Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A "Ofensiva Estratégica na Manchúria", também conhecida como "Operação da Manchúria" (em russo: Маньчжурская операция) ou "Batalha da Manchúria" (битва за Маньчжурию), foi parte da "Guerra nipo-soviética" (Советско-японская война) de 1945.A operação foi batizada de "Tempestade de Agosto" pelos historiadores anglo-saxões (Operation August Storm[1]) depois que o historiador militar David Glantz usou este título em um estudo sobre esta importante batalha no fim da Segunda Guerra Mundial.
A invasão terrestre teve por objetivo derrotar o Exército Imperial japonês, que ocupava a Coreia e vastas porções da China e preparar o início da invasão do arquipélago do Japão, programada para novembro de 1945 (ver Operação Downfall).
A operação de invasão dos territórios ocupados pelos japoneses da Manchúria e Coreia pela União Soviética envolveu cerca de 1,5 milhão de soldados do exército soviético, a maior parte transferidos da frente ocidental, entre maio e julho de 1945, para a fronteira com a China e a Coreia.
A operação teve início na madrugada de 08 para 9 de agosto de 1945 e se estendeu até 2 de setembro de 1945, quando as tropas soviéticas já haviam desmobilizado um contingente de 1 milhão de soldados japoneses (entre mortos, feridos e prisioneiros) e ocupado toda a Manchúria e a porção norte da Coréia. A rápida derrota das forças japonesas acelerou o processo de fim da II Guerra Mundial e levou ao fortalecimento dos grupos políticos pró-soviéticos na Coréia e na China durante o pós-guerra.
A preparação da Operação Tempestade de Agosto
LogísticaDurante a Conferência de Yalta (fevereiro de 1945) os aliados decidiram que em até 90 dias após o fim da Guerra na Europa, a União Soviética atacaria as forças japonesas instaladas na China (Manchúria). Na ocasião a derrota alemã era iminente, e veio a se concretizar com a rendição em 8 de maio de 1945.
Imediatamente após a rendição alemã, a URSS inicia uma grande mobilização de transferência de soldados, armas e suprimentos para a fronteira com a China ocupada. Mais de um milhão de soldados somaram-se aos cerca de meio milhão de homens que já estavam na fronteira. Homens e armas foram transferidos pela ferrovia transiberiana, por onde passaram entre 25 e 30 comboios por dia, totalizando cerca de 136 mil trens [1]. A partir da transiberiana, soldados e blindados se locomoviam por outras estradas, com deslocamentos que variavam de algumas dezenas a cerca de 500 ou 600 quilômetros, até os locais próximos à fronteira que seriam usados para invasão.
O deslocamento das 80 divisões soviéticas pela transiberiana envolveu uma logística de guerra sem precedentes nesta região asiática, atravessando entre 9 e 12 mil quilômetros da ferrovia transiberiana. Se considerada a distância percorrida e o total de deslocamento envolvendo uma massa humana de 1,5 milhões de soldados, 26 mil peças de artilharia, 5.500 tanques blindados e artilharia autopropelida, além de 1800 outras armas de artilharia, veículos leves, combustível, suprimentos e munições, tudo isso em apenas 3 meses [1], a preparação da Operação Tempestade de Agosto talvez possa ser considerada uma das maiores façanhas de logística na história das guerras terrestres modernas.
Diplomacia e propaganda de guerra
Além da logística, a preparação e início da "Operação Tempestade de Agosto" ocorreu em meio a um complexo jogo diplomático envolvendo os EUA, a URSS e o Japão. Em 5 de abril de 1945[2] a União Soviética rompe o tratado de paz e neutralidade que havia sido assinado com o Japão em 1941 [3]. Ciente da impossibilidade de vencer a guerra, em julho de 1945 a diplomacia japonesa contactou Stálin e solicitou à União Soviética que intermediasse um acordo de paz, oferecendo uma rendição "honrosa".
Os aliados preparavam uma invasão do Japão em duas etapas. A Operação Downfall teria início em novembro de 1945, quando os EUA invadiriam a porção meridional do arquipélago (ilhas de Kyoshu e Shikoku), enquanto a URSS invadiria a ilha setentrional (Hokkaido). A segunda etapa seria a invasão da ilha principal (Honshu) em março de 1946.
O acordo fechado com a URSS na Conferência de Ialta (fev/1945), garantia que esta participaria do que deveria ser um longo esforço de guerra contra o Japão. O Japão ignorou o ultimato dos EUA para sinalizar com a possibilidade de rendição até 29/julho, quando os rumos da guerra na Ásia-Pacífico começaram a mudar rapidamente.
Com o teste bem sucedido da bomba atômica em 18 de julho de 1945, a postura norte-americana mudou e o governo dos EUA decidiu usar a bomba atômica antes que tivesse início a "Operação Tempestade de Agosto", marcada para começar em 8 de agosto de 1945. Após o ataque a Nagasaki em 6 de agosto de 1945 os jornais de todo o mundo ocidental direcionaram sua atenção para o feito da nova arma americana, praticamente ignorando a invasão soviética dois dias depois.
