A perda de Chico Science representou também a perda de um grande líder, como afirmou Lenine, ao dizer que “ele não se contentava apenas em estar no palco, queria dividi-lo com todos”. Sua figura demonstra a importância da formação política do artista, reforça a necessidade da organização coletiva, a ligação estreita com as grandes massas, bem como o papel do indivíduo na construção da história.
O líder do movimento Manguebeat representou, por meio de suas letras, necessidades sociais e humanas de um modo verdadeiramente inovador, com uma música que rompia com tudo que acontecia no país, ao mesmo tempo em que dialogava com diversas linguagens musicais, artísticas e culturais sem esquecer temas como desemprego, preconceito, consciência ambiental e as desigualdades sociais.
Como não bastasse apenas mostrar uma arte inovadora, sedimentou seu movimento, lançou um manifesto e, junto com outros grandes nomes como Fred 04 e Otto, apontaram uma direção a ser seguida para modificar a realidade da juventude de uma região, na época esquecida e entregue ao crime, ociosidade, preconceito e violência.
Criado em Rio Doce, subúrbio de Olinda, filho de um enfermeiro, ex-vereador e líder comunitário, Chico Science cresceu e formou sua identidade cultural entre os becos das casas populares e as manifestações de rua. “Antenado”, conseguiu interpretar a realidade e carências de uma geração recém saída de uma ditadura militar de 21 anos, que roubou, aprisionou e escondeu o que havia de mais avançado em nossa cultura até então. Com a censura e o controle dos meios de comunicação pelo regime, era difícil ter acesso até mesmo a discos e livros considerados “subversivos”, ausência que marcou a infância da geração de Chico (ele contava com 13 anos quando a censura foi extinta e decretada a Lei da Anistia).
Chico Science soube trazer para o centro do debate a necessidade de se valorizar a nossa cultura local de verdade. Ver a influência deixada por ele após a explosão do Manguebeat, e que se espalha até hoje, mostra o quanto sua obra teve profundidade, e o quanto ainda é moderna e atual. Chico cantou a cidade, o mangue, o morro, os anseios da juventude e hoje está mais presente do que nunca.
Chico Science Vive!
Cloves Silva, estudante de Letras da UFRPE e militante do MLC
*O termo malungo remete À história dos negros escravos, vindos para o Brasil nos chamados navios negreiros. Era assim que eles se chamavam, tanto nas embarcações quanto nos quilombos. O nome significa companheiro.
- pvc_views:
- A Verdade
0 comentários:
Postar um comentário