Damasco (Prensa Latina) Um franco-atirador dos grupos de
extremistas islâmicos que atuam na Síria escolheu como alvo Murhaf Ruaa,
uma jornalista do canal Al-Alam, quem cobria os combates no país.
A má pontaria do terrorista da Al-Qaeda possibilitou que Ruaa salvasse a
vida, ainda que, ferida, tivesse que ser internada em um hospital.
Outros repórteres que cobrem a guerra desatada contra a Síria por
potências como os Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia e Catar, entre
outros países, tiveram pior sorte.
Com particular sanha, os
mercenários armados centram-se em co-responsáveis da televisão síria,
pois suas emotivas reportagens desnudam de uma maneira gráfica inegável
os desmandes da chamada oposição armada. Assim, em abril de 2012,
membros da Frente Al -Nusra, ramo da rede Al-Qaeda, sequestraram o
jornalista e apresentador da TV síria Mohammed Al-Sayed. Um mês mais
tarde o decapitaram e publicaram a notícia na Internet, em um ato que
agências ocidentais costumam qualificar de simples "excessos".
Na localidade de Qusseir, os extremistas islâmicos fizeram uma emboscada
contra Yara Abbas, co-responsável do canal noticioso sírio
Al-Ikhbariya, assassinando-a junto com seu câmera. Ela tinha conquistado
os corações dos telespectadores com suas reportagens das frentes de
combate, onde previamente tinha sido ferida.
Também o jornalista
Hassam Mhena, estabelecido pela Al-Ikhbariya na cidade de Alepo ao
norte, foi alvo dos armados: matou-o um suicida enquanto cobria com sua
equipe de filmagem uma festa escolar em honra a uma estudante que tinha
aprovado o bacharelado com boas notas. Não foi a única vítima desse
atentado.
Em julho deste ano, os mercenários armados mataram
ademais os documentaristas iranianos Esmail Heidari e Hadi Baqbani nos
arredores de Damasco, onde em setembro de 2012 esses grupos tinham
assassinado Maya Naser, co-responsável da PressTV.
Outro
repórter atacado, mas com melhor fortuna, foi William Parra, da TeleSul,
a quem lançaram um balaço em um joelho em setembro passado. Realmente
atiraram-lhe bem mais, mas teve a oportunidade de proteger-se enquanto o
Exército Sírio ia resgatá-lo.
Meses antes, estouraram um
carro-bomba embaixo do apartamento de um profissional da informação
sírio, e ainda que tenha salvo sua vida, a explosão matou vários civis
em seu bairro.
E em suas tentativas de calar as vozes que lhes
são adversas, os terroristas também apontam a alvos coletivos. Em junho
de 2012 um atentado contra a sede da Al-Ikhbariya causou a morte de oito
trabalhadores e a destruição de todo o local.
Vários ataques
com morteiros contra a agência SANA, bem como o lançamento de dois
carros bombas conduzidos por suicidas em outubro contra o edifício da
televisão síria, agregam-se a essa longa lista.
Inclusive,
vários jornalistas assassinados ou sequestrados na Síria tinham
penetrado de maneira ilegal no país para reportarem do lado dos
irregulares armados, contra o Governo.
UMA POLÍTICA CALCULADA
Os motivos de semelhante política de terror contra os meios de
informação e seus principais protagonistas, os jornalistas, podem
rastrear-se até o início do conflito em 2011.
Por essa época,
junto com a entrada de mercenários e extremistas islâmicos por nações
vizinhas, desatou-se uma intensa guerra mediática contra o governo
sírio, ao qual muitos meios de imprensa e canais de satélite como a
Al-Jazeera tentavam apresentar como autor dos massacres e outros
atentados contra a população do país.
Nessa frente, os grupos de
extremistas islâmicos jogavam seu papel: enquanto por uma parte
colocavam suas mensagens e relatos de combates favoráveis a eles nas
redes sociais, por outra tratavam de "silenciar" os jornalistas e
comunicadores que divulgavam a outra cara da moeda. Preparava-se assim à
opinião pública mundial para qualquer tentativa posterior de invasão
militar a grande escala. Dessa maneira, de acordo com um recente
relatório do Repórteres Sem Fronteiras (RSF), na Síria morreram depois
de dois anos de guerra 25 jornalistas, enquanto outros 16 permanecem
sequestrados por grupos jihadistas.
Em seu relatório "Jornalismo
na Síria - Missão impossível?", essa organização, com uma agenda pouco
objetiva dobrada aos interesses de potências ocidentais, qualifica a
Síria como o país mais perigoso para o trabalho jornalístico em todo
mundo nestes momentos.
E ainda que algumas agências de notícias e
o próprio RSF persistam em responsabilizar a Damasco por parte dessas
mortes, a realidade é obstinada, e revela, cada vez mais, a verdadeira
autoria desses fatos.
*Co-responsável da Prensa Latina na Síria.
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