sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

R.I. Kossolapov: Comenta sobre Stáline & clichês anticomunistas


A Verdade




sobre Stáline


Entrevistas




􀁺

Richard Kossolapov




􀁺

Vladimir Suchodeiev




e Boris Soloviev




Tradução do russo de Hans-J. Falkenhagen

14 Abril 2006




Índice




Conversa com Richard Ivanovitch Kossolapov, preâmbulo.................................3

Introdução à primeira entrevista..........................................................................4

Entrevista...............................................................................................................5

Introdução à segunda entrevista...........................................................................18

Entrevista...............................................................................................................19

Conversa com Vladimir Suchodeiev e Boris Soloviev

Introdução à entrevista ………………..…………………...............................................33

Entrevista ………………………………………………………………………………………………..34

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Conversa com Richard Ivanovitch Kossolapov




Prof. Dr. em Ciências Filosóficas




Preâmbulo




Em duas entrevistas, o Professor Dr. Kossolapov, um reputado cientista da área da Filosofia e da Politologia na ex-União Soviética, colaborador do CC do PCUS, tomou posição em relação a importantes questões sobre o papel de Stáline na história da União Soviética (URSS) e do movimento comunista. De forma convincente e científica, reconduziu a actuação de Stáline enquanto político e homem de Estado ao terreno dos factos históricos, arrumou com falsos clichés sobre Stáline assim como refutou calúnias sobre a sua pessoa e falsificações sobre os seus resultados históricos. Com isso fornece matéria fundada para uma discussão rigorosa sobre Stáline enquanto excepcional marxista-leninista, político e homem de Estado. Cada vez mais pessoas nos países da antiga URSS, na Europa e noutros continentes, que foram vítimas de uma campanha de mentiras e desinformação anti-stalinista que quase não conhece paralelo na História, têm feito uma avaliação real de Stáline, ultrapassando as barreiras de informação erguidas em torno desta figura.

A condenação oficial de Stáline encontrou enorme resistência logo imediatamente a seguir ao discurso secreto de Khruchov em Fevereiro de 1956. Apesar da discriminação política e perseguição de fiéis marxistas-leninistas por parte de Khruchov, a memória e a admiração por Stáline não foi eliminada no povo soviético. Porém, foi necessário esperar até à deposição de Khruchov, em 1964, para que também na URSS se pudesse novamente escrever e falar sobre o papel de Stáline numa atmosfera de liberdade de informação e de opinião.

Infelizmente, a partir de 1967, o curso de Andropov, que começou a impor-se enquanto chefe do KGB, insistiu de novo na condenação de Stáline e impediu a sua reabilitação oficial como era exigido nos anos 60 não só pela maioria dos cidadãos soviéticos, mas também por inúmeros membros do CC incluindo membros da Comissão Política. O anti-stalinismo pôde assim ser transformado na principal arma da contra-revolução iniciada com pés de lã, depois levada por diante abertamente.

Sob Gorbatchov e Ieltsin, a diabolização de Stáline ganhou formas grotescas e inquisitoriais, aliada a uma sistemática estupidificação do povo. O Prof. Dr. Kossolopov foi uma das personalidades que corajosa e discretamente assumiu na Rússia a luta contra a maré de mentiras e ultrajes lançada sobre Stáline. Ele tem o mérito de ter retomado na Rússia a edição das obras completas de Stáline. Pela primeira vez foram apresentados sob a sua redacção os tomos 14 e 15, proibidos ainda sob Khruchov. Para além disso, a colecção das obras completas foi alargada a um novo tomo 16. Assim, um largo público tem de novo a possibilidade de formar o seu juízo independente sobre Stáline, sem estar dependente dos fazedores de opinião hipócritas e falsificadores da história. Presentemente existem publicadas na Rússia várias obras que transmitem uma imagem relativamente objectiva e fundada de Stáline.

Com a publicação das duas entrevistas com Kossolapov num Caderno (a primeira entrevista foi publicada num Caderno Especial), e depois da publicação em alemão do livro de Ludo Martens,

Um outro olhar sobre Stáline e das brochuras de Kurt Gossweiler, O Anti-Stalinismo, o obstáculo principal da unidade de todas as forças anti-imperialistas no movimento comunista e A verdade sobre Stáline, desmascaramento do pérfido e hipócrita discurso secreto de Khruchov ao XX Congresso do PCUS, queremos continuar o esclarecimento sobre o papel de Stáline nos países de língua alemã.




Hans Wauer

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Introdução à primeira entrevista




Stáline... o seu nome continua a provocar uma furacão de contradições. A polémica em seu torno é tal que se diria tratar-se de algum político no activo e não uma figura que morreu há 45 anos.

Está completamente fora de dúvida que Stáline foi uma das grandes personalidades do século XX. Mas as diferentes avaliações da sua pessoa chocam-se com estrondo. Também dificilmente se pode afirmar que, no que diz respeito a Stáline, já tudo foi feito para o homenagear devidamente, que a sua obra foi analisada objectivamente e de todas as perspectivas. O preconceito enraizado impediu uma avaliação objectiva no Ocidente, e isso teve efeitos durante muito tempo no nosso país que perduram com todas as consequências negativas.

De que apreciação e objectividade se trata quando a opinião não oficial mas dominante sobre Stáline impõe que ele ou não é nada ou é simplesmente algo mau. Chega ao absurdo quando o simples enunciar do nome Stáline é visto como indesejado ou inadmissível. Stalinegrado transformou-se em Volvogrado, o Prémio Stáline em Prémio de Estado e não só para aqueles que receberam o prémio depois da morte de Stáline. Um velho construtor de gasodutos e oleodutos, Vassili Isaevitch Molchanov, que pertencia ao meu círculo de amigos, recebeu o Prémio Stáline em 1949 pela sua participação na construção do gasoduto Dachava-Kiev-Briansk-Mosvovbo. Porém, o diploma do distinguido, que fora assinado por Stáline, foi trocado em 1962 por um outro que tem a assinatura de Keldich. E Molchanov tornou-se numa pessoa distinguida não com o Prémio Stáline, mas com o Prémio de Estado. Tudo isto aconteceu como se fosse possível desta forma riscar da História um nome histórico.

O regresso de Stáline à nossa consciência e à nossa vida, não à caricatura a que obstinadamente se continua a tentar ligar este nome, é sob diversos aspectos instrutivo. Acima de tudo (e isto é absolutamente indiscutível!) prova o seguinte: não se pode simplesmente fazer desaparecer nomes da história como de um cancioneiro. Suponhamos que alguém sugere, sob um qualquer pretexto, retirar o cemitério da Praça Vermelha, «limpar a Praça Vermelha do seu cemitério». Seja o que for que pretenda obter com isso, terá seguramente um resultado exactamente oposto ao que desejava...

Naturalmente que o poeta tem razão: reconheces melhor a grandeza à distância. Stáline também se torna agora mais perceptível para nós – e eu espero que ele ainda se torne mais perceptível com o tempo, que ganhemos maior consciência da sua importância. A entrevista que se segue pretende contribuir para uma compreensão despreconceituada da personalidade e obra deste grande dirigente político do nosso país e da época mais difícil, mais complicada e seguramente também a mais heróica da sua história.




Viktor Kochemiako

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Entrevista

Viktor Kochemiako (VK)

Richard Ivanovitch, proponho falar-lhe sobre Stáline e sobre a sua relação com Stáline. Tenho consciência de que se trata de um tema muito abrangente, quase inesgotável. Seguramente que jamais poderá ser tratado completamente até ao fim. Mas no final do século XX pode certamente retirar-se algumas conclusões preliminares sobre este tema e apresentar alguns factos. Inesperadamente para mim, quando começou a publicar os seus artigos foi de imediato classificado de pró-stalinista.




Tenho quase a mesma idade do que você. A nossa infância e juventude passámo-las durante os anos de Stáline, nutrindo uma certa admiração pelo «chefe», mas também (falo por mim) com a sensação de que muitas das palavras laudatórias que ouvíamos sobre ele eram exageradas. E depois chegou o XX Congresso, a intervenção de Khruchov (o seu discurso secreto) e de repente tudo o que tinha a ver com o seu nome foi literalmente deitado fora. Foi uma nova avaliação em sentido contrário. O mais tornou-se em menos. A mim parece-me que quase todos nós, os que hoje são sexagenários e pertenceram aos «anos sessenta», nos tornámos para sempre anti-stalinistas. Agora, contudo, tenho de reconhecer que reavaliei muita coisa em sentido inverso. E penso que isto aconteceu não só comigo. Como é que se alterou a sua relação com Stáline?




Richard Kossolapov

– Não sei, talvez tenha que ver com a tradição familiar, mas a relação com Stáline tem sido, em geral, a mesma ao logo do percurso da minha vida consciente. Naturalmente que apareceram questões nos períodos da admiração sem limites ou da sua destronização cega. Que questões? Não fora desmascarado nada que eu próprio já não tivesse já intuído; então porquê isto agora e desta forma? Mas as minhas interrogações tinham mais a ver mais com nuances psicológicas, incompreensões, com as relações pouco claras e condições concretas, etc., do que, propriamente, com o lugar de Stáline na história da sociedade soviética e a sua obra. Nasci no tempo em que Stáline escreveu o artigo «A Vertigem dos Êxitos», o famoso texto stalinista sobre os exageros da colectivização. Eu encontrava-me junto aos lugares e às pessoas que Cholokhov tipificou no seu romance, Terras Desbravadas. O meu pai, nessa época com 25 anos, era secretário de uma célula territorial do Partido e comissário para a organização dos kolkhozes, a minha avó materna também era comunista. Desde cedo, numa família que não reconhecia nenhuns ídolos, tanto ouvi palavras boas sobre Lénine (Ele era assim! Isso era Lénine!), como palavras na direcção de Stáline, palavras diferentes entre as quais algumas rudes.




Lembro-me dos nossos hóspedes antes da Guerra – soldados vermelhos de cavalaria,

partisans, participantes na defesa de Tsarisin. Um deles uma vez contou-nos: «Veio ter connosco às trincheiras um Comissário do Exército enviado pela Central. Nós famintos, ali acocorados, e o pior de tudo, a machorka1 há muito esgotada. O inimigo atacava-nos fortemente. Rodeámos o Comissário do Exército e, espanto dos espantos, era o camarada Stáline em pessoa...»




Também me lembro dos olhares que, com angústia e esperança, se dirigiam para Moscovo no Verão de 1941; e aí aconteceu um acto de bravura de Stáline que, a 7 de Novembro, como habitualmente, foi à tribuna do Mausoléu de Lénine. Os fascistas já se encontravam na periferia de Moscovo. Lembro-me das palavras especialmente calorosas e honrosas, directas ao coração, dirigidas aos combatentes das batalhas do Inverno de 1943. Stáline usava a palavra

bátia..., que não se deixa traduzir em outras línguas. [A palavra bátia significa, no contexto referido e em tradução livre, meus queridos e heróicos irmãos e irmãs; heróicos filhos e filhas da Pátria. Noutros contextos pode ser traduzida como expressão de profundo reconhecimento, estima e solidariedade pessoal.]




Não temos de fechar hoje os olhos perante tamanho entusiasmo, de fugir do que as pessoas nessa época conseguiram fazer sob a direcção de Stáline. Cortar com isso é pernicioso tanto para um funcionário político como para qualquer Partido [Comunista] do nosso país. Ora, cortou-se




1

Machorka: qualidade de tabaco russo derivado do tabaco selvagem Nicotiana Rustica (também conhecido como tabaco de camponês), originalmente cultivado pelos índios no leste da América do Norte e actualmente quase só existente na Rússia e Polónia. (N.T.) 5




com o passado heróico, não se conservou a linha da tradição. Não residirá aí uma das chaves, uma das causas fundamentais para a nossa miséria das últimas décadas, para a derrocada do PCUS e das conquistas socialistas, para a decadência do poder da URSS?

O relatório brochado sobre Stáline (o discurso secreto) foi-me entregue com enorme secretismo pelo meu responsável da altura. «Não o leves para fora do edifício. Quando fores embora, fecha-o no cofre!».

Quero dizê-lo frontalmente, a impressão sobre esta obra foi sombria. Por esta altura, apesar de toda a inexperiência política, já tinha frequentado a Faculdade de Filosofia da Universidade Estatal de Moscovo, recebido uma excelente formação hegeliana e marxista, assimilado o conhecimento sobre a herança de Lénine e lido tudo o que existia sobre Stáline. Considerei provocatória e sórdida a alusão à suposta participação de Stáline no assassínio de Kirov. Muito do relatório secreto parecia uma vingança pessoal, como vestígios de antigas humilhações, baseado em boatos de bastidores do aparelho. Os factos eram parciais, escolhidos e encadeados anacronicamente, sem que o princípio da análise histórica concreta fosse aplicado.

Não sabia e não podia naturalmente saber à época, que Khruchov redigira o texto com a ajuda de Pospelov e Chepilov, o reformulou torneando o CC e o seu

Presidium, e o apresentou à margem do Congresso como um género de anexo a solo. A leitura do relatório secreto teve lugar depois de o Congresso ter elegido os novos órgãos centrais dirigentes e de os trabalhos, em rigor, já terem terminado, num momento em que os delegados ao Congresso já não exerciam os seus poderes estatutários e, na melhor das hipóteses, estavam ali no papel de ouvintes passivos. Foi exactamente assim que surgiu «a linha do XX Congresso» que tanto contribuiu para enterrar o movimento comunista. Repito-o: no conjunto não sabia e também não podia saber, mas intuitivamente sentia a hipocrisia e a mentira, e também por isso não me tornei num indefectível anti-stalinista.




Sim, também me considero um «dos anos sessenta». Mas porque é que entre estes, entre nós, só são conhecidas pessoas do tipo de um Evtuchenko, um Kariakin, Burlazki ou Arbatov, e porque é que se esqueceram dos que são de um outro tipo. Tenho em mente os que entraram na política na maturidade das suas vidas, com uma outra preparação ideológica e com uma outra bagagem ético-social. Para mim, foram a infância na guerra, a escola do

Capital, a descoberta das primeiras obras de Karl Marx, a ligação com a «nova esquerda» da Sorbonne, as obras e discursos de Fidel Castro e de Che Guevara. Estará de acordo comigo, estes também foram dos «anos sessenta». Lamentavelmente, aqui entre nós, foram todos envenenados e esmagados (como aconteceu especialmente com E. Ilienkov), mas os da geração de sessenta eram científicos – românticos e não liberais – pragmáticos, como ainda há pouco se gabavam aqueles que se auto-intitulam de «democratas».




E ainda tenho de dizer outra coisa. Nunca escrevi nenhum artigo «pró-stalinista». O tema de Stáline só foi tratado acessoriamente nas minhas publicações iniciais, digamos, tratado de raspão. Só em 1995 editei uma colectânea de textos de Stáline, nos quais é apresentada uma previsão perspicaz da possibilidade de derrota da nossa revolução, caso surgissem determinadas condições, que não se formam espontaneamente mas que se criam premeditadamente, como as que, sem dúvida, pudemos observar nos anos de 1985-1993. Cerca de um terço do livro, que tinha como o título,

Uma Palavra ao Camarada Stáline, era constituído pelos meus comentários que, de forma suficientemente objectiva, assim espero, referem os méritos e os defeitos dos textos incluídos.




Outros dois artigos, e também estes não eram «pró-stalinistas», apareceram quando um velho colega, Leon Onikov, iniciou uma polémica contra mim. Leon não quer rever nada, despreza os anos da bastante inesperada mudança do curso da História e a necessidade de reexaminar os estereótipos da juventude. Ele não nota, por assim dizer, que os ataques renovados de tempos a tempos contra Stáline foram utilizados para enterrar a autoridade de Lénine e de Marx, os seus ensinamentos, o Estado Soviético, a ordem social socialista, a posição geopolítica da nossa pátria. O meu objectivo não é fazer apologia, difamar, carregar as tintas, mas simplesmente esclarecer. Consiste em devolver aos nossos compatriotas um autor desconhecido – devolver-lhes Stáline com toda a sua simplicidade de vida.

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VK
– Considera-se stalinista? E esta pergunta relaciona-se logicamente com o que entende sob o conceito «stalinismo»?




RK

– Não, não me considero stalinista. De acordo com a minha concepção do mundo sou um partidário e defensor do materialismo dialéctico e, se se quer designar isso com um nome, então sou marxista-leninista. Penso que este atestado sobre mim próprio é suficiente. No que diz respeito ao conceito de «stalinista», entre nós ele foi posto a circular ou por elementos trotskistas de esquerda ou por revisionistas de direita. Foi sempre utilizado para desacreditar os partidários e defensores do socialismo real.




Ao longo de décadas a palavra ganhou vários sentidos e assumiu também o significado de insulto e injúria. Com esta palavra era possível atacar tanto partidários de métodos de direcção burocrático-militares, indivíduos com estilo autoritário e pensamento conservador, dogmático, etc., como pregar uma partida a pessoas honestas com ideias claras e moral rigorosa, pessoas que não se deixam levar por influências conjunturais, que não são equilibristas nem conformados ou hipócritas.

Também apareceram alguns «stalinistas», especialmente entre os «patriotas», que são antileninistas. De forma ingénua, só aceitam em Stáline o seu «poder de Estado», procurando transmitir a ideia, através de insinuações astuciosas e enganadoras, de que o poder de Estado, o Estado, foi construído à margem e contra a influência de Lénine e do leninismo. Stáline ter-se-ia seguramente afastado de tais «stalinistas».

Aliás, durante a minha infância e juventude era uma honra ser chamado de Stalinez ou Stalinzi, mas esforçaram-se por deixar cair este nome no esquecimento.




VK
- Penso que actualmente não há muita gente que seja da opinião de que Stáline era um zero, um semi-analfabeto, um paranóico, etc. Até Radsinski canta uma outra cantiga no seu livro e no seu programa de TV. «Um grande facínora», «um génio do mal» – é esta a tónica da versão dominante. Qual é a sua opinião? É claro que Stáline é uma personalidade profundamente complexa e contraditória. Mas o que é que, na sua opinião, respeitando o equilíbrio histórico, a justiça histórica, caracterizou mais a sua actuação: foi de facto o Mal ou antes o Bem? Também tenho consciência de que a pergunta nestes termos é uma simplificação primitiva, mas no entanto quero colocá-la assim.




RK

- A versão «Génio do Mal» ou «Génio da Desgraça» é absolutamente indefensável. É até absurda, se se pensar na dimensão da personalidade histórica que Stáline de facto foi. Ninguém com bom senso deve colocar-se num plano superior, ousar parecer mais inteligente e descortinar segredos que jamais existiram nesta pessoa. Mas Radsinski procura desempenhar esse papel, ou seja, pairar sobre um político que realizou grandes feitos. Mais ainda, usando a voz, os olhos e os lábios como máscaras, representa simultaneamente dois papéis: primeiro o do grande facínora e depois o de juiz transformado em vítima.




Muitos talvez gostem mas, na minha opinião, o que Radsinski aqui oferece deixa uma má impressão no espectador. Penso que esta paródia (e autoparódia) de Radsinski é uma boa peça satírica de teatro, talvez até bem representada, mas é desonrosa de Stáline.

Para compreender Stáline na sua realidade e não produzir uma figura fantasiosa temos de reter que ele recebeu uma formação teológica. Conhecia bem a retórica da Igreja, os ensinamentos da Igreja sobre o Bem e o Mal e, para ele, o Mal de forma geral não era um fenómeno abstracto. Stáline compreendeu o Mal sempre de uma forma muito concreta, como algo que se pode materializar nas pessoas e nas relações sociais. Tal materialização do Mal era, para ele, a propriedade privada, a burguesia, o imperialismo, todas as formas de tendências oportunistas e antiproletárias dirigidas contra a Humanidade, entre outras.

Stáline nem era demónio nem anjo.

O Mal era para ele um conceito de sentido filosófico. Ele podia fixar o adversário e atacar à sua maneira. Podia enganar-se, mas simultaneamente conseguia ser sábio e compreensivo. Stáline teve sempre um objectivo principal – a destruição do poder absoluto do Capital e da ameaça imperialista, queria poder e bem-estar para o Estado soviético e para o povo trabalhador.

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A miséria de todos os seus inimigos e críticos consistiu no facto de, em regra, só pensarem em meias categorias, de lhes ser inerente um pensamento parcial. Com o seu raciocínio abrangiam uma determinada situação de vida, um aspecto fragmentário, um episódio local – Stáline abrangia sempre a totalidade, isto é, ele tinha sempre em vista a situação total, a complexidade de uma constelação. Se outros, os adversários, se limitavam a reflectir sobre uma região, ele avaliava perdas e ganhos à escala mundial. Stáline era um pensador global, os seus adversários e críticos, quando não eram directamente agentes dos inimigos da URSS, não passavam de indivíduos com horizontes espirituais tacanhos.

Naturalmente que a afirmação de Khruchov, de que Stáline planeava as operações da frente da Grande Guerra Pátria num globo, é um disparate há muito refutado. Mas onde e em quê Khruchov, que na realidade não passava de um tagarela, tinha realmente razão? Quando se analisa a dimensão do pensamento de Stáline, verificamos que ele entendia como nenhum outro que o Mal, limitado na sua acção, podia ser utilizado para servir o bem geral (a nova ordem social socialista foi criada de acordo com esta sua convicção). Ou seja, quando não havia outra saída, por vezes, ele sabia ser duro e impor o Bem. Devia reflectir-se sobre isto.

