segunda-feira, 31 de março de 2014

Imperialismo e fascismo*


Filipe Diniz
31.Mar.14 :: Colaboradores
Não falta na opinião liberal burguesa quem agora ache a ascensão da extrema-direita “uma anomalia”. O fascismo não age autonomamente na luta de classes. É, pelo contrário, a expressão e a condução pelos meios mais violentos da política e dos objectivos da classe dominante.


Um dos aspectos marcantes da actual ofensiva do imperialismo é a aliança aberta com fascistas.
No desmantelamento da Jugoslávia o imperialismo juntou aos fascistas ustaches croatas, entre outros, todo o género de marginais directamente oriundos do mundo do crime e, em consequência disso, o poder tanto ficou entregue a fascistas como a grupos estritamente mafiosos.
Agora a situação não é bem a mesma. Aprofundou-se a crise geral do capitalismo, cujas consequências e cujo prolongado arrastamento criam condições favoráveis à aposta na carta fascista. A segunda vaga de “revoluções coloridas” tem uma nova componente: a da instrumentalização do agudo mal-estar social resultante da acção dos governantes instalados pela primeira vaga. Aí, grande capital transnacional ganha em dois tabuleiros: instalou oligarquias corruptas que privatizam tudo, que roubam, que abrem as portas à ingerência económica, diplomática e militar. E instrumentaliza e cavalga com a milícia fascista a justa cólera popular que tal situação gera.
O fascismo não age autonomamente na luta de classes. É, pelo contrário, a expressão e a condução pelos meios mais violentos da política e dos objectivos da classe dominante. Na Alemanha de 1923 os grandes magnates definiram em memorando as suas reivindicações imediatas: prolongamento da jornada de trabalho (anulando as 8 horas conquistadas); abolição de numerosas regalias sociais; fim do subsídio do pão; reprivatização dos caminhos-de-ferro, entre outras. A social-democracia capitulou em toda a linha. Mas foi o partido nazi quem fez seu o programa do grande capital.
Nos dias de hoje, em condições muito diferentes é certo, não é difícil identificar na ofensiva “austeritária” em curso traços desse memorando de 1923. O programa das troikas segue na mesma linha. E, numa UE onde o número de pessoas em risco de pobreza e de exclusão aumentou mais de 6 milhões só entre 2010 e 2012 (Eurostat) totalizando perto de 125 milhões, o grande capital faz o mesmo duplo trabalho: esmaga e desespera uma massa imensa e cria as condições para a esmagar ainda mais sob a violência fascista.
Acontece que no Portugal de Abril o fascismo não tem condições para levantar a cabeça. E o Portugal de Abril não é uma ilha isolada na luta dos povos.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2014, 27.03.2014
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