terça-feira, 2 de abril de 2013

Campos dos Goytacazes: Gamboa malandro do samba

Gamboa malandro do samba

Conversar com Geraldo Gamboa é ouvir a nata do samba. Dono de um vozeirão de barítono, ele canta com a mesma facilidade que conta uma história. Os 84 anos, não diminuem o vigor da voz, a alegria de bater um papo. “O homem ou é bom ou é mau, não tem meio termo”. Pelo contrário, o campista boêmio que foi, romântico que é, a emoção brota aos olhos por diversas vezes na prosa feita na casa de sua filha, Gerusa. Ele é engraçado, faz troça o tempo todo, “Jovem gosta de elogio, já velho fica com medo. Não sou garoto, guardo o espírito jovem... ‘ah que saudades que tenho da aurora da minha vida’”, diz ao revelar que ultimamente não tem composto.
Instado a falar de si, ele se diz um bolerista, um tanguista, um apaixonado por fado e um sambista, claro. Ele que tem entre 30 e 40 composições musicais, antes desse rol de definições e realizações, ele orgulhosamente fala que foi alfaiate “e dos bons”. “Foram anos com a agulha na mão. Tinha vontade de ser alfaiate, fui um conceituado armador de blazers. O século XIX, a revolução industrial nos suplantou pelas máquinas” recorda ao também lembrar que “ganhava dinheiro, ia para os bailes”. Gamboa foi um boêmio, andou de braços dados com a bebida, situação nada incomum para os que nascem com a alma irrequieta. Admirava os malandros, os trajes, as camisas brancas, os trajes azuis. “Sou um internacionalista, queremos o bem comum. Todo ser humano é vaidoso. Não fugi à regra, pensei em tirar a minha vida, aí refleti um pouco mais, e me dei conta de que posso ainda ser útil a alguém. Um crioulo bonito como eu, nós temos ainda alguma coisa a fazer”.
Olhos nos olhos, a conversa com Geraldo Gamboa, Gomes de nascimento, passa por Freud, Shakespeare e Esopo. “Coisa boba é a tal da boca, a língua pode ser uma boa coisa ou uma má coisa”. Ele avisa: “Sou eclético”. Ele recomenda: “Não fique presa ao conceito e ao preconceito”.
O campista que saiu fugido (sem autorização dos pais) de casa aos 15 anos com vontade de quero mais, ficou pelo Rio de Janeiro durante 11 anos. Lá, em Niterói, Governador Valadares e, também em Campos, construiu sua car- reira de sambista consagrado. “Logo fui morar no Jacarezinho — entre as avenidas Democrática e Suburbana —, o trem passava nos fundos. Com 16 anos, era um moleque, o bicho pegou, entre eu e a Rosalina; fui colocado para fora da casa”. Mudou-se para o pé de o morro do Santo Cristo, vizinho à Gamboa que quando ouviu gosto do som, achou importante e adotou como particular nome artístico.
O homem cedo entrou para a União da Juventude Comunista (UJC) e aprendeu o quê sabe na convivência com as “massas” (assim era chamado o povo pela esquerda). Depois, no tempo, elaborou mais sua filosofia de vida. Ao posicionamento ideológico somou o espiritismo (os conceitos de encarnação e reencarnarão), hoje divide junto com a volumosa bagagem, a mente acesa de esse ser inteligente e fino.

HOMENAGEM

Geraldo está adoentado, mas, não o suficiente na noite da última quarta-feira, deixar de sair de casa no meio da chuva. Foi receber a homenagem maior da cultura de Campos, o troféu do Prêmio Alberto Lamego, edição 2012. A solenidade da homenagem foi no Museu Histórico Municipal. Os agraciados de 2012 foram o sambista Geraldo Gamboa e a professora Maria Rita Maia, (In memoriam).
O Prêmio Alberto Lamego foi criado pelo prefeito José Carlos Vieira Barbosa, por sugestão da então diretora de Cultura da prefeitura de Campos e hoje Diretora do Grupo Folha da Manhã, Diva dos Santos Abreu Barbosa.
Para e escolha dos premiados de 2011 e 2012 foram necessários que o Conselho Municipal de Cultura (Concultura) fizesse três escrutínios, como disse brincando o presidente do Concultura e secretário Municipal de Cultura Orávio de Campos Soares. “A eleição foi apertada, todos foram bem votados. Para tirar o papa da cultura, foi difícil. Os prêmios foram merecidos, temos uma tendência a homenagear os mais próximos”, frisou Orávio esclarecendo que democraticamente suplentes e titulares, têm direito ao voto no conselho.
Luciana Portinho
                                           Fonte: Folha da Manhã
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