Na minha opinião, analisando o seu carácter, Stáline não era uma pessoa má. Mas a vida incomensuravelmente difícil que teve, pode dizer-se em todas as dimensões, as vilezas e profundas maldades, o cinismo e crueldades com que se deparou e, em muitos aspectos, o atingiram ao longo da vida, a frequente solidão intelectual e ética e o abandono deixaram marcas profundas na sua personalidade.

Mas tudo isto só torna ainda mais respeitável o facto de ter mantido sempre um elevado padrão de valores éticos e um abnegado comprometimento social. Stáline nunca se poupou e também não permitia que outros se poupassem quando estava em causa a defesa de valores essenciais. Muitos não concordaram com esta sua atitude. E muitos não lha perdoaram. Não tenho aqui o objectivo de fazer um juízo definitivo sobre tudo isto e, ainda menos, de justificar alguém. Tenho sempre presente que uma explicação não é nenhuma justificação. Vem a propósito uma citação de Espinosa: «Nem chorar nem lamentar, nem rir nem escarnecer, mas sim perceber».

Sobre o que terá pesado mais na acção de Stáline, o Mal ou afinal o Bem?...

Não se ofenda, mas esta questão lembra-me o famoso slogan, «Mais Democracia, mais Socialismo», que depois conduziu ao desaparecimento do socialismo e a uma democracia mais do que duvidosa. Existem situações na vida em que o bem-estar pessoal é sacrificado ao bem-estar geral. O primeiro perde tudo ou quase tudo em favor da comunidade. Da perspectiva do indivíduo é praticado o Mal, porém, da perspectiva da sociedade é o Bem que acontece. Stáline pensava e agia exactamente neste sentido. Na sua obra,

Anarquismo ou Socialismo?, escreveu: «A questão central do anarquismo é a personalidade, cuja libertação, na sua concepção, é a condição principal para a libertação das massas, do colectivo (...) A questão central do marxismo é a massa, cuja libertação, na sua concepção, é a condição fundamental para a libertação da personalidade.» No seu tempo, Stáline não encontrou formas e métodos para um equilíbrio harmonioso entre estes dois planos e tudo o que fez, fê-lo em nome da maioria. Perante o cumprimento concreto e histórico das tarefas da época, tomou a decisão correcta. Será que a actual sociedade russa ganhou alguma coisa quando deitou esta prioridade borda fora?




VK
- Vladimir Ilitch Lénine e Iossif Vissarionovitch Stáline… É sabido que existem diferentes descrições sobre as relações destas duas personalidades históricas. Do «autêntico discípulo, companheiro de luta e continuador da acção de Lénine» até ao diametralmente oposto. Qual é a sua opinião sobre esta questão? Pergunta-se se teria Lénine concordado com a acção de Stáline depois da sua morte (apesar de a História desconhecer o condicional)? Stáline fez o seu «Thermidor»? Existiu nestes anos uma alternativa real a Stáline? E, o mais importante, como avalia os acontecimentos de 1937 e, em geral, as repressões stalinistas, o GULAG, etc. que, para muitos, têm um peso determinante na avaliação de Stáline e até na caracterização da totalidade do período soviético da nossa história?

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RK

- Encheu-me de perguntas, cujas respostas encheriam um tomo inteiro. Vou esforçar-me por dar uma curta resposta a cada uma e dizer o essencial.




1. Stáline considerava-se sem dúvida discípulo e continuador da obra de Lénine. Poder assumi-lo foi para ele, pessoa modesta e sem posses, um enorme reconhecimento e honra. Mesmo após a vitória na Grande Guerra Pátria, no zénite da sua fantástica fama, quando analisava com Stussen a possibilidade da coexistência pacífica, declarou: «A ideia da coexistência pacífica foi primeiro formulada por Lénine. Lénine é o nosso mestre e nós, soviéticos, somos discípulos de Lénine. Nunca nos desviámos da sua herança e nunca nos desviaremos dela.» (

Pravda, 8 de Maio de 1947)




Esta foi uma grande lição de moral que deixou aos dirigentes soviéticos que o sucederam, e estes, vergonhosamente, não a acataram mas antes desprezaram. Anote e não se esqueça: Stáline é o único dos «dirigentes» na história da URSS que não enterrou nem deitou fora a autoridade do seu antecessor, pelo contrário elevou-a. Podemos contrapor que se trata de Lénine. Mas tais «democratas» como Gorbatchov, Iakovlev, Volkogonov e Latichev demonstraram à exaustão que, por meia dúzia de tostões, estariam dispostos a trair e difamar até Jesus Cristo.

Stáline manteve a memória de Lénine intocável, isto apesar da relação complicada que teve com ele nos últimos anos da sua vida, durante a grave doença que o atingiu. Ele nunca traiu o juramento que fez à cabeceira de Lénine. Chocaram-me, desde sempre, os relatos simplistas sobre a «amizade» de Lénine e Stáline, sobre as «majestosas águias» que não podiam discutir entre elas. Contudo, é certo que Lénine admirava as qualidades organizativas do camarada Stáline e confiava nele mais do que noutros. Era exactamente isto que preocupava o círculo de amigos mais próximo da família, e mais precisamente N. Krupskaia, num momento em que Zinoviev, Kamenev e também Trotski montavam intrigas à cabeceira de Lénine. O CC tinha incumbido Stáline de garantir o cumprimento das recomendações médicas dadas a Lénine. Mas elas eram permanentemente desrespeitadas.

As pessoas citadas, Zinoviev, Kamenev e Trotski, não sem a colaboração de Krupskaia, continuavam com frequência a perturbar o descanso do paciente gravemente doente, o que provocava acesas discussões entre Stáline e a esposa de Lénine. Como hoje se sabe, os receios de Stáline eram fundamentados. Três vezes seguidas foram feitos falsos diagnósticos do estado de Lénine. O doente era esgotado com tratamentos desnecessários que tinham o claro propósito de conduzi-lo lentamente à morte e, simultaneamente, desacreditá-lo (veja Lopuchin, I.I.,

A Doença, a Morte e o Embalsamento de Lénine. Verdade e Mitos, Moscovo, 1997). A relação de Lénine com Stáline foi forçada até ao limiar da ruptura, mas Stáline conseguiu evitar isso, apesar de Khruchov ter procurado provar o contrário. Stáline passou neste difícil exame e levou mais longe o testemunho de Lénine.




2. Lénine teria aprovado a actuação de Stáline? Pode dizer-se que muito dificilmente a teria aprovado incondicionalmente, mas isto é válido não só no que respeita a Stáline, mas também para qualquer outro que tivesse assumido o seu lugar. Procure você responder à questão: teria Karl Marx, depois da sua morte, aprovado sem reservas a actuação de Lénine, de um outro qualquer ou até de Engels? Pode aqui obter uma hipotética resposta análoga.

Em que consiste o núcleo do problema? Aqueles que pretendem de mim o reconhecimento de uma suposta traição de Stáline ao leninismo não ficarão satisfeitos. Mas a verdade é que Stáline não traiu Lénine nem o leninismo. Stáline foi um leninista fiel, de acordo com o seu entendimento do leninismo e com o que permitiam as condições da época, profundamente contraditórias e em permanente mudança. De facto, a História não conhece a conjugação no Conjuntivo, apesar disso responderei à sua questão, porque ela é central. Porque razão Lénine teria feito uma avaliação crítica do trabalho de Stáline?

Primeiro porque ele, independentemente da relativamente pequena diferença de nove anos de idade, pertencia a uma geração mais madura e culta, pertencia aos «velhos» entre os revolucionários.

Segundo porque Lénine, enquanto estratega tinha uma formação mais profunda e facetada, o que lhe permitia assumir muitas tarefas já como professor, enquanto que Stáline ainda tinha muito que aprender em termos literalmente práticos.

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A teoria é sempre mais rigorosa no exame da prática – homens práticos são muitas vezes mais tolerantes com desvios à teoria rigorosa, especialmente quando as condições o justificam. Esta eterna contradição ter-se-ia certamente revelado se Lénine tivesse tido a possibilidade de analisar o rumo dos acontecimentos na sociedade soviética em 1924 e nos anos seguintes. Insatisfação consigo próprio e com os seus sucessores é em geral a qualidade de uma pessoa normal, activa, criadora e conscienciosa, e mesmo um Lénine não seria ele próprio se a sua avaliação do caminho por nós palmilhado se reduzisse à fórmula encorajadora e propagandística de Khruchov-Brejnev, «Avançai no verdadeiro caminho, camaradas!».

3. Stáline fez o seu «Thermidor»?

Não, não o fez e acusá-lo de ter feito o seu «Thermidor» é até uma imbecilidade histórica.

Na história da grande Revolução Francesa, «Thermidor» (nome de um mês do calendário republicano que incluía uma parte de Julho e uma de Agosto) é a designação do golpe de direita de 1794 contra os jacobinos, que excluiu as massas trabalhadoras da participação no poder e confirmou a ditadura ilimitada da burguesia. Aí começou o enriquecimento privado desenfreado e o terror branco. «Um brutal aumento dos preços dos bens alimentares», constatava o jornal de Babeuf,

Tribuna do Povo, em 9 de Janeiro de 1795. E continuava: «Encerramento de locais de trabalho, expulsão dos trabalhadores de Paris (...) suspensão da produção de armas e vestuário. Apoio descarado da prostituição (...) renascimento da superstição. Fuga de metais preciosos, descrédito dos Assignaten» (dinheiro em notas). «Enriquecimento e benefícios execráveis em consequência da abolição do preço máximo» (os chamados Maximas, o preço tabelado do pão). «A recuperação da palavra plebe», «populaça para designar o Povo». «Perniciosa liberdade de acção que é assegurada à insaciável cobiça dos comerciantes (...) Enriquecimento em Livres, Sous e Denars» (o dinheiro francês nessa época), «o que comprova que o povo trabalhador se encontra sem meios de subsistência».




Alguém pode explicar o que tem isto a ver com a

praxis de Stáline, o que isto tem de comum com a vida de Stáline?




É sabido que na luta interna do Partido, Trotski pôs o rótulo de «Thermidor» à maioria do CC. Trotski queria com isso assinalar o perigo da «degeneração burocrática» do poder dos trabalhadores (para o que Lénine já tinha avisado), mas perdeu o sentido da realidade... Trotski era um egocêntrico por natureza, um orador apaixonado e um literato talentoso, mas não se revelou um analista sóbrio. Faltava-lhe a disciplina e o autocontrolo necessários a um trabalho de organização persistente e a longo prazo. Por isso, nos seus juízos, que na sua maioria descambam em desabafos emocionais, as avaliações correctas são fragmentárias.

Muitas das coisas que ele identifica, e se apressa a considerar como factos consumados, eram apenas tendências negativas. Nessa lógica, os seus ataques a Stáline e aos seus companheiros de luta terminaram com apelos ao enterro do regime soviético, designadamente mediante a derrota da URSS numa futura guerra.

Quando se lê hoje o livro de Trotski,

A Revolução Traída, descobre-se algo conhecido, mas que não pertence ao tempo de Stáline. A experiência de alguns decénios não deixa dúvidas sobre a solidez do sistema de ditadura da classe operária nessa época.




A prova mais cabal e o maior desafio foram a Grande Guerra Pátria e a rápida reconstrução da economia destruída pelos invasores e ocupantes fascistas. Numa palavra, Stáline teve razão no debate com Trotski. Mas isso não significou que o «Thermidor» tivesse desaparecido, o seu perigo manteve-se.

Ele ressurgiu nos anos de 1956-61 com Khruchov, que realizou o salto político-ideológico que levou ao desarmamento político-ideológico do PCUS e à substituição do Estado proletário pelo Estado de todo o Povo. Evitando palavras chocantes e referências à história das reviravoltas e peripécias de outros países, não restam dúvidas de que Khruchov iniciou um processo que conduziu os leninistas à mesma derrota que sofreram os jacobinos em França.

Pode parecer paradoxal, mas as propostas e conclusões de Trotski estão mais próximas da actualidade do que do tempo em que ele viveu. Ele descreveu muito bem, pode dizer-se, a degeneração do poder soviético promovida, no seguimento de Khruchov, por Gorbatchov e Iakovlev, cuja actuação corresponde factualmente ao modelo descrito por Trotski.

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Stáline já estava fora do jogo. De todos os actuais literatos que escrevem sobre ele, um ficará certamente na memória. Trata-se do já citado L. Onikov, que continua a culpabilizar Stáline, sem provas, de, primeiro, «liquidação» do PCUS; segundo, do «assassinato à traição» do marxismo enquanto ciência; terceiro, da «destruição» da ditadura do proletariado. Ou seja, Onikov iliba a linha actual do «Thermidor» de Khruchov-Gorbatchov, adoptando o estilo da retórica e do verbalismo que Trotski já usara nos anos 20 e 30 (ver

Nezavissimaia Gazeta de 2 de Dezembro de 1997).




4. Houve uma alternativa real a Stáline?

A resposta tem de ser não. Já com Lénine a reserva de quadros ao seu nível era muito escassa. Lénine conhecia o valor de todos os seus colaboradores. A promoção de Stáline a Secretário-Geral do PCU(b) [Partido Comunista de Toda a União (bolchevique)], isto é, a coordenador do trabalho de três órgãos – Comissão Política, Comissão da Organização e aparelho do CC – não foi um acaso, mas sim merecida. Embora os juízos sobre as pessoas dos anos 20 e 30 sejam para nós problemáticos em muitos aspectos, qualquer indivíduo de bom-senso concordará que foi útil a permanência de Stáline na direcção do Partido e do Estado durante e depois da Grande Guerra Pátria. As afirmações do género: a vitória conseguiu-se não graças a Stáline, mas apesar de Stáline, contra a direcção de «Stáline» têm de se incluir, por razões de rectidão e elementar justiça, no âmbito da mais pérfida idiotice.

Isto é demonstrável por uma série de factos que não podem ser agora aqui enumerados. Quem para além de Stáline imaginaríamos no lugar de Presidente do Conselho dos Comissários do Povo, de Presidente do Comité Estatal de Defesa ou de Comandante Supremo? Trotski ou Bukharine? Zinoviev ou Tukhatchevski? Kamenev ou Egorov? Vorochilov ou Timochenko? Molotov ou Béria? Malenkov ou Kaganovitch? Nenhum se aproximou da estatura de um Stáline.

Para um papel desta envergadura, um Jukov também não teria sido o mais adequado. Nomear nesta lista por exemplo Kalinine ou Khruchov seria, por diversas razões, até ridículo. Não quero aqui repetir as palavras sobejamente conhecidas e importantes que Churchill disse sobre Stáline, ele que sempre esteve nos antípodas mesmo quando foi seu parceiro na coligação anti-Hitler. Mas recordo as palavras de Roosevelt, presidente dos EUA: «Este homem sabe agir. Não perde de vista o objectivo definido. Trabalhar com ele é um prazer. Não há pedantismos. Coloca a questão que quer discutir e não se desvia mais dela, de forma nenhuma.»

Uma característica de Stáline foi que nunca desistiu de aprender durante toda a sua vida. Começou na sua juventude como um poeta talentoso e depois da sua saída do Seminário (Stáline estudou cinco anos no seminário em Tiflis, à época a mais importante instituição de ensino da Geórgia, de onde foi expulso em 1899 por actividades revolucionárias), deu aulas de Matemática e Grego. Adquiriu a facetada mestria de um revolucionário lutando na clandestinidade. Aprendeu Jornalismo e Ciência Militar, Diplomacia, Economia e Economia de Empresas, História e Línguas.

Numa carta de 8 de Setembro à sua mulher, Nadejda Alliluieva, Stáline pedia-lhe o livro de Meskovski para a auto-aprendizagem da língua inglesa, numa outra, de 14 de Setembro de 1931, pedia para lhe enviar o livro «Técnicas Profissionais de Electrónica» e Técnicas Profissionais da Metalurgia do Ferro». É capaz de imaginar o fundador do «Novo Pensamento para o Nosso País e para o Mundo Inteiro» a pedir algo idêntico à sua mulher Raissa Maksimovna?




VK
– E agora a questão mais espinhosa. Como avalia o tema da repressão stalinista e do GULAG? E, sobretudo, o que significa para si o ano de 1937?




RK

– Quero começar por dizer que o ano de 1937 não foi só o ano da Repressão. Também foi o ano do cumprimento com êxito do segundo Plano Quinquenal; do centenário de Puchkin que se converteu num grande festival popular da vida intelectual russa; dos 20 Anos da Revolução de Outubro; das primeiras eleições para o Soviete Supremo segundo a nova Constituição da URSS. A alteração da lei eleitoral e do modo de eleição constituiu a maior reforma democrática do sistema político soviético na história pós-Outubro, e isto aconteceu no ano de 1937.




No país dominavam as novas condições do desenvolvimento político, um ambiente de renovação, o entusiasmo no trabalho, é disto que me lembro. Mas não possuo dados estatísticos

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sistemáticos sobre aspectos ocultos da vida e da acção soviéticas dessa época, designadamente factos sobre trabalho ignominioso e de sabotagem. Mas havia muito. Não penso que o Plenário do CC do PCU(b) de Fevereiro/Março de 1937 tenha sido encenado artificialmente ou que fosse uma luta contra moinhos de vento. Neste Plenário falou-se dos vestígios da luta de classes e cada um fez o seu juízo de acordo com a sua capacidade de observação, a sua experiência, a sua competência.

Que sabemos sobre esse Plenário? Só conhecemos o relatório e intervenção final de Stáline (

Stáline, Obras Completas, Tomo 14), o discurso de Vorochilov (Arquivo Militar da Rússia, 1993, Tomo I). Qual era o conteúdo do relatório de Ejov, como se desenvolveu a discussão? Não o sabemos.




De acordo com Khruchov, apesar de ele não ter estado lá e aquilo que afirma não corresponder ao que realmente lá foi dito, terá havido a tentativa de justificar teoricamente a política de repressão de massas com o pretexto de que a luta de classes, à medida do avanço do socialismo, teria supostamente de se agudizar, aumentando também constantemente o número de inimigos do socialismo (ver

Khruchov e o Seu Tempo L., 1989, pág. 63-64, russo). Uma investigação textual das fontes referidas refuta esta afirmação. Mas não existem até ao momento outros materiais com acesso público.




Stáline, a direcção superior do partido, não podia deixar de verificar com atenção vigilante os boatos lançados pelo círculo de Hitler sobre uma conspiração pró-fascista no seio do Estado- Maior do Exército Vermelho liderada por Tukhatchevski. Já antes tinham surgido sinais nesse sentido. A emigração branca demonstrara um estranho e suspeito interesse por este alto comando militar. No ano de 1930, Stáline, Vorochilov e Ordjonikidze viram-se obrigados a abrir um inquérito a este respeito. «Quanto a Tukhatchevski» – escreveu Stáline com visível alívio – «demonstrou ser 100% íntegro. Isso é muito bom».

Mas a História seguiu o seu curso.

Em Maio de 1937, Stáline terá recebido pessoalmente um telegrama do Presidente da Checoslováquia, Benesch, informando-o de que entre nós, na URSS, se preparava um golpe militar conjuntamente com o generalato alemão e a Gestapo. Mais tarde, no XXII Congresso em 1961, Khruchov qualificaria de passagem o conteúdo desse telegrama como «uma informação bastante interessante».

Numa tal situação, Stáline tinha de actuar decidida e imediatamente. Mas é estranho que ainda hoje este telegrama de Benesch e a correspondente decisão do

Politbureau do CC do PCU(b) não tenham sido encontrados e publicados. Uma impressão estranha deixa-nos também o relatório de Chvernick enviado a Khruchov que confirma as acusações feitas no ano de 1937 a uma série de militares (ver Arquivo Militar da Rússia, 1993, Tomo I). Encontramos neste documento muito palavreado tosco e absurdo. Mas a informação do presidente checoslovaco nem sequer é referida. É clara a tendência de orientar o todo processo contra Stáline.




«O regime comunista destruiu 110 milhões de pessoas», escreveram os jornais

Democratitcheskaia e Izvestia.




Estes números são diminuídos ou aumentados de acordo com o gosto dos «críticos» da ordem social socialista. Ninguém assume a responsabilidade pelos jogos de números, de mentiras e manipulações. Justificam-nos de forma cínica, até porque convêm à actual classe dirigente. Porém não se pode continuar assim até ao infinito. Nas teses do

RUSO publicadas no Pravda, de 24-31 de Outubro de 1997, são citados «factos há muito constatados»: o número dos condenados entre 1921-1954 foi de cerca de 3,8 milhões, o número das sentenças de morte de cerca de 643 mil, e isto num país que três revoluções, duas guerras mundiais, uma guerra civil e várias guerras locais em apenas meio século.




«Duas gerações inteiras foram mantidas em pânico com a saga sobre os

Gulagues», afirma-se no documento. «E os que deturpam a verdade são com frequência descendentes do meio dos que autorizaram ilegalidades em massa».




Os restos da classe exploradora derrubada pela Revolução de Outubro vangloriam-se com a «arma» dos condenados? Sim, é assim.

