quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Fred Goldstein: Depois do discurso de Obama

Depois do discurso de Obama



18.Set.13 :: Outros autores
Talvez a proposta russa e a aceitação síria possam abrandar Washington. Ou possam expor a hipocrisia das pretensões americanas de se oporem às armas de destruição em massa enquanto planeiam levar a morte e a destruição à Síria com uma tempestade de mísseis de cruzeiro. Washington é de longe o maior fornecedor de armas de destruição em massa no mundo de hoje.


10 Setembro – Aconteceu quando o presidente Obama se preparava mesmo para justificar num discurso nacional transmitido pela TV que os EUA deviam lançar ataques de mísseis contra a Síria, supostamente para evitar a sua utilização futura de armas químicas. Agora Obama foi obrigado a adiar a votação no Congresso, votação que muito provavelmente teria perdido.
O presidente russo Vladimir Putin avançou com uma proposta geral, acordada com Damasco, para que a Síria coloque as suas armas químicas sob controlo internacional, através do qual serão destruídas.
Muita gente espera que esta proposta ponha uns patins na campanha americana contra a Síria, mas trata-se de um erro fatal e de completa incompreensão sobre Washington, o Pentágono, as empresas petrolíferas e o complexo militar-industrial que estão por trás da campanha para derrubar o governo independente e soberano da Síria.
O governo sírio luta pela sobrevivência contra rebeldes reaccionários apadrinhados por um lado pelos EUA e pela Turquia, e por outro pela Arábia Saudita e Qatar. Entretanto, a CIA treina mercenários na Jordânia para combaterem o governo de Damasco.
Seja o que for que resulte da presente manobra, uma coisa é certa: Washington não desistiu do seu objectivo de “alterar o regime” primeiramente estabelecido por Obama em 2011, quando disse “Assad tem que partir.” Em nenhuma declaração este objectivo foi retirado.
Talvez a proposta russa e a aceitação síria possam abrandar Washington. Ou possam expor a hipocrisia das pretensões americanas de se oporem às armas de destruição em massa enquanto planeiam levar a morte e a destruição à Síria com uma tempestade de mísseis de cruzeiro.
Washington é de longe o maior fornecedor de armas de destruição em massa no mundo de hoje.
Mas, levar o debate para o Conselho de Segurança das Nações Unidas acarreta perigos para os países oprimidos, porque esta instituição se encontra dominada pelas potências imperialistas.
Só o tempo dirá se a proposta russa vai reduzir o ritmo da agressão americana. Desejavelmente, irá dar alguma folga ao povo sírio.
Porém, só a mobilização de massas no país e em todo o mundo dominará a longo prazo a mão do Pentágono. Os falcões vêem a Síria como uma etapa para o ataque ao Irão e ao Hezbollah, e para tirarem os russos da sua base naval na Síria. Pretendem quebrar uma aliança de forças de resistência para estabelecerem completo domínio americano no Médio Oriente rico em petróleo e trazerem a Síria de novo para a órbita do imperialismo.
Os diplomatas atarefam-se a minar a proposta russa
As forças de agressão no campo imperialista procuram afanosamente contornar a proposta russa, e contrariar o seu apelo óbvio e o espírito de cooperação do governo sírio.
O primeiro-ministro sírio Wael al-Halki afirmou que o seu governo apoiaria a ideia “para salvar vidas sírias.” O ministro dos Estrangeiros Wali al-Muallem disse que a Síria apoiava e desejava tornar-se membro da Convenção de Armas Químicas.
Esta proposta básica para afastar o pretexto de Washington para a guerra levou os políticos capitalistas falcões e os diplomatas imperialistas a procurarem à pressa uma maneira de manterem na agenda os ataques com mísseis.
Os senadores John McCain e Lindsey Graham, porta-vozes do Pentágono, e o senador Charles Schumer montaram rapidamente um comité de senadores “gang dos oito”, para redigirem rapidamente nova resolução de guerra, de modo a exigir que os ataques se realizem caso as armas não sejam destruídas num prazo curto e também se o Conselho de Segurança da ONU não conseguir aprovar uma resolução condenando a Síria por lançar ataques químicos sobre o seu próprio povo.
O presidente da Síria Bashar al-Assad e o governo sírio recusaram esta forma de começar. Os EUA não mostraram nenhuma prova credível. Assad foi ao show Charlie Rose a 9 de Setembro, onde negou categoricamente ter lançado esses ataques.
Assim, McCain, Graham, Schumer e Cia. pretendem tornar a aplicação da proposta russa dependente do Conselho de Segurança chamar mentiroso a Assad, condição que os russos já disseram ser inaceitável.
O governo imperialista da França, antiga potência colonial da Síria, está a submeter uma proposta ao Conselho de Segurança ameaçando a Síria com a guerra caso as armas não sejam destruídas completa e imediatamente. O ministro dos Estrangeiros russo Sergei Lavrov denunciou a proposta francesa como “inaceitável.”
Putin pede que os EUA excluam o “uso da força”
Enquanto os fazedores de guerras em Washington intensificaram os seus esforços para aprovar os ataques, Putin foi citado no New York Times de 10 de Setembro como tendo dito na TV: “Sem dúvida que tudo isto faz sentido e pode funcionar e resultar desde que ouçamos que o lado americano e aqueles que apoiam os EUA nesta questão excluam o uso da força, porque é difícil fazer com que qualquer país – a Síria ou qualquer outro país e qualquer outro governo no mundo – desarme unilateralmente quando contra ele está preparado o uso da força.”
O secretário de Estado John Kerry, que primeiro avançou a ideia de remoção das armas, está agora a pretender que não queria dizer isso. Ocupa-se a disfarçar as suas afirmações com declarações bélicas pedindo uma acção rápida da Síria e declarando que “o uso da força não devia em absoluto sair de cima da mesa.”
Nunca antes uma tentativa para espalhar a febre da guerra entre o povo do país caiu de modo tão chato como a actual tentativa de Washington para angariar apoio aos ataques dos mísseis de cruzeiro. O falcão Wall Street Journal noticiou a 10 de Setembro que uma sondagem do jornal e da NBC dava o apoio aos ataques a cair de 44% na passada semana para 33% nesta.
O movimento antiguerra deve ter isto em consideração como um sinal para alargar o apelo às massas, revoltadas com 12 anos de guerra e cinco anos de crise económica constante. Não apenas não deve haver paragem na luta contra um ataque imperialista à Síria, mas essa luta deve ser intensificada, alargada e subir de escala.
Tradução: Jorge Vasconcelos
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