quarta-feira, 11 de junho de 2014

Fala Comandante da Insurgência no leste da Ucrânia, Igor Strelkov



11.Jun.14 :: Outros autores
Uma importante entrevista de um responsável militar no terreno. Mais significativo ainda do que o que informa acerca da evolução da guerra empreendida pelo poder fascista de Kiev é o seu lúcido alerta: qualquer que seja a evolução da situação militar, é de uma catástrofe humanitária em desenvolvimento que se está a falar. São sempre os povos a pagar o preço das tragédias que a ingerência imperialista desencadeia.


Sabe-se pouco acerca de Igor Strelkov, o homem a quem a Associated Press chamou “a face da insurgência na Ucrânia oriental”, e o facto de manter um perfil muito baixo não ajuda a sua imagem pública, embora contribua para ampliar o seu estatuto místico, de homem na sombra. Ontem, todavia, na sequência da tomada de posse de Poroshenko, o novo presidente da Ucrânia, Strelkov concedeu uma extensa entrevista na qual expôs não apenas o ponto de vista dos “separatistas” relativamente aos recentes acontecimentos na Ucrânia mas como encaram a resistência armada do ponto de vista da estratégia e como poderá acabar, se é que acaba.
Em qualquer caso, a entrevista que se segue não irá decerto estar disponível nos meios de difusão ocidentais. Para as pessoas que procuram, para ter uma opinião informada, ouvir ambos os lados da história, ela aqui fica.
A mais recente entrevista de Strelkov, via @Gbazov
Creio que a situação irá mudar para pior, porque agora este assim chamado “legítimo” presidente irá de imediato voltar-se para os países da NATO, para os países ocidentais para pedir ajuda solicitando, sobretudo, ajuda militar.
Portanto a expectativa é que iremos defrontar-nos com novos tanques NATO, com helicópteros, aviões, conselheiros, instrutores, mercenários. Crescerá o número de bombas, de tropas e de vítimas. Eis tudo o que espero desta assim chamada “tomada de posse”.
Esta manhã [7 de Junho, 2014] houve de novo fogo de artilharia sobre o bairro Artem de Slavyansk. Aí os nossos postos de controlo estão localizados ao longo do perímetro, mas o inimigo bombardeia com regularidade os bairros civis. Especificamente, as bombas explodiram aqui, aqui, perto do hospital Lénine, e aqui.
O inimigo pode “gabar-se” de ter destruído carros blindados “BMD”. Na verdade, em rigor, não eram “BMD”, eram apenas veículos blindados. Há muito que tinham sido desmantelados, e retiradas peças para sobressalentes. Portanto o que eles atingiram foram as carcaças restantes; deram-lhes o golpe de misericórdia, por assim dizer.
No que diz respeito à infantaria, deparamo-nos com uma relação de aproximadamente 5-6 para 1. Por cada um dos meus combatentes há 5-6 soldados inimigos. Isto no que diz respeito especificamente às tropas estacionadas directamente nas proximidades da cidade. Fora isso, há também 50-60 peças de artilharia pesada que se dedica especificamente a bombardear a cidade. Ainda 1-2 sistemas Grad. Uma quantidade de tanques. São elementos que não podemos defrontar directamente, dada a distância de 1,5-2 quilómetros.
Em resumo, a relação de forças permanece muito desfavorável para nós. Assim, embora o inimigo tenha deslocado uma parte das suas forças deste teatro e as tenha transferido, tanto quanto sei para proteger a fronteira, passamos em qualquer caso por dificuldades para nos aguentar. Em consequência, necessitamos de ajuda activa sob a forma de veículos blindados, de elementos de fogo de longo alcance, e de artilharia. Isto porque a artilharia inimiga conduz ataques a partir de posições que nós não conseguimos atingir.
Ou seja, eles bombardeiam-nos a partir de posições afastadas absolutamente seguras. Tudo o que podemos fazer é cavar buracos, construir instalações reforçadas, mas não dispomos de qualquer meio para os confrontar. Os nossos morteiros, infelizmente, não alcançam as posições das armas pesadas deles. Não admira, uma vez que estamos a contas com calibres como os 240 mm. Os buracos feitos por estas bombas em Semyonokova são facilmente identificáveis.
Tornou-se há muito evidente, mesmo para qualquer pessoa que tenha um interesse superficial em questões militares, que é muito mais fácil ocupar numa cidade intacta do que uma cidade destruída. Os Alemães, na altura, tiveram a confirmação desta regra em Stalinegrado. A verdade é que eles estão a contar serem capazes de forçar a saída da população daqui para fora. E afirmam que [uma vez evacuada a população], seriam capazes de ocupar a cidade. Na verdade, é simplesmente uma forma de salvar a face.
