quarta-feira, 18 de junho de 2014

O povo colombiano votou pela solução política do conflito social e armado

O povo colombiano votou pela solução política do conflito social e armado



18.Jun.14 :: Outros autores
A segunda volta das eleições presidenciais na Colômbia deu a vitória ao presidente em exercício, JM Santos. Foi uma eleição disputada entre dois candidatos da direita. Mas esse facto não deve ocultar um dado político da maior importância: pela primeira vez na história da Colômbia a questão da Solução Política do conflito armado foi o ponto central do debate eleitoral. E a votação de Santos tem o peso de um plebiscito pela paz.


¿Acabou-se a luta de classes na Colômbia?
O segundo momento eleitoral que acaba de terminar na Colômbia e que reelegeu (com cerca de um milhão de votos de diferença) o presidente-candidato Santos contra o candidato da aliança “Uribe-Pastrana”, juntamente com a nova qualidade política que decorre deste facto eleitoral exige um imprescindível debate analítico:
A primeira coisa que se deve destacar é que apesar de uma muito alta abstenção de 52%, pela primeira vez na historia de Colômbia a Solução Política do conflito armado colombiano, ou a paz como finalmente acabou por se designar, antes obscurecida pelas consignas eleitorais, impôs-se relativamente aos demais aspectos político-sociais da Colômbia como ponto central do debate eleitoral, adquirindo uma qualidade de plebiscito pela paz, que no final recebeu os 7 milhões 814 mil votos depositados em JM Santos.
A segunda, é a imposição que se fez no imaginário colectivo da análise materialista histórica ou marxista que, para os fins eleitoralistas do momento, foi retorcida até construir um artifício dicotómico e anti dialéctico entre uma suposta “modernidade” representada por uma “burguesia progressista” encabeçada por Santos e uma “pré-modernidade latifundiária e violenta” acaudilhada por Uribe-Pastrana, o que no final conseguiu desorientar a verdadeira e real análise classista e o seu sistema de contradições existentes entre as duas fracções de UMA mesma classe social dominante (a oligarquia transnacionalizada) ambas fortemente associadas e ligadas ao capital financeiro transnacional ou imperialista mundial. Sem ir muito longe pode citar-se, por exemplo, como Santos tem o apoio de Luis Carlos Sarmiento Angulo e o Uribe-Pastranismo o do seu socio Fabio Echeverri Correa.
Desse modo resultou muito fácil para os “dicotómicos e polarizadores da esquerda eleitoral”, justificar o malabarismo do seu apoio aberto e do seu voto em JM Santos, um dos melhores expoentes dessa oligarquia transnacional dominante estreitamente ligada ao neoliberalismo imperialista mundial, momentaneamente confrontado com outros dois provados agentes financeiros transnacionais aliados como Uribe e Pastrana, com quem tem algumas contradições de percepção sobre a forma de solucionar o conflito social e armado colombiano e sobre o modo de inserir a economia e a sociedade colombiana no actual “concerto das nações”. Nada mais.
Assim, a dicotomia ideal (que não contradição material) entre “modernidade santista” e “pré-modernidade violenta Uribe-Pastranista”, conseguiu impor-se através da interessada intoxicação e polarização mediática agenciada por todos os meios de comunicação, e permitiu a “cooptação e a divisão” de um amplo sector da Esquerda eleitoral que ajudou ao resultado eleitoral que deu o triunfo a JM Santos, mas que por sua vez deixou o Uribo-Pastranismo como única força de oposição consolidada a nível local e regional, com quase 7 milhões de votos, 20 senadores e um partido disciplinado à chicotada.
A terceira é que os tradicionais poderes fácticos da classe dominante colombiana, como a Igreja e a Força Pública, desta vez entraram na contenda de maneira diferente: a Igreja, para não contradizer o apelo do papa à paz na Colômbia, em lugar de utilizar o púlpito para “chamar os colombianos a eleger os melhores” como sempre tem feito, optou por guardar um silêncio desconfiado e cúmplice para não desqualificar directamente nenhum dos dois candidatos presentes.
E a heróica Força Pública, para além dos falsos comunicados de sempre “neutralizando algum importante cabecilha financeiro” de alguma frente guerrilheira, entrou em pleno no debate eleitoral ainda que dividida: o sector que com o min-guerra Pinzón faz parte do binómio Rojista Gobierno - Forças Armadas apoiou directamente Santos; enquanto outro sector activo de generais na reserva e retirados (ACORE), juntamente com comandos de batalhões regionais, participou directamente apoiando a solução militar e anticomunista para o conflito colombiano proposta pela parelha do Uribe-Pastranismo.
Um quarto facto destacável é o papel desempenhado pelo vice-presidente Angelino Garzón, personagem muito ligado à conferência episcopal colombiana e ministro do trabalho de Pastrana, que com o seu comportamento errático e sem nenhum decoro (porventura devido à sua afasia cerebral) acabou integrando a aliança de Uribe-Pastrana e abrindo (no futuro) um espaço perigoso ao vice-presidente actualmente eleito Vargas Lleras, ambiciosa e insaciável figura de proa do militarismo colombiano. Por alguma razão este cacique do clientelismo, talvez para não mostrar a mão mutilada na sua luta intestina com Uribe, na foto do triunfo eleitoral da família Santos não exibe como todos os demais a palma com a palavra Paz escrita.
¿Que vem a seguir? É de presumir que depois do carácter de “batalha militar” que os media deram a estas eleições, venha por parte da fracção ganhadora um reordenamento do campo de batalha: recolha de mortos e feridos, revista de relíquias, pendões e bandeiras, para se dedicar a prosseguir a implementação do plano neoliberal oligárquico traçado e faz tempo delineado para o que eles chamam o “pós-conflito”.
E para a esquerda (tanto a eleitoral como a que não participou em eleições) um regresso à realidade pura e dura da real e quotidiana luta de classes: desenvolver até à sua máxima potencialidade mediante a mobilização social a Frente Ampla e unitária pela Paz com justiça social, a Democracia e a Soberania, e pela Solução Política definitiva ao conflito social e armado colombiano; no entendimento de que a tão comentada contradição assinalada pelo general von Clausewitz entre o Político e o Militar de um conflito como o colombiano, será sempre definida no palco da política, tal e como estamos vendo.
E este é o quinto e último ensinamento: Que o partido anticomunista que a denominada Fuerza Pública de Colombia constitui foi obrigado desta vez a travar a “batalha”, não como inimigo emboscado e clandestino da paz mas no terreno público da política, o que em si constitui um grande triunfo. Sem que isto queira dizer que tenha sido derrotado. Pelo contrário. Continuará aí (com o gringo) e há que ter isso sempre presente.
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