(Cryptome.org aproveitou a minha colocação na internet deste documento na Nuvem de Documentos. Combinou as suas duas partes que eu incorporei aqui, com um tamanho de 2,6 MB. Para aqueles que o desejam usar ou ligar à sua versão
o link está aqui ).
Por que foi este relatório efectivamente suprimido?
O que se segue é uma transcrição de uma importante sessão do relatório relativo ao uso pelo Japão de armas biológicas contra a China durante a Segunda Guerra Mundial. O conhecimento aliado sobre isto e o possível uso pelos EUA durante a Guerra da Coreia deste conhecimento científico e técnico detido pelo Japão, como bem como do seu pessoal militar.
Em 1952, a colaboração entre os EUA e criminosos de guerra japoneses que usaram armas bacteriológicas foi mantida ultra-secreta e totalmente negada pelos EUA. Mas hoje, mesmo historiadores dos Estados Unidos aceitam que foi feito um acordo entre os EUA e os membros da Unidade 731 associando militares japoneses que na verdade tinham quase 15 anos de experimentação sobre o uso de armas bacteriológicas, incluindo vivissecção humana e bárbaras torturas de milhares de seres humanos, a maioria dos quais foram depois suprimidos em crematórios. Além disso, houve colaboração entre o Japão e o regime nazi sobre estas questões, embora isto esteja para além do tema deste artigo. (ver o ensaio Martin na bibliografia).

A colaboração dos EUA com criminosos de guerra japoneses da Unidade 731 foi admitida formalmente em 1999
formally admitted in 1999 pelo governo dos EUA, embora a documentação sobre isto nunca tenha sido publicada. Tenho esses documentos e irei publicá-los muito em breve. É uma questão de registo histórico, agora que se sabe que o governo dos EUA concedeu amnistia ao chefe da Unidade 731, o General-médico Shiro Ishii e seus cúmplices. A amnistia foi mantida secreta durante décadas, até ser revelada pelo jornalista John Powell num
artigo de referência para o Bulletin of Atomic Scientists , em Outubro de 1981.
O que veio a ser conhecido como o relatório Needham, devido ao facto de o ISC ter sido liderado pelo prestigiado cientista britânico, Sir Joseph Needham, ficou desde logo sob fogo após a publicação. O relatório continua a ser um ponto de referência para os estudiosos. Um
artigo de 2001 da Historical Association do Reino Unido detalhava como responsáveis da ONU e do governo do Reino Unido colaboraram na tentativa de desacreditar as conclusões do ISC. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido emitiu memorandos dizendo que alegações de guerra bacteriológica pelo Japão em 1941 foram dadas "oficialmente como 'não provadas'".
O material sensível descoberto pelo ISC referia-se a duas áreas de pesquisas secretas do governo dos EUA. Primeiro, foram os próprios planos de governos dos EUA para pesquisa e possivelmente implementação de guerra bacteriológica. A segunda questão diz respeito a confissões de aviadores dos EUA sobre como foram agendados em reuniões e implementados ensaios de guerra bacteriológica durante a Guerra da Coreia. Os EUA alegaram que os aviadores foram torturados e a CIA difundiu a ideia que haviam sido sujeitos a "lavagem ao cérebro" por métodos diabólicos, causando pânico sobre programas de controlo da mente pelos "comunistas" e destruidores da mente
(menticide) os quais eles utilizaram para justificar o gasto de milhões de dólares em programas de controlo da mente nos EUA durante as décadas de 1950-1970.
Os programas dos EUA de controlo da mente e interrogatórios-tortura usaram civis involuntários em experiências, bem como com soldados em suposta formação anti-tortura nas escolas militares SERE
(Survival, Evasion, Resistance and Escape). Mostrei através de registos públicos que cientistas da CIA continuaram a fazer experiências sobre "stress" nas escolas SERE após o 11/Set e acredito que tais experiências foram realizadas em detidos da CIA e do Departamento de Defesa. Que tal pesquisa teve lugar pode ser inferida a partir do lançamento em Novembro de 2011 de um novo conjunto de orientações relativas à investigação de Departamento de Defesa. Esta versão mais recente de uma instrução padrão (directiva 3216.02) continha pela primeira vez uma proibição específica de pesquisa feita sobre os detidos. (Ver secção 7 c.)
