sexta-feira, 3 de maio de 2013
Com as diferentes
composições, massas e órbitas possíveis para os planetas fora do
Sistema Solar, a vida talvez não esteja limitada a mundos similares à
Terra em órbitas equivalentes à terrestre. Essa é uma das conclusões
apresentada por Sara Seager, do MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts), nos EUA, em artigo de revisão publicado no periódico
"Science", com base na análise estatística dos cerca de 900 mundos já
detectados ao redor de mais de 400 estrelas. Seager destaca a possível
existência de planetas cuja atmosfera seria tão densa a ponto de
preservar água líquida na superfície mesmo a temperaturas bem mais
baixas que a terrestre. Como
todas as formas de vida conhecidas dependem de água, sua presença na
superfície é tratada como o ponto central da definição de
"habitabilidade".
Mundos habitáveis tradicionalmente seriam
aqueles que, como a Terra, estão a uma distância tal de sua estrela que,
com uma atmosfera pouco densa, poderiam ter corpos d'água estáveis no
solo. Contudo, um consenso emergente é o de que a extensão dessa zona
habitável depende fundamentalmente das características intrínsecas dos
planetas em questão e pode se estender a uma área que iria além da
órbita de Júpiter, no Sistema Solar, se o mundo orbitando ali tivesse
uma composição adequada. "As possibilidades mais amplas aumentam a
chance futura de descobrirmos um mundo habitado", afirma Seager.
ARQUITETURAS
Graças ao número crescente de descobertas,
finalmente os astrônomos começam a entender a natureza da formação dos
sistemas planetários. A boa notícia: é bem parecido com o que sugeria a
teoria, criada na época em que só tínhamos um exemplar conhecido, o
Sistema Solar. A realmente boa: existem muito mais variações para a
evolução desses sistemas do que os cientistas antes imaginavam. Na
prática, isso quer dizer que a arquitetura básica vista em nosso
sistema, com os planetas pequenos rochosos mais próximos da estrela e os
gigantes gasosos mais distantes, é apenas um dos possíveis desfechos da
formação planetária.
DUAS TÉCNICAS
A imensa maioria dos planetas descobertos
fora do Sistema Solar foi revelada por meio de duas técnicas. A mais
antiga e eficaz até hoje é a que mede variações na luz da estrela
causadas pelo bamboleio que ela faz conforme planetas giram ao seu
redor. Como ela mede diretamente o efeito da gravidade do planeta sobre
sua estrela, é possível ter uma boa estimativa de sua massa. A segunda
técnica envolve a observação de trânsitos --minieclipses causados pela
passagem dos planetas à frente de sua estrela--, que só ganhou grande
impulso quando foram lançados satélites especializados em detectá-los.
A detecção do trânsito é feita pela
medição da redução do brilho da estrela causada pela passagem do
planeta. É, portanto, uma boa medida do tamanho. Juntas, as duas
técnicas permitem uma caracterização mais precisa dos planetas
extrassolares. Afinal, com a massa e o tamanho, pode-se calcular a
densidade. A densidade, por sua vez, é uma pista bastante concreta da
composição. Foi assim, por exemplo, que os cientistas conseguiram
confirmar que pelo menos alguns dos planetas categorizados como
"superterras" --por serem maiores que a Terra, mas menores que os
menores planetas gigantes do Sistema Solar-- são rochosos como o nosso
mundo.
Contudo, nem sempre se pode aplicar as
duas técnicas ao mesmo tempo. Enquanto a medição do bamboleio
gravitacional é difícil para planetas menores e mais distantes da
estrela, a técnica do trânsito depende do alinhamento apropriado do
sistema planetário, de forma que os minieclipses possam ser observados
daqui. Ainda assim, conhecendo bem os viéses que cada técnica produz, os
cientistas são capazes de compensar matematicamente as falhas para
apresentar um quadro estatístico mais seguro dos planetas extrassolares.
É basicamente o que traz Andrew Howard, da
Universidade do Havaí em Manoa (EUA), em outro artigo de revisão
publicado no especial de exoplanetas da "Science". Sabe-se hoje, por
exemplo, que planetas menores são bem mais comuns na Via Láctea que os
gigantes. Contudo, as Terras não são mais comuns que as superterras.
Aparentemente, o número de planetas vai aumentando em razão inversa do
tamanho (ou seja, quanto menor, mais planetas) até atingir um valor
crítico de pouco menos de 3 vezes o diâmetro da Terra. Daí para baixo, a
prevalência é aproximadamente igual.
Fonte: Folha
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