domingo, 17 de fevereiro de 2013

Canto xenofóbico da marinha chilena


O canto xenofóbico da marinha chilena
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Escrito por Erica Soares
viernes, 15 de febrero de 2013
15 de febrero de 2013, 12:12Santiago do Chile (Prensa Latina) A cidade- balneário de Viña del Mar, mundialmente conhecida por sua atividade turística, festival da canção e torneio de tênis, foi notícia graças a outro acontecimento: um vídeo que mostrava canções xenofóbicas, entoadas por cadetes da Marinha chilena.
O vídeo foi gravado casualmente por uma estudante universitária argentina, que passeava por um setor costeiro de Viña del Mar, quando viu um grupo de 27 militares chilenos que realizavam treinamento físico, e enquanto marchavam diziam em coro: "argentinos matarei, bolivianos fuzilarei, peruanos degolarei".

Segundo a jovem, natural de Córdoba, narrou, o conteúdo dos cantos a indignou e também os chilenos que presenciaram a passagem do pelotão de cadetes, já que não entendiam o porquê do canto.

Manuela, como foi identificada a estudante argentina nos meios de comunicação, gravou essa imagem no último dia 26 de janeiro, e três dias depois o colocou em sua página do Facebook, sem ter ideia do escândalo que desataria.

"É uma imagem vergonhosa e que não acompanha em nada o que tem sido o espírito de nossas forças armadas", foi a reação imediata do Palácio de la Moneda, na voz da ministra Cecilia Pérez, e em resposta a perguntas de jornalistas que não consideravam o canto dos militares um fato isolado.

E efetivamente, pouco depois da declaração oficial, um deputado, integrante do partido governista União Democrata Independente (UDI), assegurou que há muitos anos esse tipo de palavra-de-ordem existe na instituição militar.

"Eu fui cadete há mais de 20 anos e se cantava igual", expressou o deputado Gonzalo Arena, da UDI, quem em sua conta no Twitter escreveu que, contudo, o que era vergonhoso era o fato da Marinha criticar a atuação dos cadetes.

Apesar da opinião do deputado Arena, o comando do Ministério de Defesa ordenou à Marinha que inicia-se uma investigação para determinar os responsáveis pelo fato, e que nas primeiras 24 horas emitisse um informe preliminar.

Concluído esse prazo, o ministro (interino) da Defesa, Alfonso Vargas, emitiu uma breve declaração, na qual se limitou a dizer que o grupo que pronunciou as ofensas é integrado por 27 cadetes da academia politécnica, da área de engenharia, que estão no segundo ano de seus estudos.

"Os 27 foram identificados e o cadete responsável pelo canto, o sargento segundo, toda a corrente de comando claramente identificada, incluído o diretor da Academia Politécnica Naval", indicou Vargas.

Segundo o ministro, com esses dados foi dada uma resposta à investigação preliminar que foi solicitada nas primeiras 24 horas, e se deu início ao relatório, com um prazo de 20 dias para informar os resultados.

"Dentro das Forças Armadas de todo mundo existem alguns cantos que têm letras conhecidas e há outros que são improvisados. Este foi um dos que são improvisados e que ocorre de acordo com a pessoa que puxa o canto", alegou Vargas.

O ministro interino disse que uma vez concluída a investigação serão divulgados os responsáveis pelo canto xenofóbico, expostos a sanções.

INVESTIGAÃ�ÃO A FUNDO

Para além das averiguações internas das forças armadas, o senador Eugenio Tuma, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara alta, considerou necessário integrar uma comissão legislativa que recolha todos os antecedentes do fato, e assim determinar a origem das instruções que os cadetes receberam.

"É um fato gravíssimo, que deve ser investigado, isto envergonha o Chile", expressou Tuma, do partido Pela Democracia.

O congressista considerou que as escolas militares devem ser investigadas urgentemente para determinar quais são as instruções e regulamentos dos quais emana uma ordem que, na sua opinião, é discriminatória.

