segunda-feira, 18 de junho de 2012

Termômetro moscovita sobre disputa nuclear iraniana

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Escrito por Erica Soares
lunes, 18 de junio de 2012
18 de junio de 2012, 10:26Imagen activaermômetroMoscou, 18 jun (Prensa Latina) A discussão em Moscou sobre a disputa em torno do programa nuclear iraniano poderia converter-se hoje em um termômetro sobre se será mantido um esquema de negociação ou se se passará a relações mais belicosas entre Teerã e o Ocidente.

Todo o assunto gira em torno de algo que o Irã considera há muito tempo como um tema fabricado artificialmente pelo Ocidente: as suspeitas de que prepara uma arma nuclear sob a camuflagem de um programa de uso pacífico da energia atômica.

Os Estados Unidos durante muitos anos, usando esse argumento, impuseram sanções unilaterais à República Islâmica que tiveram pouca acolhida em outras capitais ocidentais, mas nos últimos cinco anos, em meio a uma intensa campanha informativa, somou adeptos a seu plano.

De fato, a nova rodada de conversas que em dois será realizada no capitalino hotel Anel de Ouro para tratar o assunto iraniano pelo chamado sexteto mediador, ocorre quando Washington prepara a colocação em vigência de outra lei extraterritorial.

A Rússia, a China, a Grã-Bretanha, a França, os Estados Unidos e a Alemanha conformam o chamado sexteto que após um recesso de 13 meses, iniciou neste ano uma série de conversas com Teerã, primeiro em Istambul (14 de abril) e depois em Bagdá (23-24 de maio).

Mas enquanto isso ocorre, inclusive depois do secretário geral do Organismo Internacional para a Energia Atômica (OIEA), Yukiya Amano, anunciar um acordo com o Irã para retomar as inspeções, o Ocidente planeja novas restrições unilaterais contra esse país.

A União Europeia (UE) colocará em vigor, a partir do próximo 1 de julho, um embargo sobre a compra do petróleo contra o Estado persa, enquanto no dia 28 deste mês a Casa Branca inicia a aplicação de uma legislação contra o Irã que afeta terceiras nações.

Washington pretende fechar seu mercado às companhias estrangeiras que ousem manter relações com o Banco Nacional do Irã, uma medida qualifica de perniciosa para as relações entre a Rússia e os Estados Unidos pelo assessor presidencial russo, Yuri Ushakov.

Tais sanções serão um golpe para os vínculos entre Washington e Moscou e para as perspectivas de cooperação na esfera internacional, declarou Ushakov na véspera da viagem do presidente Vladimir Putin à reunião do Grupo dos 20, no México.

Na cidade dos Cobos, Putin realizará seu primeiro encontro com seu homólogo estadunidense, Barack Obama, depois de assumir o posto máximo do Kremlin e seguramente o tema iraniano estará presente nestas conversas.

Mas o diálogo em Moscou tem muitas arestas. O ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, defendeu recentemente a necessidade de se discutir um documento apresentado ao Irã em Bagdá, baseado nos princípios de reciprocidade e no trabalho por etapas.

A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, demonstrou a posição intransigente de seu governo ao demandar a completa suspensão por Teerã de seu programa nuclear e a elaboração de um protocolo para inspecionar o cumprimento dessa demanda.

O secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, Said Yalili, expressou, por sua vez, sua esperança de que nesta cidade a comunidade internacional reconheça oficialmente o direito de seu país ao uso da energia atômica e ao enriquecimento do urânio.

Yalili declarou ao chegar ontem a esta cidade que sua nação buscar explicar uma contraproposta de cinco pontos lançada pela parte iraniana na capital iraquiana, baseada nos princípios do Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual a nação persa é signatária.

A delegação russa é encabeçada pelo vice-ministro do Exterior Serguei Riabkov, que se reuniu ontem com o delegado iraniano e no último sábado com o negociador chinês Mao Zhaoxu, destaca o diário Komersant.

O próprio jornal afirma que na presente rodada de negociações, será proposto ao Irã a limitação do enriquecimento de urânio em sua usina de Natanze de 20 por cento entre 3,5 e 5, bem como o fechamento da usina nuclear subterrânea de Fordo.

Da mesma forma, Komersant assinala seria proposto a Teerã utilizar 145 quilogramas de urânio enriquecido para produzir isótopos no reator experimental para investigações médicas de Bagdá.

Por sua parte, o Ocidente deseja inspecionar a instalação atômica de Parchin, onde a imprensa ocidental especula que a República Islâmica supostamente elabora a arma nuclear.

No entanto, o jornal afirma que não existe nenhuma posição comum com relação às referidas propostas.

Por seu lado, Ushakov avalia como inadmissível a imposição de sanções unilaterais contra o Irã, pois estas não só perderam sua razão de ser, senão que, também, prejudicam o próprio processo para a busca de uma solução pacífica à disputa citada.

Nesse sentido, o especialista do Instituto de Avaliações e Análise Estratégica da Rússia, Serguei Davidenko, descarta pelo momento uma ação bélica contra Teerã ao considerar que o Ocidente aposta na desestabilização do governo iraniano por dentro.

Os golpes contra o Irã vão na direção econômica, cultural e de política exterior, com um reforço do bloqueio internacional, somado a uma feroz guerra informativa, opina o especialista.

Davidenko estima que a ameaça da guerra contra Irã é quase pior que a própria guerra, pois obriga o país a dedicar grandes esforços e recursos à defesa, em detrimento de seu desenvolvimento econômico e de sua esfera social.

Tanto Davidenko como David Sazhin, do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, esperam poucos resultados relevantes do debate nesta capital, ainda que consideram um avanço caso se cheguem a um acordo para a realização de outra rodada, opinam.

Yalili reúne-se aqui com a Alta Representante da UE para as Relações Internacionais e Assuntos de Segurança, Catherine Ashton, e com os mediadores do sexteto, mas as posições são muito divergentes pelo que as chances de sucesso são poucas.

ocs/to/es
Modificado el ( lunes, 18 de junio de 2012 )
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