quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Israel apanha “tiro pela culatra” da próspera indústria dos drones

 



Arieh O’Sullivan
13.Dez.12 :: Outros autores

Arieh O'SullivanMás notícias para o militarismo sionista que sonha com uma guerra de grande escala no Médio Oriente. Um drone iraniano voou ao longo da costa de Israel e penetrou fundo no país, ficando perigosamente próximo do sítio do complexo nuclear israelita. Ironicamente, o incidente revelou também como Israel, um dos principais exportadores mundiais de drones, estará talvez a provar o sabor do seu próprio veneno ou, no jargão da CIA, a receber um blowback (tiro pela culatra).


JERUSALEM — O drone iraniano que na passada semana voou ao longo da costa de Israel e depois penetrou fundo no país, ficando perigosamente próximo do sítio do complexo nuclear israelita, conseguiu abalar a auto confiança de Israel.
Uma das primeiras medidas das Forças de Defesa Israelitas (FDI) foi instalar rapidamente baterias antiaéreas Patriot fabricadas nos EUA para reforçar as defesas no norte de Israel. Foi então localizado um outro objecto não identificado que levou o governo a tomar a medida extrema de fechar o espaço aéreo, anular todos os voos comerciais e activar os jactos de combate.
As fontes militares insistem que a penetração do drone no espaço aéreo protegido não foi uma falha de segurança, mas o facto parece ter acendido uma luz vermelha no país que tem detido o monopólio de drones operacionais na região.
A ideia que os inimigos de Israel podem agora penetrar no seu espaço aéreo é alarmante e levanta o dilema da “Idade dos Drones” sobre como a proliferação na era pós-11/9 de veículos aéreos não-tripulados (UAV’s) pode agora minar a segurança global.
Ironicamente, o incidente revelou também como Israel, um dos principais exportadores mundiais de drones, estará talvez a provar o sabor do seu próprio veneno ou, no jargão da CIA, a receber um blowback (tiro pela culatra).
“Os drones desfazem a glória da guerra.” - Martin van Creveld, historiador militar
O chefe do Hezbollah, Sheikh Hassan Nasrallah, estava bem ciente do sentido de vulnerabilidade de Israel em plena proliferação dos drones quando se vangloriou na TV Al-Manar de peritos da sua organização terem montado e enviado para Israel o drone fabricado no Irão.
“Não foi a primeira vez e não será a última,” disse o líder da organização paramilitar e política xiíta no Líbano conhecida como “Partido de Deus”, uma das organizações terroristas na lista dos EUA. Fontes da segurança de Israel afirmam que o Hezbollah tem uma certa quantidade de UAV’s, alguns adaptados para transporte de bombas.
Enquanto Israel nunca admitiu operar UAV’s equipados com mísseis (ainda que o antigo primeiro-ministro Ehud Barak uma vez o tenha deixado escapar em directo na TV), os EUA têm marcado o tom com o uso do Predator para atingirem operacionais jihadistas e da Al-Qaida no Iémen, no Paquistão e no Afeganistão. Trata-se de uma estratégia altamente desestabilizadora, segundo alguns analistas.
“A utilização de drones em qualquer conflito é antes de mais não-ética. Os drones têm sido um factor de desestabilização. Têm sido usados efectivamente no Paquistão para combater a Al Qaida, mas as consequências têm sido dramaticamente negativas. E o mesmo se passa no Iémen,” disse Ayman Khalil, director do Instituto Árabe de Estudos de Segurança com base em Amman, na Jordânia.
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“Foi uma faísca importante para a revolução,” acrescentou Khalil, “porque mostrou que este regime foi ultrapassado pela utilização diplomática dos drones. Na minha opinião, pode-se dizer que o uso de drones pode ter efeitos negativos que incluem o de mostrarem os governos hóspedes poderem ser penetrados por um governo estrangeiro.”
Nos anos recentes, os UAV’s desempenharam um papel dominante nas operações da força aérea israelita (FAI) em várias frentes, principalmente no Líbano e na faixa de Gaza e dão conta de um quarto do nº total de horas de voo da FAI, de acordo com a revista da Defesa de Israel.