Uma postura similar foi mantida pelo deputado Romilio Gutiérrez, da UDI, que concordou com a investigação solicitada pelo Ministério de Defesa à Marinha para determinar responsabilidades e aplicar sanções.

O deputado Hugo Gutiérrez, do Partido Comunista, exigiu ao ministro de Defesa Rodrigo Hinzpeter que inicie uma investigação profunda do ocorrido.

"Como deputado da República exijo ao ministro da Defesa Hinzpeter que inicie uma investigação no interior das Forças Armadas para que todos estes cantos xenofóbicos de treinamento sejam eliminados das práticas cotidianas das Forças Armadas", ressaltou.

Gutiérrez considerou delicado que o vídeo tenha sido publicado no momento em que o Peru mantém uma disputa judicial com o Chile perante a Corte Internacional de Justiça de Haia por um diferendo sobre limites marítimos, e no caso de Bolívia está a exigência ao Chile de uma saída soberana ao mar.

OUTRAS VOZES DE REJEIÃ�ÃO

No interior do Chile, várias organizações juvenis pronunciaram-se contra os cantos xenofóbicos.

Em uma declaração, jovens ligados a sete organizações sociais, manifestaram sua "rejeição irrestrita" à postura dos soldados.

"As Forças Armadas do Chile devem estar cimentadas nos princípios da cooperação latino-americana, não em posturas xenofóbicas que contribuem unicamente a fomentar rivalidades entre países limítrofes, com os quais poderíamos ter importantes possibilidades de abrir relações fraternas e unitárias", assinala o texto.

Outro dos pontos da declaração afirma que se o Estado Chileno é incapaz de forjar os princípios latino-americanistas, pelo menos o povo e suas organizações serão capazes de fazê-lo.

Os firmantes responsabilizam pelo fato todos "os que defendem a exploração e usurpação de nossos recursos" e realçam que "não existe razão para tomar a Argentina, o Peru e a Bolívia como inimigos".

Entre os promotores da iniciativa encontram-se a Coordenadora pela Luta dos Povos, a Comissão Ética contra a Tortura, o Comitê Chileno de Solidariedade com a Palestina, a Frente Patriótica Manuel Rodríguez, o Partido Igualdade V região, a União Nacional Estudantil e a Universidade Popular de Valparaíso.

A partir do exterior, a Bolívia pediu uma condenação internacional contra o Chile, pelas implicações do vídeo, e lamentou essa formação militar dos marinheiros.

"É muito lamentável e deve ser condenada internacionalmente; (e) fundamentalmente pela sociedade chilena, porque em pleno século XXI não podemos ter, entre vizinhos, inimigos desta envergadura", expressou o vice-ministro boliviano de Coordenação com Movimentos Sociais, César Navarro.

A reação de Peru foi mais moderada, nas palavras do ministro da Defesa Pedro Cateriano, que qualificou as expressões dos cadetes de "uma grosseria" e destacou a imediata rejeição do governo chileno e da marinha aos cantos.

"São expressões condenáveis, mas felizmente as autoridades chilenas reagiram de maneira rápida e nesse sentido confiamos que eles esclarecerão o ocorrido", assinalou o ministro.

Cateriano disse que ambos os países continuarão concentrados em fortalecer suas relações bilaterais e impulsionar um desenvolvimento comum.

Em Buenos Aires, o ministro argentino da Defesa, Arturo Puricelli, qualificou de inaceitáveis e injustificáveis as expressões xenofóbicas dos marinheiros.

Por sua vez, a chancelaria enviou uma nota à embaixada do Chile na qual transmitiu sua "surpresa e mal-estar" pelo vídeo, e manifestou "seu convencimento de que as autoridades da fraterna República do Chile tomarão todas as medidas que correspondem para que os responsáveis por tão lamentável episódio recebam o tratamento previsto pela lei".

*Correspondente da Prensa Latina no Chile.

arb/et/es
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