quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Giorgos Marinos: “A UE é uma união inter-estatal imperialista”

 

Giorgos Marinos [*]
19.Dez.12 :: Outros autores

“O KKE considera que os problemas do povo não podem ser resolvidos e as necessidades populares não podem ser satisfeitas mesmo se um país se retirar da UE, da Eurozona e do Euro e continuar a seguir o caminho do desenvolvimento capitalista.”


Caros camaradas:
Agradecemos ao Partido Comunista dos Povos de Espanha e aos nossos camaradas dos outros partidos. Apreciamos muito a organização desta iniciativa e tentaremos contribuir para a discussão acerca da UE com as posições e a experiência do KKE.
O KKE argumenta que a União Europeia é uma aliança imperialista inter-estatal que tem como critério os interesses dos monopólios europeus, o grande capital europeu, o aumento da sua lucratividade e o reforço da sua competitividade, o aumento do nível de exploração da classe trabalhadora, a abolição de direitos trabalhistas, a deterioração das vidas dos povos.
É uma união imperialista inter-estatal que facilita a livre actividade do capital ao nível nacional, regional e internacional. Para a expansão das actividades de negócios dos grandes consórcios económicos, para a aquisição de novos mercados e esferas de influência a fim de saquear os recursos naturais.
Sejam quais for os mecanismos de manipulação, eles não podem esconder que a União Europeia neste momento tem 30 milhões de desempregado e um número semelhante de sub-empregados, mina o futuro da juventude, condena mais de 127 milhões de pessoas à pobreza extrema.
A União Europeia tomou parte nas guerras imperialistas na Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia junto com os EUA e a NATO, e agora está a desempenhar um papel de liderança na intervenção e nas ameaças contra a Síria e o Irão, utilizando pretextos miseráveis, quando a verdade é que eles procuram adquirir novos mercados, para garantir fontes de gás natural e petróleo.
Isto é a União Europeia, a união do anticomunismo que está a tentar enegrecer a contribuição histórica dos comunistas na luta pelo progresso social, que difama a contribuição decisiva da União Soviética para a derrota do fascismo na II Guerra Mundial e está a tentar anti historicamente igualar comunismo, o oponente real do capital e do capitalismo, a fascismo, o qual é a criatura do sistema e servidor do capital.
Os últimos 20 anos são muito instrutivos para os povos.
Primeiro: no princípio da década de 1990 as bases para a promoção do livre movimento de capitais, mercadorias, serviços e trabalho foram lançadas, a bem conhecida reestruturação capitalista que abole trabalho fundamental, direitos de segurança social e impõe bárbaras medidas anti trabalhadores. A estratégia de Maastricht, “Tratado de Lisboa” e a “UE-2020″ serve de um modo planeado o aumento da competitividade e da lucratividade dos consórcios económicos monopolistas com o objectivo de satisfazer as necessidades actuais do capital, o qual nas condições da crise capitalista escala a ofensiva a fim de promover a redução do preço da força de trabalho, a intensidade do nível de exploração da classe trabalhadora.
Segundo: um objectivo básico da Política Agrícola Comum (PAC) da UE é a concentração da terra e da produção nas mãos de poucos, de modo a que as relações capitalistas na produção agrícola sejam expandidas e fortalecidas, de modo a que sejam formadas grandes culturas capitalistas com um alto nível de competitividade. Esta política demonstrou-se ser desastrosa para pequenos e também para muitos médios agricultores. Culturas tradicionais foram reduzidas, o gado sofreu, a Grécia foi engolfada por produtos agrícolas importados, o défice comercial aumentou.
Terceiro: através da chamada praça da “Liberdade, Segurança, Justiça” o edifício da UE, o poder político dos monopólios, o sistema capitalista está a ser gradualmente reforçado.
Repressão e autoritarismo e as lutas populares da classe trabalhadora estão a ser incriminadas e criminalizadas, medidas duras estão a ser tomadas contra os imigrantes, todo um mecanismo para a vigilância e perseguição dos trabalhadores está a ser criado.
Quarto: a “Política de segurança e defesa comum” está a ser utilizada como uma ferramenta da UE para a intervenção político-militar em todo o mundo, para controlar e explorar novos mercados para os monopólios, para adquirir novas posições na competição inter-imperialista.
