quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Solidariedade com as universidades brasileiras

Solidariedade com as universidades brasileiras


por Jean-Paul Lainé [*]
Carta aberta aos universitários

Informações graves que nos chegam relativas a factos ocorridos em diversas universidades do Brasil levam-nos a alertar-vos e a solicitar que da vossa parte sejam tomadas iniciativas apropriadas. Encontrarão abaixo referência a alguns casos exemplares.

Estes factos visam uma universidade pública sem dúvida considerada como insuportável foco de afirmação de liberdade e respeito pelos direitos humanos. O respeito pela soberania do Brasil e do seu governo não podem justificar indiferença e inacção face a uma tal situação.

Desejamos recordar textos internacionais fundamentais. Em primeiro lugar citamos a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que afirma o direito de qualquer indivíduo, à vida, à segurança da sua pessoa e a "igual protecção" perante a lei.

Por outro lado, a 39ª Conferência Geral da UNESCO votou por unanimidade a "Recomendação sobre a Ciência e os investigadores científicos". Esta recomendação implica, tanto no seu espírito geral e referências inseridas no seu preâmbulo, como em muitos dos seus artigos, um compromisso de todos os países em assegurar aos investigadores, protecção e condições de trabalho apropriadas ao exercício das suas responsabilidades, quer exerçam as suas actividades no sector privado ou no mundo académico.

Como organização atenta à situação dos cientistas e ao seu papel na sociedade, a FMTC considera ser seu dever lançar este alerta. De uma forma mais geral, a negação das regras que devem prevalecer em qualquer Estado de direito, independentemente das pessoas atingidas, deve mobilizar a reacção de quantos estão atentos à defesa e respeito dos direitos humanos.

Eis a razão pela qual a Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos se vos dirige, para que façam uso de todos os meios ao vosso alcance com vista a levar o governo do Brasil a pôr fim às agressões e outras formas de perseguição de que são vítimas os investigadores desse país.

Dr Jean-Paul Lainé
Presidente da Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos


Exemplos de atentados às liberdades e agressões diversas (2017-2018) 

Universidade de São Paulo: Em 23 de Agosto de 2017, um grupo invadiu o Campus para uma "operação de limpeza", designadamente a remoção das paredes da Universidade todos materiais considerados "inaceitáveis". A operação foi repelida.

Universidade Católica do Estado de Pernambuco: A 5 de Outubro de 2017, um grupo tentou impedir a realização de um colóquio sobre o centenário da Revolução Russa, organizado em conjunto pela associação de estudantes e docentes … que conseguiram gorar a tentativa. A 25 de Outubro de 2017 , um grupo de indivíduos envergando fardas militares invadiu a sala onde decorria um outro colóquio sobre o mesmo tema, desta vez organizado por investigadores da Universidade estadual do Rio de Janeiro. Os invasores filmam e insultam os participantes da conferência que é interrompida.

Aeroporto de São Paulo:  a 12 de Novembro uma colega convidada a participar num colóquio de Filosofia é molestada e insultada.

Universidade Federal da Bahia: a 6 de Novembro de 2017, num contexto de agressões repetidas de grupos de extrema-direita, a Universidade tem que reforçar a segurança das instalações aquando da apresentação do trabalho de uma estudante-investigadora sobre "sexualidade e diversidade de género na educação infantil". Há insultos verbais, ameaças de morte a professores-investigadores, intrusões difamatórias e falsas nos sítios internet onde falam dos seus projectos de investigação. A 13 de Novembro de 2017  ocorre uma invasão do Campus por um grupo munido de armas de fogo e tacos de basebol. Pretendiam provocar um conflito. O Reitor teve que chamar a segurança do Campus para desimpedir/desobstruir os locais. O próprio Reitor, que é um defensor da autonomia universitária, passou a ser o alvo pessoal desta violência, por ter defendido os docentes e o pessoal da universidade.

Universidade Federal de Ouro Preto, Estado de Minas Gerais: um magistrado do Ministério Público estadual dá início a um inquérito policial sem qualquer motivo. O assunto diz respeito a um projecto de investigação sobre o tema "Ideologias", projecto financiado desde 2009 pelo Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O promotor decide suspender o projecto. O Professor responsável pelo projecto resiste à decisão e persiste no projecto.

Universidade Federal de Santa Catarina:  a 14 de Setembro, às 6:30 da manhã, um antigo Reitor da Universidade é preso na sua casa no quadro de uma "investigação por corrupção". Mesmo antes de ter tido tempo para perceber a razão da detenção e de poder contactar o seu advogado, é sujeito a um interrogatório. Após 5 horas de interrogatório, é obrigado a despir-se completamente e sujeito a uma revista das partes íntimas do corpo. Trinta horas mais tarde, humilhado e vestido com a roupa amarela regulamentar de prisioneiro, é enviado para a Penitenciária de Florianópolis, onde permanece 18 dias. Findo este tempo é libertado do mesmo modo como havia sido preso, sem qualquer acusação e sem qualquer explicação, ficando proibido de entrar no Campus da Universidade. O Reitor suicidou-se, lançando-se do quarto andar de um centro comercial. Não foram até agora apresentadas quaisquer acusações contra ele, nem quaisquer provas de culpa.