Uma parte significativa da população já partiu, pelo menos em Semyonovka e Cherevkovka. Semyonovka praticamente não tem ninguém. E, no entanto, eles não tentam ocupá-la. E existe uma razão simples para isso: sabem perfeitamente que sofrerão baixas significativas. A infantaria deles não manifesta suficiente coragem, seja no ataque ou na defensiva. Com efeito, o que estão a fazer é exercer represálias vingativas contra nós por causa dos ataques de precisão contra as suas posições de artilharia, os seus postos de controlo, os seus carros blindados. Estão a dar largas à sua raiva bombardeando em massa bairros civis. Em teoria, é possível que eles acreditem que estão a fazer fogo contra posições nossas, mas em 90% dos casos nas zonas atingidas não existem combatentes.
Atacaram a Central de Energia Nikolaevskaia especificamente com o objectivo de a inutilizar, de forma a cortar o fornecimento de energia eléctrica não apenas à nossa cidade mas a numerosas cidades no norte da região de Donbass. Na verdade, tratou-se de um ataque directo com o objectivo de destruir a infra-estrutura que alimenta regiões urbanas e industriais. O mesmo pode dizer-se do bombardeamento continuado de instalações industriais. Em resumo, estamos perante a destruição deliberada do complexo industrial. Pode estabelecer-se uma analogia com a velha anedota acerca de um ucraniano que diz “Mesmo que não possa comê-lo, pelo menos posso mordê-lo.” Por outras palavras, se não posso ter-te, ninguém terá. É isto.
Prevejo que não apenas a região de Slavyansk, que neste momento constitui um escudo para as províncias de Lugansk e Donetsk, mas todo o território das regiões de Lugansk e Donetsk irá tornar-se um campo de batalha. É óbvio que ninguém irá parar esta operação militar; ninguém tem a intenção de a deter. Mais do que isso, as forças militares que estão em acção são inteiramente excessivas para a luta contra pequenas unidades de guerrilha. Estes efectivos são, de facto, mais ou menos inúteis. Poderia dizer-se que estão a disparar canhões contra pássaros. Tudo isto irá prosseguir, será transferido para Donetsk, para Gorlovka, para Makeevka, para Lugansk, para todas as outras cidades e parcelas da região. Pelo menos é assim que o exército ucraniano está a actuar. São estas as conclusões que se podem retirar daquilo que o exército ucraniano está a fazer. Isto irá tornar-se uma catástrofe humanitária não apenas à escala da cidade, mas no plano regional, e possivelmente à escala mundial. Digo isto porque existem mais de (6) milhões de habitantes [na região] que irão tornar-se alvos desta muito estúpida, muito não-profissional, muito desleixada máquina militar. Enquanto guerrilhas (e nós somos de facto guerrilhas) ou seja, milícias, somos capazes de defender cidades, somos capazes de repelir infantaria e até ataques de tanques do inimigo, mas somos, infelizmente, incapazes de defender a região de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia. Somos igualmente incapazes de destruir [artilharia e aviação] porque a relação de forças é-nos inquietantemente [desfavorável]. Independentemente de quantos voluntários possamos mobilizar (e, antes de tudo, somos incapazes de os armar a todos, até hoje carecemos de tudo – espingardas, munições, meios antiaéreos e, o mais importante, carecemos de meios de defesa antitanque, incluindo artilharia antitanque), e mesmo que viéssemos a receber todo o equipamento necessário e pudéssemos equivaler-nos às forças [ucranianas] regulares em combate, isso conduziria em qualquer caso a uma completa catástrofe humanitária na região. Infelizmente, sem forças de manutenção da paz (e obviamente refiro-me a forças Russas de manutenção da paz, uma vez que nenhuma outra força seria por nós aceite aqui, nem seria considerada de “manutenção da paz”), a região irá mergulhar num caos sangrento e sem lei. Tudo o que foi construído ao longo de décadas seria perdido, destruído.
A República de Lugansk encontra-se também numa situação militar muito difícil, têm de pensar em defender o seu território, as suas cidades e população. Uma coisa que posso anotar é que estamos a coordenar as nossas actividades com a guarnição em Lesichansk. Esta guarnição solicitou ser incluída na nossa estrutura de comando. Estamos a defender esta parte da linha da frente em conjunto com esta guarnição.
