terça-feira, 6 de maio de 2014

Comunidades gritam “nunca mais” contra UPPs e polícia que mata



Reprodução
Mãe de dançarino encontrado morto no morro Pavão-Pavãozinho pede uma ouvidoria “transparente e digna”
02/05/2014 
Daniele Silveira,
Da Radioagência BdF
Os casos de assassinatos em ações de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas do Rio de Janeiro estão ainda mais em evidência. A sequência de violações torna o programa de ocupação militar cada vez mais impopular. As UPPs viraram alvo de diversas manifestações organizadas pela população atingida, com apoio de organizações de defesa dos direitos humanos.
No último dia 27, mais uma vítima foi baleada em um tiroteio entre policiais e supostos traficantes, no Conjunto de Favelas do Alemão, zona norte da capital carioca.
Arlinda Beserra, de 72 anos, conhecida como Dona Dalva, morreu após ser atingida por um disparo de arma de fogo. De acordo com a família da idosa, ela teria entrado na frente do neto, de 10 anos, para protegê-lo do tiroteio.
Após a notícia da morte de Dona Dalva, moradores interditaram a Estrada de Itararé, que passa às margens da comunidade, para protestar contra a violência policial.
Com palavras de ordem como “polícia que mata, nunca mais”, um ato em Copacabana homenageou Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, e lembrou o assassinato de outros jovens.
O dançarino, de 26 anos, foi morto no dia 22 de abril com um tiro nas costas, no morro Pavão-Pavãozinho. A mãe de DG denuncia que ele foi torturado por policiais antes de ser assassinado, o que contraria a primeira versão oficial, de que a morte do rapaz seria por decorrência de uma queda.
Na semana passada, a mãe de DG, Maria de Fátima Silva, recusou um encontro com o governador Luiz Fernando Pezão. A auxiliar de enfermagem, afirmou que nenhum político iria se projetar em cima da imagem de seu filho. Em declarações à imprensa, ela ainda lembrou de outros crimes cometidos por policiais e que ainda não foram solucionados, como o da auxiliar de serviços gerais Claudia da Silva Ferreira, que foi arrastada por uma viatura da PM.
“O povo da comunidade virou marginal e o cidadão é o PM. Uma polícia não capacitada para estar nesses locais. Uma polícia armada. Isso aqui está virando uma guerra urbana.”
Maria de Fátima também pede uma ouvidoria “transparente e digna” nas comunidades. Ela ainda questiona a ação e a própria existência das UPPs
“Está virando um ‘Mortal Kombat’. Planta uma gaiola de ferro, duas bandeiras, coloca arma em pessoas não capacitas e a população da comunidade está virando inimiga, virando caça e eles caçadores. Ele que reformule essas UPPs, se é que elas têm que ficar. Porque eu não vi nenhuma solução. Eu vi uma máscara, uma maquiagem. E não é isso que o povo quer. O povo da comunidade quer saúde, quer educação. É com educação que se constroi um país, não é com armas.”
No mesmo dia da morte de DG houve uma manifestação dos moradores do Pavão-Pavãozinho, que terminou com outra tragédia. Edilson da Silva dos Santos, de 27 anos, foi morto após ser atingido por um tiro na cabeça durante o protesto.
No último dia 24, a Anistia Internacional divulgou uma nota pedindo esclarecimento das mortes de DG e Edilson, “considerando que há suspeitas de que foram cometidas por policiais militares (PMs)”.
Diante do contexto de violência, a entidade ainda solicitou que seja “reconhecida a necessidade urgente de mudanças estruturais na organização das polícias, que incluam a sua desmilitarização, o aumento da transparência e a implementação de um controle externo efetivo das atividades policiais."
A entidade destacou que o índice de homicídios de jovens em favelas e periferias brasileiras é “alarmante”. Em nota, ressaltou também que “a polícia brasileira está entre aquelas que mais matam no mundo, segundo dados da ONU [Organização das Nações Unidas]. Utilizando como exemplo o estado do Rio de Janeiro, dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, de 2002 a 2011, foram registradas 10.134 mortes derivadas de intervenções policiais".
Outro caso de violência policial que ganhou grande repercussão é o do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. O pedreiro está desaparecido desde junho do ano passado, após ser levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), para averiguação por suspeita de envolvimento com o tráfico.
A esposa de Amarildo, Elisabete Gomes da Silva, foi presa no dia 26 de abril por desacato a autoridade, após ter sido abordada por PMs na Rocinha.
   Fonte: Brasil de Fato
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