Houve atropelos à legalidade revolucionária, inocentes que sofreram? Isso também é verdade. E a responsabilidade cabe, entre outros, a Stáline.

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Por que razão, a par de justos castigos por crimes cometidos contra o povo, se constituíram processos contra inocentes? Em parte isso pode explicar-se pela burocracia e o desejo pessoal de se evidenciar, em parte também pelo baixo nível de formação e profissionalismo dos colaboradores dos órgãos penais, de segurança e da justiça. Porém, a razão principal é outra.

Possuímos agora material factual abrangente e provas documentais que nos permitem tirar as seguintes conclusões: muitas pessoas inocentes, especialmente comunistas, foram vítimas de elementos estranhos (guardas brancos, criminosos, trotskistas, etc.) que se infiltraram nestes órgãos de segurança e utilizaram os seus postos na luta de classes anti-soviética.

Para honra do Partido deve dizer-se que houve capacidade para se reflectir sobre o problema. A prova disso é a resolução do plenário do CC do PCU(b), em Janeiro de 1938, assim como a resolução conjunta do Soviete dos Comissários do Povo da URSS e do CC do PCU(b), de 17 de Novembro de 1938, «Sobre Prisões, Controlo da Procuradoria e Condução das Investigações» assinada por Molotov e Stáline. Mas naturalmente que os inocentes condenados à morte não ressuscitaram por causa disso.

O meu pai não evitou a prisão depois da Grande Guerra Pátria. Passou seis anos no campo de Nirob, na região de Molotov, actual Perm. Através dele aprendi mais sobre os

Gulagues do que com os livros de Soljenitsine. Contudo, a odisseia do meu pai não influenciou a sua nem a minha relação com o poder soviético em geral e com Stáline em particular.




Compreendi atempadamente que era uma bitola demasiada curta para analisar fenómenos históricos que abrangem o mundo e que a utilização sistemática do

GULAG para tais objectivos só pode conduzir ao retrocesso da sociedade. Como vê, as coisas também aconteceram assim.




VK
– Stáline e Hitler. Sabe que no Ocidente, e certos autores entre nós, colocam um sinal de igualdade entre estas duas pessoas. Diz-se até que Stáline foi pior do que Hitler, já que este aniquilou povos estrangeiros enquanto Stáline aniquilou o seu próprio povo

.




RK

– Considero este paralelo infame. Nenhum homem de Estado do mundo fez mais para despedaçar e destruir o fascismo do que Stáline, de todas as formas – política e militar, económica e organizativa, ideológica e moral. A nossa propaganda dos anos 30 estava totalmente imbuída de antifascismo. No geral, na minha opinião, não há nada a provar quanto a esse assunto. Foi assim e não podia ser de outra maneira.




Stáline aniquilou o seu povo?... Isso é um extraordinário disparate incutido deliberadamente nas pessoas, assim como as obrigam a habituar-se à recusa do progresso, à prostituição e máfias, à miséria nas ruas e aos ricos nos casinos, à expropriação violenta dos trabalhadores da propriedade e do poder que tinham nas mãos, ao desemprego, ao não pagamento de salários e à submissão ao

diktat dos EUA.




Deixemos Stáline falar: «Entre nós, dizem agora todos que a situação material melhorou substancialmente, que a vida é melhor, mais alegre. Isto é naturalmente verdade. Mas também conduziu a que a população tenha começado a multiplicar-se bastante mais depressa do que no passado. A mortalidade diminuiu, a natalidade aumentou e taxa de crescimento é agora incomparavelmente maior. Isto é naturalmente positivo e saudamo-lo. Actualmente, o aumento anual da população é de cerca de três milhões de pessoas. Isto significa que nós temos todos os anos um acréscimo populacional equivalente a toda a Finlândia. Mas isto também significa que cada vez mais pessoas têm de ser alimentadas.» Assim justificou Stáline a necessidade de aumentar a produção de cereais, na reunião com condutores de máquinas agrícolas, em 1 de Dezembro de 1935.

Compare estes simples factos com a actual situação da Rússia. Já em 1992, a mortalidade era fortemente superior à taxa de natalidade. A perda anual de população cifra-se em milhões. Dos anos 90 até agora a população diminuiu cerca de sete milhões. E isto em tempo de paz, ou seja, sem uma grande guerra. Aqui levanta-se a questão, quem e quando aniquilou o seu povo?

E quem incendiou a tiro o seu Parlamento e perseguiu os Sovietes do Povo? Quem teve um comportamento, analisado no seu conjunto, mais próximo de Hitler?

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VK
– Stáline é também acusado de anti-semitismo. Que pensa desta questão?




RK

– Stáline não era anti-semita. Era um patriota russo e internacionalista, um antifascista, ou seja, também anti-racista e antinazi. Isto significa que ele também era um adversário do sionismo enquanto uma das formas da ideologia nazi.




Anti-semitismo e anti-sionismo são duas coisas completamente diferentes. Ao apresentá-las como equivalentes, os inimigos da Rússia, os impostores do povo trabalhador, e também do povo judeu, estão demagógica e deliberadamente a semear o pânico. O anti-semitismo é como a russofobia, a aversão aos russos, é a instilação do ódio instintivo ao nível do subconsciente contra pessoas de uma nacionalidade concreta, independentemente dos seus pontos de vista, comportamentos reais ou pertença a este ou àquele campo político. Trata-se de incutir a falsa convicção de que um elemento de uma determinada nacionalidade é intencionalmente malévolo, desprovido de méritos, incapaz de ser um camarada responsável na vida e na luta.

Por outras palavras, tanto o anti-semitismo como a russofobia apostam na criação de complexos de inferioridade em ambas as nações, visando dividir e instrumentalizar o ódio e a discórdia de acordo com os interesses das respectivas burguesias.

Enquanto comunista soviético e russo, enquanto patriota e internacionalista, Stáline não era nenhum anti-semita e também não o podia ser. À sua volta encontravam-se pessoas de nacionalidade judaica que criticou e puniu pelos seus erros, mas que também admirava pelas suas convicções, os seus talentos e capacidade organizativa.

Continuam em boa memória nomes de grandes funcionários como Kaganovitch e Jaroslavski, Mekhlis e Salzman, Dragunski e Erenburg, Joffe e Litvinov. Stáline não é acusado de anti-semitismo por ter supostamente perseguido judeus devido à sua raça, mas sim porque lutou decidida e impiedosamente contra os socialistas-revolucionários, o menchevismo, o trotskismo e outras formas de influência burguesa e pequeno-burguesa sobre o proletariado.

Não se pode negar que nas citadas correntes políticas, e nomeadamente entre os quadros recrutados em determinada altura por Trotski e Iagoda, os judeus formavam a maioria. Mas Stáline não se deixou conduzir por motivos étniconacionais ou até chauvinistas, mas sim por motivos políticos de classe. É desonesto misturar os últimos com os primeiros. O ingloriamente famoso Alexander Iakovlev tentou ardilosamente branquear o sionismo, afirmando que é necessário distinguir o sionismo como o fenómeno alegadamente religioso do sionismo como fenómeno político.

A falsificação consiste, num primeiro momento, em apelidar de sionismo o judaísmo para assim, de seguida, legitimar a utilização do termo «sionismo» como se se tratasse de algo inteiramente aceitável. Conhecemos muitos casos, no actual meio corrupto dos meios de informação de massas, em que misturas de conceitos, à primeira vista inocentes, conduziram não só a confusões e perturbações nas convicções gerais das pessoas mas também a deformações nas relações sociais?!...

Por outro lado, não pode apagar da História o excepcional papel de Stáline no salvamento da nação judaica do genocídio hitleriano e na fundação do Estado de Israel. «Mas» – dizem-nos – «Stáline também aboliu a estrela usada pelos grupos mencheviques em diferentes serviços públicos da URSS, repudiava a concepção de «povo eleito de Deus», não cedeu a Crimeia para que aí fosse erguida uma autonomia judaica, etc.»

A qualquer destes argumentos deve responder-se com a seguinte contra-pergunta: da perspectiva dos interesses de Estado, da Razão de Estado, essas decisões foram ou não as mais correctas? Muitos críticos de Stáline, entre eles também os que inventaram o seu «anti-semitismo», evitam este ponto de vista e assim a sua análise deixa de poder ser considerada objectiva.




VK
– Richard Ivanovitch acaba de preparar para publicação um novo volume das obras de Stáline. Já saíram, tanto quanto sei, os tomos 14 e 15. Segue-se o tomo 16. Que novidades encontrou?

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RK

– Para mim, Stáline não é uma descoberta. O meu objectivo é que outros o descubram para si. Penso que não me engano quando o digo que Stáline, o mais mistificado, é a personalidade que mais se distingue no século XX. No início foi rodeado por muros de culto. Camaradas seus contemporâneos cobriram-no com uma cascata de palavras, com uma propaganda de culto e hieróglifos secretos. Depois foi vítima de injúrias e difamações. Em tudo isto, a verdade, envergonhada por esta exigência de exagero, fugiu para longe. Falando metaforicamente, se é certo que se passou dos hieróglifos laudatórios para a escrita cuneiforme caluniadora, até hoje ainda não foi possível honrar Stáline na natural, compreensível e boa língua russa. Vejo como minha obrigação quebrar este errático e funesto círculo de divinização e diabolização.




De acordo com a minha natureza de céptico, assumo a máxima de Karl Marx: «Põe tudo em dúvida», ao que eu acrescento, «incluindo as tuas próprias dúvidas». Por isso, nem me considero um devoto entusiasmado, nem um apologeta do que não aconteceu, ou seja, de um Stáline descrito exageradamente.

Não posso saber como o meu destino pessoal se teria moldado se, no nosso país, se tivessem mantido os rigorosos costumes do final dos anos 40 e início dos anos 50. Mas esta ou outra consideração semelhante permitir-me-á ferir o princípio da justiça histórica?

Não se pode ajuizar só em função de si próprio, nem tão pouco em função do destino dos familiares e parentes mais próximos, mas necessariamente em função do lugar que ocupa numa ordem social o ser humano criador, produtor de trabalho físico e intelectual, o criador de todos os bens materiais e intelectuais.

Parece-me que os três volumes publicados irão retirar Stáline, enquanto pessoa, do sarcófago do exagero e da humilhação e colocá-lo num nível igual a outros. (A morte é a melhor mediadora e democrata). Ficam assim concluídas as obras completas que foram interrompidas com o tomo 13 e 14, ambos publicados após a morte de Stáline. (O primeiro ainda esteve à venda mas foi rapidamente retirado da circulação. O segundo nunca chegou sequer às livrarias, tendo sido destruído por instruções de Khruchov).

Nos livros, a sua tragédia pessoal é quase invisível. Só parcialmente a dá a conhecer à sua mãe. «Carregarei com o meu destino» – lemos numa carta de 24 de Março de 1934.

«Depois da morte de Nadi» – (o suicídio da mulher de Stáline, Nadejda Alliluievna, em 8 de Novembro de 1932) – «a minha vida pessoal tornou-se naturalmente pesada, mas um homem corajoso tem de se manter corajoso.»

Sobre o humor de Stáline circulam várias histórias meias verdadeiras e meias anedotas. Agora podemos acrescentar um relampejo de humor comprovado documentalmente. À pergunta de um correspondente acerca dos boatos sobre a sua grave doença e morte próxima, Stáline respondeu: «Como tomei conhecimento através da imprensa estrangeira, já deixei este mundo pecador e estou a caminho de me mudar para o além. Como não é possível deixar de confiar nas informações da imprensa estrangeira, sob pena de se ser riscado da lista das pessoas civilizadas, peço-lhe que acredite nesta informação e não perturbe o meu repouso no silêncio do mundo celestial.»

Convenhamos que foi uma bofetada de luva branca na burguesia ocidental. Algo assim dificilmente poderia ter sido escrito por um paranóico, um misantropo, um inimigo da humanidade, um ser mau ou, como os «democratas» procuram meticulosamente provar, um suposto ser primitivo.

Os tomos de Stáline antes da Guerra e os restantes mostram também de forma impressionante a amplitude e a variedade da comunicação de Stáline com o mundo de trabalho. São metalúrgicos e camponeses dos

kolkhozes, alunos da Academia Militar, construtores do Metro, semeadores de beterraba, condutores de máquinas agrícolas e plantadores de algodão, aviadores e chefes militares, mineiros e colaboradores universitários. Para cada um destes grupos de trabalhadores Stáline encontra as palavras certas, mostra que entende a especificidade do seu trabalho, coloca tarefas reais, compreensíveis a todos.




O actual estilo de trabalho da direcção do Estado e da sociedade está muito longe do que continua a ser estigmatizado como sendo métodos e processos totalitários!

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E, finalmente, é preciso dizer o seguinte. O enorme buraco negro de cerca de meio século na história do país não desaparecerá com sussurros ocasionais de algum material documental adequado para estudo, tanto mais que a população é manipulada simultaneamente no espírito do masoquismo histórico e com a criação de complexos de inferioridade. É evidente que esta situação aproveita a determinada gente e favorece uma política de destruição.

Mas é igualmente evidente que a concentração de forças para uma nova ascensão da Rússia não é possível sem se envidarem esforços sérios para ultrapassar esta confusão de conceitos, esta loucura.




VK
– A mim parece-me que, para além do interesse puramente histórico, há algo mais em Stáline. Esta figura não ganhará também, por assim dizer, o coração das pessoas pelo seu ascetismo, um certo despojamento, pelo facto de ter sempre colocado os interesses do Estado à frente dos seus interesses pessoais, etc., qualidades que não observamos nos actuais dirigentes do nosso país?




RK

– A figura de Stáline ultrapassa seguramente o interesse puramente histórico. Não é por acaso que Leon Onikov intitulou o seu primeiro artigo de ataque ao meu trabalho como «Alerta – O regresso de Stáline».




Julgo que tem importância referir aqui alguns pormenores sobre o meu trabalho. Estive pela primeira vez na

datcha [casa de campo] de Stáline, em Volinko, no Outono de 1966. Do Outono de 1968 até final de 1969 (13 meses seguidos) trabalhei ali por tarefa do Partido, praticamente sempre ao serviço do CC. Tenho assim uma ideia muito concreta e directa do ambiente privado que o rodeava.




Stáline não possuía quase nada, a casa onde vivia pertencia ao Estado (ou ao Partido?), apesar de estar mobilada de acordo com o gosto do «inquilino». Podia constatar-se duas formas de «luxo»: as paredes e determinadas zonas do tecto estavam revestidas de madeira; no chão havia tapetes. Os móveis eram todos muito simples, forrados com um vulgar tecido azul. Só os sofás despertavam alguma atenção, largos e macios, confortáveis para descansar e dormir. Diz-se que em Volinko havia uma grande biblioteca, não se sabe se pessoal ou do Estado.

Nos anos 60, o mesmo Onikov que hoje lança difamações sobre Stáline, contou-me que a biblioteca foi a primeira coisa a ser retirada pela secção administrativa do CC e empilhada no pátio. Quando choveu, colocaram-lhe uma tenda por cima. Mais tarde, o responsável dos Assuntos Económicos ter-se-á fartado daquela montanha de livros e terá ordenado que fossem queimados. Mesmo que não tenha sido assim, esta versão não surgiu por acaso.

Em meados dos anos 50 foi dada a ordem para destruir todos os haveres relacionados com o dono da casa. Colaboradores próximos viram-se obrigados a escondê-los. Eu trabalhei na secretária de Stáline, que terá sido salva daquela maneira, e vi o divã em que morreu. No entanto, no parque que rodeava a casa, existia um cepo de árvore no qual Stáline se sentava para fumar durante os seus passeios. Foi arrancado com as raízes e queimado. Queimado foi também o barco que se encontrava no lago e que Stáline utilizava.

É difícil de dizer quem descarregou assim a sua fúria e ódio profundos, mas o alvo deste vandalismo, desta raiva cega destruidora, é evidente. O apartamento de Stáline era mais ascético do que o de Lénine em Gorki, onde estive pela primeira vez em 1 de Maio de 1953. Lembro-me desta viagem porque, imediatamente a seguir à manifestação do 1º de Maio, com um grupo de estudantes da Universidade Estatal de Moscovo, decidimos ir a um sítio qualquer em vez de errarmos pela cidade. Acabámos por escolher Gorki.

No pátio do Museu sentimos um estranho silêncio e uma atmosfera pesada. O próprio director conduzia a excursão e informou-nos de que o Museu iria ser fechado para dar lugar a um lar de crianças. A decisão estaria supostamente ligada com a fundação do Museu Stáline em Volinko.

Mais tarde disse-se que tinha sido Béria a propor aquela ideia bizarra. É necessário conhecer os maus hábitos dos déspotas. Normalmente uma cabeça de betão despótica tenta transferir a responsabilidade dos seus actos malévolos e estúpidos para outro suposto déspota que não teve êxito. O que há agora em Volinko, não sei. A situação no Museu Lénine é conhecida.

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Quer Lénine, quer Stáline são para a burguesia personalidades estranhas e intimidatórias devido ao seu despojamento, à sua dedicação ao Povo e à Pátria e à sua total auto-renúncia e capacidade de sacrifício. O burguês provinciano acha intolerável que a Rússia anseie por tais chefes e só aceite tais chefes. Que acredite que só com tais chefes poderá alcançar a grandeza e levantar-se, que só tais personalidades merecem ser recordadas com gratidão.

Todos os «enigmas» de um Lénine ou de Stáline só são inventados para enganar a chamada gente simples e voltá-la contra os verdadeiros dirigentes do povo, sobre os quais os burgueses produzem imagens enganadoras que, para si próprios, reconhecem como primárias. Por isso imputam a outros as suas próprias calúnias egoístas, praticam a mentira, a manipulação, a hipocrisia e difamação, todos os truques possíveis para criar desorientação.

A burguesia faz tudo isto com o objectivo de desviar a atenção das suas próprias acções sujas. Com o seu exemplo de despojamento e dedicação aos interesses do Povo, Lénine e Stáline não se enquadram na imagem que um cobiçoso, que um explorador só preocupado com os seus interesses pessoais tem do mundo. Não quero fazer comentários sobre os actuais chefes. Digo apenas que a sua diferença com os gigantes soviéticos é impressionante.

Sobre isto devo ainda referir a opinião pessoal que tenho sobre Stáline. Logo a seguir a Lénine, foi um ser criativo e amplamente culto, aconselhava-se permanentemente com especialistas, informava-se sobre os factos, estudava os dados estatísticos, escreveu sempre os seus discursos, artigos, comunicações. Respeitou com rigor a ética do trabalho intelectual e nunca admitiu sequer a sombra de um plágio.

É impossível imaginar Stáline prisioneiro de todo o género de denunciantes, de bisbilhoteiros, de «cabeças de ovo» que esvoaçavam à volta de Khruchov e Brejnev e os enganavam, que produziram em Gorbatchov a ilusão enganadora de que as sinuosidades e flatulências que lhe apareceram tinham algo de inovador.

Se analisarmos os processos que podemos designar de formação de líderes entre os anos 60 e 90, constatamos com amargura a ideia comummente divulgada de que se pode fazer um chefe a partir de qualquer material, que se pode, por assim dizer, «fabricá-lo» desde que exista dinheiro e faça um estágio nos países estrangeiros capitalistas. Contudo, o «produto» resultante deste trabalho é por de mais evidente.

Talvez nos países do velho poderoso capital monopolista, com os seus predicantes actuando nos bastidores, com a sua longa tradição parlamentar, seja possível que «

leaders com prefixo» (com injecções financeiras, propaganda, conselheiros, redactores de discursos, managers de imagem, etc.) tenham capacidade para cumprir com as suas obrigações. Todavia, pelo contrário, a Rússia precisa incessantemente de pessoas que procuram melhorar-se a si próprias, talentos naturais, precisa do talento do povo.




«Sabeis sobre Pedro que, para ele, a sua própria vida não é demasiado preciosa para a sacrificar, esta vida serve só a Rússia.» Estas palavras de Pedro,

O Grande, antes da batalha de Poltava, que também disse que «no Trono fui apenas um eterno trabalhador», estão entranhadas na consciência das pessoas. É esta a ideia que têm de um bom chefe verdadeiramente russo.




A nossa Pátria não precisa de uma casta de políticos «feita artificialmente», mas sim de realistas românticos formados naturalmente. Stáline era assim e foi-o como personalidade ao longo de uma vida em que também existiram contradições. Outro tipo de objecções não só é absurdo como também indecoroso.

Fonte: Jornal

Sovietskaia Rossia, 15.1.1998

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Introdução à Segunda Entrevista




Já decorreu bastante tempo desde a publicação da entrevista no

Sovietskaia Rossia, em 15 de Janeiro de 1998. E o eco dos leitores mantém-se. Na redacção acumulou-se um grande caixote de correspondência recebida. Trata-se de cartas apaixonadamente partidárias, estimulantes, interessadas. Trata-se mais de testemunhos que mostram o quanto este tema interessa às pessoas e não tanto de História, de factos históricos. De resto, este é na verdade um tema impressionante.




