30 de diciembre de 2012, 10:28Por: Hugo Rius Blein
 Hanói, 30 dez (Prensa Latina) Os vietnamitas celebraram com legítimo orgulho e júbilo o dia 30 de dezembro, no qual, há 40 anos, seu céu ficou para sempre livre de bombardeiros estadunidenses após 12 infernais dias e noites consecutivos.
Desde o Pentágono, havia partido a ordem para concluir a chamada operação Linebacker II - diante da falha do objetivo de subjugar o Vietnã para lhe impor condições -, em uma guerra cujo curso já havia sido traçado pela resistência patriótica do país.
Em uma desesperada tentativa para evitar o desenlace previsível, os Estados Unidos mobilizaram 197 aviões estratégicos B-52 e 1.077 outros aviões de vários tipos para golpear duramente a capital e, nas palavras do então presidente Richard Nixon, "fazer com que retrocedam [o Vietnã] à idade de pedra".
Durante a agressão, Hanói recebeu 40% das 100 mil toneladas de explosivos espalhadas no norte do país, deixando 1.318 mortos e destruindo duas mil casas.
No entanto, os cálculos de Washington nunca contaram com a inspiração, a inteligência e a criatividade da direção política do Vietnã e de seus experimentados comandos militares, herdeiros de inúmeras batalhas frente ao colonialismo francês e à ocupação japonesa, e forjados também na luta contra a agressão da principal potência mundial.
Nestes dias de comemoração, encerrados ontem em uma cerimônia solene presidida pelos principais dirigentes da nação, participantes daquela épica luta voltaram a rememorar os acontecimentos históricos, como mensagens imperecíveis às gerações seguintes.
Os autores de Leinebacker II também não imaginaram que os experientes vietnamitas se dedicavam há tempos - praticamente desde o início da agressão - a estudar as vulnerabilidades do B-52, quando o presidente Ho Chi Minh instou a fazê-lo, prognosticando que o desenlace do conflito seria em Hanói.
O povo vietnamita também introduziu modificações nas baterias anti-aereas Sam 2, de fabricação soviética, e elaboraram táticas defensivas flexíveis e certeiras, como os disparos antecipados destas baterias em áreas de concentração e o treinamento na decolagem de Migs em pistas curtas alternativas, caso os principais aeroportos fossem bombardeados.
Assim se explica, em boa medida, que entre os dias 18 e 30 de dezembro de 1972 as unidades de combate da cidade derrubassem 81 aviões agressores, dentre os quais 34 dos chamados "fortalezas voadoras" B-52, com igual número de pilotos capturados.
O primeiro destes foi Robert Certain, na própria noite de 18 de dezembro. Após as décadas decorridas, Certain recorda sobre o ocorrido a um correspondente da Voz do Vietnã em Washington, descrevendo a indignação dos camponeses no campo de arroz onde o encontraram e sobre a proteção das autoridades.
Convertido três anos depois em sacerdote, Certain ainda relata a crise moral que atravessou, bem como dezenas de milhares de compatriotas que participaram de uma guerra que causou tantas mortes e destruições.
Inúmeros depoimentos vívidos daquela proeza foram destacados em encontros de veteranos, livros, documentários, programas especiais em meios audiovisuais, exposições e outras atividades que foram realizadas em todo o país ao longo do mês.
Uma das várias demonstrações de engenho foi lançada à luz pública com a reforma e abertura ao público do acesso ao refúgio subterrâneo, desde onde os altos comandos militares, com o legendário general Guyen Giap à frente, davam as ordens para vencer o inimigo.
Em um espaço que mal chegava a 40 metros quadrados a prova de ataques nucleares, o refúgio se ocultava sob as ruínas de um departamento de comunicações derrubado de propósito, cuja imagem de destruição fazia que os pilotos o observassem com desdem.
Reafirmando os vaticínios de Ho Chi Minh, o período aqui batizado simbolicamente de "Dien Bien Phu no céu" obrigou os Estados Unidos a retornarem à mesa de negociações em Paris, onde o Vietnã travou uma brilhante batalha diplomática que concluiu com um acordo de paz em 1973 e a retirada das forças de ocupação.
Hanói foi o palco do princípio do fim de uma página ignominiosa da história da potência imperialista, que abriu o caminho para o destino do Vietnã, escrito posteriormente na libertação de todo seu território em Saigon em 1975 e na reunificação, reconstrução e desenvolvimento de uma pátria mil vezes mais formosa, como vislumbrava Ho Chi Minh sob as bombas.
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