Discurso e economia, irreconciliáveis no Brasil de Michel Temer
Por Moisés Pérez Mok *
Brasília (Prensa Latina) As promessas de recuperação formuladas pelo governo surgido do golpe jurídico-parlamentar contra a presidenta constitucional Dilma Rousseff caíram no vazio em 2016, quando o trem da economia brasileira marchou somente em marcha à ré.
Brasília (Prensa Latina) As promessas de recuperação formuladas pelo governo surgido do golpe jurídico-parlamentar contra a presidenta constitucional Dilma Rousseff caíram no vazio em 2016, quando o trem da economia brasileira marchou somente em marcha à ré.
Sob a presidência de Michel Temer, o Produto Interno Bruto (PIB) da gigantesca nação sul-americana registrou uma queda de 0,8% no terceiro trimestre do ano e acumulou seu pior desempenho histórico desde o início da série em 1996, com uma queda total de 4%.
Ao divulgar os dados sobre as Contas Nacionais Trimestrais, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) detalhou que entre julho e setembro passado a agricultura caiu 1,4% em relação aos três meses precedentes, enquanto a indústria o fez em 1,6 e o setor de serviços em 0,6 pontos percentuais.
A formação bruta de capital fixo (investimentos) teve um decréscimo de 3,1%, as exportações de bens e serviços reduziram em 2,8 e as importações em 3,1%.
Semanas atrás, o governo de Temer reconheceu que o crescimento do PIB prognosticado para 2016 sofreria uma queda de 3 a 3,5% e de 1,6 a 1% em 2017, depois que em agosto passado o próprio Executivo havia revisado a alta na previsão de aumento do PIB para o próximo ano, de 1,2 a 1,6%. Porém, mais uma vez, discurso e economia parecem irreconciliáveis no Brasil de Temer e em sua mais recente previsão, em 22 de dezembro último, o Banco Central (BC) anunciou um novo corte na previsão do desempenho para o próximo ano e situou-o em apenas 0.8%.
A projeção corrigida é mais consistente com uma maior probabilidade de que a reativação da atividade econômica 'seja mais demorada e gradual que o antecipado previamente', alegou o BC.
Relativo ao ano que está por concluir, a entidade financeira também reduziu as perspectivas de avanço em um décimo, levando-as de 3,4 a 3,3 pontos percentuais.
De acordo com o informe do BC, em 2016 a produção agropecuária sofrerá uma queda de -5,9%, muito superior ao 2,2 estimado antes, enquanto a retração da indústria também crescerá e passará de -3,3 a -3,5%. Quanto ao setor de serviços, o decréscimo será de 2,5 frente ao 2,7 previsto anteriormente.
Com relação ao índice de inflação, o BC antecipou que fechará este ano em 6,5% e estimou que em 2017 cairá até 4,4% para se colocar abaixo da meta traçada, que é de 4,5.
Os prognósticos do Banco Central, no entanto, parecem pecar de otimismo em relação aos elaborados pelo mercado financeiro, que reduziu de 0,7 para 0,58% a estimativa de crescimento da economia em 2017, na nona queda consecutiva da projeção.
Segundo os resultados da pesquisa Focus realizada pelo próprio BC entre as principais instituições financeiras que atuam no país, a contração econômica neste ano será de 3,48%.
Esta será a primeira vez em que a gigantesca nação registra dois anos consecutivos de queda no nível de atividade econômica, depois do declive de 3,8% no ano passado, 2015, considerado o mais severo nos últimos 25 anos.
SÃ' MÁS NOTÍCIAS PARA SE DESPEDIR DO ANO
O encerramento de 2016 não pôde oferecer piores notícias no âmbito econômico brasileiro: em novembro, o Governo central fechou com o maior déficit primário para esse mês desde o início da série histórica desse indicador, em 1997.
As despesas correntes conjuntas do Banco Central, Tesouro Nacional e da Seguridade Social, excluindo da conta os pagamentos de interesses da dívida pública, revelaram um débito de 38.356 bilhões de reais (mais de 11.600 bilhões de dólares).