É uma evidência que o interesse sobre Stáline e também sobre o conjunto da nossa história soviética aumentou consideravelmente no contexto em que vivemos. A decadência do país contraste rigorosamente com sua força e poder na era de Stáline. A completa destruição das conquistas do Socialismo torna visíveis, com especial clareza e poder de convicção, as vantagens da ordem social soviética. Esta ordem social elevou os trabalhadores a uma vida digna e deu-lhes uma segurança social real. E a grande personalidade de Stáline eleva-se a verdadeira grandeza monumental em comparação com os actuais pigmeus políticos que abanam o ceptro numa antiga potência, agora destruída e aniquilada. Embora ainda muitas pessoas conservem determinados preconceitos anti-stalinistas, a nossa Pátria foi destruída e aniquilada pela traição, venalidade e corrupção, pela inacção e incompetência daqueles que hoje nos governam.

Há uma grande necessidade de continuar a conversa sobre Stáline e o seu papel na história do nosso país. Muitos leitores escrevem sobre isto e não são só os que consideram absolutamente incontestáveis os excepcionais méritos de Stáline perante a Pátria e perante a Rússia. Há também não poucas cartas num outro tom. Nelas este homem de Estado, e tudo o que tem a ver com ele, ou é, como de costume, categoricamente rejeitado ou suscita dúvidas diversas, considerações, equívocos e também incompreensões sobre determinados problemas. Aí aparecem questões que conduzem muitos a um beco sem saída. Por isso propusemos ao nosso entrevistado Richard Ivanovitch Kossolapov continuar a discussão sobre o tema Stáline.

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Entrevista

Viktor Kochemiako (VK)
– Richard Ivanovitsch, penso que o numeroso e contraditório correio sobre a nossa última conversa não foi um acaso. Tínhamos dito nessa conversa que se trata de um tema incomensurável e que seguramente nunca não poderá ser esgotado. Ainda hoje, muitos estereótipos que condicionam a compreensão e aceitação desta personalidade histórica têm origem nas teses da conhecida intervenção («relatório secreto») de Khruchov no XX Congresso, que se tornaram praticamente na única base de todo o trabalho ideológico durante uma série de anos. Com o início da

Perestroika criou-se à volta de Stáline uma verdadeira atmosfera bacante através da rádio, televisão e da imprensa. Sobre a cabeça das pessoas desabou literalmente uma torrente anti-stalinista, tornando difícil e por vezes impossível para o comum das pessoas, sob esta poderosa pressão psico-propagandística, distinguir a verdade da mentira. Quantas mentiras foram propagadas? Mentiras grosseiras e estúpidas assim como descaradas ou refinadamente maquinadas. Lembra-se, por exemplo, do falso episódio posto a correr durante a Perestroika, de que, alegadamente, o famoso cientista Bechterev terá, nos anos 20, diagnosticado a Stáline uma paranóia e que, por tê-lo feito, terá sido então envenenado. Como fonte desta história era citada nem mais nem menos do que a neta do próprio Bechterev. Bechterev, nascido em 1857, Psiquiatra e Neurologista, Professor em Leninegrado, morreu em 1927.




Agora esta neta, também académica e uma excelente especialista na área do cérebro humano, declarou a um jornal que esse diagnóstico nunca existiu! «Houve quem pretendesse declarar Stáline como um doente mental, reportando-se designadamente a supostas afirmações do meu avô. Mas tais afirmações e explicações não existiram, se não tê-las-íamos conhecido», disse Natalia Petrovna Bechtereva. «A quem serviu e qual o objectivo dessa falsificação? Começaram a pressionar-me, convencendo-me de que eu devia confirmar esta história. Disseram-me que iriam apresentar Bechterev como um homem corajoso que morreu cumprindo o seu dever médico.» Estes foram pois os métodos! E quantos foram os leitores que deram conta desta confissão, introduzida brevemente, «como quem não quer a coisa», no meio de grande texto sobre um outro tema? E, contudo, nessa altura, a afirmação de que Stáline era um paranóico (um doente mental), assim como outras invenções da

Perestroika, foi martelada maciçamente na cabeça das pessoas como um facto científico, em tiragens de milhões de exemplares dos jornais Ogonjok e Moskovski Novosti. O choque foi extremamente forte. Então Stáline que governou o país, era afinal um paranóico! Foi algo de avassalador.




Como constato nas cartas que tenho recebido, este género de propaganda anestesiante cerebral ainda continua a produzir sua a sua influência sobre as pessoas, impedindo-as de olhar de forma sóbria e objectiva para uma personalidade que foi transformada num diabo, numa criatura do Inferno. E os mentores desta propaganda anti-stalinista sabem-no, continuando por isso a difundi-la em larga escala. Veja-se só os dois ciclos da série de TV sobre o «Enigma do Chefe», que foram apresentados, um a seguir ao outro, no primeiro canal, acompanhados pela voz doce de Edvard Radsinski.

Coincidindo com a altura destas filmagens para a TV foi lançada outra mentira que deveria produzir um impressão ainda mais negativa. Contou-se uma história da carochinha sobre um grupo de crianças em Gori, conduzidas pelo rapaz Sosso Djugachvili (Stáline), que introduziram um porco dentro de uma sinagoga. E daqui foi retirada uma profunda conclusão. Vede, o «anti-semitismo» de Stáline vem desde a mais tenra idade. E qual foi a origem deste suposto facto? Terá sido relatado por uma judia da Geórgia com 112 anos, há muito já falecida em Israel onde estava emigrada. Mas que podia uma mulher com 112 anos contar com rigor? De que podia lembrar-se? Seguramente de tudo o que interessava a alguém e que precisava no momento ou que poderia encaixar-se no guião. Se ela o disse, tem de acreditar-se, basta!

Um padre ortodoxo terá dito aos seus fiéis: «Há ovelhas tresmalhadas que há poucos dias cometeram blasfémia numa casa de Deus.» Sosso, o futuro Stáline, ter-se-á insurgido

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perguntando como poderiam as pessoas defender-se de uma outra religião? Lamentavelmente, são muitos os que ainda acreditam neste tipo de historietas.

Ao ler as inúmeras reacções à nossa conversa, «A Verdade sobre Stáline» (o Stáline não enigmático), concluí que se pode dividir os leitores, e talvez também toda a nossa sociedade, em três categorias.

Na primeira incluem-se os que estão em condições de ultrapassar e libertar-se da hipnose da propaganda anti-stalinista, que puderam analisar de forma objectiva e profundamente outros argumentos e factos, que reconheceram a poderosa figura histórica de um verdadeiro patriota, homem de Estado e comunista, mesmo que possivelmente não aceitem Stáline completamente.

Na segunda, os que já antes rejeitavam categoricamente Stáline. Um destes anti-stalinistas fanáticos é o Dr. em Ciências Técnicas, Professor L. A. Kliatchko, que replicou há pouco tempo no jornal

Pravda a um artigo seu.




Na terceira, temos o numeroso grupo daqueles que já perceberam e reconheceram até certo ponto que foram enganados e iludidos pela propaganda anti-stalinista. Porém, mantêm um conjunto de perguntas às quais a nossa imprensa, mesmo a imprensa comunista e patriota, não dá respostas. É exactamente para esta categoria de leitores que quero dirigir hoje a sua atenção, para que os possa ajudar, na medida do possível, a encontrar as respostas que têm procurado em vão.




Richard Kossolapov (RK)

– Constato também quando leio cartas sobre o tema de Stáline que há muitas pessoas nessa situação.




VK
– Tenho aqui uma dessas cartas. O seu autor chama-se Ivan Fedorovitsch Mursin, é um Veterano do Trabalho, reformado, de 71 anos, membro do PCUS desde 1951. Vive na aldeia de Tchernianka, na região de Belgorod. Escreve que é «um grande amigo do

Sovietskaia Rossia desde o primeiro número e esta amizade nunca foi interrompida por um só dia». Aprecia muito o jornal, elogia o seu trabalho e também faz propostas, formula desejos e questões, entre elas também sobre Stáline.




A este propósito escreve: «No número de 15 de Janeiro de 1998 foi publicado no

Sovietskaia Rossija «A Verdade sobre Stáline (o Stáline não enigmático)», texto que é muito interessante. O Dr. das Ciências Filosóficas, Professor Richard Kossolapov, na conversa com Viktor Kochemiako, fez um retrato geral da personalidade de Stáline enquanto político importante, homem de Estado, diplomata e estratego militar. Foram referidas apreciações sobre Stáline feitas por excepcionais políticos contemporâneos da primeira metade do século XX – Churchill, Roosevelt e outros. Mas permanecem perguntas às quais a imprensa não dá verdadeiramente nenhuma resposta. Não tenho naturalmente em grande conta autores como Volkogonov e semelhantes. Isto significa que nós vivemos até agora numa situação de meia-verdade. Ainda há muitas perguntas em aberto». Quero propor-lhe, Richard Ivanovitsch, que tente esclarecer algumas destas questões que são frequentemente colocadas em muitas cartas quase com as mesmas palavras.




RK

– Muito bem. Vamos a isso.




VK
– São oito questões e este nosso leitor que as apresenta exige uma resposta concludente. Não duvido que muitas centenas e milhares de leitores querem o mesmo. A primeira pergunta é a seguinte: Se Stáline se manteve fiel ao legado de Lénine porque aniquilou então sem piedade toda a Guarda Leninista com a excepção de alguns dos ajudantes de ajudantes como Molotov, Voroschilov, Kalinine, etc.?




RK

– Na minha opinião conceitos como «aniquilou sem piedade», «guarda leninista», «ajudantes de ajudantes» são clichés postos a circular conscientemente na propaganda de massas por khruchovianos e gorbatchovianos. Têm sem dúvida a marca dos preconceitos e do subjectivismo. Seria melhor não serem utilizados.

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O conceito de «guarda leninista» é, na sua essência, uma designação romântica que um grupo de quadros do Partido do período anterior à revolução se atribuiu a si próprio por alegadamente ou de facto terem trabalhado directamente com Lénine. Como nunca se determinou com exactidão quem pertencia por direito a este grupo, começaram a incluir-se nele muitos auto-nomeados, principalmente depois da Revolução de Outubro e da formação do governo soviético. Há muitos casos destes ao longo da nossa história. Nos anos 60, camaradas de Leninegrado contaram-me, rindo, que, por ocasião de um aniversário do Comité do Partido da Cidade, a organização tentou reunir todos os participantes ainda vivos na tomada do Palácio de Inverno. E apesar de já ter passado meio século deste acontecimento que deu inicio à Revolução de Outubro, o número de supostos participantes foi tal que não couberam todos na enorme Praça do Palácio.

Os «guardas de Lénine» não são neste sentido nenhuma excepção. Por exemplo, os partidários de Trotski orgulhavam-se de fazerem parte deles, apesar de só terem sido admitidos no Partido Bolchevique em Agosto de 1917. Quando foram derrotados no confronto político-ideológico com o CC dirigido por Stáline, apresentaram a sua derrota como um «

pogrom contra a guarda leninista».




Fidelidade ao legado de Lénine é fidelidade aos seus ensinamentos, à dialéctica revolucionária, ao povo trabalhador, à classe operária e não às pessoas que o conheceram (muitas vezes apenas fugaz e ocasionalmente). Fidelidade ao leninismo é a sua aplicação consequente, criativa e flexível na prática, distinta da veneração de uma qualquer «vaca sagrada». Fidelidade ao leninismo significa estar ao serviço das ideias da liberdade social, da igualdade social e da justiça social e não ao serviço de «velharias».

Cabe aqui recordar que no XIV Congresso do PCU(b), em 1925, surgiu com grande alarido a assim chamada «oposição de Leninegrado», com Zinoviev à cabeça. N.K. Krupskaia, viúva de Lénine, aliou-se a ela para atacar a direcção do partido a propósito da interpretação da

NEP (Nova Política Económica). Mais tarde, M.I. Ulianova, irmã de Lénine, subiu à tribuna do Congresso e corrigiu a sua cunhada de forma delicada. «Camaradas», disse, «tomo a palavra não por ser a irmã de Lénine e por isso reclamar o direito de compreender e interpretar melhor o leninismo do que outros membros do Partido. Penso que a família não tem o monopólio da compreensão do leninismo porque tal não existe e não deve existir». Mas esta forma de actuar entre aqueles que se consideravam membros da «Guarda Leninista» persistiu.




Não se pode negar que o gume da repressão dos anos 30 atingiu fortemente os membros do Partido da primeira vaga, da primeira geração. Muitos deles foram vítimas inocentes de intrigas e calúnias nos órgãos dirigentes superiores. Mas muitos deles também participaram activamente nas lutas fraccionistas. Já Lénine dizia sobre alguns que conhecia: «Desses velhos bolcheviques, Deus nos proteja deles». Mas eram estes «velhos bolcheviques» que estavam fortemente representados na oposição trotskista e noutros grupos que combatiam a direcção do Partido. O conhecido politólogo, B.P. Kurachvili, no seu livro

O novo Socialismo. Para o renascimento depois da Catástrofe, (Moscovo, 1997, págs. 24-25) escreveu o seguinte: «Na segunda metade de 1936 foi publicado o livro de L.D. Trotski, A Revolução Traída. Nele é lançado um apelo às 20 ou 30 mil pessoas que constituíam o movimento clandestino trotskista, a que ele chamava de "Partido do verdadeiro leninismo". Segundo as instruções de Trokski, estes quadros clandestinos deviam utilizar a sua posição no aparelho do Partido, do Estado e das Forças Armadas para preparar uma "revolução política" contra o Thermidor stalinista e derrubar a burocracia do Thermidor que tinha traído a revolução mundial. Juntamente com as informações de que o Marechal Tukhatchevski manteria possíveis contactos secretos com o Comando Supremo do Exército alemão, a ameaça iminente da preparação de um golpe por parte da oposição trotskista constituíram a base para a organização de uma depuração preventiva em grande escala que descambou numa orgia de violência. Os revolucionários esqueceram que o "sangue do povo não é aguardente..."».




A eliminação teórica e moral da «quinta coluna», num momento em que se aproximava a II Guerra Mundial, certamente que poderia ter sido possível através de formas mais brandas, mas na prática degenerou no terror.

Contudo, afirmar-se que Stáline aniquilou sem piedade toda a «guarda leninista» é uma especulação que tira partido do desconhecimento das pessoas. Em primeiro lugar, atribui-se a

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2

Tcheka, Comissão Nacional Extraordinária para o Combate à Contra-Revolução, Especulação e Sabotagem (N.T.)

3 Nepmans, empresários que floresceram durante o período da Nova Política Económica (N.T.)




Stáline uma crueldade que não era própria do seu carácter. Depois apresenta-se este autêntico «membro da guarda leninista» como inimigo dos soviéticos.

L.M. Kaganovitch afirma a este propósito: «Os caluniadores mentem quando afirmam que Stáline ajustou contas com os trotskistas e outros oposicionistas através de medidas administrativas e em "processos sumários". O contrário é que é verdadeiro. Stáline, o conjunto do CC e a Comissão Central de Controlo conduziram um longo combate ideológico durante o qual tinham a esperança de ganhar para suas posições, se não a maioria, pelo menos uma parte da oposição. É um facto que o Partido e o CC mantiveram pacientemente este debate com os oposicionistas durante mais de 15 anos antes de lhes serem aplicadas medidas estatais, repressões, incluindo julgamentos e fuzilamentos. Contudo, isto só aconteceu quando os oposicionistas optaram pela via da diversão, do trabalho subversivo, do terror, até da espionagem... Lembro-me de nós, jovens

tchekistas2, eu, Kirov e Mikoian, perguntarmos ao camarada Stáline por que razão tolerava os oposicionistas na Comissão Política. Ele respondeu-nos que nestes casos não nos devemos precipitar. Primeiro porque havia sempre a possibilidade de aqueles elementos poderem evoluir para posições sensatas, evitando que tivéssemos de recorrer à medida extrema - a expulsão - e segundo, porque nesse caso o Partido teria de compreender primeiro a necessidade da sua expulsão e do seu isolamento.»




VK
– A pergunta seguinte é colocada com frequência em várias cartas. Eu próprio a tenho colocado muitas vezes desde os tempos de escola e as respostas que obtive nunca foram muito convincentes. É sobre o plano leninista das cooperativas e a colectivização stalinista. O leitor escreve-nos: «Lénine esboçou em traços gerais o plano das cooperativas. Baseou-o nos seguintes princípios: liberdade; exemplo positivo do desempenho económico das cooperativas; ausência de comando administrativo sobre os camponeses; diversificação de formas cooperativas, etc. Stáline, que odiava furiosamente o campesinato, desfigurou o plano leninista, criou os

kolkozes de forma violenta e precipitada e destruiu a parte mais trabalhadora e diligente do campesinato. Como se explica isto?»




RK

– «Ódio raivoso ou profundo» de Stáline contra os camponeses é um mito tão gasto como o mito do «aniquilamento sem piedade da guarda leninista».




Na verdade, trata-se de uma fantasia sinistra, martelada artificialmente pelos

massmedia «democráticos» na cabeça de milhões de pessoas. Stáline, filho de um simples artesão, um sapateiro, e de uma camponesa, era da mesma carne e mesmo sangue que o povo trabalhador, pertencia às massas trabalhadoras, e se odiava alguém, eram certamente os senhores e os patrões que exploravam os camponeses até à medula. Stáline respeitou e aplicou consequentemente o plano leninista das cooperativas, mas as duras condições do atraso económico e a iminência da guerra, a pressão dos camponeses pobres, o excesso de zelo e a insensatez de responsáveis locais conduziram a desvios e fenómenos negativos numa linha política que era correcta no seu conjunto.




A aceleração da colectivização da agricultura foi motivada pelo agravamento do problema alimentar no contexto da industrialização do país e do aumento populacional nas cidades, assim como das necessidades de abastecimento do Exército Vermelho.

Aqueles que acusam Stáline de ter um ódio colérico ao campesinato jogam com a credulidade das pessoas ingénuas. Com isso ocultam o ódio profundo dos

nepmans3 e dos proprietários rurais abastados ao simples povo trabalhador.




Na segunda metade dos anos 20 surgiram grandes dificuldades no cumprimento do plano de aprovisionamento de cereais. A ameaça de fome nas cidades tornou-se real, enquanto no campo se registavam sinais claros de enriquecimento, agravando-se drasticamente as diferenças entre camponeses ricos e pobres.

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4

Velha medida de peso russa. 1 Pud corresponde a cerca de 16,38 Kg (N.T.)




5

GPU (Gossudartvenoi Polititcheskoie Upravlenie), Direcção Estatal Política, órgão de segurança do Estado criado em 6 de Fevereiro de 1922, em substituição da Tcheka, integrado no Comissariado do Povo dos Assuntos Internos (NKVD) – N.T.




As camadas pobres e a maior parte dos camponeses médios cumpriam meticulosamente as suas obrigações, fornecendo as quantidades de cereais acordadas aos preços estatais. Ao contrário, os

kulakes [camponeses ricos] açambarcavam os excedentes, retinham-nos e exigiam preços que representavam o dobro ou triplo dos valores fixados pelo Estado. Vem a propósito recordar um episódio relatado por Stáline, no Plenário de Abril de 1929 do CC e da Comissão Central do PCU(b), sobre um activista soviético que em vão tentou convencer camponeses do Cazaquistão a vender ao Estado os excedentes de cereais para abastecimento do País. Após duas horas a argumentar, um kulak, de cachimbo na boca, tomou a palavra e respondeu-lhe com desdém: «Dança rapaz, dar-te-ei então uns dois puds4 de cereais.» (cf. J. Stáline, Obras, Tomo 12, p. 80, Dietz-Verlag, Berlim, 1954).




Stáline não era partidário de uma política de imposição dura e sem condições. No XV Congresso do PCU(b) afirmou: «Não têm razão os camaradas que acreditam que se pode e se deve acabar com os

kulakes através de medidas administrativas, através do GPU5: ordenando, carimbado e ponto final. É um método fácil mas nada realista. O kulak tem de ser travado através de medidas económicas e com base na legalidade soviética. E a lei não é letra morta. Isto não exclui naturalmente a aplicação de algumas medidas administrativas necessárias contra os kulakes. Mas as medidas administrativas não devem substituir as medidas de ordem económica.» (cf. J. Stáline, Obras, Tomo 10, p. 270, Dietz-Verlag, 1953). As acções do Comando Siberiano, em Janeiro-Fevereiro de 1928, obrigaram Stáline a formular com mais severidade esta questão, compreendendo, evidentemente, a necessidade de tomar medidas mais radicais. Mas não foi motivado por nenhum «ódio místico», mas sim pela difícil situação socioeconómica, pelo pragmatismo socioeconómico.




Os autores que divulgam disparates sobre Stáline silenciam normalmente os factos, entre eles, os artigos de Stáline, como «A vertigem do êxito. Sobre a Questão do Movimento

kolkhoziano» e «Resposta aos Camaradas Kolkhozianos», ambos de 1930. Nestes textos são analisados com rigor os erros cometidos no movimento kolkhoziano e apontadas as vias e métodos para a sua correcção. Os erros principais foram: 1. A violação do princípio leninista da participação voluntária na construção dos kolkhozes; 2. A violação do princípio leninista da observância da diversidade das condições nas diferentes regiões da URSS, ou seja, a necessidade de respeitar diferentes ritmos na criação dos kolkhozes; 3. A violação do princípio leninista da inadmissibilidade de saltar etapas não concluídas na organização da economia colectiva.




