domingo, 17 de novembro de 2013

Assassinos grandes e pequenos

Assassinos grandes e pequenos*

Filipe Diniz
17.Nov.13 :: Colaboradores
Todos os dias novas vítimas civis se somam ao monstruoso inventário da agressão imperialista. De vez em quando, um militar dos que estão no terreno é julgado. Mas já tarda o clamor mundial exigindo o julgamento dos maiores criminosos de guerra do nosso tempo: os que não precisam de empunhar uma arma para serem responsáveis directos por centenas de milhares de mortos.

”Estava na minha cama às 11h.45 da noite quando ouvi barulho e vi helicópteros a pairar. Avisaram através de altifalantes que as pessoas não deveriam sair de casa e que se não obedecessem seriam alvejadas. Os meus três sobrinhos e o meu cunhado estavam a dormir no quarto de visitas. Todos os quatro saíram de casa em pânico e foram abatidos pelos militares internacionais. Depois os militares internacionais começaram a revistar-nos as casas. Partiram três portas e queimaram uma bicicleta a motor. Vasculharam a casa toda e encontraram uma espingarda de pressão de ar e destruíram-na. Os militares internacionais prenderam o meu irmão e foram-se embora.”
Este testemunho é de um aldeão afegão, e foi retirado de um relatório da missão UNAMA (United Nations Assistance Mission in Afganistan). Vem a propósito do recente julgamento de um fuzileiro britânico pelo assassínio a sangue frio de um jovem afegão que ficara ferido por tiros disparados de um helicóptero. O julgamento só tem lugar porque essas tropas utilizam equipamento muito sofisticado: uma câmara de televisão instalada no capacete do assassino registou o crime.
O acontecimento deu-se em Setembro de 2011. Dados da ONU apontam para que só nesse ano houvesse 3021 civis mortos e 4507 feridos no Afeganistão. Na tropa da ocupação imperialista, em tantos casos desesperada perante uma situação militar incontrolável, de vez em quando há um militar de baixa patente que vai a tribunal e é condenado. Um, o U.S. Sgt. Robert Bales, que matou 16 civis e feriu outros 6, foi condenado a prisão perpétua. Sendo os EUA o que são, as famílias destas vítimas receberam $50.000 por cada parente falecido, e os feridos sobreviventes receberam $11.000. Parece que estes valores foram inflacionados pelo impacto do crime - mediatizado como o “massacre de Kandahar”- porque, por exemplo, uma rapariga que ficou com um braço gravemente ferido noutra ocasião apenas teve direito a $392.16. Em qualquer caso as famílias assim contempladas foram informadas que se tratava de “assistência proporcionada pelo presidente Obama”, o assassino em série que mata com drones.
A hora dos peixes graúdos serem julgados também há-de chegar.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2085, 14.11.13
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