Pergunta: Poroshenko prometeu a Putin que em futuro próximo a guerra ou terminará ou será suspensa, de algum modo. Na sua opinião, que queria ele dizer quando o afirmou?
Resposta: Creio que o que ele queria dizer é que o exército ucraniano irá cilindrar a região inteira do Donbass, irá eliminar aqueles que se levantaram contra o governo ilegítimo de Kiev, todos os que se rebelaram perante a discriminação dirigida contra o povo russo e que, dessa forma, irá acabar com a guerra. Creio que é isso que tinha em mente. Um oligarca que patrocinou a chamada “Maidan,” que fez as mais belicosas afirmações e adoptou posições extremas ainda enquanto candidato presidencial, que é um fantoche controlado directamente pelos Estados Unidos da América, este oligarca não pode mudar aquilo que é do dia para a noite. Claro, aquilo que ele quer dizer é que se prepara para “impor a ordem” com punho de ferro, o punho das suas forças punitivas. Para colocar as coisas com clareza, vimos como eles “impuseram a ordem” em Krasniy Liman. É por isso que iremos, claro, resistir até ao último homem. Iremos resistir com sucesso, estou de novo a sublinhá-lo. O verdadeiro problema não é que seremos incapazes de nos defender ou de enfrentar ataques das forças ucranianas, o problema é que se esta guerra prossegue indefinidamente a região se afundará numa catástrofe humanitária. Em consequência disso a Rússia irá receber milhões de refugiados desamparados, empobrecidos e encolerizados. Tudo o que foi construído, criado ao longo de décadas, quando não de séculos, será destruído.
Continuamos a tirar vantagem sobre eles uma e outra vez, em todas as frentes. Em nenhum lado eles conseguiram uma vitória de verdadeiro significado. Foram capazes de vencer a nossa guarnição de uma centena em Krasniy Liman arremessando contra eles uma força de três mil (3.000) e atacando-os de todos os lados. Mesmo assim… E quando têm que enfrentar uma força mais ou menos treinada, numerosa e minimamente aprovisionada são sempre, regularmente, derrotados. Não conseguem avançar nem um passo. A sua táctica consiste em encher o campo de tropas, tanques, veículos blindados e artilharia e defender-se, na esperança de que, sem paridade numérica e de equipamento, sejamos incapazes de os desalojar das suas posições. Efectivamente, as posições deles no monte Karachun são um exemplo desta situação. Somos incapazes de os correr de Karachun fundamentalmente porque o seu efectivo é pelo menos três vezes o da minha guarnição [em Slaviansk].
Somos abençoados por uma excelente moral e espírito combativo, os nossos combatentes estão altamente motivados, enquanto eles dispõem de uma grande quantidade de “metal” [veículos blindados], velho mas ainda assim efectivo, que combate a nossa milícia.
Os meios de comunicação de massa ucranianos mentem, mentiras sem fim. Mentem tão desavergonhadamente que Goebbels os teria invejado. Assim, estão interessados em garantir que ninguém mais possa proporcionar esta informação. E como os media ocidentais, em grande medida, alinham com os seus colegas ucranianos, e proporcionam apenas a informação que possa beneficiar a Ucrânia, os media russos tornam-se o seu inimigo natural. Em resultado disso, consideram os media russos o seu inimigo directo no campo da guerra da informação.
No que diz respeito às leis e normas internacionais, nunca se preocuparam com elas. Por exemplo, utilizam bombas de fragmentação e armas [ilegais] semelhantes. Fuzilam e, como correctamente referiste, eliminam populações inteiras da face da terra. Bombardeiam cidades. Irão prosseguir deste modo com crescente [brutalidade]. Isto acontece porque não existe oposição material [contra aquilo que fazem]. Não têm outra táctica. São incapazes de pegar nas armas e empreender um ataque, avançar contra as nossas posições frente e frente connosco, apesar da sua profunda vantagem numérica em efectivos. Assim que a sua infantaria se depara com combate directo, retira. Retiram mesmo apoiados por tanques. Abandonam os tanques e retiram. Compreendem que a sua infantaria é incapaz para o combate. A sua única opção é bombardear-nos de longe, uma vez e outra e outra, e esperar infligir a maior destruição possível.
  Fonte:  ODiario.info
Anterior Proxima Inicio

0 comentários:

Postar um comentário