As teses que afirmam que Stáline forçou a constituição dos

kolkhozes de forma violenta e precipitada não correspondem à realidade. As arbitrariedades nesta área foram condenadas e proibidas pela direcção do Partido. Isto aplicou-se também aos ritmos despropositados e ao excesso de zelo demonstrados por funcionários locais. Na «Resolução sobre os Ritmos da Colectivização», de Janeiro de 1930, o CC dividiu a URSS em três regiões, determinando para cada uma delas prazos realistas para a organização dos kolkhozes que iam de um a quatro anos. Numa série de regiões registavam-se claros exageros na aplicação gradual das medidas. Os activistas, na ânsia de «alcançar e ultrapassar», tentaram a todo o custo acelerar o processo, caindo designadamente na tentação de substituir os factores insuficientes pelo seu próprio excesso de zelo administrativo.




Tudo isto foi analisado e avaliado pelo próprio Stáline e não por Khruchov ou Gorbatchov, cuja relação com Stáline é conhecida. É uma relação de tagarelas e meliantes que denegriram uma importante personalidade para incendiarem o Socialismo e a Pátria.

O nosso leitor, baseando-se em acusações infundadas feitas pelos chamados escritores democratas, pensa que «Stáline aniquilou a parte mais trabalhadora e diligente do campesinato». Trata-se também de algo que não tem nenhuma base de sustentação. De acordo com as estatísticas económicas da segunda metade dos anos 20, as aldeias soviéticas encontravam-se ainda em situação de grande pobreza, apesar do aumento geral do nível de vida resultante da

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Revolução e da

NEP (Nova Política Económica). L.A. Onikov escreveu recentemente que «os kulakes representavam menos de 4% da população rural, os camponeses médios 63%, os camponeses pobres 22% e os camponeses sem terra ou jornaleiros 11%. (cf. Nezavisimaia Gazeta de 19.05.1998). Outra fantasia ignóbil aproveitada pelos «democratas» foi a tentativa de caracterizar a massa principal dos camponeses médios e pobres como preguiçosos, madraços e bêbedos, classificação que, aliás, condiz com o estilo destes senhores desde há muito empenhados em desprestigiar e difamar o povo russo. Evidentemente que nenhum deles se quer lembrar de que essa «parte mais trabalhadora e diligente do campesinato», nomeadamente os kulakes, aumentou a sua riqueza não tanto através do seu esforço pessoal, mas sim à custa do trabalho forçado dos camponeses pobres e sem terra. Mas quem nos dias de hoje estará interessado em defender o antigo proletariado rural?




VK
– Com a pergunta anterior relaciona-se também a seguinte. Refere-se à fome de 1933 que terá sido provocada artificialmente, ou seja, de forma deliberada. Neste ano não houve nenhuma seca. O que aconteceu?




RK

– Quando agora se fala de uma fome artificial, no início dos anos 30, nunca se coloca a questão de quem a organizou? Esta fome é naturalmente imputada ao Poder Soviético e a Stáline, apesar de nela se ter evidenciado a acção de outras forças que preferiram manter-se anónimas, que se mantiveram escondidas que, por assim dizer, mergulharam na clandestinidade.




A fome foi consequência da reacção dos

kulakes à colectivização. Leia o livro de Cholokov, Terras Desbravadas. Todo o mecanismo da luta que se desenrolou nessa época está aí anotado com fidelidade documental, sem que tenha sido acrescentado ou retirado algo de fundamental.




Embora num processo de transformação geral a substituição da ordem socioeconómica sobrevivente por uma nova ordem social provoque sempre uma descida provisória do nível de produtividade, neste caso houve outros factores que foram decisivos.

A resistência organizada contra os

kolkhozes traduziu-se num irracional abate em massa de gado e na sabotagem das sementeiras da Primavera. Toda a organização do trabalho no campo em geral estava sob constantes ameaças de ataques de bandos terroristas. «Isto foi algo horroroso, durou quatro anos», reconheceu Stáline a Churchill. «Para evitarmos os períodos cíclicos de fome, a Rússia tinha necessidade de cultivar as terras aráveis com tractores. Tivemos de seguir este caminho. Muitos camponeses concordaram connosco. Aos que se opuseram demos-lhes terras no Norte para trabalharem individualmente. Mas a maior parte deles (dos que resistiram) era muito impopular e foram vencidos pelos próprios camponeses pobres e sem terra...» (W. Churchill, A Segunda Guerra Mundial, p. 493 – em tradução russa).




Todavia, a crise alimentar foi resolvida logo no ano seguinte, em 1934, e desde então ficou patente a força da nova ordem criada pelos

kolkhozes. As senhas de racionamento foram abolidas pelo Plenário de Novembro do CC.




Não será mais rigoroso apresentar a História deste modo, em vez de nos embriagarmos com o número fantasioso de seis milhões de pessoas que em 1933, em poucos meses, teriam morrido de fome na Ucrânia? Leia-se Cholokov, facilmente se concluirá que nesse período algumas dezenas de milhares pessoas sucumbiram à subnutrição, ao terror contra-revolucionário e contra-terror revolucionário. Mais não disseram as testemunhas credíveis.




VK
– Sobre o tema «Stáline e a Ciência», «Stáline e os Cientistas» desenvolveu-se toda uma série de especulações cuja dimensão não poderemos abarcar. Também não podemos aqui analisar questões de pormenor. Peço-lhe apenas que refira quais os factos reais negativos (digamos a posição oficial em relação à Genética ou à Cibernética num determinado período), que estão na base de tais fantasias. Como surgiu e se generalizou a ideia de que Stáline, dirigente do Partido Comunista e do Estado Soviético era uma pessoa retrógrada, um produto do reaccionarismo? Porque o apresentam como um perseguidor de tudo o que é novo e progressista? É este o tema da nossa quarta pergunta: «Stáline também odiou profundamente e ordenou o aniquilamento de todos os cientistas que pensavam de forma progressista, entre eles

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6

Trofim Denissovitch Lessienko (1898-1976), biólogo e agrónomo, deputado do Soviete Supremo da URSS (1937-66) – N.T.

7 Vernalização: técnica de redução do ciclo vegetativo de uma planta através do tratamento das suas sementes e bolbos com agentes químicos para apressar a sua floração ou frutificação. Com sementes vernalizadas Lessienko conseguiu criar espécies de trigo resistentes às baixas temperaturas das estepes do Sudeste da URSS, desenvolveu métodos que permitiram a sementeira de Verão da batata nas regiões secas do Sul, triplicou a colheita de milho-miúdo (painço) e implementou o cultivo de trigo na Sibéria e no norte do Cazaquistão. (N.T.)




economistas, agrónomos, etc. Em contrapartida tratou bem pseudo-sábios do género de um T.D. Lissienko. Como se explica isto?».




RK

– Nesta questão, a caracterização de Stáline como um «terrível odiento» assume a forma de um conto de terror e ultrapassa todos os limites razoáveis de um comportamento improcedente. Os factos falam por si. Cientistas progressistas, muitos deles de renome mundial, obtiveram sob o poder soviético, entre os 20 e 40, as melhores condições para desenvolverem o seu trabalho. Entre estes estão nomes como Ziolkovski e Pavlov, Joffe e Korolev, Vernadski e Mitchurin, Krelov e Chukovski, Kurtchakov e Tupolev, Strumilin e Varga, Zizin e Viljams, Grekov e Tarle, Pankratova e Netchkina. Não posso nomeá-los a todos. E no que diz respeito à «ordem para o seu aniquilamento», pensar-se-ia que se trata de um crime horrendo dos tempos da escravatura e do feudalismo. Naturalmente que Stáline, para que se saiba, nunca deu semelhante ordem. Todas (sublinho todas) as decisões de responsabilidade (e mais ainda as afectavam o destino de pessoas) só eram tomadas após consulta e votação com outros dirigentes responsáveis.




Em relação ao citado T.D. Lissienko

6, a coisa não é assim tão simples. Enquanto cientista agrónomo, os seus métodos de vernalização7 dos cereais e da sementeira de batata no Verão ajudaram o Estado Soviético, especialmente durante a Grande Guerra Pátria, a resolver com êxito o problema alimentar.




Os resultados da investigação deste cientista e prático e a sua real utilização foram reconhecidos e tiveram como pano de fundo experiências académicas de uma série de investigadores da área da Genética sobre as mutações observadas na Mosca da Fruta (

Drosophila) (a espécie Drosophila melanogaster era a preferida da Genética clássica para o estudo dos cromossomas). Stáline cometeu o erro de acreditar totalmente nas teses de T.D. Lessienko e sobrevalorizou o seu potencial teórico. As pretensões de Lessienko ao desenvolvimento criativo do darwinismo, e era disso que se tratava nesse tempo, não se concretizaram. Mas este episódio não caracteriza a relação de Stáline com a Ciência no seu conjunto.




Devíamos valorizar o florescimento da Ciência soviética na era de Stáline, tanto mais que hoje a Rússia já perdeu amplamente o seu papel eminente na área da tecnologia dos foguetões e espacial, da energia atómica e electrónica. E também já perdeu a sua liderança na formação científica.

É certo que também houve cientistas, alguns deles importantes, que foram vítimas de repressões. Mas todos estes casos têm de ser analisados individualmente, ao pormenor e em concreto. Sem isso, algumas alegadas vítimas podem revelar-se falsas testemunhas e vigaristas demagógicos.




VK
– A quinta pergunta põe em causa uma das suas afirmações na última entrevista. Diz respeito ao trabalho nefasto de elementos contra-revolucionários que se infiltraram nos órgãos de justiça e segurança. O autor da carta considera que «se os trotskistas puderam infiltrar-se nos órgãos da

Tcheka, da OGPU e do NKVD, certamente que tal não aconteceu apenas sob a direcção de Stáline. E essa explicação só é válida em relação a Iagoda, o chefe do NKVD até 1936. Contudo, é sabido que N. Ejov e L. Béria, posteriores chefes do NKVD, foram pessoalmente escolhidos por Stáline.»




RK

– Os trotskistas e os sionistas próximos de Trotski já estavam presentes em grande número nos órgãos de segurança antes de Stáline desempenhar um papel decisivo na direcção soviética. Mas não se trata só destes. Também escrevi sobre o chefe dos guardas do czar Nicolau II, F. Dchunkovski, e dos seus colegas, sobre uma parte do corpo de oficiais czaristas que 25




entraram nos órgãos de investigação do aparelho de segurança como supostos especialistas. Dos círculos da emigração dos guardas brancos foram também dadas instruções aos seus agentes na URSS para se introduzirem o melhor que pudessem nos órgãos de defesa soviéticos e reforçarem aí as suas posições. Foi exactamente esta mistura explosiva de quadros que teve um papel determinante em muitas das dramáticas colisões dos anos 30. E ninguém, nem o todo-poderoso Stáline, podia ignorar os perigos permanentes daí resultantes.

É verdade que Ejov e Béria foram escolhidos pessoalmente por Stáline. Mas isso não significa que os quadros de Dzerjinski e Menjinski, e principalmente a gente de Iagoda, tivessem desaparecido. Ejov desempenhou um importante papel na eliminação da resistência clandestina trotskista, mas depois exorbitou criminosamente as suas competências. Foi castigado por isso. Béria contribuiu muito, nos anos 1939-40, quando foi Comissário do Povo dos Assuntos Internos da URSS, (NKVD), para a reabilitação e libertação de pessoas injustamente condenadas. Demonstrou ser um grande organizador durante a Grande Guerra Pátria (no Comité Estatal para a Defesa era responsável pela produção de aviões e motores, pela colocação e transferência de unidades aéreas, pela produção de armamento e munições, etc.)

Depois da Guerra era considerado como o primeiro curador, foi o responsável máximo pela indústria atómica, mas também ganhou uma má reputação de brutalidade e intriga. Até hoje continua a ser uma das figuras mais enigmáticas do círculo de Stáline, que, aliás, terá desempenhado um papel fatal no fim da sua vida.

Em muitas publicações refere-se que Stáline sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) na noite de 1 de Março de 1953, quando estava completamente só no quarto. Os guardas só o encontraram depois das 22 horas. Demoraram bastante tempo até contactarem alguém da direcção superior. Só cerca das 3 horas do dia 2 de Março chegaram Malenkov e Béria. Depois de verem o doente deitado num divã, decidiram ir-se embora, tendo Béria berrado para o chefe dos guarda-costas, Losgatchov: «Porque é que espalhas o pânico?! Não vês, Stáline dorme profundamente! Não há nenhum motivo para preocupação e não incomodes o camarada Stáline!»

Só passadas mais 9 horas é que apareceram os médicos. Stáline ficou inconsciente sem a ajuda de cuidados médicos pelo menos 12 horas. Um tal comportamento dos «companheiros de armas» de Stáline equivaleu a terem-lhe causado a morte conscientemente, ou seja, criminosamente.

Nos últimos tempos da sua vida, Stáline consentira que duas pessoas em quem mais confiava fossem afastadas do círculo dos seus mais próximos colaboradores. Trata-se do seu secretário, Poskrebichev, e do chefe da guarda pessoal, Vlassik, que já acompanhava Stáline desde o tempo dos combates de Tsarisin em 1918. A partir desse momento, Stáline encontrou-se numa espécie de isolamento. Antigos colaboradores da CC PCUS garantiram-me que a seguir à morte de Stáline, durante a inspecção à

datcha em Volinko, que conheço bem, foi encontrado mercúrio no chão da sua casa de banho. Os vapores de mercúrio são mais pesados que o ar. Num espaço fechado são prejudiciais à saúde, reduzem a capacidade de trabalho e a qualidade de vida, atacam os rins, etc. O médico que consultei sobre esta questão mostrou-se surpreendido: «Não acredito nisso assim sem mais nem menos, então o que andava a fazer a segurança pessoal de Stáline? Pelos vistos, sem Vlassik tudo era possível.»




Não é certamente um acaso que a campanha de descrédito de Stáline tenha sido iniciada por Béria – isto é fácil de provar com base nos documentos relacionados com a chamada «conspiração dos médicos». Até hoje ninguém escreveu sobre o mercúrio na

datcha de Stáline e também não tenho esperanças de que alguém venha a fazer uma investigação séria sobre o assunto.




Diz-se que Stáline foi vítima do sistema burocrático que criou. Num certo sentido isso aproxima-se da verdade. Mas ele foi capaz de quebrar a tempo esse sistema, embora a muito custo, e conseguiu manter o controlo da situação, pelo menos enquanto a sua saúde lho permitiu. Há muitas provas nesse sentido. Basta recordar que foi ele, e mais ninguém, que travou a vaga de repressões em 1938, e resolveu o problema dos quadros do comando militar já em 1942.

Stáline não ignorava que no seu nível de responsabilidade se tornaria mais cedo ou mais tarde objecto de críticas e dúvidas. O Marechal I.S. Konev é um dos que admitiu ter tido dúvidas em relação à capacidade do líder. Ao escritor K.M. Simonov, este militar afirmou ter notado alguma hesitação da parte de Stáline nos primeiros dias da guerra. Essa sensação voltou a manifestar-se

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mais tarde, de forma mais aguda, quando o dirigente cometeu um grave erro táctico no início da batalha de Moscovo. Nessa ocasião, segundo o relato do marechal, Stáline telefonou para a Frente Ocidental e, falando na terceira pessoa com uma voz fortemente emocionada, reconheceu o seu fiasco: «O camarada Stáline não é nenhum traidor, o camarada Stáline é uma pessoa honesta, o seu único erro foi confiar demasiado na Cavalaria, o camarada Stáline fará tudo o que estiver ao seu alcance para corrigir a situação criada.» (Simonov, K.M.,

Com os Olhos de Uma Pessoa da Minha Geração, Novosti, Moscovo, 1989, p. 398). Simonov e Konev não teriam razão se nestas palavras de extrema consternação, raiando a histeria, tivessem visto em Stáline falta de vontade para vencer. Metaforicamente falando, Stáline não se comportava como um Deus, sabia que era apenas um ser humano.




Stáline é uma figura trágico-heróica da História. Mas o que mais se reflectiu no nosso destino colectivo, e pelo qual tem de ser criticado apesar de a culpa não se lhe poder ser assacada em exclusivo, foram os erros na política de quadros. Esteve à altura da sua tarefa na formação de um excelente e ímpar corpo de oficiais do Exército Vermelho nos anos da Grande Guerra Pátria, mas não conseguiu deixar uma equipa dirigente comparável na direcção do Partido. Nas suas memórias A.I. Mikoian escreve: «Stáline propôs que cada um de nós devia preparar cinco ou seis pessoas excepcionais entre os nossos colaboradores para que nos pudessem substituir quando o CC considerasse necessário. Ele repetiu várias vezes esta proposta e insistiu na sua concretização.» (Pribitkov, V.V.,

O Aparelho, SPb 1995, p. 81 – russo). Todavia, como se constata pelos resultados, Stáline não conseguiu vencer este lado da burocracia. Nisto residiu o seu drama pessoal e, por fim, o drama de toda a URSS.




VK
– Na última conversa já abordámos o tema da pergunta seguinte, mas ficou por esclarecer uma questão que é muito séria e dolorosa. Ironizando com a posição que você assumiu, o nosso leitor escreve: «Stáline preocupou-se com o reforço do Exército Vermelho. Para isso teve que aniquilar 40 mil comandantes e comissários políticos e isto numa altura em que a guerra batia à nossa porta. Todos os excelentes chefes militares da Guerra Civil foram eliminados. Tornaram-se de repente inimigos do povo? E eram inimigos de que povo? Logo no início da Grande Guerra Pátria, os quadros militares que tinham vindo da Guerra Civil espanhola foram também aniquilados. Pelos vistos estavam igualmente a impedir o caminho do camarada Stáline.»




RK

– Não vou repetir o que já disse e escrevi várias vezes sobre a conspiração militar. Já respondi a isso nomeadamente na conversa consigo nas páginas do Pravda, na resposta ao Professor L.A. Kliatchko e na resposta à primeira pergunta desta conversa.




Observo apenas que o termo «aniquilar», usado pelos «mestres da guerra psicológica», é agora utilizado indistintamente em relação a tudo o que de alguma maneira foi combatido nos anos 20 e 30, quer se trate de críticas à organização dos sindicatos ou do

Komsomol, de um reparo ao conteúdo de um jornal de parede ou de fuzilamentos.




É exactamente com base nesta «estatística» que os anti-stalinistas fanáticos intuem por vezes um número de vítimas superior à população activa da época. Temos assim que houve mais vítimas do que cidadãos e cidadãs envolvidos no processo de trabalho. O que I.F. Mursin designa de «o aniquilamento de 40 mil comandantes e comissários políticos entre 1937-40» não é mais do que, com exactidão, a destituição de 36.898 de membros do corpo de oficiais, por determinação do Comissário do Povo para a Defesa, com base nos seguintes critérios: 1.º motivo de idade; 2.º condição de saúde insuficiente; 3.º violações disciplinares; 4.º delitos morais e degeneração moral; 5.º falta de consciência política e falta de confiança política. Ao todo foram presos 9579 oficiais. Legitimamente, muitos dos destituídos e presos contestaram os respectivos processos. As suas reclamações foram analisadas por uma Comissão criada para esse fim, sob direcção de E.A. Chtchadenko (nesse tempo responsável pela Direcção Central de Quadros do Comissariado do Povo para a Defesa).

Em resultado do trabalho da Comissão, em 1 de Maio de 1940, foram reintegrados no Exército 12.461 comandantes, dos quais 10.700 tinham sido expulsos por razões políticas. A 1 de Janeiro de 1941 foram reintegrados mais cerca de 1.500 oficiais. O reexame de cada caso em concreto

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8

Intervenção na reunião alargada do Politbureau do PCU(b), em Maio de 1941 (NT).




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Kliment Efrimievitch Vorochilov (1881-1969), marechal da União Soviética (1935), membro do PCUS desde 1908, um dos organizadores e responsáveis pelo Exército Vermelho. Herói da Guerra Civil. Em 1925 torna-se Comissário do Povo para os Assuntos da Guerra e do Mar e, em 1934, Comissário do Povo para a Defesa. Vice-presidente do Conselho de Ministros da URSS (1946), presidente do Presidium do Soviete Supremo da URSS (1953-60), membro do Politbureau (1926-60), membro do CC PCUS (1921-61 e a partir de 1966) (NT).

10 Nicolai Ivanovitch Ejov (1895-1940) dirigiu o NKVD entre 1936 e 1938. É condenado e fuzilado em 4 de Fevereiro de 1940 (NT).




conduziu à libertação de mais de 1.500 presos. Em todo este processo, 70 pessoas foram condenadas à morte por fuzilamento. (cf.

Quadros Militares do Estado Soviético na Grande Guerra Pátria 1941-1945, Moscovo, 1951 – russo).




Comentando os exageros que se verificaram neste processo, Stáline afirmou em Maio de 1941

8: «Podemos naturalmente compreender o camarada Voroschilov9. Baixar a vigilância é algo de extremamente perigoso, já que, para lançar uma ofensiva na Frente são necessárias centenas de milhares de soldados, mas para provocar o seu fracasso bastam dois ou três canalhas traidores no Estado-Maior. No entanto, apesar de todas as justificações, a destituição de 40 mil comandantes das forças armadas foi uma iniciativa não só excessiva, como também extremamente prejudicial em todos os sentidos. O Comité Central do Partido corrigiu a actuação do camarada Voroschilov.»




