sexta-feira, 31 de maio de 2013

Atílio Boron :A classe trabalhadora contra Evo? Duas visões contrárias

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Atilio Boron
24.5.2013
Por estes dias, o periódico digital Rebelión publicou duas notas a propósito do áspero conflito entre os mineiros e o governo de Evo Morales, na Bolívia. Li críticas duríssimas contra Evo, que visaram apenas desqualificá-lo completamente. Isto não é novidade, porém a revitalizada virulência destes ataques me preocupa muito. Por isso, me pareceu importante publicar neste blog as duas campanhas, para que vocês tirem suas próprias conclusões.
Respeitando a ordem cronológica segue primeiro o artigo de Rebeca Peralta Mariñelarena e, depois, o mais recente de Guillermo Almeyra.
Porém, não quis somente limitar-me a compartilhar estas duas visões contrárias. Meu parecer, que também submeto à crítica de meus leitores, é o seguinte: Se Evo fosse esse promotor do capitalismo, como alguns o acusam, a grande incógnita que não consigo elucidar é por que o imperialismo quer acabar com seu governo? Por que os Estados Unidos quiseram dividir a Bolívia em duas em 2008 e não só derrubar Evo? Por que estes dois objetivos da Casa Branca permanecem sendo perseguidos, até o dia de hoje, se o presidente boliviano não tem uma gota de anti-capitalismo e anti-imperialismo?
Outra incógnita: a classe trabalhadora (no caso da Bolívia, os mineiros) nunca se equivoca? É possível pensar que, talvez, os mineiros tenham se deixado levar por seus interesses econômico-corporativos (recordar Gramsci neste ponto) e pressionaram por uma reivindicação irresponsável ou impossível de satisfazer?
Cuidado com o tema da “infalibilidade trabalhadora”! Se não, como explicar a adesão majoritária da classe trabalhadora argentina ao peronismo? Ou a questão é que na Argentina se erra ao apoiar governos burgueses, que não têm no horizonte o socialismo, enquanto na Bolívia, em contrapartida, jamais erram em suas opções políticas?
O tema da repressão policial é grave e se Evo deu a ordem merece toda a nossa crítica. Porém, não esqueçamos que, por décadas, as polícias – e não só na Bolívia – vem sendo adestradas, organizadas e equipadas por diversas agências do governo dos Estados Unidos, entre elas a USAID (que Evo acaba de tirar do país). Não descartaria que a polícia tivesse atuado por sua conta e risco. Ao fim e ao cabo, fazem poucos meses se amotinaram contra ele. Quem estaria disposto a descartar uma operação armada pelo império para desprestigiar Evo? Enfim, são, tão somente, alguns apontamentos que me parecem ajudar a fazermos uma caracterização menos maniqueísta da situação, onde Evo = a maldade e os mineiros = a pureza de uma classe inerentemente revolucionária.
A história real não se apresenta em termos tão simplistas. Um homem que mudou de forma definitiva e irreversível a história da Bolívia e que governa com o apoio majoritário de seu povo – e contra a feroz oposição da direita e do imperialismo – merece um trato um pouco mais respeitoso de seus críticos esquerdistas, sobretudo daqueles que nunca conseguiram deixar uma folha duradoura na história de seus países.
Na Bolívia, em contrapartida, Evo se alça com um alcance histórico extraordinário: nunca mais um indígena poderá voltar a ser (mal) tratado, depreciado e explorado como antes. Entre nós, não seria nada mal termos um Evo como presidente na Argentina, ainda que fosse por um tempinho!
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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