domingo, 9 de novembro de 2014

Obama: derrota e desalento

Obama: derrota e desalento

Editorial de La Jornada
09.Nov.14 :: Outros autores
Vistos do México, os resultados das recentes eleições nos EUA suscitam preocupação acrescida. Obama prometera uma “viragem” na política de emigração. Se essa foi mais uma promessa não cumprida antes, muito menos razões há para confiar que seja cumprida agora. O final do mandato arrastar-se-á, acompanhado de um ainda mais acentuado prolongamento das políticas e dos valores da desastrosa era Bush.

Um dia após as eleições intercalares que resultaram num triunfo maioritário dos candidatos do Partido Republicano em ambas as câmaras do Congresso dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama disse que dá ouvidos ao protesto dos que votaram contra o seu partido e a favor da oposição, ponderou o avanço desta última e convocou-a a trabalhar pelo povo estado-unidense. De caminho, o mandatário anunciou que adoptará medidas unilaterais para fazer avançar alguns dos pontos mais relevantes do seu programa político, em particular a tão anunciada viragem na política de emigração, e ratificou a sua promessa de diminuir o número de deportações e incrementar a segurança fronteiriça.
Para além das disputas partidistas que terminaram por dar o controlo das poltronas legislativas aos republicanos, o que ocorreu na passada terça-feira nos Estados Unidos confirma que o segundo mandato de Barack Obama – com as suas quotas de inacção, tibieza e desempenho errático – deixou um saldo de desencanto manifesto face à política em geral – como demonstra o alto nível de abstencionismo na jornada eleitoral, superior a 60 por cento –, um claro desgaste do Partido Democrata e um governo sumamente debilitado e previsivelmente inoperante durante os dois anos que restam à actual administração, se se toma em conta que o Poder Legislativo dos Estados Unidos, ao contrário do que sucede em outros regimes presidencialistas, como o nosso, caracteriza-se por ser um contrapeso real e efectivo às decisões do Executivo.
Assim, o revés eleitoral de anteontem cancela praticamente a possibilidade de Obama empreender as reformas pendentes do seu programa, particularmente a relativa à emigração. Com efeito, parece pouco provável que o político afro-estado-unidense possa governar por decreto nessa matéria, se se toma em conta que pouco ou nada pôde fazer durante os dois anos em que o seu partido manteve o controlo de ambas as câmaras do Congresso e durante os seis em que ostentou a maioria no Senado.
Além do mais, é legítimo duvidar dos ânimos reformadores de uma administração que inicia a sua recta final com o precedente de ter realizado o maior número de deportações de imigrantes indocumentados na história do país vizinho.
A formulação de promessas cujo cumprimento é pelo menos duvidoso constitui uma aposta arriscada do ainda mandatário, sobretudo porquanto o descalabro eleitoral de há dois dias se explica em boa medida pelo conjunto de incumprimentos, por parte do governo estado-unidense, à palavra empenhada pelo próprio Obama. A perspectiva de um novo incumprimento aos migrantes poderia resultar catastrófica não apenas para a credibilidade deste governo, mas também para as aspirações do Partido Democrata relativamente às eleições de 2016.
Em contrapartida, o revés sofrido por Obama e a possibilidade de que a sua administração fique condenada à irrelevância política poderia traduzir-se num reforço de posturas conservadoras, intolerantes e belicosas que se encontram mais exacerbadas entre os republicanos do que entre os democratas. Em suma, o triunfo do conservadorismo e o fracasso de Obama poderia abrir a porta à emergência antecipada de uma reedição da desastrosa era Bush, e isso teria consequências desastrosas para os Estados Unidos e também, desgraçadamente, para o resto do mundo.
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