Com este resultado, o déficit primário governamental elevou-se a 94.158 bilhões de reais (mais de 28.500 bilhões de USD) nos primeiros 11 meses do ano, também a cifra mais alta desde que se controla tal estatística.
Enquanto para o mês de dezembro, a carência estimada supera os 73.500 bilhões de reais (cerca de 22.200 bilhões de dólares), um montante que caso se materializar será igualmente recorde histórico, antecipou o Tesouro Nacional.
O extraordinário déficit do Governo central propiciou também que o setor público consolidado (União, estados, municípios e empresas estatais) tivesse um déficit primário de 39.100 bilhões de reais (cerca de 12 bilhões de dólares), o mais elevado para um mês desde o início da série histórica do indicador, em dezembro de 2001.
Por outro lado, e no que analistas observaram como outro claro sinal que revela o alcance da tragédia econômica provocada pelo golpe de Estado contra Dilma Rousseff, o Índice de Confiança da Indústria, que Temer e seu ministro de Fazenda Henrique Meirelles prometiam resgatar, tocou fundo em dezembro ao retroceder 2,2 pontos percentuais e se situar em seu nível mais baixo desde junho último.
Em recentes declarações, Meirelles assegurou que a economia brasileira está 'saindo da unidade de terapia intensiva' e exigirá outras medidas, além do severo ajuste fiscal aprovado duas semanas atrás pelo Congresso, para iniciar uma recuperação que - afirmou - exigirá paciência, pois o governo leva adiante um 'programa estrutural'. No entanto, e na opinião do diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Clemente Ganz Lúcio, a aplicação da alardeada agenda econômica de Temer produzirá um efeito totalmente contrário.
A solução para os problemas indicada pelo Governo é colocar o Brasil à venda (empresas privadas e públicas, ativos nacionais e serviços públicos), especialmente para o capital internacional, e fazer um brutal ajuste no tamanho do Estado.
Essa saída, advertiu, destruirá a capacidade do país de sustentar o desenvolvimento econômico soberano, condição essencial para uma integração internacional virtuosa.
O também membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social recordou que quando estava em marcha o golpe parlamentar-judicial se difundiu a ideia de que uma vez superada a crise política, a economia voltaria a crescer devido à melhora do nível de confiança dos agentes econômicos.
Esperava-se que 'a fada confiança agisse'; mas o fato é que hoje o trem da economia continua parado ou em marcha à ré; o motor da locomotiva permanece desligado e o freio de mão puxado. Até agora, 'não há fada que mova o trem', sentenciou.
*Correspondente da Prensa Latina no Brasil.
arb/mpm/mm
Ao divulgar os dados sobre as Contas Nacionais Trimestrais, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) detalhou que entre julho e setembro passado a agricultura caiu 1,4% em relação aos três meses precedentes, enquanto a indústria o fez em 1,6 e o setor de serviços em 0,6 pontos percentuais.
A formação bruta de capital fixo (investimentos) teve um decréscimo de 3,1%, as exportações de bens e serviços reduziram em 2,8 e as importações em 3,1%.
Semanas atrás, o governo de Temer reconheceu que o crescimento do PIB prognosticado para 2016 sofreria uma queda de 3 a 3,5% e de 1,6 a 1% em 2017, depois que em agosto passado o próprio Executivo havia revisado a alta na previsão de aumento do PIB para o próximo ano, de 1,2 a 1,6%. Porém, mais uma vez, discurso e economia parecem irreconciliáveis no Brasil de Temer e em sua mais recente previsão, em 22 de dezembro último, o Banco Central (BC) anunciou um novo corte na previsão do desempenho para o próximo ano e situou-o em apenas 0.8%.
A projeção corrigida é mais consistente com uma maior probabilidade de que a reativação da atividade econômica 'seja mais demorada e gradual que o antecipado previamente', alegou o BC.
Relativo ao ano que está por concluir, a entidade financeira também reduziu as perspectivas de avanço em um décimo, levando-as de 3,4 a 3,3 pontos percentuais.
De acordo com o informe do BC, em 2016 a produção agropecuária sofrerá uma queda de -5,9%, muito superior ao 2,2 estimado antes, enquanto a retração da indústria também crescerá e passará de -3,3 a -3,5%. Quanto ao setor de serviços, o decréscimo será de 2,5 frente ao 2,7 previsto anteriormente.
