam passar perto uma da outra sem se
fundirem é se a matéria escura não estiver lá. As evidências
observacionais de um encontro próximo passado, então, apoiam fortemente a
teoria Milgromiana da gravidade."
Uma
assinatura deste género pode já ter sido descoberta. Os astrónomos
esforçam-se para compreender a distribuição das galáxias anãs em órbita
tanto da Via Láctea como de Andrómeda. As galáxias anãs podem ser
explicadas se nascerem de gás e estrelas arrancadas das duas
galáxias-mãe durante o seu encontro próximo. Pavel
Kroupa vê isto como a "arma fumegante" para a colisão. "Dado o arranjo e
o movimento das galáxias anãs, não vejo como qualquer outra explicação
funcionaria," comenta. A equipa
pretende agora modelar o encontro usando a dinâmica Milgromiana e está a
desenvolver código na Universidade de Bona para este propósito. No
novo modelo, a Via Láctea e Andrómeda vão ainda colidir novamente nos
próximos milhares de milhões de anos, mas vai ser um "deja vu". E a
equipa acredita que a sua descoberta tem consequências profundas na
nossa compreensão actual do Universo. Pavel Kroupa conclui: "Se
estivermos certos, a história do Cosmos terá que ser reescrita do zero."
Fonte: Astronomia On-Line
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