Acredito que pode ser apresentado um argumento convincente de que métodos coercivos, principalmente o isolamento, foi usado em prisioneiros de guerra dos EUA que posteriormente confessaram, que suas confissões eram predominantemente verdadeiras. A ideia de que apenas falsas confissões resultam de tortura é na verdade falsa em si mesma. Se bem que falsas confissões
possam resultar da tortura (como também de menos método opressivos, tais como a
técnica de Reid , utilizada hoje pelos departamentos de polícia nos Estados Unidos), confissões reais também podem por vezes ocorrer. Tenho experiência em primeira-mão, por trabalhar com sobreviventes de tortura, para saber que é verdade.
É verdade que todos os prisioneiros de guerra que confessaram o uso de guerra bacteriológica depois retrataram-se ao voltarem para os Estados Unidos. Mas os termos das suas retratações são suspeitas. As retratações foram feitas sob a ameaça de tribunal marcial. As provas em arquivo das inquirições aos aviadores foram destruídas ou perdidas devido ao fogo (de acordo com o governo). Enquanto isso, pelo menos um cientista que trabalhou em Fort Detrick naquela altura admitiu antes de morrer, num documentário de investigadores alemães, que os EUA realmente estiveram envolvidos em guerra bacteriológica na Coreia. (
Ver video ).
Uma "verdadeira investigação... poderia provocar danos psicológicos e danos militares"
As acusações de uso de armas biológicas durante a guerra da Coreia são ainda mais incendiárias do que as actualmente comprovadas alegações de que os EUA amnistiaram médicos militares japoneses e outros que trabalharam no desenvolvimento de armas bacteriológicas experimentadas em seres humanos e que acabaram por matar milhares com a utilização operacional dessas armas contra a China durante a guerra Sino-Japonesa na Segunda Guerra Mundial.
A amnistia foi o preço pago pelos investigadores militares e dos serviços secretos dos EUA para obter acesso ao acervo de investigação , grande parte dele através de experiências fatais sobre seres humanos, que o Japão havia conseguido ao longo de anos de desenvolvimento de armas para a guerra bacteriológica.
Os EUA negaram veementemente tais acusações e exigiram uma investigação internacional através das Nações Unidas. Os chineses e norte-coreanos ridicularizaram tais intenções porque foram sancionadas pelas forças das Nações Unidas que a eles se opuseram e bombardearam as suas cidades. Mas por trás desta cena, um documento da CIA tornado acessível em Dezembro de 2013
revelou que os EUA consideravam como mera propaganda o apelo para uma investigação da ONU.
Numa reunião de alto nível entre dirigentes dos serviços secretos e do governo em 6 de Julho de 1953, os Estados Unidos não foram sérios sobre a realização de qualquer investigação sobre tais acusações, apesar do que afirmavam publicamente. A razão pela qual os EUA não quiseram qualquer investigação era que uma "verdadeira investigação" revelaria operações militares, "que, tornadas públicas poderiam provocar danos psicológicos e danos militares" "Um
memorando do Conselho de Estratégia Psicológica (PSB) detalhando esta reunião definia especificamente como um exemplo do que poderia vir a ser revelado: "a preparação ou operações do 8º Exército (por exemplo, a guerra química)."
Acusações da guerra química pelos EUA durante a guerra da Coreia faziam parte de um relatório (
PDF ), por organização de advogados com influência comunista de visita à Coreia, e os seus resultados foram descartados como propaganda. Mas o memorando do PSB sugere que talvez tivessem razão. Existem também outras evidências de falsas histórias divulgadas pelos EUA.