Universidade de Brasília:  em Maio-Junho de 2018 uma professora-investigadora é molestada, ameaçada de morte e forçada a deixar Brasília, muito provavelmente por ser uma activista da descriminalização do aborto. Nesta mesma universidade um estudante foi encontrado morto junto das residências universitárias; o assassínio deve-se provavelmente ao facto de este estudante ser, desde Abril, um dos ocupantes das instalações da Reitoria.

Universidade Federal da Bahia: ocorreram de novo nesta primavera, ameaças contra professores – ameaça de morte, num caso – em razão do conteúdo das suas investigações; um estudante de mestrado foi igualmente ameaçado antes da apresentação da sua tese.

Universidade Federal do ABC: três professores são importunados, objecto de uma comissão de inquérito, pelo simples facto de terem publicado uma entrevista do anterior Presidente Lula da Silva.

O original encontra-se em fmts-wfsw.org/2018/08/solidarite-bresil/
a versão em inglês em otc.pt/wp/2018/09/04/...
e em português em otc.pt/wp/2018/09/04/... 


Esta carta aberta encontra-se em https://resistir.info/ .
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Um comentário:


  1. Abaixo o ocorrido UFF Campos dos Goytacazes:
    Walkíria NictheroyCurtir Página
    13 de setembro às 20:05 ·
    NÃO A PERSEGUIÇÃO POLÍTICA!

    Hoje fiscais do TRE arrombaram o centro acadêmico da Universidade Federal Fluminense de Campos. Local de livre debate de ideias e construção política dos estudantes.
    Em sua ação truculenta, os fiscais arrombaram a porta da sala e impediram os estudantes de usar adesivos e manifestarem seu voto.
    Embora tentem nos tirar, ainda vivemos um estado democrático, onde o direito individual de manifestar sua crença e posicionamento político ainda é livre a todos os cidadãos.

    É imprescindível dizer que o TRE assim como outras estruturas do estado, tem agido de forma seletiva e criminalizando campanhas da esquerda. Não é a primeira vez que nos deparamos com o fascismo buscando dificultar nossa interlocução com o povo e a juventude.
    São tempos difíceis os que vivemos. A prisão arbitrária e ilegal do ex presidente Lula, mostra a fragilidade de nossa democracia. No Festival Lula Livre, realizado nos arcos da Lapa, em uma ação similar o TRE apreendeu materiais e bandeiras de partidos políticos que estavam dentro da legalidade.

    Mas seguiremos firmes, mostrando ao povo nossas ideias e colocando nosso bloco na rua! Não nos calarão e não irão silenciar os estudantes que querem um estado do Rio melhor!

    Não nascemos para silêncio! Nascemos para a democracia e a liberdade!

    É imprescindível dizer que o direito a manifestação individual de voto é completamente legal e garantida pela regulação do TRE.

    Nesse momento, alunos e professores que paralisaram suas aulas estão debatendo o ocorrido e denunciando a ação do TRE!

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    Netuno Amaro

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    Netuno Amaro compartilhou uma publicação.
    15 de setembro às 10:27 ·
    A imagem pode conter: uma ou mais pessoas
    Walkíria NictheroyCurtir Página
    13 de setembro às 20:05 ·
    NÃO A PERSEGUIÇÃO POLÍTICA!

    Hoje fiscais do TRE arrombaram o centro acadêmico da Universidade Federal Fluminense de Campos. Local de livre debate de ideias e construção política dos estudantes.
    Em sua ação truculenta, os fiscais arrombaram a porta da sala e impediram os estudantes de usar adesivos e manifestarem seu voto.
    Embora tentem nos tirar, ainda vivemos um estado democrático, onde o direito individual de manifestar sua crença e posicionamento político ainda é livre a todos os cidadãos.

    É imprescindível dizer que o TRE assim como outras estruturas do estado, tem agido de forma seletiva e criminalizando campanhas da esquerda. Não é a primeira vez que nos deparamos com o fascismo buscando dificultar nossa interlocução com o povo e a juventude.
    São tempos difíceis os que vivemos. A prisão arbitrária e ilegal do ex presidente Lula, mostra a fragilidade de nossa democracia. No Festival Lula Livre, realizado nos arcos da Lapa, em uma ação similar o TRE apreendeu materiais e bandeiras de partidos políticos que estavam dentro da legalidade.

    Mas seguiremos firmes, mostrando ao povo nossas ideias e colocando nosso bloco na rua! Não nos calarão e não irão silenciar os estudantes que querem um estado do Rio melhor!

    Não nascemos para silêncio! Nascemos para a democracia e a liberdade!

    É imprescindível dizer que o direito a manifestação individual de voto é completamente legal e garantida pela regulação do TRE.

    Nesse momento, alunos e professores que paralisaram suas aulas estão debatendo o ocorrido e denunciando a ação do TRE!

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    Netuno Amaro

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