Mas, a seguir à penetração do drone lançado pelo Hezbollah, os comandantes militares israelitas estão preocupados com a ideia de que, se o Hezbollah os tem, é apenas uma questão de tempo até irem parar a mãos palestinianas na faixa de Gaza. De facto, o trajecto de voo da incursão do drone na semana passada levou-o à fronteira entre Israel e a faixa de Gaza, talvez numa tentativa de o apresentar como vindo da faixa costeira detida pelo Hamas.
Alon Unger, administrador da Op-Team-UM, que oferece consultoria a Israel e empresas estrangeiras sobre UAV’s, disse que “a maior parte dos países deve considerar os sistemas não-tripulados como uma ameaça utilizada por terroristas.”
“A realidade é que a utilização de veículos não-tripulados alastra e a questão é só a que velocidade isso vai acontecer,” acrescentou Unger, que é presidente da próxima conferência sobre veículos não-tripulados em Israel em Novembro próximo.
“Penso que a parte difícil dos sistemas não-tripulados está ultrapassada. Não são muito complicados de operar para missões não-complexas. Contudo, é o homem por detrás do sistema não-tripulado que fará a diferença,” disse.
A defesa aérea israelita afirma ter detectado o UAV no mar e tê-lo seguido quando entrou no espaço aéreo israelita a 12 mil pés. Foi fotografado e monitorizado durante 20 minutos, até ter voado perigosamente próximo de Dimona, local do complexo nuclear de Israel. Foi dada ordem a um F-16 para o abater. O primeiro míssil antiaéreo falhou, mas um segundo disparado um minuto depois atingiu-o, fazendo-o cair numa floresta onde os militares aguardavam para a recolha dos fragmentos.
Procurando marcar pontos na propaganda, a agência de notícias iraniana Fars anunciou que o comandante da Divisão de Defesa Aérea de Israel, brigadeiro-general Doron Gavish, tinha sido demitido devido às suas forças terem falhado na detecção do drone. Fontes militares israelitas confirmaram que Gavish foi substituído, mas de acordo com o planeado há meses. Além disso, o ministro da defesa de Israel difundiu dias depois uma foto do ministro da defesa Ehud Barak visitando uma base de defesa aérea no norte de Israel para elogiar os homens e mulheres aí de serviço pela detecção do drone.
Israel é uma das potências mundiais de desenvolvimento e fabrico de grande variedade de UAV’s, vendendo-os em todo o mundo, desde a América Latina, ao Extremo Oriente e ultimamente a África, o seu mais recente mercado.
Os peritos dizem que o mercado global de drones está em expansão e que os itens mais atraentes são os modelos mini, micro e gigantes, que executam cada vez mais missões anteriormente desempenhadas pela aviação tripulada.
“O mercado de UAV’s está em vias de se desenvolver a passos gigantes e de se tornar o maior bloco de vendas de aeronaves no mundo,” disse Arie Egozi, perito de aviação que cobriu a indústria de drones de Israel durante mais de duas décadas.
Os dois maiores fabricantes de UAV, a Indústria Aerospacial de Israel (IAI) e a Elbit Systems Ltd., estão bem conscientes da necessidade de cooperarem para apanharem parte importante do crescente mercado global de UAV’s. Hoje, o mercado está avaliado em 6 mil milhões de dólares, mas espera-se que duplique na próxima década e cresça até ao que alguns executivos do ramo da defesa de Israel calculam que pode alcançar 50 mil milhões em 2020.
Dizem certas fontes que este mercado global de drones rapidamente em crescimento exige cooperação íntima para reduzir a influência de ‘novos atores’ no mercado, principalmente da Europa e da China. De momento, os EUA e Israel dominam o mercado e têm vendido agressivamente os seus produtos nas feiras aéreas internacionais, de Dubai a Paris.
Israel está de facto a acelerar para alargar as suas vendas, dizem fontes da indústria de defesa israelita. A África tornou-se o último mercado importante para os fabricantes israelitas de UAV’s, acrescentam. Os países africanos procuram especificamente UAV’s de “primeira qualidade”, para simples vigilância e espionagem sem carga.
Recentemente, o ministro israelita da Defesa aprovou a venda dos UAV “Heron” da IAI a alguns países africanos. A IAI, a Elbit e a Aeronautics venderam sistemas UAV a Angola, Quénia, Costa do Marfim, Nigéria, Etiópia e Tanzânia. Os fabricantes israelitas de UAV’s conseguiram facilmente o mercado do continente africano e a única competição longínqua que enfrentam é da África do Sul, disse Egozi.
