quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Obama, assassinatos e críticas malucas sobre a América Latina!

 


Obama dá sinais de quatro anos mais de más relações com América Latina



Mark Weisbrot

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

ALAI AMLATINA, 19/12/2012.- Na sexta-feira passada [14.12], numa entrevista[1] em Miami, o presidente Obama foi muito longe ao lançar insultos gratuitos para o presidente Hugo Chávez. Fazendo isto, ele não só ofendeu a maioria dos venezuelanos, os quais votaram pare reeleger seu presidente em 7 de outubro, senão que ofendeu inclusive a muitos que não votaram por ele. Chávez está lutando por sua vida, recuperando-se de uma complicada operação de câncer. Na América Latina, como na maioria do mundo, esta desnecessária difamação de Chávez por parte de Obama constitui uma violação não só do protocolo diplomático, como também de padrões comuns de cortesia.

Talvez algo inclusive mais importante é que as inapropriadas calúnias de Obama enviaram uma desagradável mensagem ao resto da região. Enquanto Obama pode sair-se com a sua com qualquer coisa na maioria dos meios de comunicação, se pode estar certo de que seus comentários foram notados pelos presidentes e Ministérios de Relações Exteriores de Brasil, Argentina, Equador, Bolívia e outros. A mensagem foi clara: podemos esperar quatro anos mais com as mesmas políticas falidas, políticas de Guerra Fria para América Latina, as que o presidente George W. Bush defendeu e Obama continuou em seu primeiro mandato[2].

Estes presidentes veem a Chávez como um amigo próximo e um aliado; alguém que os tem ajudado e ajudado a região. Como milhões de venezuelanos, eles estão orando por sua recuperação. Ao mesmo tempo, veem a Washington como responsável pelas más relações entre Estados Unidos e Venezuela [igual que com o hemisfério em geral], e estes desafortunados comentários são uma confirmação adicional disso. Em 2012, durante a Cúpula das Américas, Obama se encontrou tão isolado[3] como esteve George W. Bush durante a notória Cúpula de 2005. Aquela foi uma mudança radical no que diz respeito à Cúpula de 2009, onde todos – inclusive Chávez –saudaram calorosamente a Obama e viram nele a possibilidade de uma nova era nas relações EEUU-América Latina.

Para estes governos, as invectivas de Obama sobre as “políticas autoritárias” de Chávez e a “repressão dos dissidentes”cheiram mal; inclusive, ignorando o momento da ofensiva. Venezuela acaba de ter umas eleições nas quais a oposição, a que detém a maioria das rendas e da riqueza do país, assim como o controle da maioria dos meios de comunicação, mobilizou a milhões de votantes. A participação eleitoral foi de 81 por cento dos votantes registrados, com ao redor de 97 por cento de registro dos votantes em idade de votar. O governo não “reprimiu aos dissidentes”, não o fez assim em outras eleições, ou inclusive quando os dissidentes fecharam a indústria do petróleo e paralisaram a economia em 2002-2003; ações que haveriam sido ilegais e bloqueadas pelas forças do Estado nos Estados Unidos. Os manifestantes pacíficos em Venezuela são muito menos propensos a ser golpeados, atacados com gases lacrimogêneos ou disparados com balas de borracha pelas forças de segurança do que o são em Espanha[4] e, provavelmente, na maioria de outras democracias.

Sim, tem havido abusos de autoridade em Venezuela, como em todo o mundo, tal como o presidente Obama deve saber. Foi Obama quem defendeu[5] o encarceramento sem julgamento por mais de dois anos e meio, e o abuso de Bradley Manning durante sua detenção; que foi condenado pelo Relator especial das Nações Unidas contra a tortura. É Obama quem tem se recusado a conceder a liberdade ao ativista da população indígena estadunidense Leonard Peltier,[6] amplamente conhecido no mundo como um prisioneiro político, agora numa prisão dos Estados Unidos por 37 anos. É Obama quem reclama o direito, e o tem usado, para matar a cidadãos estadunidenses[7] sem detenção nem julgamento.