Não muito tempo depois de ter publicado o documento do PSB acompanhando o meu artigo, o universitário Stephen Endicott escreveu-me para me lembrar que ele e o seu associado Edward Hagerman, co-autores do livro de 1998, "
The United States and Biological Warfare: Secrets from the Early Cold War and Korea (Indiana Univ. Press)" tinham eles próprios encontrado material que indicava que os apelos dos EUA para "inspecção internacional a fim de combater as acusações chinesas e norte-coreanas... era menos que ingénuo." Endicott e Hagerman descobriram que o Comandante do Extremo Oriente, General Matthew Ridgway, "secretamente deu permissão para recusar a eventuais inspectores da Cruz Vermelha acesso a quaisquer fontes específicas de informação". Além disso, apresentaram um memorando do Departamento de Estado datado de 27 de Junho de 1952 em que este notificava ser "impossível" o embaixador na ONU daquela altura garantir que os EUA não tinham a intenção de usar "guerra bacteriológica -- mesmo na Coreia." (p.192, Endicott e Hagerman)
O julgamento de Crimes de guerra de Khabarovsk
O relatório ISC faz referência ao julgamento de crimes de guerra realizado pela URSS em Dezembro de 1949 em Khabarovsk, não muito longe da fronteira chinesa. O julgamento de criminosos de guerra japoneses associados às Unidades 731, 100 e outras divisões de guerra bacteriológica seguiu-se a um quase apagão destas questões durante o julgamento de crimes de guerra Toyko realizado pelos aliados, alguns anos antes.
Na época do julgamento de Khabarovsk, os media e responsáveis do governo dos EUA ignoraram o processo, ou denunciaram-no como sendo mais outro "julgamento espectáculo" dos soviéticos. Os soviéticos, por sua vez publicaram o processo e distribuíram-no amplamente, inclusive em inglês. Cópias deste relatório são mais fáceis de encontrar na Internet para compra de exemplares usados, embora caros, mas nenhuma versão aparece disponível on-line, e não há edição académica que tenha sido publicada.
Mesmo assim, historiadores dos Estados Unidos foram obrigados ao longo dos anos a aceitar as conclusões do Tribunal de Khabarovsk, embora a generalidade da população e meios de comunicação permaneçam ignorando que tal julgamento se tenha realizado. O facto de os soviéticos terem também documentado o uso pelo Japão de experiências bacteriológicas em prisioneiros de guerra dos EUA foi altamente controverso, negado pelos Estados Unidos durante décadas, foi uma questão bastante polémica na década de 1980-1990. Embora um historiador ligado aos arquivos nacionais
tenha discretamente determinado que tais experimentos de facto tiveram lugar , a questão foi silenciada no país.
A relevância destas questões é natural para a propaganda de guerra em curso entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, bem como para a reconstrução militar e a postura agressiva contra o Japão e o global "Asian Pivot" em que o Pentágono está redistribuindo recursos no teatro de operações asiático para uma possível guerra futura contra a China.
A história por trás da Guerra da Coreia, assim como as acções militares e as encobertas dos EUA relativas à China, Japão e Coreia, são uma matéria de quase total ignorância entre a população dos EUA. As acusações de "lavagem cerebral" de prisioneiros de guerra dos Estados Unidos, num esforço contínuo para esconder evidências das experiências de guerra bacteriológica dos EUA e seus ensaios, ficaram interligados com a propaganda usada para explicar o programa de interrogatórios e tortura após o 11/Set dos EUA e serviu de álibi para crimes passados da CIA e do Departamento de Defesa durante anos de programas ilegais de controlo da mente, incluídos nos programas MKULTRA, MKSEARCH, ARTICHOKE e outros.
O seguinte é uma transcrição de parte do relatório ISC que deveria ser de interesse para os leitores. São as primeiras alegações que pude encontrar relativas ao programa japonês BW e links para o que então foi apenas concebido como um possível encobrimento e colaboração das autoridades dos EUA. Needham (que nunca perdeu a crença na correcção do que os seus investigadores descobriram) estava então certo. Ele e o trabalho dos seus investigadores não mereciam o descrédito e o esquecimento que aguardava o seu trabalho. Esta transcrição é uma tentativa de corrigir esse erro histórico.
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