Como programado, a União Soviética declarou guerra ao Japão[4] e iniciou a "Operação Tempestade de Agosto" na noite de 08 para 9 de agosto com uma grande ofensiva terrestre. Os EUA lançaram a segunda arma nuclear contra o Japão em 9 de agosto, na cidade de Nagasaki (três dias depois da primeira em Hiroshima), fortalecendo o que viria a ser uma maciça operação de propaganda de guerra para minimizar o significado da ofensiva terrestre por parte da União Soviética na "Operação Tempestade de Agosto". O Japão não sabia quantas outras armas nucleares os EUA possuiam, mas o governo demonstrava estar disposto a resistir mais. Entretanto, a última chance de interlocução diplomática (a União Soivética) havia declarado guerra e iniciado uma mega-ofensiva terrestre contra suas forças instaladas no continente asiático.
A ofensiva terrestre da URSS contra as forças japonesas na Manchúria: Operação Tempestade de Agosto
A ofensiva do Exército Vermelho contra a o Exército Imperial Japonês, que ocupava a China e Coreia, teve início na noite de 08 para 9 de agosto de 1945. O marechal de campo Aleksandr M. Vasilevsky comandou os três exércitos do "Front do Extremo Oriente". O comandante do front Trans-Baikal foi o Marechal R. Y. Malinovsky, enquanto os exércitos do 1o e 2 Fronts do Extremo Oriente foram comandados respectivamente pelo marechal K. A. Meretskov e o general M. A. Purkayev.Durante o dia 09/agosto tiveram início os primeiros raids aéreos soviéticos contra as forças japonesas, o que acelerou a rápida desestruturação destas.
No início da invasão a superioridade soviética era clara. Além da superioridade qualitativa, de tropas e comandantes experientes do front ocidental e armamentos tecnologicamente superiores (principalmente blindados e aviões), a União soviética contava com superioridade quantitativa, a começar pela massa de 1,577 milhão de homens contra os 1,2 milhões do Exército Imperial japonês. Em outros aspectos mais relevantes, esta proporção entre as forças soviéticas e japonesas era ainda maior: 5/1 em artilharia, 5/1 em tanques e canhões autopropulsados e quase 3/1 em aeronaves.
Desde o primeiro momento da invasão, os soviéticos acumularam rapidamente uma série de vitórias contra as forças japonesas, que não usavam fortificações complexas e acreditavam que o terreno da região tornava impossível a invasão com grandes exércitos. Mesmo as fortificações japonesas eram frágeis demais perante o poder de fogo russo. Utilizando uma estratégia de pinça, as forças soviéticas que entraram na Manchúria ocidental pela Mongólia e pelo território soviético, encontraram-se com as forças que invadiram o norte da Manchúria e a Manchúria oriental. Em seguida invadiram a Coreia.
No Mar a URSS mobilizou forças da Marinha, Aeronáutica e do Exército para a invasão das Ilhas Sakhalinas e das Ilhas Curilas, região em disputa desde a Guerra russo-japonesa de 1904-1905.
A rendição japonesa
Em 16 de Agosto, uma semana após o início da invasão soviética, a maior parte das forças japonesas já haviam sido derrotadas nos pontos estratégicos para a defesa da região, e os soviéticos controlavam as rotas terrestres mais importantes. Nesta data a vitória soviética já era clara, embora os japoneses só tenham anunciado a rendição em 20 de Agosto, e o avanço soviético só tenha terminado em 1 de setembro de 1945.O Japão já havia perdido sua marinha - destroçada nas batalhas navais contra os EUA -, e suas maiores cidades, queimadas pelos bombardeios com bombas incendiárias e com as duas armas nucleares americanas. Ao ver sua principal força terrestre destruída em menos de três semanas, o Japão não teve outra opção que não a rendição [2].
O sucesso soviético em derrotar o exército de ocupação do Japão, seguido da presença do Exército Vermelho na China e na Coreia do Norte, foram centrais para que nos anos seguintes à II Guerra Mundial, estes dois países se tornassem socialistas.
Entretanto, o Japão não foi ocupado pelas tropas soviéticas. Na Coreia, o avanço soviético parou no paralelo 38, após o desembarque das tropas americanas e Incheon. Na sequência, as negociações entre o Japão e os EUA resultaram em uma ocupação diferente da Alemanha, no pós-guerra, já que o Japão foi ocupado apenas por tropas americanas, o imperador foi mantido no poder e apenas uma parte da elite do governo japonês foi condenada pela guerra, sendo que a maior parte eram militares.
A rendição japonesa em Agosto de 1945 resultou no cancelamento dos planos de invasão do Japão, que seriam implementados a partir de novembro de 1945 na planejada Operação Downfall.
0 comentários:
Postar um comentário