Mais adiante, Stáline acrescentou: «No ano de 1938, os órgãos do

NKVD prenderam 52.372 pessoas ao abrigo das disposições legais sobre os crimes contra-revolucionários. No julgamento destes processos pelos órgãos judiciais foram condenadas 2.731 pessoas, das quais foram fuziladas 89 pessoas, e absolvidas 49.641 pessoas. Um tão elevado número de absolvições confirmou que o então comissário do Povo do NKVD, Ejov10, prendeu muitas pessoas sem fundamento suficiente. Nas costas do CC, cometeu arbitrariedades.» (cf. J. V. Stáline, Obras Completas, Tomo 15, p. 32 – russo).




Compare-se estes números com os que têm sido divulgados por esse mundo como prova dos horrores praticados pelo suposto regime de terror stalinista, e atente-se que Stáline, na sua exposição perante responsáveis dos órgãos de Justiça e Segurança, não qualificou o camarada Ejov, uma única vez, de assassino de massas, mas limitou-se a acusa-lo de ter efectuado prisões injustificadas. De acordo com relatos de testemunhas, esta foi a questão central que se levantou na altura a propósito das repressões dos anos 38-40, e não a alegada condenação à morte de muitos inocentes.

Todavia, as forças anti-soviéticas continuam a apresentar este período de forma unilateral, exagerada e cega de raiva.

O outro lado do problema que é sistematicamente omitido refere-se à necessidade do reforço da retaguarda em caso de deflagração da guerra. Como escreveram V.I. Nedachovski e E.D. Ojaparev, numa reunião realizada já na fase final da guerra, Hitler considerou como «uma das principais razões» da derrota seus exércitos na Frente Leste (a frente germano-soviética) o facto de Stáline «ter mandado fuzilar a "quinta coluna" em 1937.» (

A Verdade e só a Verdade, Perante a Qual nos Curvamos!, Dnepropetrovsk, 1997, p. 108 – russo).




Há ainda um facto que se relaciona com o tão falado e lastimado Tukhatchevski. No regresso das cerimónias fúnebres de George V, Rei de Inglaterra, Tuchatschevski passou por Paris em 1936, onde se encontrou com o ministro dos Negócios Estrangeiros romeno a quem afirmou: «O Senhor Ministro, liga escusadamente a sua carreira e o futuro do seu país com o destino de estados velhos à beira do fim como a Grã-Bretanha e a França. Temos de nos orientar pela nova Alemanha. Num curto espaço de tempo, a Alemanha irá tornar-se na nova potência hegemónica. Estou convencido de que Hitler significa a salvação para todos nós.» (cf.

Sovietskaia Rossia, de 3.7.1997). Isto não é inventado, está documentado. Como compreenderá, Stáline teria sido um confrangedor imbecil se não tivesse percebido o rumo que tomara «o excelente chefe do Exército da Guerra Civil»...




Quanto aos castigos aplicados no início da Grande Guerra Pátria a quadros militares que estiveram em Espanha, é preciso recordar que foram punidos aqueles que permitiram a destruição dos nossos aviões directamente nos aeroportos.

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Os inesperados êxitos dos ataques-surpresa dos nazis foram devidos também ao comportamento traidor de chefes militares como Smuchkevitch, que era conhecido na Guerra Civil Espanhola por General Douglas. Muitos outros combatentes que estiveram em Espanha revelaram uma atitude completamente distinta perante os deveres militares. A Marinha de Guerra, sob o comando de N.G. Kuznetsov, teve uma intervenção exemplar ao rechaçar corajosamente o primeiro ataque do inimigo. Percebo a ironia do leitor, mas ela assenta em informações falsas. Naturalmente que os veteranos da Guerra Civil Espanhola não incomodavam o camarada Stáline, contudo houve alguns entre eles que traíram Stáline e todo o povo soviético.




VK
– Temos agora a seguinte pergunta: «Stáline deixou renascer a Inquisição ou, mais exactamente, criou-a de novo. Como é que isto se conciliou com a Constituição stalinista? Na direcção da Inquisição estavam o menchevique Vechinski e o carrasco Ulrich."




RK

– Usado neste contexto, o conceito Inquisição é uma das criações literárias de A.N. Iakovlev e seus correligionários. Hoje até já o utiliza denegrir, no seu conjunto, a acção da Tscheka, GPU, OGPU, NKVD, do MGB e KGB. Todos os órgãos de segurança e penais que existiram e existem na História apresentam muitas semelhanças na sua forma de actuar. Contudo, penso que está fora de dúvidas que essa circunstância não permite a sua comparação aos métodos inquisitoriais. A utilização deste termo tem como objectivo atacar, caluniar e desacreditar a acção dos órgãos da Tcheka, retirando-os do contexto histórico em que foram criados por Dzerjinski, ou seja, para cumprirem tarefas da luta de classes. De resto, nenhum serviço de segurança do mundo pode abdicar da espionagem.




Naturalmente que a Inquisição não é, claramente, conciliável com a Constituição Soviética que vigorou entre 1936 e 1977. Mas seria preciso provar fundamentadamente que existiu entre nós algo parecido com a Inquisição.

De pouco importa que ex-procurador-geral da URSS, Vechinski, tenha sido um menchevique. O seu trabalho não pode ser avaliado a partir desse prisma. Muitos importantes funcionários do Partido, que posteriormente deram excelentes provas na luta, tinham sido no passado mencheviques, trotskistas, assim como crentes ou fiéis praticantes, etc. Isto é válido por exemplo para Zagorski e Volodarski, Uritzki e Andreev, Pokrovski e Dzerjinski, Lunatcharski e Bogdanov, Maiski e Zaslavski entre outros. Todos eles eram, à sua maneira, personalidades talentosas que não podem ser reduzidas a uma parte do seu passado. Quanto ao assim designado «carrasco Ulrich», que foi na verdade presidente do Supremo Tribunal da URSS, sabemos que Stáline foi muito crítico com ele. (cf. J. V. Stáline, Obras Completas, Tomo 15, p. 34-35, russo). Para uma avaliação completa desta figura precisamos de material mais representativo e comprovativo.




VK
– O leitor insiste na mesma ideia: «A Inquisição trabalhou com toda a força também depois do fim da Grande Guerra Pátria. Lembro só o caso de Leninegrado.»




RK

– Sobre esse tema, recordo-me do livro Stáline: Verdade e Mentira, de V.M. Chuchrai (Moscovo, 1996, p. 299-308, russo) que trata de forma convincente esse episódio. Mas permanecem aspectos e momentos ainda por revelar.




O próprio Stáline apoiou figuras talentosas como Voznessenski e Kuznetsov, ambos de Leninegrado, e contribuiu para chegassem aos mais altos cargos do Estado. Cometeu a imprudência de revelar que via Voznessenski como o futuro chefe do Governo e Kuznetsov como o próximo líder do Partido. Béria observava estes acontecimentos com especial atenção.

Diz-se que Stáline apreciava bastante a capacidade de organização do ministro das Minas, A. F. Sasjadko. Béria terá centrado nele as suas atenções e informou Stáline de que Sasjadko bebia com frequência em excesso. Stáline nada disse, mas mais tarde, voltou ligar a Béria: «Ambos sabemos que o camarada Sasjadko bebe, mas desta vez não te acreditamos».

Algo de parecido terá sucedido muito possivelmente com os dirigentes de Leninegrado. Disseram-me que Stáline não deu a ordem para prender Voznessenski, mas depois terá concordado e quando quis travar o processo já era tarde. Mas como grande parte dos episódios a que me tenho referido, também este não está completamente investigado, apesar de ser utilizado

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frequentemente para fins anti-soviéticos. O papel de eventuais agentes inimigos no Ministério para Segurança do Estado da URSS ainda precisa de ser investigado em profundidade.




VK
– Com que impressão geral que ficou da carta do nosso leitor, I.F. Mursin?




RK

– Penso que tanto L.A. Kliatchko, com quem antes falámos na redacção do Pravda, como I.F. Mursin são vítimas típicas da propaganda de demonização de Stáline.




Khruchov precisava da diabolizar Stáline para atingir os seus objectivos políticos de curto prazo. Com a estratégia míope da direcção de Brejnev e a traição aberta do bando de Gorbatchov o anti-stalinismo serviu de base ao avanço de uma ideologia antimarxista, antileninista, anti-socialista, antiproletária e anti-russa. O anti-stalinismo tornou-se na arma principal da contra-revolução.




VK
– Por fim gostaria de ouvir a sua opinião sobre o papel que desempenhou o próprio Stáline na criação do culto da personalidade?




RK

– Também sobe esse assunto muito do que se diz está longe da realidade. Vejamos a demagogia de Khruchov que refere Stáline enquanto «um dos mais importantes autores da sua biografia panegírica» (Luz e Sombra de um grande Decénio, Khruchov e o seu Tempo, Leninegrado 1989, p. 94 – russo).




Embora não se conheçam muitos documentos que contrariem esta versão, temos pelo menos para já as correcções feitas por Stáline ao projecto do livro

Iossef Vissarionovitch Stáline, Breve Biografia (1947) (cf. J. V., Obras Completas, Tomo 16, p. 70-90), que atenuam fortemente o pathos da adulação. Mas ainda mais interessantes e convincentes são, neste contexto, as notas sobre a conversa de Stáline com o colectivo de autores, feitas pelo historiador V.D. Motchalov logo após aquele encontro em de 23 de Dezembro de 1946.




«A opinião de Stáline: "há demasiados erros. O tom não é bom, o estilo é o usado pelos socialistas-revolucionários. Diz-se que sou o autor de todos os ensinamentos, sublinha-se que criei a teoria sobre o comunismo, como se Lénine só tivesse escrito e falado sobre o socialismo e nunca sobre o comunismo. Mais, os ensinamentos sobre a industrialização do país e a colectivização da agricultura são apresentados como se fossem meus. Na verdade, pertence a Lénine o mérito de ter colocado o problema da industrialização do nosso país. Isto também é válido para a questão da colectivização da agricultura, etc. Há nesta biografia muita adulação e exagero do papel da personalidade. Que deve fazer o leitor depois de ler esta biografia? Ajoelhar-se e adorar-me? Assim não se educam as pessoas no espírito do marxismo. Não precisamos de veneradores de ídolos.

"Também se diz que eu produzi a teoria sobre os factores permanentes e temporários da Guerra, quando qualquer livro de história militar fala sobre isso. Pode ser que eu tenha sublinhado alguns aspectos de forma mais forte e definitiva, mas não mais que isso." (Stáline entendia como factores de guerra permanentes ou constantes, por exemplo, a solidez das regiões da retaguarda, o moral das forças armadas, o número e qualidade das divisões, do armamento, as capacidades organizadoras dos comandantes. Nos factores temporários ou transitórios incluía, por exemplo, o ataque-surpresa dos fascistas à URSS).

"Temos a doutrina de Marx e Engels. Não precisamos de mais. As pessoas não devem ser educadas para serem escravos, mas há entre vós essa tendência. E quando eu deixar de existir? Vós não educais as pessoas no amor ao Partido. Quando eu já não existir, que sucederá então?"»

V. D. Motschlov continua: «Stáline tinha à sua frente um exemplar profusamente ilustrado da sua biografia. Apontando-o, o camarada Stáline perguntou: "Para quem foi pensada esta edição?" O camarada Aleksandrov, Chefe do Departamento de Agitação e Propaganda do CC do PCU(b), procurava justificar aquela pequena edição ilustrada e respondeu que era necessária para bibliotecas, clubes e etc. "Temos centenas de milhares de bibliotecas", retorquiu o camarada Stáline. "Uma tal edição pode provocar vómitos. Em relação a Baku, diz-se que os bolcheviques não tinham qualquer actividade e que só quando eu apareci é que tudo se alterou. Um construiu tudo. Pode acreditar-se ou não. Mas como foi na verdade? Era necessário criar quadros. Em Baku

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formaram-se quadros bolcheviques. Referi os nomes destas pessoas nos lugares próprios. Isto também é válido para uma outra época. Quadros bolcheviques como Dzerjinski, Frunze e Kuibichev também viveram e agiram, mas sobre eles não se escreve nada, são omitidos.

"No que diz respeito ao período da Grande Guerra Pátria, foi necessário encontrar pessoas capazes, colocá-las nas respectivas funções e fortalecê-las para as suas tarefas. Estas pessoas foram reunidas no Comando Supremo do Exército Vermelho.

"Em nenhum lado é claramente dito que eu sou um discípulo de Lénine. Isto é incompreensível... só algures se refere isoladamente. Afirmei-o claramente nas conhecidas conversas com Ludwig. Sou um discípulo de Lénine, aprendi com Lénine e não o contrário. Ninguém pode afirmar que eu não sou um discípulo de Lénine. Lénine fundou e mostrou-nos o caminho e nós continuámos nesse caminho."»




VK
– Sim, é de facto muito interessante, exemplificativo do estilo stalinista.




RK

– É muito ilustrativo. Pode naturalmente dizer-se que Stáline não foi consequente e que apesar de tudo consentiu discursos laudatórios. Mas também aqui, como disse Hegel, deve pensar-se dialecticamente e julgar não a partir uma observação psicológica limitada, mas sim de uma perspectiva social. Falamos de uma pessoa que separou a sua autoridade social e política da sua própria existência terrena transitória.




Desde há algum tempo que Stáline, de certa forma, interpretava essa autoridade como bem colectivo e integrador, atribuía-lhe uma função integradora, entendendo que a sua perda podia causar danos ao processo positivo e ao bem comum. Ele sabia que a autoridade também se desgasta e pode ser transitória.

Stáline censurou o seu filho Vassili, que combateu corajosamente como piloto aviador, por se deixar seduzir por amigos e superiores e assim permitir-se muitas coisas supérfluas. «Tu pensas que és Stáline?», perguntou-lhe o pai irritado. «E pensas que eu sou Stáline?» «Stáline é ele!», exclamou apontando para o seu retrato. «Nós temos a obrigação de nos mantermos com os pés no chão e cumprir com as tarefas que nos determina a nossa existência humana.» Este pequeno episódio revela-nos a verdadeira anatomia do problema. As coisas nunca são tão simples como por vezes nos são apresentadas e têm de ser sempre vistas sob diferentes ângulos.

Khruchov, Brejnev, Gorbatchov e Raissa Maximovna, Ieltsin, todos cuidaram do seu culto, mas o que restou dele finalmente? Relativamente aos últimos restam os resultados negativos da sua passagem pelo aparelho de Estado e do Partido, nenhuma marca de heroísmo pessoal ou de impulso criador.

Poderá dizer-se o que se quiser, mas a ambição é uma qualidade que, em maior ou menor grau, é própria de todas as pessoas normais, enquanto que a vaidade e sede de glória ou de ostentação, que caracterizam as pessoas moralmente corrompidas, são inconciliáveis com a primeira e nada têm em comum com ela. A ambição conduz à criação. Vaidade e sede de glória assim como o desejo de ostentação estão orientados para o consumo, para o desperdício. Criação e criatividade não conhecem fronteiras no espaço e tempo. O consumo, o comportamento consumista, está normalmente relacionado com um cargo, com um posto que, enquanto dura, proporciona tais mordomias. Às vezes a glória, quando está apenas associada a um cargo, transforma-se muito rapidamente em pura inglória e vergonha.




VK
– Fomos muitas vezes testemunhas disso quer ao nível local e regional, quer mesmo ao nível mais alto do Estado. Quantas exageradas figuras inchadas como de bolas de sabão estoiraram perante os nossos olhos?!...




RK

– Pois é. Voltando às perguntas do leitor, considero que todas elas têm de ser analisadas no contexto histórico concreto, tendo em conta as condições existentes assim como o tipo de relacionamento das relações dessa época e não de agora. A este propósito quero referir mais um exemplo.




No início dos anos 30, o eminente cientista alemão, Albert Einstein, associou-se ao protesto de um grupo de intelectuais europeus em relação à condenação de 48 quadros especialistas, que

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foram acusados de terem organizado a fome na União Soviética. Depois de obter informações mais precisas e se ter debruçado de forma mais cuidadosa sobre o caso, Einstein alterou a sua posição, declarando: «Dei a minha assinatura depois de um longo momento de indecisão porque confiava na competência e honestidade das personalidades que ma pediram. Para além disso, considerei psicologicamente impossível que pessoas com inteira responsabilidade em tarefas técnicas muito importantes sabotassem deliberadamente os objectivos que tinham como missão cumprir. Hoje lamento profundamente ter dado esta assinatura porque perdi a convicção de que as minhas opiniões de então correspondem à verdade.

«Não reconheci suficientemente que, sob as condições especiais da URSS, são possíveis coisas que para mim, sob condições normais, são completamente impensáveis» (...) «A URSS alcançou as maiores conquistas». «A Europa Ocidental irá, brevemente, invejá-la por isso», acrescentou Einstein (cf.

Pravda, de 18.09.1931).




E realmente, a Europa Ocidental invejou a URSS por isso. E continuou a invejá-la por isso. Nos últimos decénios perdemos a consciência da nossa enorme responsabilidade pela pátria socialista e a noção da sua dimensão histórica. Perdemos a capacidade de autocrítica lúcida assim como o entusiasmo criativo inicial.




VK
– Algumas cartas acusam-no de procurar «branquear» Stáline, e avisam que estão a ser usados hoje determinados métodos stalinistas que visam a instauração uma nova ditadura, embora com outros objectivos... Se estiver de acordo, podemos ocuparmo-nos disto na próxima conversa.




RK

- Naturalmente que estou de acordo. É na verdade um tema sério e abrangente. Mas desde já sublinho que nunca pretendi «branquear» Stáline. Informo-me apenas sobre factos da sua vida e da sua acção que são deformados ou silenciados, ou seja, procuro combater difamações.




Será isso necessário hoje? Penso que é sempre necessário e muito especialmente neste caso porque com a destruição de Stáline iniciou-se a destruição do Socialismo no nosso país. E isso transformou-se, como vemos agora, na própria destruição do país. Em nome do salvamento do nosso país, em nome do nosso verdadeiro renascimento, precisamos de verdade na nossa história soviética e de verdade sobre Stáline.

Não quero aqui dar conselhos a ninguém, mas considero um mau estilo quando se repete infinitamente (como por ex. B. Onikov e muitos outros fazem), que «Stáline e o regime totalitário por ele sancionado» têm toda a responsabilidade nas desgraças do passado e presente do nosso país. Alguém alguma vez tentou responsabilizar, digamos, Pedro I e não Nicolau I pela derrota da Rússia na Guerra da Crimeia em 1856? Mas em relação a Stáline tais absurdos e contradições são frequentes.

Não será já tempo de algumas pessoas se observarem a si próprias no espelho equidistante da História? Não é a altura de compreender que o negativismo destruidor em relação ao passado soviético não passa de um simples disfarce do próprio fracasso no presente?




Fonte:

Sovietskaia Rossia, Moscovo, 13.8.1998

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Conversa com Vladimir Suchodeiev e Boris Soloviev

Introdução à Entrevista




22 de Junho de 1941... já passaram quase 60 anos desde esse dia fatal, quando se iniciou a Grande Guerra Pátria, mas esse acontecimento continua hoje presente e poucos o vêem como História longínqua. As circunstâncias que precederam a invasão da Alemanha de Hitler continuam a despertar o interesse das pessoas, bem como, em particular, os fracassos sofridos no primeiro período da Guerra e os factores, métodos, caminhos e meios que por fim asseguraram a vitória do povo soviético na maior de todas as guerras.

As razões deste interesse são inteiramente compreensíveis. As consequências desta guerra foram demasiado importantes e as suas lições continuam muito actuais. Mas a falsificação total da História, que acompanhou as reformas nos anos da chamada

Perestroika, deturpou grosseiramente a natureza dos principais acontecimentos que marcaram o período da guerra e as acções heróicas dos seus participantes.




Em certos órgãos de comunicação, e até em alguns trabalhos científicos que se reclamam sérios, há muitos anos que o Comandante Supremo das Forças Armadas Soviéticas, Iossef Vissarionovitch Stáline, é alvo de uma difamação maciça que afectou toda a geração pós-guerra. É exactamente esta circunstância que confere um significado especial ao livro recentemente publicado pela editora

Paleja, Stáline, Comandante Supremo. Esta obra desmascara convincentemente a «stalinofobia» que grassa, a demonização irracional de Stáline. Os seus autores são Boris Grigorievitch Soloviev e Vladimir Vassilievitch Suchodeiev, conhecidos cientistas galardoados com o Prémio de Estado da URSS e participantes na Grande Guerra Pátria. O correspondente do Pravda, Viktor Kochemiako, falou com eles.

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Entrevista

Viktor Kochemiako
– Comecemos pelo ano de 1941, período sobre o qual têm circulado muitas mentiras, algumas procurando apresentar Stáline como o principal culpado da guerra.

As acusações principais são tão paradoxais e contraditórias que se excluem mutuamente. Por exemplo: A URSS estava completamente impreparada para a Guerra ou que a URSS foi ela própria a agressora já que tencionava atacar primeiro. Recordo que esta tese, que tenta justificar a invasão da Alemanha de Hitler, foi apresentada pelo conhecido autor Resun-Suvorov.