Mas, os clientes mais fortes de Israel estão a oriente, na Índia, em Singapura e no Azerbaijão. A Índia estabeleceu fortes laços militares com as indústrias de defesa israelitas e tornou-se o seu mais lucrativo mercado depois de Washington ter feito baixar as vendas militares de Israel para a China há uma década. As forças armadas indianas usam correntemente cerca de 100 UAV’s Searcher-II e 60 Heron, ambos fabricados pela IAI, mas estão também em vias de desenvolverem os seus próprios drones com a ajuda de Israel.
Esses UAV’ são sobretudo usados para vigiar a fronteira com o Paquistão, onde UAV’s operados por americanos estão em serviço. O Paquistão tem feito pressão para receber o Predator armado, fabricado pela General Atomics em San Diego, como parte do pacote de ajuda militar de Washington. O subsecretário da Defesa dos EUA Michele Flournoy terá garantido no mês passado à Índia que só seriam vendidos ao Paquistão drones desarmados. Mas, Islamabad ainda está esperançada em obter Predators armados no futuro próximo. Entretanto, o Paquistão tem estado a desenvolver de parceria com a China um drone armado, o que o colocaria em vantagem sobre a Índia, que não possui qualquer UAV armado reutilizável.
Entra de novo Israel.
Israel abasteceu a Índia com alguns drones “kamikazes” chamados Harpy, que pairam sobre alvos como instalações de radar e depois se ajustam para o golpe, autodetonando-se quando o atingem. Porém, a Índia pretende o que é conhecido como Veículo Aéreo Não-tripulado de Combate (UCAV), de preferência com aptidão para altitude média e longa duração. Israel está a ajudá-la a desenvolver o Rustom, que pode voar a 9000 metros durante até 24 horas e mais de 1000 quilómetros e pode alegadamente funcionar como drone assassino que poderia ser usado contra suspeitos terroristas em Cachemira.
Mais próximo de casa para Israel é o Azerbaijão, que adquiriu mais de 1600 milhões de dólares de equipamento militar israelita, incluindo cinco drones Heron e cinco Searchers, ambos feitos pelo IAI, e uma dúzia de Hermes 450, fabricados por Elbit. Um deles foi aparentemente abatido pelas forças arménias no ano passado sobre o enclave em disputa de Nagorno-Karabakh.
Não foi o primeiro UAV feito em Israel a ser perdido na região. Houve também outros, lançados e perdidos pelo pequeno exército georgiano em 2008. As indústrias nacionais de defesa de Israel estão dependentes das vendas ao estrangeiro de modo a poderem sobreviver e o ramo de Cooperação & Exportação da Defesa do ministério da Defesa está bem organizado para dar uma ajuda, mesmo que tal signifique por vezes um conflito de interesses. A Elbit forneceu à Geórgia drones de vigilância Hermes 450 e, quando rebentou o conflito com a Rússia sobre a Ossetia do Sul em 2008, a Rússia conseguiu abater três deles.
A coisa tornou-se ainda mais complicada. De acordo com dados divulgados pela WikiLeaks, Israel cedeu à Rússia dados secretos sobre os códigos de ligação para os drones da Geórgia, em troca pelos códigos do complexo de mísseis Tor-M1 vendido por Moscovo ao Irão. Isto teria permitido à Rússia entrar nos drones da Geórgia e fazê-los cair e a Israel penetrar ou desactivar os mísseis antiaéreos iranianos.
“Os russos viram como eram eficientes (os drones israelitas) e acabaram por assinar negócios com a Industria Aerospacial Israelita para desenvolver um UAV conjunto,” disse Egozi.
Inicialmente, a IAI vendeu-lhes o mini Bird-Eye 400, o I-View Mk 150 de curto alcance e o Searcher II de maior alcance. Mas, isso levou a um contrato no valor de 400 milhões de dólares entre a IAI e o grupo russo Oboronprom OPK, em que a Rússia fabrica o Heron 1, um dos mais avançados UAV’s de Israel. A experiência russa com UAV’s era então virtualmente nula e este contrato marcou uma das primeiras compras pela Rússia de um sistema de armamento estrangeiro.
