quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O que é "stalinismo"?


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O que é o “stalinismo”?

José Paulo Netto


Escrito em 1985 para a coleção

Primeiros Passos, esse esquecido livrinho


apresenta a forma como o assunto “Stálin” é tratado ainda hoje, mesmo no campo da

esquerda, ou seja, a esquerda continua ignorando totalmente o paradigma histórico

pós-Guerra Fria, ou melhor dizendo: consegue sintetizar uma boa quantidade de

afirmações contra Stálin, sem nunca imaginar nem sequer a hipótese de que as coisas

não tenham se passado como ele apresenta. Para Netto, Stálin “não tinha talento

teórico” (p.14), “poucas de suas obras merecem citação” (p. 14), “nessa política prática

(...) deu provas de maquiavelismo e genialidade” (p. 16), “foi destruída toda a velha

guarda bolchevique” (p. 43), “surge um discreto antissemitismo” (p. 44), “é inegável

que a transição socialista vai exigir, mais cedo ou mais tarde, a liquidação total da

herança stalinista”. Essa passagem é a mais curiosa, pois Gorbachev e Yeltsin parecem

ter levado a ferro e a fogo essa tarefa de liquidar a “herança stalinista” e realizar o que

Trotsky não conseguiu realizar. Talvez porque Trotsky nunca foi reabilitado na União

Soviética, o marxismo ocidental insiste em ver, após a morte de Stálin, Kruschev,

Brezhnev e Gorbachev como “neostalinistas”. Netto chega a dizer que métodos “como

a tortura, autorizada pessoalmente por Stálin” (p.43). Que evidências históricas

comprovam isso?

As análises de José Paulo Netto baseiam-se principalmente em Lukács

(“democracia socialista versus stalinismo”), mas estranhamente esse autor, que

participou pessoalmente da contra-revolução de 1956, está quase ausente do texto,


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talvez porque Lukács é muitas vezes acusado de stalinismo. Netto chega festejar o

renascimento do marxismo em 1985. Mal sabia o autor o que lhe esperava: com o

tombo do bloco soviético, o marxismo ocidental leva, também, um golpe violentíssimo,

ele que, arrogante, se achava bem longe daquela “ideologia de estado”. As obras de

Stálin sequer são discutidas a fundo. A teoria da revolução permanente é apresentada

como internacionalista e de Stálin seria um nacionalista. A realidade foi bem diversa:

Trotsky propôs a restauração do capitalismo ou aventuras militaristas para fazer a

revolução na Europa, enquanto Stálin foi fiel ao pensamento de Lênin de que

dificilmente o socialismo venceria em vários países e que, mesmo em somente um, ele

poderia ser construído e estimular as outras revoluções.

Netto só reconhece que o culto da personalidade não partiu do próprio Stálin,

assim como existiam, bem antes de 1941, ameaças fascistas e capitalistas contra a

União Soviética, mas ele nunca associa essas ameaças às conspirações de Trotsky,

Bukharin e Zinoviev.

O autor conjura Kruschev, Karl Korsch, Anton Pannekoek e Trotsky, sem citar a

leitura de Mao e Enver Hohxa. Impressionante “frente” anti-Stálin, ou melhor diria,

contra Lênin, pois Stálin foi a vida inteira muito fiel a Lênin e liderou um grupo

norteado por seu legado. Kruschev apresentou um leninismo muito próprio (que

fracassou definitivamente com Gorbachev), assim como o leninismo de Trotsky (que

também terminou mal, ou seja, em colaboração com os alemães e japoneses).

Ressalte-se que Kruschev julgava Trotsky liquidacionista e nunca o reabilitou.

Pannekoek, assim como Trotsky (“urso menchevique, traiçoeiro”) polemizou com o

próprio Lênin e foi chamado de esquerdista, assim como Lukács foi criticado por seu

“marxismo puramente verbal”.


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Em primeiro, o stalinismo para José Paulo Netto é deformação burocrática do

estado operário soviético nos anos 20. No entanto, “stalinismo” não existe; Stálin é um

seguidor de Lênin e sempre se definiu assim. E, como disse Stálin em

Fundamentos do


Leninismo

: “o leninismo é o marxismo do nosso tempo”. Mas o problema que


obviamente levou Netto a escrever o livro foi o fato de que, no entender de revistas e

jornais, toda a esquerda é habitualmente aproximada ao stalinismo. Como a própria

esquerda tenta se desvencilhar falando mal do stalinismo e aceitando uma versão

histórica que é claramente feita no calor da Guerra Fria, esses ataques voltam-se

contra ela própria. Por ignorar totalmente o que se passou no período Stálin, a

esquerda como um todo se desqualifica e se desvaloriza aos olhos da opinião pública.

Esse é, talvez, o maior imbróglio teórico da esquerda no início do século XXI.

A versão da história da URSS que Netto apresenta é totalmente marcada pelo

trotsquismo, ao ponto de que, na bibliografia, está completamente ausente uma

biografia de Stálin e alguns de seus livros, mas sugere-se como leitura a biografia de

Trotsky por Isaac Deutscher!

Bibliografia: NETTO, José Paulo.
O que é o stalinismo. São Paulo: Brasiliense, 1985.
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