A difamação de Stáline é também uma difamação da União Soviética

e do Povo Soviético

Vladimir Suchodeiev

– A primeira acusação tem sido longa e permanentemente martelada na consciência social. Khruchov declarou no XX Congresso, por exemplo, que não houve uma «mobilização atempada» da indústria. Mas os factos dizem outra coisa. Todos os planos quinquenais foram direccionados para a utilização dos recursos do país ao máximo. A luta para a realização desses planos exigiu uma tensão extrema de todas as forças. Isto possibilitou a reorganização da indústria militar e o armamento do Exército Vermelho com os mais modernos meios técnicos de guerra, o que permitiu a organização em novos moldes de unidades militares mecanizadas. Entre Janeiro de 1939 e Junho de 1941, o Exército Vermelho recebeu cerca de 18 mil aviões de combate, dos quais 2700 do tipo mais moderno, mais de 70 mil tanques, dos quais cerca de 1900 dos modelos KW e T34; entre 1940 e 1941 a produção de armamento e equipamento militares aumentou uma vez e meia e o fornecimento de munições três vezes. Será possível não considerar tudo isto?




Por outro lado, é um facto que a URSS, por falta de tempo, não conseguiu resolver completamente todas as tarefas necessárias para poder rechaçar a invasão iminente do agressor fascista, não tendo podido nomeadamente equipar totalmente o exército com novos armamentos e material técnico, criar novos esquadrões aéreos, reforçar as novas regiões fronteiriças, etc. Esta circunstância também explica, em grande parte, os insucessos militares do início da Grande Guerra Pátria. O fundamental, porém, é que os planos dos fascistas de Hitler – vencer a URSS em poucas semanas – foram frustrados. A estratégia da «guerra relâmpago» revelou-se um fracasso logo no início da invasão.




A URSS preparou-se para a defesa e não para um ataque

Boris Soloviev

– Na verdade, as teses sobre uma absoluta falta de preparação do Exército Vermelho para rechaçar a agressão fascista e a afirmação de que o Exército Vermelho se preparava para um ataque preventivo ou um qualquer outro ataque dissuasor contra a Alemanha encontram-se em total contradição. Apesar disso tanto a primeira como a segunda foram amplamente divulgadas! Que poderemos dizer sobre a inqualificável invenção do traidor Resun-Suvorov que legitimou a invasão de Hitler?




Os documentos mostram que a URSS não preparou para qualquer acção agressiva contra a Alemanha, nem para 5 de Maio nem para 15 de Maio de 1941, como alega este inimigo do seu próprio país. No período entre 5 e 14 de Maio, o então Comissário do Povo para a Defesa, Timochenko, incumbiu todos os sovietes de Defesa da parte Ocidental do país de prepararem planos de defesa das fronteiras ocidentais da URSS. (ZAMO, f 16ª, op.2951ss, d237, 11. 33-47, 65-81).

Em 12 de Junho, o Brigadeiro A. M. Lavrov, responsável pelo reconhecimento junto do líder soviético, propôs a declaração imediata da mobilização do Exército Vermelho, cuja necessidade decorria do relatório que apresentou sobre a concentração de tropas de Hitler e dos seus aliados nas fronteiras ocidentais da URSS. Stáline respondeu-lhe: «Declarar a mobilização, dizes tu? Mas

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isso equivale a uma declaração de guerra da nossa parte à Alemanha. É exactamente com isso que sonham os imperialistas anglo-americanos, fazendo tudo para que a União Soviética se confronte com a Alemanha.» (Stáline, J. V., Tomo 15, Moscovo, p. 49, russo).

Não existem provas documentais de que um alegado ataque tenha sido adiado para meados de Julho nem que alguma vez tenha sido previsto ocupar Berlim num prazo de três ou quatro meses, como os partidários de Resun-Suvorov afirmam.

Todas as invenções ociosas deste género são por isso desde logo insustentáveis. Pelo contrário, sabemos que a direcção política e militar da URSS avaliou realisticamente o grau de preparação do Exército Vermelho e que concentrou todos os esforços no aumento da capacidade de combate para resistir à incontornável agressão fascista.

Stáline, em particular, declarou esta tarefa como mais importante e tomou decisões neste sentido. Naturalmente que tentou ganhar tempo de todas as formas e adiar o mais possível o momento do embate inevitável com o inimigo.




VK
– No XX Congresso, Khruchov afirmou no seu discurso «Sobre o Culto da Personalidade e as suas Consequências» (o seu relatório secreto), que Stáline pretensamente subestimou os avisos sobre o perigo iminente. Mais ainda, terá partido dele a ordem de não se dar crédito a este género de informações para não precipitar o início das acções de guerra. E terá sido por essa razão que o país foi quase surpreendido pela agressão.




VS

– Primeiro, deve dizer-se que Stáline recebeu informações não só sobre o ataque iminente da Alemanha à URSS, mas também de que esse ataque não se realizaria em Junho de 1941. Mas, como Churchill escreveu, Stáline disse-lhe: «Não precisei de nenhuns avisos. Sabia que a guerra iria começar, mas pensei que poderia conseguir ganhar ainda seis meses ou um pouco mais de tempo.»




Segundo, temos as declarações de Jukov, o Chefe do Estado-Maior na altura, de que também eles, os militares, no momento em que surgiu o perigo iminente de guerra, não se esforçaram suficientemente para convencer Stáline da sua inevitabilidade imediata.

Terceiro, este espaço de tempo relativamente curto foi fundamental para que a URSS pudesse preparar-se para a defesa do agressor fascista.




Stáline estava confuso nos primeiros dias da guerra?

Os documentos e testemunhas oculares dão uma resposta clara

VK
– Inúmeras especulações – de Volkogonov até Radinski e outros – referem-se a uma alegada confusão mental e alheamento de Stáline nos primeiros dias de Guerra. Supostamente, estaria assustado e intimidado, deprimido e incapaz de qualquer trabalho

.




BS

– Na verdade comportou-se exactamente ao contrário. Desde as primeiras horas da guerra, Stáline manteve nas suas mãos a direcção do país, da frente e da retaguarda. Carregou o fardo extremamente pesado da responsabilidade pessoal pelo decorrer e desfecho da Guerra, pelo destino do Povo, das Forças Armadas e de toda a nossa Pátria. No arquivo do CC do PCUS encontram-se os registos das pessoas que Stáline recebeu da noite de 21 de Junho até 28 de Junho de 1941 e das que fizeram turnos de guarda na sala de recepção.




Esses registos foram publicados no jornal

Izvestia TsK KPSS, nº 6, Junho de 1990, págs. 216-320. Através deles sabemos literalmente ao minuto e à hora quem Iossef Vissarionovitch recebeu, com quem e quando trabalhou nesses dias. Foram cerca de 30 pessoas por dia! Altos funcionários do Partido e do Estado, militares e funcionários da Economia, dirigentes do Movimento Comunista Internacional. Com eles concebeu a política do Estado Soviético Socialista em tempo de guerra, definiu as tarefas prioritárias e de longo prazo que se colocavam perante o povo e o Exército Vermelho.

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VS

– Ao que foi dito tem de se acrescentar algo que não foi divulgado nos primeiros dias de guerra nem nos anos seguintes – Stáline encontrava-se gravemente doente no momento da invasão.




Muitos anos antes, o médico de Stáline, professor Boris Sergeievitch Preobrachenski, tinha-lhe diagnosticado uma angina. Em 21 de Junho de 1941, Stáline estava gravemente afectado por esta doença purulenta da garganta. Preobrachenski exigiu o internamento imediato do paciente, mas este recusou terminantemente e exigiu que nem os seus colaboradores mais próximos fossem informados da doença.

Foi neste estado que, no Kremlin, no Comissariado do Povo da Defesa e no Estado-Maior, recebeu diariamente 20 a 30 colaboradores responsáveis e formulou as tarefas principais. Durante todos esses dias violentos teve de dissimular as dores que o torturavam, manter o autocontrolo e, mais do que isso, transmitir aos seus colaboradores energia e iniciativa. A doença abrandou só no final de Junho. Aqui demonstra-se a verdadeira vontade de aço de Stáline! Desde os primeiros minutos da Guerra que esta vontade e genialidade do Chefe do Estado Soviético colocaram em movimento enormes massas populares e mobilizaram o povo para uma guerra santa contra os agressores e invasores.




Stáline não pensava numa paz com Hitler, mas sim na mobilização

de todas as forças do Povo para resistir ao Inimigo

VK
– Com a alegada confusão mental de Stáline no início da Guerra é ainda relacionada a afirmação não menos desavergonhada e difamatória de que Stáline na sua torpeza e medo teria proposto imediatamente o fim das iniciadas acções de guerra e que para isso estava disposto a ceder o Báltico e a Moldávia, uma parte importante da Ucrânia e da Bielorrússia, assim como algumas regiões da Federação Russa.




WS

– Nas memórias do Marechal K.S. Moskalenko, a quem de resto também os autores desta difamação se reportam, é referido que durante o processo contra Béria (instaurado por Khruchov em 1953), este terá afirmado algo desse género. Khruchov também não desperdiçou a oportunidade de mencionar de passagem esta versão nas suas memórias. Como se sabe, ele utilizava todos os absurdos desde que fossem dirigidos contra Stáline. Mas, por exemplo, o excepcional espião da URSS, General P.A. Sudoplatov, afirmou com plena convicção: «Tenho a firme opinião de que Stáline e o conjunto da direcção sentiam que a assinatura de uma paz em separado nesta guerra seria extraordinariamente difícil e significaria automaticamente a perda do poder, já para não falar dos sentimentos patrióticos de que estavam animados. Estou firmemente convencido disto. Depois do início da guerra, qualquer espécie de um acordo de paz com Hitler era para eles completamente inaceitável» (P.A. Sudoplatov, O Kremlin e o Esclarecimento, Russo, Moscovo, 1977, p. 176).




Stáline não pensava na paz com Hitler, mas sim na mobilização de todas as forças do Povo e das Forças Armadas para derrotar a Alemanha nazi. Nisto consistiu a sua principal acção estatal e política e enquanto Chefe Militar e Comandante Supremo. Porém, as fantasias sobre supostas tentativas de paz com o inimigo mortal, mais do que meros pensamentos inofensivos, constituem falsificações grosseiras e deturpações deliberadas, tanto da natureza e sentido da Grande Guerra Pátria como da acção pessoal de I.V. Stáline.




VK
– Falou de uma acção estatal e política assim como de uma acção enquanto Comandante Supremo. Seguramente é difícil separar as duas coisas em Stáline, embora raramente seja referido como Comandante Supremo. Normalmente fala-se, escreve-se sobre ele enquanto político e homem de Estado assim como chefe do Partido e do Estado. Contudo, intitularam o vosso livro

Stáline, Comandante Supremo. Porque é que escolheram este título e, mais importante, por que decidiram tratar este tema? O que os animou a escrever este livro?

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VS

– Em primeiro lugar, a vontade de contrariar a ideia falsa, amplamente divulgada na consciência das pessoas, de que I.V. Stáline não pode ser visto como Chefe Militar e Comandante Supremo.




BS

– Basta um breve olhar sobre a sua vida para nos darmos conta da importância que tiveram as acções militares na sua biografia. Stáline tomou parte activa na preparação e nas operações da Revolução Socialista de Outubro. Dirigiu o CC do Partido Social-Democrata Operário da Rússia [PSDOR(b)], que foi o centro de comando da insurreição.




Durante a Guerra Civil e a intervenção estrangeira trabalhou no Conselho para a Defesa dos Operários e Camponeses, foi membro do Conselho Militar Revolucionário da República e membro do Conselho Revolucionário de Guerra da Frente Sul, da Frente Ocidental e da Frente Sudoeste. Foi um dos excepcionais organizadores da defesa de Tsarisin, da defesa de Petrogrado e da destruição de Denikin.




VS

– É preciso acrescentar que Stáline foi o iniciador da formação da 1ª Cavalaria, em cuja direcção estavam Budionni, Vorochilov e Chalenko. Lutou contra os conquistadores polacos. Em estreita cooperação com Lénine organizou e consolidou o Exército Vermelho. Leia-se sobre isto as cartas, anotações e telegramas de Stáline desta época. Nelas encontram-se princípios de estratégia e táctica militares que continuam actuais mesmo nos nossos dias.




VK
– Quando se lê a actual imprensa «democrática», fica-se com a impressão de que Stáline nada fez nesta área, ao contrário de Trotski, que é apresentado como o grande teórico e prático militar e como o fundador do Exército Vermelho. Ainda no início deste ano, o

Nezavissimaia Gazeta, num artigo intitulado «Teóricos do Exército Vermelho», publicou com grande destaque um retrato de Lev Davidovitsch [Trotski], atribuindo-lhe todos os méritos.




BS

– É um facto que Trotski esteve muito tempo na direcção do Exército Vermelho, tanto nos anos da Guerra Civil como depois enquanto presidente do Conselho Militar Revolucionário e Comissário do Povo para os Assuntos Militares. Teve um papel muito importante na formação do Estado-Maior, na nomeação de comandantes e comissários para postos dirigentes. Um largo conjunto de pessoas ficaram a dever a sua carreira militar em grande medida a Trotski, e a fidelidade que lhe demonstraram veio a ter um papel não displicente nos acontecimentos na época. Habitualmente, quando se fala da importância de Trotski, quase não se reconhece o papel de Lénine, Stáline, do Comandante Supremo do Exército Vermelho, Serguei Sergueievitch Kamenev, entre outros.




Não se deve esquecer que durante a Guerra Civil e nos anos seguintes, que antecederam a Grande Guerra Pátria, o Partido conduziu uma luta política exasperada com Trotski e os trotskistas sobre questões centrais da organização do Exército Vermelho, a garantia das capacidades de defesa do jovem Estado soviético, a elaboração de uma doutrina militar e de uma nova estratégia de guerra. Esta luta, podemos hoje dizê-lo, teve um carácter decisivo para o país. Trotski e os seus apoiantes afirmavam que sob as condições do cerco capitalista era impossível construir o Socialismo e garantir a capacidade de defesa da URSS. Não era simplesmente um caminho sem perspectiva para o Socialismo, era o caminho da capitulação, da rendição.

Afinal, Trotski já era um capitulacionista no início dos anos 20. Isso revelou-se logo na Guerra Civil. O Partido e Stáline não só não podiam concordar como decidiram opor-se com firmeza a este caminho, colocando como nova tarefa fundamental, de início aparentemente irrealizável, a organização do Exército Vermelho em fundamentos técnicos novos. Criaram desta forma uma poderosa defesa do Estado Soviético que demonstrou estar à altura de resistir às agressões das forças imperialistas e das suas coligações.




VK
– O clássico da teoria militar Clausewitz escreveu, tanto quanto sei, na sua obra principal

Da Guerra, que as funções de Comandante Supremo se contam entre as mais difíceis tarefas que a inteligência humana consegue realizar. Lembro isto porque Stáline era um homem

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de Estado e não um especialista militar. Contudo, ajuizando todos os aspectos, foi também um chefe militar e possuía um raciocínio de um chefe militar.




VS

– Quero começar por dizer que J. V. Stáline conhecia os trabalhos de Karl Clausewitz, quer a obra Da Guerra, quer a obra O ano 1812, assim como outros escritos dele. Como se conclui de anotações da sua biblioteca, estudou rigorosamente as obras de Suvorov, de Napoleão, Dragomirov e Moltke, trabalhos sobre a arte da guerra de Engels e Mehring, os textos de Chapochnikov e de E. W. Tarle.




Podíamos continuar esta lista. Stáline também conhecia uma colecção de obras de professores da Academia Militar, por exemplo,

História da Arte da Guerra, em dois volumes, do Coronel Razin. Leiam-se as memórias de Jukov e de Vassilevski, Rokossovski e Konev, Bagramian e Chtemenko, Ustinov e A.S. Iakovlev assim como de muitos outros conhecidos chefes e especialistas militares. Todos eles testemunham a uma só voz que I.V. Stáline possuía um conhecimento profundo e abrangente nas áreas da estratégia e táctica militares e que causava grande impressão nos seus interlocutores com as suas análises especialmente profundas e perspicazes da situação militar concreta, assim como com a exactidão e concepção da tarefas militares que colocava.




O Marechal Vassilevski, por exemplo, escreveu: «Sou da opinião de que Stáline demonstrou todas as características principais de um Comandante Supremo e Generalíssimo soviético, durante o período da ofensiva estratégica das Forças Armadas Soviéticas.

Veja-se também o testemunho do Marechal Konev sobre Stáline: «Possui um profundo conhecimento nas áreas da estratégia e história militares, avalia sempre de forma realista a situação política externa, os planos e formações do inimigo, a situação da economia, as capacidades dos meios técnicos e armamento militares, o estado do moral e a consciência política das tropas. Uma característica da acção de Stáline era a sua capacidade de levar em conta todas as circunstâncias e especificidades da situação no planeamento de cada operação.»




BS

– Analisamos no livro as decisões mais marcantes de Stáline durante o período da Grande Guerra Pátria, designadamente as que foram tomadas no difícil ano de 1942. Foi nessa altura que saiu a ordem stalinista n.º 227, de 28 de Julho de 1942, mais conhecida sob o nome «Nem um passo atrás!».




VK
– Essa ordem tem sido considerada nos últimos anos como um dos exemplos da dureza e até crueldade de Stáline.




VS

– Talvez esta ordem possa pareça impiedosa, em especial para os jovens leitores de hoje. Mas se se tiver em consideração as difíceis condições da altura, qualquer pessoa não muito preconceituosa perceberá que não é uma ordem draconiana, mas antes corresponde à exigência da Pátria de não ceder mais nenhum território ao inimigo, de operar uma viragem decisiva na guerra e pôr termo a todas as manifestações de pânico, irresponsabilidade e negligência, não só na Frente, mas também na retaguarda. Recordando este período, o General das Forças Armadas, V.I. Varenikov, que nessa época era um jovem oficial, escreveu: «Todo o país, todas as Forças Armadas esperavam ansiosamente esta ordem, que incluía um programa completo de medidas mobilizadoras.»




Também o Marechal A.M. Vassilevski, contrariando algumas ideias actuais, sublinhou que «esta ordem não beliscou a honra dos patriotas soviéticos, dos defensores da pátria, mas pelo contrário reforçou-a.»

O facto é que as tropas soviéticas conseguiram deter a ofensiva dos exércitos fascistas na região de Stalinegrado e nas montanhas do Cáucaso. Tanto na frente como na retaguarda foram criadas as condições que permitiram uma viragem no rumo da guerra a favor da URSS.




BS

– A partir do final de 1942, os campos de batalha da Grande Guerra Pátria foram dominados pela estratégia ofensiva do Exército Vermelho. As operações ofensivas passaram a ser concebidas tanto numa perspectiva estratégica como táctico-operativa, com recurso a ataques

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surpresa, manobras hábeis e elevada técnica de combate, grande mestria na selecção dos principais alvos dos ataques contra o inimigo, ausência de esquematismo nas acções de combate dos soldados e a obtenção de vitórias no mais curto prazo e com o menor número possível de baixas.

Não menos importante nesta etapa da Grande Guerra Pátria é a particularidade de não se terem verificado erros sérios na estratégia política e militar da direcção soviética e ainda menos contradições e recuos na definição dos objectivos e formas de destruição do adversário e na condução dos ataques e operações estratégicas.

Um mérito decisivo cabe pessoalmente ao camarada Stáline enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas Soviéticas, comissário do Povo para a Defesa e presidente do Comité Estatal para a Defesa. Stáline ocupava ainda, desde Maio de 1941, o cargo de presidente do Soviete dos Comissários do Povo [primeiro-ministro].

Houve ainda um aspecto que desempenhou sem exagero um papel enorme na elevação do espírito de luta e capacidade de ataque das tropas soviéticas. Quando os comandantes-em-chefe da Frente informaram o Comandante Supremo da conquista pelas tropas soviéticas das cidades de Orlov e de Belgorod, este virou-se para os generais responsáveis do Estado-Maior, Antonov e Chtemenko, e perguntou-lhes se liam livros sobre história militar.

Os generais estranharam a pergunta, não vendo qualquer relação entre a história e as condições do momento. Stáline prosseguiu: «Se lessem, saberiam que já na antiguidade, quando as tropas alcançavam uma vitória, todos os sinos tocavam em honra dos comandantes e dos soldados.» E propôs que aquela vitória obtida na Frente fosse assinalada com salvas de artilharia, em honra dos corpos do exército, unidades e seus comandantes. Assim nasceu uma tradição nas Forças Armadas Soviéticas.




VK
– Quais eram os principais talentos militares de I.V. Stáline?




VS

– Logo nos primeiros meses da Guerra, Stáline evidenciou-se como um excelente chefe militar. Revelou grande perspicácia na escolha de militares talentosos e organizadores competentes que foram capazes de derrotar o inimigo. Escolhia essas pessoas com sagacidade magistral, incumbindo-as de importantes tarefas e acompanhando em permanência a sua acção nos respectivos cargos de responsabilidade.




Pessoas como Jukov, Vassilevski, Rokossovski, Konev, Vatutin, Tcherniakov, Antonov, Merezkov, Ieremenko Bagramian, Kuznetsov, Moskalenko e muitos outros excelentes chefes militares ganharam experiência na prova de fogo da Guerra e tornaram-se comandantes-em-chefe excepcionais sob a direcção de Stáline.