Venezuela é um país de renda média, onde o Estado de Direito é relativamente frágil, como o é o Estado em geral [daí o absurdo de rotulá-lo de “autoritário”]. No entanto, ao contrastá-lo com outros países de similar nível de rendas, este não se destaca por nada no âmbito dos abusos dos direitos humanos. Certamente, não existe nada em Venezuela comparável aos abusos perpetrados pelos aliados de Washington, tais como México; ou Honduras – onde candidatos a cargos políticos, ativistas da oposição e jornalistas são amiúde assassinados[8]. E grande parte das pesquisas acadêmicas elaboradas acerca da Venezuela sob [o comando de] Chávez mostram que esta é mais democrática e com mais liberdades civis que nunca antes em sua história.

Pelo contrário, nós, nos Estados Unidos não o estamos fazendo tão bem em comparação com nossa própria história e nosso nível de renda. Sofremos uma séria perda de liberdades civis[9] sob as administrações de George W. Bush e do presidente Obama. E, evidentemente, se contamos as vítimas dos crimes dos EEUU no estrangeiro – os civis e crianças assassinados por ataques com drones [aviões não tripulados] em Afeganistão e Paquistão, por exemplo – é o presidente Obama que tem uma “lista de pessoas a assassinar”, tem pouca margem[10] para criticar quase a nenhum presidente de outro país.

“Quiséramos ver uma relação sólida entre nossos dois países, porém não vamos mudar as políticas que têm como prioridade que haja liberdade em Venezuela”, disse Obama, de acordo com a Associated Press.

Não posso pensar em ninguém que acredite que a política dos Estados Unidos em Venezuela, desde o golpe militar de 2002 no qual Washington esteve implicado, à continuação de financiamento hoje em dia aos grupos venezuelanos da oposição, tenha algo que ver com a promoção da “liberdade”. Isto foi somente outro insulto público a mais.

O governo venezuelano respondeu com raiva ante os comentários. Porém, talvez seriam mais indulgentes se soubessem o pouco que sabe o presidente Obama – quem nunca pôs um pé na América Latina antes de ser presidente – acerca de Venezuela ou da região.

Quando o presidente Obama se reuniu com a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, disse[11]:

“Isto me dá a oportunidade para remarcar o extraordinário progresso que o Brasil tem levado a cabo sob a liderança da presidenta Rousseff e de seu predecessor, o presidente Lula, ao passar da ditadura para a democracia...”

Portanto, se Obama [e sua equipe] nem sequer sabia que a ditadura brasileira chegou ao seu fim mais de uma década antes que Lula fosse eleito em 2002, como pode esperar-se que ele saiba algo de Venezuela? Quero dizer, o Brasil é um país grande, maior que os Estados Unidos continental, e a sexta maior economia do mundo.

Obama despediu o seu conselheiro de Segurança Nacional para América Latina depois da debacle da Cúpula de 2012. Ele deveria despedir ao inepto que o alimentou com esses insultos que proferiu na entrevista em Miami, assim como ao incompetente que o fez passar vergonha frente à presidenta do Brasil. E assim poderia limpar seu gabinete dos guerreiristas da Guerra Fria dos anos 1950, que seguem no Departamento de Estado. Está bem se a ele não lhe interessa a América Latina – é melhor para a região e o mundo –, porém, ele e sua administração estão criando um montão de hostilidade desnecessária.



-Mark Weisbrot es codirector del Center for Economic and Policy
Research (CEPR), en Washington, D.C. Obtuvo un doctorado en economía por la Universidad de Michigan. Es también presidente de la organización Just Foreign Policy.
http://www.cepr.net/index.php/other-languages/spanish-op-eds/obama-da-senales-de-cuatro-anos-mas-de-malas-relaciones-con-america-latina


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