Quinto: a União Económica e Monetária (UEM) , a qual hoje inclui 17 estados e uma divisa comum, o Euro, deu ímpeto à integração capitalista, mas aguçou contradições inter-imperialistas. As necessidades do sistema de estabilidade monetária foram e estão a ser utilizadas para a imposição de duras medidas antipopulares. Na realidade, apesar dos passos que têm sido dados rumo à integração capitalista, a União Europeia, como uma união de estado com diferentes níveis de desenvolvimento, enfrenta graves problemas devido à desigualdade capitalista e isto manifestou-se intensamente durante a crise capitalista. Os próprios burgueses e os apologistas do capitalismo e da UE estão preocupados acerca do futuro da Eurozona, do rumo das contradições inter-imperialistas e da competição e com o fortalecimento de tendências centrífugas.
As leis do capitalismo são implacáveis. A agudização da contradição básica entre o carácter social da produção e a apropriação capitalista dos seus resultados levou à crise de superacumulação de capital e não a uma crise de dívida ou crise do neoliberalismo como afirmam os sociais-democratas e partidos oportunistas.
Hoje, quatro anos após os estalar da crise, o problema retornou à Eurozona, a qual sofreu uma nova recessão e uma nova redução da sua produção e economia em 2012.
Nestas condições, o capital precisa de maior lucratividade.
A chamada “Governação económica europeia” significa a estrutura das medidas económicas e fiscais anti povo, que além disso constitui a supervisão dos estados membros pela equipe da UE e a cedência consciente de direitos soberanos pelas classes burguesas e seus representantes.
O “Mecanismo Europeu de Estabilidade” (MEE) que foi criado para tratar ocorrências de bancarrota controlada, como no caso da Grécia, opera de acordo com as mesmas linhas. Enquanto isso a discussão e a confrontação no auge acerca das duas importantes opções antipopulares: Primeiro, a “Multi-annual Financial Framework 2014-2020″ em que graves contradições inter-imperialistas estão a manifestar-se entre a Alemanha e a França e entre a Alemanha e a Grã-Bretanha. E em segundo lugar, quanto à proposta recente da Comissão para o “Aprofundamento da União Económica e Monetária” para a protecção da Eurozona.
Em conclusão, podemos dizer que a agressividade da UE não se limita a uma ou outra política. O problema básico é que esta união capitalista foi criada para servir as necessidades do grande capital e a estratégia da aliança predatória está a ser formada e actualizada com base neste objectivo. Assim, as políticas anti povo adequadas estão a ser implementadas. Por esta razão, respondemos aos partidos burgueses e às forças oportunistas decisivamente e esclarecendo o povo que a UE é uma união inter-estatal do capital que se tornará continuamente mais reaccionária.
Sublinhamos isto, denunciando o papel do Partido de Esquerda Europeu (PEE) o qual emergiu das entranhas da UE, implementa a sua estratégia e faz a apologia desta união imperialista.
O KKE está numa confrontação contínua com a UE, sua actividade está ligada a muitas mobilizações populares importantes e à classe trabalhadora as quais ao longo do tempo adquiriram continuamente objectivos de luta mais radicais.
A par destes objectivos está a luta pelo desligamento da Grécia da UE (bem como da NATO) e pelo cancelamento unilateral da dívida, com o poder da classe trabalhadora e a socialização dos meios de produção concentrados.
Isto é de importância particular, pois o desligamento das organizações imperialistas está ligado ao caminho do desenvolvimento socialista, levando em conta que só através deste caminho um país pode desenvolver-se baseado na satisfação das necessidades do povo e procurar criar relações mutuamente benéficas com outros estados e povos.
O KKE considera que os problemas do povo não podem ser resolvidos e as necessidades populares não podem ser satisfeitas mesmo se um país se retirar da UE, da Eurozona e do Euro e continuar a seguir o caminho do desenvolvimento capitalista. O regime da exploração do homem pelo homem será perpetuado. A dominância do capital permanecerá. As pré-condições para o irromper da crise capitalista e a participação em guerras imperialistas serão mantidas.
Por esta razão, consideramos necessário intensificar os esforços para fortalecer a luta antimonopolista, anticapitalista e reunir forças da classe trabalhadora e populares mais vastas, para constituir uma forte aliança do povo com a classe trabalhadora como sua força de vanguarda rumo ao derrube da barbárie capitalista e desligamento de uniões imperialistas.
Dezembro/2012
Ver também:
• El KKE se niega a que el PcE organice el próximo EIPCO en España
[*] Membro da Comissão Política do CC do KKE. Discurso em 15 de Dezembro no evento político organizado pelo PCPE sobre a UE com a palavra-de-ordem “Pela retirada da UE, do Euro e da NATO”.
O original encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-12-17-marinoy/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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