1. Senhor Professor: Foi dos primeiros economistas europeus a destacar os danos
produzidos pelo Euro e a pedir o seu fim. Numa das vossas últimas
análises escreveu que doravante o fim é inevitável. Na
vossa opinião, quanto tempo ainda decorrerá até que isso
aconteça e de que país partirá a iniciativa?
Há que distinguir aqui dois problemas. O primeiro é o da
análise da situação económica que o Euro criou e
das suas consequências. Vemos a partir de agora, após 13 anos, que
o
Euro não só não induziu convergências
macroeconómicas mas que, ao contrário, exacerbou as
divergências. Já o disse várias vezes e, doravante, esta
posição tem o consenso dos economistas. Também vemos que o
Euro é um enorme travão ao crescimento para a maioria dos
países que o adoptaram, salvo, naturalmente, a Alemanha. Vemos
finalmente que o Euro agrava os défices, tanto internos como externos, e
que ele conduz a um endividamento sempre maior dos países que entraram
na União Económica e Monetária. Tudo isto está
copiosamente documentado por numerosos autores. Deduzo que o Euro, não
podendo funcionar senão numa espiral de empobrecimento para um
número muito numeroso de países, está condenado. Mas,
aqui, temos um segundo problema, o das condições que porão
fim ao Euro. Estas condições podem ser uma crise
catastrófica que nasce no mercado obrigacionista. No momento, deste
ponto de vista, a situação está estabilizada pelo Banco
Central Europeu. Mas a credibilidade deste último tem muito a ver com o
facto de que não está testada. Um dia destes os mercados
vão testar a resolução do BCE e, neste dia, o sr. Mario
Draghi vai-se encontrar muito desamparado. Estas condições
também podem provir das tensões políticas crescentes que o
Euro provoca tanto entre os países membros da UEM como no seio destes
países em que as forças anti-europeias hoje ganham
dimensão. Elas podem a qualquer momento confrontar os actores
políticos com a necessidade de dissolver
a zona Euro ou de deixar o
Euro.
Pessoalmente, super-estimei a rapidez das evoluções financeiras,
com base no que havíamos experimentado em 2008-2009. Mas isto em nada
muda a análise de fundo.
2. No vosso blog tem feito alusão a um possível retorno ao SME
após uma eventual dissolução da zona Euro. Qual é,
na vossa opinião, a melhor estratégia para sair do Euro para os
países da Europa meridional?
Um retorno ao SME implica que cada país recupere sua moeda nacional. A
questão da estratégia é central aqui. Os países da
Europa do Sul tem a opção entre tomar uma decisão de
saída isoladamente ou pedir a dissolução da zona Euro. Se
alguns países, como a Itália, a França e a Espanha,
dissessem num conselho
ECOFIN
que estão prontos a deixar o Euro mas que seria melhor
dissolvê-lo, tendo em conta o apego dos alemães ao
Deutsch Mark, a solução da dissolução seria aceite
rapidamente. Ela seria de longe a melhor pois sendo tomada de maneira colectiva
apareceria como uma decisão "europeia". O fim da UEM
não implicaria o fim da União Europeia nem o de uma
cooperação sobre as questões monetárias entre os
países afectados. Entretanto, esta solução é
também a menos provável no momento actual. Uma saída
isolada de um país é hoje a solução mais
provável. Ela implicará a prazo (6 meses provavelmente) a
explosão da zona Euro. Mas o contexto político será bem
mais conflituoso.
3. Qual é, na vossa opinião, a parte de responsabilidade dos
partidos socialistas europeus na crise actual e quais forças
políticas considera capazes de efectuar uma mudança?
A responsabilidade dos partidos socialistas europeus é esmagadora. Em
primeiro lugar, ela é directa: estes partidos capitularam sem
condições diante das exigências da finança e do
capital; eles impuseram políticas austeritárias incríveis
a suas populações e arcam por isso com uma grande
responsabilidade na estagnação económica que
experimentamos. Mas há também uma responsabilidade indirecta. Ao
pretenderem que não há outras soluções senão
a austeridade, e proclamando o "dogma" do Euro, ao agitar
catástrofes hipotéticas no caso de uma "saída"
do Euro estes partidos socialistas construíram um discurso
político que bloqueia a situação e que faz parte
integrante da crise. Eis porque não poderá haver saída da
crise senão pela destruição destes partidos, sua
explosão, e recomposições políticas importantes.
Estamos em vias de assistir a isso em França e na Grécia.
Hoje, é preciso unir as forças tanto de esquerda como de direita
que compreenderam o perigo que representa o Euro, não num só
partido mas numa aliança que será capaz de avançar com uma
política de ruptura.
4. Considera a França como um país da Europa meridional ou da
Europa do Norte? Em função da sua posição, quais
são os riscos em que o vosso país incorrerá em 2014?
Muito claramente, para mim, a França é um país da Europa
Meridional. Ela o é se se examinam as características tanto
estruturais como conjunturais da economia e se se as compararem àquelas,
por exemplo, da economia italiana. A França também culturalmente
está bem mais próxima da Europa meridional do que da Europa do
Norte. Por isso, ela é a mais exposta às consequências
conjugadas das políticas de austeridade adoptadas na Itália e na
Espanha. Enquanto estes três países permanecerem na zona Euro
estão condenados a estarem numa concorrência feroz uns contra os
outros. Em contrapartida, a partir do momento em que tiverem recuperado suas
moedas nacionais, poderão reencontrar margens de manobra importantes.
5. Para concluir: como julga as vicissitudes da política italiana desde
Novembro de 2011, quando Mario Monti começou a impor as medidas de
austeridade da Europa?
A política de Mario Monti consistiu em procurar obter resultados a muito
curto prazo sem se preocupar com o longo prazo. Ele bloqueou os pagamentos que
o Estado devia às empresas, deixou o crédito afundar-se e o
investimento contrair-se, o que condena a médio prazo a economia
italiana. Isto é o contrário de uma política de
"perito". A reputação de "especialista" que
ele se construiu é perfeitamente ilegítima. Ele conduziu-se como
um destes políticos de baixo nível cujo nome desapareceu nos
caixotes de lixo da história.
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