quarta-feira, 25 de junho de 2014

Guerra no Iraque / Terrorismo favorável ao imperialismo

Guerra no Iraque

A ofensiva do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) converge com os interesses regionais do imperialismo, que financiou e treinou a organização, e procura tirar partido do seu reforço no Iraque e na Síria para prevalecer naqueles territórios.

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Na segunda-feira, 23, o Washington Post noticiou que o EIIL combate com armas fornecidas pelos EUA para a guerra na Síria e notou que três anos de conflito contra um exército regular naquele país garantem aos extremistas islâmicos uma experiência que as forças armadas iraquianas não têm, ainda que agora estejam reforçadas pelas milícias do senhor da guerra Moqtada al-Sadr e por cerca de 300 conselheiros enviados por Washington.
Simultaneamente, o Telegraph revelou, citando fontes oficiais curdas, que antes de o EIIL lançar a campanha no Norte e Oeste do Iraque, os serviços de segurança do território autónomo alertaram a CIA e o MI6 para os planos e estratégia a seguir, mas a informação foi ignorada. O Wall Street Journal, por seu lado, assegura que os serviços secretos dos EUA implementaram no Iraque, em 2013, um programa de acompanhamento dos grupos terroristas, mas não partilharam as informações recolhidas com os iraquianos.
O financiamento e treino de mujahedines por parte do imperialismo é um facto conhecido. Milhares de jihadistaspassaram pelas mãos de instrutores norte-americanos, britânicos e franceses num campo situado na Jordânia, revelaram, em Março de 2013, oficiais jordanos, citados pelo Guardian e o Der Spiegel. A base no Norte da Jordânia fica situada na fronteira com a Síria e Iraque, o Catar e a Arábia Saudita, países reconhecidamente financiadores dos bandos armados na Síria e repetidamente apontados pelo primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, como suportes da actual investiga do EIIL no Iraque. Bagdad apresenta como prova adicional a morte de dois importantes comandantes sauditas durante as batalhas em curso pelo controlo da maior refinaria do Iraque e da cidade de Samarra.
O sucesso militar da campanha do EIIL também levanta suspeitas: o New York Times sublinhava recentemente a estranheza das populações pela capitulação quase pacífica das tropas iraquianas em Mossul ou Tikrit. O diário atribui igualmente as vitórias vertiginosas dos islamitas a um ex-general de Saddam Hussein, Ibrahim al-Douri, que apesar de ser um dos mais procurados pelos EUA durante a administração liderada por George W. Bush, esteve na Síria em 2009 – de acordo com o ex-comandante das forças ocupantes do Iraque, David Patraeus –, e no Catar, segundo fontes iraquianas.
Entre os homens de mão do imperialismo no EIIL pontifica, igualmente, o tchecheno Tarkhan Batrashvili, oriundo da fronteira da Tchechénia com a Geórgia, e que o Wall Street Journal caracterizava, em 2013, como um ponta de lança na batalha anti-Rússia que se desenrolava nos conflitos na Síria e Iraque.
Ameaça à sé(í)ria
O presidente Barack Obama, o secretário de Estado John Kerry e o vice-presidente Joe Biden multiplicam-se em declarações preocupadas para com o avanço do EIIL no Iraque e argumentam que uma intervenção militar não resolve o problema criado. Culpam os dirigentes iraquianos pela situação e desdobram-se em contactos para imporem uma nova partilha do poder no país (Kerry esteve em Amã, na Jordânia, em Bagdad e Arbil, no Curdistão iraquiano), mostrando apreço pela opção de balcanização do país.
Por contraste, o sítio digital norte-americano The Hill adianta que o Pentágono espera ordens para iniciar bombardeamentos não apenas no Iraque mas também na Síria. A mesma fonte desmente informações postas a circular pela Casa Branca, segundo as quais os ataques aéreos ainda não tinham sido concretizados devido à carência de dados fiáveis, e garante que o Pentágono confirma que está a monitorizar todos os movimentos do EIIL no terreno. Em entrevista à CBS, divulgada domingo, 22, o presidente dos EUA também assegurou que a organização está sob vigilância apertada.
Estas aparentes contradições tornam-se mais claras se considerarmos que os avanços e recuos no terreno indicam que o EIIL mantém pelo menos uma ligação de fronteira entre a Síria e o Iraque, movimentando-se, por isso, entre os dois países e implementando a regionalização do conflito, propósito que o imperialismo tantas vezes perseguiu, nomeadamente através das provocações da Turquia.
Ao longo dos últimos três anos, o governo sírio insistiu que a prioridade era combater os grupos terroristas e denunciou o recrutamento de milhares de mercenários oriundos de dezenas de países para a «guerra santa» na Síria. Damasco denunciou o uso de civis como escudos humanos e o envolvimento de crianças nos combates por parte dos grupos armados.
Nas conferências de paz, nas Nações Unidas e outros fóruns, EUA e aliados bateram-se sempre contra a prioridade do combate ao terrorismo na Síria. Por estes dias, Tunísia, Grã-Bretanha, Austrália ou EUA foram alguns dos países que agora admitem preocupação pelo regresso dos jihadistas que combateram na Síria. A Human Rights Watch divulgou um relatório no qual acusa o EIIL, a Frente al-Nousra, as forças curdas da Síria e o chamado Exército Sírio Livre, braço armado da «oposição» pró-imperialista agregada na Coligação Nacional Síria (CNFROS), de obrigarem menores a pegar em armas.
Face a tudo isto, a UE decidiu, segunda-feira, 23, fragilizar ainda mais as autoridades sírias aprofundando as sanções económicas e financeiras ao país. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, faz a sua parte e tratando da mesma maneira o presidente recém eleito por larga maioria, Bachar al-Assad, e os grupos mercenários, apelou a que o Conselho de Segurança imponha um embargo de armas à Síria.
O embargo teria como efeito o fortalecimento da capacidade dos bandos armados, que recebem ajuda bélica do imperialismo, e que, há meses, sofrem derrotas pesadas e recuam frente às forças armadas sírias, cujo sucesso, é evidente, não se encaixa nos planos imperialistas para a Síria e o Iraque.

     Fonte: Jornal Avante
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