A capital Washington já está sitiada por soldados da Guarda Nacional, das Forças Armadas e por agentes do Serviço Secreto. Ao menos 40 cidades já decretaram toque de recolher, entre elas São Francisco, Los Angeles e Nova York. Ao todo, mais de 4.500 pessoas já foram presas nos sete primeiros dias de protestos.
Por Heron Barroso
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
O presidente norte-americano Donald Trump, acuado pela força dos protestos contra a morte do ex-segurança George Floyd, quer decretar lei marcial nos Estados Unidos e impor uma ditadura militar ao país. Em pronunciamento nesta segunda-feira (01/06) na Casa Branca, Trump disse que irá enviar “tropas altamente armadas” para reprimir as manifestações, que ele chamou de “terrorismo doméstico”.
“Estou tomando um ato presidencial imediato para parar a violência e restaurar a segurança nos EUA. Estou mobilizando todos os recursos federais disponíveis, civis e militares, para interromper a violência e os saques. Enquanto eu falo, estou despachando milhares e milhares de soldados altamente armados, pessoal militar e oficias para acabar com os tumultos e vandalismo”, disse.
A capital Washington já está sitiada por soldados da Guarda Nacional, das Forças Armadas e por agentes do Serviço Secreto. Ao menos 40 cidades já decretaram toque de recolher, entre elas São Francisco, Los Angeles e Nova York. Ao todo, mais de 4.500 pessoas já foram presas nos sete primeiros dias de protestos.
Intervenção militar
Trump também ameaçou intervir em estados e municípios que não reprimam com violência os protestos. “Se a cidade ou o estado se recusar a tomar as medidas necessárias para defender a vida e a propriedade de seus residentes, então eu enviarei os militares e rapidamente irei resolver o problema por eles”, prometeu.
Como todo ditador, Trump exigiu que prefeitos e governadores suprimam as liberdades democráticas da população. “Vocês têm que prender as pessoas e processá-las, e elas têm que ser mandadas para a prisão por longos períodos. (…) Estamos fazendo isso em Washington. Vamos fazer algo que as pessoas nunca viram antes”.
Acontece que, diferente do que disse o presidente da “maior democracia do mundo”, reprimir protestos, prender opositores e pessoas inocentes e enviar o exército para controlar o país não é algo que “as pessoas nunca viram antes”. Hitler, Mussolini, Salazar, Médici, Pinochet, Fulgêncio Batista e tantos outros ditadores fascistas, na maioria das vezes apoiados pelos próprios Estados Unidos, já fizeram o mesmo no passado.
Inspirado por eles, Trump agora persegue e criminaliza pessoas e grupos antifascistas, ameaçando enquadrá-los como organizações terroristas. Muito diferente do que fez em 2017, quando se negou a classificar como terroristas grupos neonazistas fortemente armados que aterrorizaram a cidade de Charlottesville por vários dias durante manifestações em defesa da segregação racial e da supremacia branca.
Desigualdade social e superexploração dos trabalhadores
Os protestos contra a morte de Floyd e a violência policial contra a população negra ocorrem em plena pandemia de Covid-19 que, somente nos Estados Unidos, já matou mais de 100 mil pessoas e jogou milhões de trabalhadores no desemprego e na fome, principalmente os negros, latinos e pobres.
Além do caráter antirracista desses protestos, a revolta que toma conta dos Estados Unidos também é reflexo da grande desigualdade social do país e do aumento da exploração sobre a classe trabalhadora, em que pese o tão propalado crescimento da economia norte-americana nos últimos três anos.
De fato, em 2018 a desigualdade de renda nos EUA atingiu o nível mais alto em 50 anos. Segundo o Relatório da Desigualdade Global, a renda do 1% mais rico nos Estados Unidos é equivalente à renda de 50% da população, que viu seus rendimentos cair quase a metade desde 1980. Atualmente, há quase 40 milhões de desempregados nos Estados Unidos.
Em Los Angeles, segunda maior cidade do país, a quantidade de moradores de rua cresceu 23% entre 2017 e 2018, totalizando 58 mil pessoas. Já em Nova Iorque, 76 mil pessoas vivem nas ruas. Em todo país há mais de 550 mil sem-teto, segundo o Departamento de Habitação dos EUA. Isso equivale a 0,17% da população estadunidense, um percentual maior que o encontrado em países como o México (0,04%), por exemplo.
A situação é tão grave que Philip Alston, relator especial das Nações Unidas para a pobreza extrema e os direitos humanos, após viajar por duas semanas pelo país, em 2017, afirmou em seu relatório que “os Estados Unidos, um dos países mais ricos do mundo e a ‘terra da oportunidade’, está se transformando no campeão da desigualdade”. Segundo ele, “o sonho americano está se transformando rapidamente na ilusão americana”.
Democracia burguesa é liberdade para os exploradores
Logo, não é difícil entender porque as pessoas seguem protestando nas ruas por dias seguidos mesmo com toda repressão e ameaças do governo. O assassinato de George Floyd foi apenas o gatilho de uma revolta que há anos vem se gestando nos bairros pobres, subúrbios, guetos e periferias.
A reposta violenta de Trump desmascara a farsa da democracia burguesa e revela com toda a clareza que essa “democracia” não passa de uma ditadura dos ricos e para os ricos.
Falar em democracia quando milhões de trabalhadores estão desempregados e famintos, enquanto uma minoria de bilionários enriquece sem parar é, como disse o insuspeito relator da ONU, uma “ilusão”.
Como falar de liberdade de expressão quando os grandes capitalistas e banqueiros concentram em suas mãos 99% de todos os jornais, TVs, rádios e da internet? É possível acreditar que há de fato liberdade de manifestação quando a polícia e as forças armadas logo são acionadas para impedir com balas e bombas todo e qualquer protesto que não seja a favor da lei e da ordem burguesa?
A verdade é que todas essas “liberdades”, no capitalismo, são mais que uma ilusão, são uma mentira, pois na prática são a liberdade dos ricos para enganar o povo com sua mídia corrompida, e a liberdade dos ricos para defender a volta da ditadura militar.
Por isso, somente um governo revolucionário dos trabalhadores, um governo popular, acabará de uma vez por todas com essa democracia manca, falsa, hipócrita, e a substituirá pela democracia dos trabalhadores e do povo pobre, o socialismo. Assim, finalmente a esmagadora maioria da população poderá gozar da verdadeira liberdade de expressão e de manifestação, sem medo das bombas da polícia, da fome e do desemprego.
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