quarta-feira, 20 de março de 2013

Parlamento do Chipre acusa UE de ‘chantagem’ e rejeita taxar poupanças

Parlamento do Chipre acusa UE de ‘chantagem’ e rejeita taxar poupanças

Presidente do país se disse ‘chocado’ com derrota; resultado deixa em suspenso permanência cipriota no bloco

O parlamento do Chipre rejeitou nesta terça-feira (19/03) o pacote fiscal enviado pela troika, composta por Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI, que previa uma controversa taxação sobre os depósitos bancários no país. No total, 39 deputados votaram pelo não. Os outros 19, todos governistas, se abstiveram, deixando em suspenso a falência do sistema bancário local e uma eventual saída da União Europeia.

Agência Efe

Nenhum deputado votou a favor do pacote proposta pela troika


A troika esperava captar com a medida 5,8 bilhões de euros (cerca de R$ 15 bilhões) para dar início a um processo de resgate financeiro dos bancos cipriotas, com um empréstimo de 10 bilhões de euros. O processo, aprovado na madrugada de sábado, seria levado a cabo à custa dos correntistas do país. Todos os depósitos bancários abaixo de 100 mil euros seriam taxados em 6,75%. Poupanças superiores a 100 mil euros teriam imposto de 9,99%.

A medida, bastante impopular, gerou protestos na ilha e criou uma saia-justa para o novo chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que foi instado a negar taxação de poupanças em outros países do bloco. Enquanto isso, os bancos cipriotas permanecem fechados para impedir uma corrida aos caixas eletrônicos, na tentativa de salvar o dinheiro depositado. A Bolsa do Chipre não abriu nesta terça e o euro caiu para seu menor nível em três meses.

Em uma tentativa frustrada de conseguir a aprovação no parlamento, o presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, do Partido Democrático, com viés conservador, garantiu que correntistas com menos de 20 mil euros em poupanças não seriam afetados pela medida.   No entanto, durante a tarde, ele já admitia que a proposta seria rejeitada no Parlamento.

“Eles [deputados] acreditam que a proposta é injusta e que vai contra os interesses do Chipre”, afirmou. Perguntado o que faria, disse apenas: “Temos nossos próprios planos.”
Segundo relatos de jornalistas gregos, os parlamentares cipriotas destilaram em seus discursos severas críticas à União Europeia, acusando a de “falta de solidariedade” e “chantagem”. A rejeição foi um choque para Anastasiades, que já abriu novas negociações com a chanceler alemã, Angela Merkel.

De acordo com analistas, a maior parte dos depósitos nos bancos da ilha são de cidadãos russos, que usam o pequeno país como paraíso fiscal offshore, o que gerou uma intervenção direta de autoridades da Rússia no processo decisório. Diplomatas do país mostraram irritação com a iniciativa da troika.

Agência Efe

Diveros protestos ocorreram nos últimos dias contra a taxação das poupanças


O ministro de Finanças do Chipre, Michalis Sarris, está em Moscou. Há, segundo o jornal britânico The Guardian, rumores de que a gigante Gazprom poderia se envolver na reestruturação dos banco cipriotas em troca da exploração de campos de gás recém-descobertas próximos à ilha.

O FMI, por sua vez, permanece inflexível. A diretora-gerente do fundo, Christine Lagarde, disse que "as autoridades do Chipre têm que cumprir os compromissos adquiridos" e que  apoia a intenção do país de aplicar um imposto progressivo aos depósitos bancários.  Em seu discurso em uma conferência sobre o futuro da União Monetária Europeia em Frankfurt, Lagarde afirmou que o setor bancário do Chipre deve realizar uma reestruturação apropriada. Lagarde disse considerar que “a reestruturação do setor bancário do Chipre ainda não chegou ao ponto que foi parte do acordo”.

Escavadora e números

No domingo, logo após saber da iniciativa da troika, um cipriota ameaçou destruir uma agência bancária com uma escavadora e tornou-se símbolo da irritação dos cidadãos do país com a taxação de depósitos bancários. No fim, ele acabou desistindo da ação.

Segundo dados da Eurostat, a agência de estatísticas da UE, o Chipre tem o maior risco de pobreza entre pessoas acima de 65 anos de todo o bloco e uma baixa proporção de leitos hospitalares por habitantes. Os gastos do PIB cipriota com saúde também está bastante abaixo da média europeia.

Os manifestantes que acompanharam a votação em frente ao Parlamento celebraram a rejeição do pacote. No entanto, as negociações continuam e os bancos devem permanecer fechados pelos próximos dias.
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