Quando as tropas soviéticas se aproximavam de Berlim, o ministro da Propaganda do Reich fez uma notável confissão no seu diário: «O Estado-Maior enviou-me um livro com biografias e fotografias dos generais e marechais soviéticos. Este livro mostra-nos muito do que negligenciámos nos últimos anos. Os generais e marechais são em média muito mais jovens que os nossos, muito poucos têm mais de 50 anos. Possuem uma rica experiência política e revolucionária. Todos eles são comunistas convictos e pessoas muito enérgicas.

«Nos seus rostos pode reconhecer-se que são esculpidos em boa madeira. Na maioria dos casos são de filhos de operários, sapateiros, pequenos camponeses, etc. Resumindo, chega-se à lamentável à conclusão de que o estrato dirigente da URSS é de uma classe superior ao nosso…Relatei ao

Führer o que vi no livro sobre os marechais e generais soviéticos e acrescentei que nós não podemos concorrer com uma tal escolha de quadros. O Führer concordou totalmente comigo.»




BS

– Stáline enquanto Comandante Supremo e teórico militar demonstrou uma profunda compreensão do papel fulcral que a utilização maciça de tanques, aviões, artilharia, informações, etc. desempenha na guerra moderna. Desenvolveu todos os esforços para produzir a base material da nossa vitória. Foi exigente até ao extremo, mas foram exactamente a sua vontade férrea inabalável e a sua persistência que tornaram possível equipar em tempo útil a Frente com meios técnicos e armamento modernos

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VK
– Não estará neste caso a atribuir uma importância excessiva ao papel da personalidade?




VS

– Sabemos que se realizaram nos anos da Guerra mais de 200 reuniões dos órgãos dirigentes do Partido, do Politbureau, da Comissão da Organização e do Secretariado do Partido, nas quais foram discutidas as exigências e necessidades da Frente, novas meios de armamento do Exército Vermelho e o trabalho na retaguarda. Todos os órgãos da direcção estatal e militar trabalhavam para a vitória. Stáline prestava uma atenção pessoal aos problemas concretos do Exército assim como aos parâmetros técnico-operativos da arte militar. Ocupava-se com grande profundidade e aconselhava-se permanentemente sobre os problemas da política, assuntos militares, economia, ciência, etc.




BS

– Stáline dedicou grande atenção à utilização racional e o mais eficiente possível das reservas, organizando-as à escala de todo o Estado para, através delas, assegurar todos os meios necessários à condução da Guerra. Na sua perspectiva, as reservas estratégicas tinham que abranger contingentes operacionais de soldados, meios técnicos militares, armamento e munições suplementares assim como reservas disponíveis no campo de batalha. Tinham de abranger formações e unidades militares de prevenção de acordo com a dimensão das operações militares, meios técnicos de combate, transporte, comunicações, etc. Em momentos críticos, Stáline não autorizou a fragmentação e dispersão das reservas. Foi esta estratégia que permitiu o êxito da contra-ofensiva nos arredores de Moscovo, de Novembro de 1941 a Março de 1942, que infligiu pesadas derrotas e obrigou os fascistas de Hitler a recuar. Foi esta estratégia que finalmente tornou possível a vitória na batalha de Stalinegrado, em Fevereiro de 1943, e em seguida a rápida ofensiva até à tomada de Kharkov.




VK
– Diz-se que Stáline não era capaz de ouvir, que não tolerava nenhuma opinião contrária à sua. Como é que isto se reflectiu na Guerra? Em tais condições, a iniciativa pessoal teria sido certamente impossível.




VS

– Antes pelo contrário, Stáline valorizava muito a iniciativa pessoal, a inteligência, a audácia, a capacidade de decisão, a avaliação e acção independentes dos chefes militares. Aos chefes militares era sempre dada a possibilidade de defenderem os seus próprios planos. Stáline apoiava-os quando considerava que estavam correctos. Foi Rokossovski quem concebeu os planos da operação da Bielorrússia em 1944, sendo incumbido por Stáline do seu comando.




Stáline apoiou as iniciativas de Konev durante a operação de Korsunovo-Chevtschenko, apesar de ter corrigido algumas decisões erradas do general, conseguindo assegurar o êxito total da operação. No entanto, o respeito que tinha por Vorochilov não impediu Stáline de insistir na sua substituição ao verificar a sua incapacidade para organizar a defesa de Leninegrado. E acabou demitido do seu posto devido ao fracasso da operação Kertchensker. Também o Marechal Kulik foi despromovido para brigadeiro. Stáline não tolerava bajuladores, aduladores, tagarelas, cobardes e instigadores de pânico. Só podia trabalhar com pessoas que compreendiam as suas tarefas, as assumiam, sabiam organizá-las e conduzi-las. Stáline trabalhava entre 14 a 16 horas por dia e exigia aos outros total abnegação pessoal e dedicação.




BS

– Stáline dirigia o Estado, o Partido e as Forças Armadas. Resolveu tarefas gigantescas pela sua abrangência e multidisciplinaridade. Tinha um elevado nível de conhecimentos específicos sobre todas as questões decisivas. As pessoas que trabalharam com ele testemunharam a sua aversão à superficialidade, não tolerava respostas levianas, exigia que os problemas fossem estudados com minucioso rigor e que as decisões fossem tomadas com base em fundamentos sólidos e plausíveis.




Nos arquivos militares estão guardados muitos mapas, de vários tamanhos, com anotações do punho de Stáline.

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VK
– Tudo isto pouco contou para Khruchov que acusou Stáline de ter dirigido as operações militares «através de um Globo». Esta e muitas outras afirmações estúpidas suas estiveram na base da campanha anti-stalinista que os chamados democratas conduzem há muitos anos, mentindo às pessoas e tomando-as por tolas. É simplesmente ridículo, mas também revoltante, procurar-se apresentar Stáline como um puro ignorante nos assuntos militares.

Lamentavelmente, muitas vezes por desconhecimento, a juventude acredita nisto. A afirmação mal intencionada de Khruchov, de que Stáline nunca percebeu a natureza das operações militares, foi recuperada na tese do general de trazer por casa e pseudo historiador militar, Volkogonov, segundo o qual Stáline não foi nenhum Comandante Supremo no verdadeiro sentido da palavra. No mesmo sentido, os desabafos miseráveis do escritor Astaviev culminaram na conclusão de que Stáline não foi afinal nenhum Chefe Militar, nenhum Comandante Supremo. Stáline seria uma pessoa indigna, um satã que nos tinha sido enviado para castigo dos nossos pecados. Stáline era indigno, era um trapo humano, afirma Astaviev. Mais longe não se pode ir na imbecilidade e maldade. Na verdade, todos estes senhores

, por um salário de Judas, perfilham as falsificações e intrigas dos inimigos da URSS e da Rússia.




VS

– Apesar das numerosas falsificações, a verdade não deixa de ser verdade. Não se pode contornar a verdade! Ela consiste em que coube ao camarada Stáline um papel excepcional na determinação dos objectivos políticos e militares assim como na organização das batalhas de Moscovo e Stalinegrado, no arco de Kursk e na Bielorrússia, assim como, entre outros, nas etapas finais da Guerra durante a operação Berlim. Todas essas terríveis difamações contra Stáline resultam dos esforços mundiais maciços e extremamente pérfidos que foram empreendidos com o objectivo principal de difamar por todos os meios a arte militar soviética, a mestria militar dos chefes militares soviéticos, desacreditar o heroísmo dos soldados do Exército Vermelho e dos partisans, a entrega e o elevado moral dos trabalhadores na retaguarda e assim desvalorizar, anular completamente e banalizar a grandiosa acção heróica do povo soviético na salvação da humanidade da escravatura e da barbárie fascista.




Stáline conduziu o povo soviético a uma vitória gloriosa de dimensões históricas mundiais. Isto não é passível de interpretações. E no que diz respeito aos erros, eles são inevitáveis em todas as guerras. Quando foram cometidos erros, Stáline, em regra, reconheceu-os rapidamente e corrigiu-os. Esta é também uma das suas grandes qualidades.




VK
– Sabemos que Stáline recusou para si próprio o título de Comandante Supremo.




BS

– O Marechal Vassilevski sublinhou que o conceito de Comandante Supremo na literatura histórica é aplicado correctamente a chefes militares que actuam a um nível táctico-estratégico, estejam ou não presentes no campo de batalha. O critério decisivo de avaliação de um Comandante Supremo é a capacidade de cumprir com êxito as tarefas que se colocam no comando das operações da linha da frente e de todas as Forças Armadas, em geral, e de infligir ao adversário derrotas pesadas e decisivas. A acção de Stáline como Comandante ultrapassou largamente esta moldura, definida e descrita por Vassilevski. Stáline dirigiu todas as Forças Armadas da URSS, coordenou e dirigiu as operações de batalha em todas as frentes, desempenhando um papel determinante em todos os momentos importantes desta grande Guerra da história mundial. Mas para além das questões puramente militares, Stáline também dirigia as áreas da política interna e externa, da economia militar, da cultura e outros domínios da vida social.




VS

– A este propósito, o Marechal Jukov observou que qualquer comandante podia pedir reservas, munições, tropas, etc., sabendo que a responsabilidade de as disponibilizar pertencia a outros. Ele não podia requisitar e simultaneamente decidir. Por exemplo, só Stáline podia tomar a decisão de desmantelar troços do BAM (Baikal-Amur-Magistrale) para que o material fosse usado na construção de uma linha-férrea na margem esquerda do Volga nas vésperas da batalha de Stalinegrado. Quem mais podia dar a ordem de organizar em 13 dias uma reserva em Kuzbass? Só Stáline podia fazê-lo. Isto porque, diferentemente de todos os comandantes mais talentosos, ele

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11 Stavka – originalmente designação geral para a tenda do Comandante-em-Chefe do Exército russo. Na I e II Guerras Mundiais designação aplicada ao Quartel-General do Exército Czarista e mais tarde do Exército Vermelho. (N.T.)




era em simultâneo o chefe máximo do Estado, do Partido, assim como o Comandante Supremo das Forças Armadas do país.




VK
– Qual foi a relação de I.V. Stáline com os comandantes da Frente durante a Grande Guerra Pátria?




BS

– As relações de Stáline com as estruturas de comando superiores e chefes militares são sem dúvida um tema fundamental para a correcta compreensão do desenrolar da Guerra, sobre o qual, infelizmente, existem poucas investigações suficientemente profundas e científicas.




Stáline tinha relações normais com o Estado-Maior que foi dirigido por Jukov até ao início da Guerra, por Chapochnikov até Maio de 1942, Vassilevski até Fevereiro de 1945 e Antonov até ao final da Guerra. Stáline mantinha uma ligação profissional e sensata com o Estado-Maior com base nos princípios de direcção individual e da colegialidade, apesar de as decisões finais serem tomadas por ele enquanto Comandante Supremo. Stáline exigia uma preparação profunda de cada decisão estratégico-operativa, informação completa e sem falhas sobre a situação nas linhas da frente assim como uma reacção atempada às alterações na situação. Exigia dos membros do Estado-Maior elevadas competências profissionais, energia, capacidade de concertação, flexibilidade e capacidade de organização. Sob sua direcção, o Comissariado do Povo para a Defesa também trabalhava de forma precisa, sem fricções e de acordo com o mesmo perfil de exigência.




VK
– Há muitas especulações sobre conflitos entre Stáline e Jukov assim como entre Stáline e Rokossovski.




VS

– Sobre isso, analisámos uma série de documentos e memórias que nos revelam uma realidade diferente. O principal marechal da Força Aérea, A.E. Golovanov, que conhecia bem Stáline e Jukov, afirmou a este propósito: «I.V. Stáline tinha em elevada consideração as capacidades de Jukov e penso que não existiu nenhuma outra pessoa que tenha recebido tantas condecorações e tenha sido tão citado como Jukov.»




No que se refere à relação pessoal com Georgi Konstantinovitch Jukov, as coisas eram mais complicadas, já que este era uma pessoa vaidosa que nem sempre controlava os seus caprichos.

Mas Stáline não misturava as relações pessoais com as relações profissionais. Não podemos esquecer que, apesar dos seus enormes méritos, Jukov cometeu vários erros no início da Guerra quando era Chefe do Estado-Maior. Contudo, logo após a sua substituição, tornou-se imediatamente membro da

Stavka11 do Comandante-em-Chefe, primeiro de Timoschenko, depois de Stáline. Jukov sempre se referiu a Stáline com grande consideração: «Lamento não ter tido relações pessoais de amizade com Stáline. Ele tinha em grande consideração as minhas capacidades militares e eu a sua inteligência de homem de Estado.» Jukov sublinhava frequentemente: «Stáline nunca disse mal de mim. Nunca usou contra mim palavras ofensivas» (…) «Se alguém tentasse ofender-me na sua presença, Stáline defendia-me.»




Quando o publicista e historiador americano Solsberry tentou utilizar palavras de Stáline contra Jukov, Georgi Konstantinovitch censurou-o violentamente nas páginas da revista

Komunist, nº 1/1970 e aconselhou-o a avaliar melhor no futuro documentos e factos históricos que se relacionam com o heroísmo, o sangue, as vítimas e as acções heróicas do povo soviético, antes de afirmar tais disparates.




Stáline apreciava a solidez de carácter e a vontade de Jukov, a independência do seu raciocínio militar, a elevada capacidade militar que demonstrou na defesa de Leninegrado e na batalha de Moscovo. Por proposta de Stáline, Jukov foi nomeado Marechal da URSS em 1943. Stáline também respeitava Jukov pelos méritos revelados na batalha de Stalinegrado e na batalha do arco de Kursk, na operação na Bielorrússia e no ataque a Berlim. Em 8 de Maio 1945, enquanto

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representante do Comandante-em-Chefe, Jukov aceitou, em nome de Stáline, a capitulação incondicional das Forças Armadas da Alemanha fascista. Em 24 de Junho de 1945, Jukov teve a honra de passar revista na Praça Vermelha à parada comemorativa da vitória sobre a Alemanha fascista na Grande Guerra Pátria de 1941-45.

De acordo com os nossos maiores chefes militares que comandaram as frentes de combate, Stáline tinha uma especial consideração pelo Marechal da URSS, Rokossovski, a quem chamava Bagration. P.I. Bagration foi o excepcional chefe do Exército e companheiro de luta do Marechal de Campo, Kutusov, na guerra de libertação de 1812. A ofensiva na Bielorrússia teve o nome de código «Operação Bagration» não só em honra deste militar histórico, mas também de Rokossovski, a quem foi dada a honra de comandar as paradas da vitória na Praça Vermelha. Já depois da Grande Guerra Pátria, contava-se que Stáline perguntou certa vez a Rokossovski: «Ainda se sente humilhado por ter sofrido com as repressões e ter passado algum tempo na prisão?». Konstantin Rokossovski respondeu calma e simplesmente: «Nunca deixei de acreditar no Partido. Os tempos eram assim.» Rokossovski foi um dos oficiais reintegrados nas Forças Armadas após o reexame dos processos de 1940. Também se diz que Stáline procurou livrar-se de Rokossovski devido à grande autoridade que gozava no país e nas Forças Armadas, enviando-o para a Polónia em 1949. Mas a razão foi outra. Rokossovski dominava perfeitamente o polaco. K.K. Rokossovski comandou durante sete anos as Forças Armadas Populares polacas. Quando regressou à URSS, em 1956, foi nomeado representante do Ministro da Defesa. Depois do discurso sobre o culto da personalidade no XX Congresso, Khruchov pediu-lhe que interviesse contra Stáline. Konstantin Rokossovski respondeu-lhe: «Nikita Sergejevitch, para mim o camarada Stáline é sagrado!». Rokossovski rejeitou as acusações de Khruchov contra Stáline, considerando-as desonrosas e pérfidas.




VK
– Ainda sobre a acção do Comandante Supremo, afirma-se com insistência que a direcção soviética exigia a vitória a qualquer preço na Grande Guerra Pátria e que não atribuía qualquer importância às baixas militares e vítimas civis.




BS

– Sim, agora nas páginas dos jornais, revistas e livros, assim como na TV, estão na moda afirmações desse género: os milhares e milhões de vidas não eram para Stáline mais do que estatística seca e burocrática. O preço da vitória não lhe interessava. Chegou-se a Berlim, mas o povo e Rússia tiveram de derramar caudais infinitos de sangue, etc. Mas terão estes autores conhecimento das verdadeiras instruções de Stáline? Por exemplo: «É necessário disparar mais granadas e balas contra o adversário, poupar o máximo das nossas pessoas e manter a força dos Exércitos.» Ou: «Se se poupar nas bombas e nas granadas e não nas pessoas, teremos menos pessoas.» Ou ainda: «Se quereis que a Guerra nos custe menos sangue, não poupeis nas minas.» (A Guerra de Inverno, Livro 2, J. V. Stáline e a campanha finlandesa, Moscovo, 1998, pág. 279).




Nos telegramas datados de 27 de Maio de 1942, dirigidos a Timochenko, Khruchov e Bagramian, Stáline deu as seguintes ordens: «Têm de ter em atenção que a

Stavka do Estado-maior não possui novas divisões preparadas para combate, já que estas divisões são recentes e as tropas não estão ainda formadas. Atirá-las agora para a frente de combate significaria uma vitória fácil para o inimigo» (…) «Não se deve lutar com números mas sim com inteligência.» (ZAMO, F.32, op.1, d 16, 1.19).




Também foi amplamente divulgada a mentira de que Stáline teria exigido a conquista de Berlim em 1 de Maio de 1945, independentemente das possíveis pesadas baixas. Porém as coisas passaram-se de maneira muito diferente. Segundo o relato de Jukov, num encontro com Stáline sustentou que não seria possível conquistar de Berlim em 1 de Maio porque tal exigiria uma reestruturação das forças. O Comandante Supremo concordou, respondendo-lhe: «O 1.º de Maio é de uma maneira ou de outra um grande feriado, o povo honrá-lo-á. Se conquistarmos Berlim a 2 ou 3 de Maio, isso não tem grande significado. Concordo consigo, temos de defender vidas humanas e assim perder menos soldados. Prepare o melhor que puder a etapa final desta operação.»

Na monografia,

Sem Segredos, As Baixas das Forças Armadas da URSS em Guerras, Acções de Combate e Conflitos Militares (Moscovo 1993), publicada por um grande grupo de

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especialistas militares e civis, entre eles colaboradores do Estado-maior, conclui-se que as baixas demográficas totais irreparáveis da Grande Guerra Pátria, incluindo a campanha no Extremo Oriente contra o Japão em 1945, perfizeram 8.666.400. Nelas estão incluídos os mortos e os desaparecidos, assim como os prisioneiros e os que nunca regressaram do cativeiro, os que morreram em consequência de ferimentos, de doenças ou acidentes. Estão também consideradas as baixas entre as tropas fronteiriças e as tropas do Ministério do Interior. A agressão contra o nosso país também saiu cara à Alemanha e aos seus satélites. As suas baixas irrecuperáveis na frente de combate germano-soviética perfizeram 1:1,3. O maior número de baixas do nosso lado registou-se na primeira fase da Guerra, na sequência do ataque surpresa que conferiu ao inimigo uma grande vantagem. No entanto, é frequente lermos que as baixas das nossas Forças Armadas foram dez vezes superiores às dos agressores fascistas. Os autores destas afirmações parecem não se incomodar minimamente como o facto de o conjunto da população adulta masculina da URSS não se aproximar sequer destes números fantasiosos de supostas baixas.

Para além disso, não se deve esquecer que a Alemanha fascista tinha como objectivo destruir o nosso Estado e que planeava o extermínio em massa do nosso povo. Para vencermos o inimigo tivemos na verdade que pagar um alto preço. Todas as forças saudáveis do nosso povo não tiveram alternativa à luta difícil e plena de sacrifícios para defenderem a pátria. Na etapa final da Guerra, as Forças Armadas soviéticas libertaram ainda mais 13 países do jugo fascista em 15 meses. Quem pode atirar pedras ao Comandante Stáline por supostas baixas injustificáveis? O resultado principal da acção de I.V. Stáline, do núcleo dirigente do país e das Forças Armadas foi a brilhante vitória do nosso povo sobre um inimigo poderoso, experiente e cruel, traiçoeiro e pérfido, a salvação da Pátria soviética do declínio e a salvação da humanidade da escravatura e da barbárie fascista.




O génio de homem de Estado e militar de Stáline foi reconhecido em todo o mundo. Contudo, agora tudo isso está como que esquecido.

As apreciações sobre a sua pessoa feitas por Roosevelt e Churchill são silenciadas

a favor das mentiras de Volkogonov e Astaviev

VS

– O génio de homem de Estado e militar de Iossef Vissarionovitch Stáline foi reconhecido e respeitado em todo o mundo. Tanto nos anos da Guerra como muito tempo depois foi grande o seu prestígio junto dos nossos amigos e também os nossos inimigos, que o tratavam com enorme respeito. Isto também constatou o presidente americano Roosevelt e foi várias vezes sublinhado pelo primeiro-ministro britânico Churchill.

Os destaques no texto correspondem aos subtítulos da versão publicada no Pravda.
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