Por essa altura, Jacques Chemia, engenheiro-chefe da divisão de UAV’s da IAI, disse aos jornalistas “Israel é o primeiro exportador mundial de drones, com mais de 1000 vendidos em 42 países.”
Os documentos da WikiLeaks revelaram além disso que Washington se opôs à cooperação de Israel com a Rússia nos drones.
“A tecnologia dos UAV’s de Israel é totalmente ‘azul e branca’,” disse Egozi, utilizando uma expressão que significa ‘made in Israel.’
“Desde os materiais compósitos à capacidade de carga útil, os EUA vêm os drones israelitas como competição a sério, como o Heron TP contra o Predator,” acrescentou Ergozi.
Israel continuou a penetrar no mercado dos UAV’s, mesmo junto de potenciais clientes dos EUA. A Alemanha operou o Heron 1 da IAI para missões no Afeganistão. O projecto Watchkeeper do Reino Unido baseia-se no UAV Hermes-450 da Elbit. A Polónia anunciou recentemente estar a substituir o avião de combate Sukhoi-22 por UAV’s e planeia adquirir entre 125 a 200 drones. Israel vai subindo com este lucrativo negócio. Tanto a França, como a Alemanha estavam para comprar o Heron TP de maior escala, mas devido a mudanças nos respectivos governos estão actualmente reavaliando o assunto.
Além disso, Israel enfrenta crescente competição da parte dos EUA. O Washington Post informou recentemente que a General Atomics recebeu autorização para exportar para o Médio Oriente e para a América Latina um drone Predator desarmado de primeira geração, de acordo com a porta-voz da companhia Kimberly Kasitz. A General Atomics está agora em conversações com a Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos e o Egipto, entre outros, disse ela. Do mesmo modo, os europeus estão ansiosos por entrarem no mercado. Uma fusão pendente entre a EADS e a BAE Systems da Grã-Bretanha poderia estabelecer condições para cooperarem e desenvolverem os seus próprios UAV’s.
“Estão a ser inventadas uma quantidade de aves, mas fazer um bom centro de controlo no solo e lidar com uma missão não é fácil,” disse o consultor de UAV’s Ungar. “Há uma grande diferença em ter a capacidade e ter um sistema operacional. Há mais de 600 empresas no mundo fabricando sistemas não-tripulados, mas o difícil é fazer um sistema operacional funcionando 24 h por dia e 7 dias por semana.”
Disse ele que o mercado está a mudar e que os clientes não estarão apenas a procurar pela gama, resistência e capacidade de carga dos UAV’s, mas também pela sua capacidade para encontrarem os alvos e concluírem a missão. Trata-se de uma área onde sente que Israel tem a experiência e o marketing decisivos.
A proliferação de drones não está restrita aos países ocidentais. A China introduziu-se rapidamente no mercado dos UAV’s com vontade determinada de recuperar. Começaram por apresentar os seus modelos nas feiras comerciais. Mas foi o Irão o último a anunciar um novo tipo de drone de combate. O comandante do corpo de Guardas da Revolução Islâmica major-general Mohammad Ali Jafari revelou em Setembro passado que o novo UAV chamado “Shahed 129” podia voar 2000 quilómetros e lançar mísseis que punham Tel Aviv ao seu alcance.
“Disse-se que se usavam drones porque eram mais precisos e evitavam danos colaterais. Foi essa a principal razão para os introduzir. Mas, o inimigo aprende a adaptar-se e de qualquer modo não parece que se tenham tornado mais precisos,” disse Martin van Creveld, historiador militar proeminente que escreve sobre o futuro da guerra.
“Sugiro que no 14 de Julho, dia da Bastilha, em vez de voarem sobre os Campos Elísios com aviões de combate, os franceses usem antes drones. Seria uma parada de drones, porque é nisso que a guerra se está a transformar,” disse Creveld.
“A guerra foi sempre combatida em parte pela glória e não se consegue a glória matando, mas arriscando a vida. Os drones roubam a glória à guerra. Com robots, a glória vai-se toda embora,” disse Creveld, autor de The Transformation of War (A Transformação da Guerra). “Não seria talvez uma boa coisa?”
Tradução: Jorge Vasconcelos
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