Com relação ao índice de inflação, o BC antecipou que fechará este ano em 6,5% e estimou que em 2017 cairá até 4,4% para se colocar abaixo da meta traçada, que é de 4,5.
Os prognósticos do Banco Central, no entanto, parecem pecar de otimismo em relação aos elaborados pelo mercado financeiro, que reduziu de 0,7 para 0,58% a estimativa de crescimento da economia em 2017, na nona queda consecutiva da projeção.
Segundo os resultados da pesquisa Focus realizada pelo próprio BC entre as principais instituições financeiras que atuam no país, a contração econômica neste ano será de 3,48%.
Esta será a primeira vez em que a gigantesca nação registra dois anos consecutivos de queda no nível de atividade econômica, depois do declive de 3,8% no ano passado, 2015, considerado o mais severo nos últimos 25 anos.
SÃ' MÁS NOTÍCIAS PARA SE DESPEDIR DO ANO
O encerramento de 2016 não pôde oferecer piores notícias no âmbito econômico brasileiro: em novembro, o Governo central fechou com o maior déficit primário para esse mês desde o início da série histórica desse indicador, em 1997.
As despesas correntes conjuntas do Banco Central, Tesouro Nacional e da Seguridade Social, excluindo da conta os pagamentos de interesses da dívida pública, revelaram um débito de 38.356 bilhões de reais (mais de 11.600 bilhões de dólares).
Com este resultado, o déficit primário governamental elevou-se a 94.158 bilhões de reais (mais de 28.500 bilhões de USD) nos primeiros 11 meses do ano, também a cifra mais alta desde que se controla tal estatística.
Enquanto para o mês de dezembro, a carência estimada supera os 73.500 bilhões de reais (cerca de 22.200 bilhões de dólares), um montante que caso se materializar será igualmente recorde histórico, antecipou o Tesouro Nacional.
O extraordinário déficit do Governo central propiciou também que o setor público consolidado (União, estados, municípios e empresas estatais) tivesse um déficit primário de 39.100 bilhões de reais (cerca de 12 bilhões de dólares), o mais elevado para um mês desde o início da série histórica do indicador, em dezembro de 2001.
Por outro lado, e no que analistas observaram como outro claro sinal que revela o alcance da tragédia econômica provocada pelo golpe de Estado contra Dilma Rousseff, o Índice de Confiança da Indústria, que Temer e seu ministro de Fazenda Henrique Meirelles prometiam resgatar, tocou fundo em dezembro ao retroceder 2,2 pontos percentuais e se situar em seu nível mais baixo desde junho último.
Em recentes declarações, Meirelles assegurou que a economia brasileira está 'saindo da unidade de terapia intensiva' e exigirá outras medidas, além do severo ajuste fiscal aprovado duas semanas atrás pelo Congresso, para iniciar uma recuperação que - afirmou - exigirá paciência, pois o governo leva adiante um 'programa estrutural'. No entanto, e na opinião do diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Clemente Ganz Lúcio, a aplicação da alardeada agenda econômica de Temer produzirá um efeito totalmente contrário.
A solução para os problemas indicada pelo Governo é colocar o Brasil à venda (empresas privadas e públicas, ativos nacionais e serviços públicos), especialmente para o capital internacional, e fazer um brutal ajuste no tamanho do Estado.
Essa saída, advertiu, destruirá a capacidade do país de sustentar o desenvolvimento econômico soberano, condição essencial para uma integração internacional virtuosa.
O também membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social recordou que quando estava em marcha o golpe parlamentar-judicial se difundiu a ideia de que uma vez superada a crise política, a economia voltaria a crescer devido à melhora do nível de confiança dos agentes econômicos.
Esperava-se que 'a fada confiança agisse'; mas o fato é que hoje o trem da economia continua parado ou em marcha à ré; o motor da locomotiva permanece desligado e o freio de mão puxado. Até agora, 'não há fada que mova o trem', sentenciou.
*Correspondente da Prensa Latina no Brasil.
arb/mpm/mm
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