segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Algoritmos contra o câncer


Saúde

Oncologia


por Caroline Oliveira — publicado 20/11/2017 00h15, última modificação 17/11/2017 15h53
A plataforma de tecnologia científica Watson for Oncology sugere tratamentos para neoplasias com base em dados mundiais
Pixabay
Algoritmos
Na América Latina, junto com Porto Alegre só o México implementou o Watson for Oncology, ambos em agosto deste ano.


Até 2030, o câncer será a principal causa de morte no mundo. Estima-se que haverá 17 milhões de casos fatais da doença em um universo de 27 milhões de diagnósticos novos a cada ano. Até a data, 80 milhões de pessoas deve ter algum tipo câncer no período. Entre 2007 e 2015, o aumento do número de casos de morte por câncer foi de 13%, enquanto as mortes por doenças cardiovascularesdiminuiu na mesma porcentagem.
No entanto, o aumento dos casos de câncer é acompanhado pelo crescimento de estudos sobre o tema. São cerca de 25 milhões de artigos publicados por ano. Mais de 40% se dão nos Estados Unidos. Na América do Sul, essa taxa cai para pouco mais de 3%.
Segundo o médico oncologista Carlos Barrios, diretor do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, um médico que queira se manter atualizado em relação a todas as pesquisas sobre câncer do mundo, deve ler 25 horas por dia. “É impossível um médico se manter atualizado”.
Nesse sentido, em 2012, a International Business Machines (IBM), uma empresa norte-americana de informática, começou a desenvolver uma plataforma de tecnologia científica em nuvem com dados científicos sobre câncer ao redor do mundo chamado Watson for Oncology (WFO). O sistema foi inicialmente habilitado pelo centro de oncologia Memorial Sloan Kettering Center (MSK), de Nova York, e já possui mais de 15 milhões de pesquisas.
Além do processamento dos estudos, a plataforma também é capaz de ler a linguagem natural, ou seja, o diagnóstico dos pacientes oncológicos com as informações estruturadas ou não, imagens, sons e áudios, codificando todas as referências em dados. Por meio de algoritmos, o Watson for Oncology sugere tratamentos específicos para cada paciente.
Segundo o oncologista Matheus Ferla, responsável pela implementação da plataforma do Hospital Mãe de Deus, o único no Brasil, o sistema é muito mais do que um banco de dados. “Ele entende a linguagem natural, se adapta e aprende”, afirma. Ferla acredita que no futuro do Watson for Oncology será uma ferramenta democratizada e usada no cotidiano em diversos países.
Além de trazer recomendações de tratamentos, a plataforma também identifica os tratamentos não recomendáveis de acordo com os dados detalhados de cada paciente. Todos os tratamentos acompanham uma extensa biografia para a consulta do médico.
É o que o médico oncologista, Stephen Stefani, chama de medicina de precisão ou personalizada. Na América Latina, além de Porto Alegre, só o México implementou o Watson for Oncology, ambos em agosto deste ano.
Segundo Stefani, além de trazer mais benefícios do que toxicidade no tratamento de câncer, com o paciente a par do sistema, a relação entre este e o médico se torna mais horizontalizada. “A questão também é dar mais poder de decisão ao paciente, o que ele prefere?”.
De acordo com Barrios, a principal causa desse crescimento do número de casos de câncer é idade. Há algumas décadas, uma pessoa certamente teria grandes chances de morrer em decorrência de doenças cardiovasculares ao chegar aos 50 anos.
Hoje, a mudança demográfica a partir do envelhecimento da sociedade trará do câncer como a maior causa de mortes. Assim como será com as doenças neurológicas, explica Barrios.
O Brasil tem mais de 20 milhões de idosos. Em 2060, serão mais de 58 milhões, cerca de 26% da população total, segundo o IBGE. “Para termos uma ideia, existem estudos apontando que a pessoa de 150 anos já nasceu”. Nesse sentido, Barrios acredita que “se deve reconhecer o câncer como um problema global e pensar estratégias adaptáveis ao contexto de cada região”.
f: CartaCapital
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