terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Campos dos Goytacazes/RJ: Rastros da história

 

 

Rastros da história

Registros que possuem parte da história da Baixada Campista podem se perder com a força do tempo que destrói livros em que estão contidas informações de nascimento, casamento e óbito dos séculos XVIII e XIX. Essa é a preocupação do padre Antônio Marcelo que está há um ano à frente da Paróquia de São Gonçalo, em Goitacazes.
Segundo ele, a Capela de São Gonçalo foi fundada em 1722 por um devoto cujo nome se perdeu na história. Ela foi transformada em paróquia em 1763. Até o século XIX, os registros que hoje são chamados civis eram feitos por meio da Igreja Católica, quando estado e religião andavam lado a lado. Conforme explicação do padre Antônio Marcelo, os re-gistros de batismo, naquela época, eram feitos poucos dias após o nascimento da criança.
— Então, essas anotações eram uma espécie de representação do registro de nascimento. Assim também acontecia com a cerimônia de casamento. Em caso de óbito, o registro nos livros se fazia através dos pedidos de oração dos fiéis — disse.
Guardados em um armário trancado com cadeado estes livros que contam a formação da história de Goita-cazes. São dezenas deles. Alguns em estado avançado de deterioração. O padre adiantou que quer a ajuda de algum órgão que disponha de uma equipe técnica com conhecimento sobre a preservação de documentos históricos.
— Além de perdas históricas, esses documentos antigos podem ocultar bactérias que causam diversos danos à saúde humana — disse o padre. Segundo o secretário de Cultura de Campos, a preservação dos livros de registros é relevante em função de conter a própria história da Baixada Campista, cujo portal de entrada é Goitacazes.
— Temos conhecimento de que outros acervos de outras igrejas estão, igualmente, carecendo da intervenção técnica para recuperá-los devidamente — disse Orávio, acrescentando que a secretaria de Cultura pode, diante de uma solicitação, encaminhá-los ao Arquivo Público Waldir Pinto de Carvalho para ser examinado por especialistas.
“Temos (e pouca gente sabe) um sistema de recuperação de documentos de primeira linha. De repente, podemos até mesmo examinar os documentos na própria igreja. Queremos que o padre Antônio Marcelo saiba que estamos à sua disposição. Afinal, o caso é de interesse da sociedade estudiosa do país”, finalizou.
Com esses documentos é possível compreender um pouco mais das relações sociais travadas durante os períodos colonial e imperial. Mesmo com a independência do Brasil, a constituição de 1824 conferiu à Igreja Católica o título de religião oficial do Império. Com isso, ela continuou a exercer influência no campo social e político. Apenas com a instituição do republicanismo, os registros passaram à responsabilidade do Estado.
Conforme estudo desenvolvido pela pesquisadora Rulian Emmerick, “de extrema importância naquele momento foi a secularização do casamento, do registro civil, dos cemitérios, o término da educação pública confessional etc. Tal fato significou o fim da separação entre cidadãos católicos e os que não professavam a fé católica, portanto, não-cidadãos, pois os atos jurídicos pelos quais os indivíduos passavam ou deixavam existir eram juridicamente controlados pela Igreja Católica”.
Talita Barros
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