Boom de construção em Pyongyang
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segunda-feira, 31 de julho de 2017
sábado, 29 de julho de 2017
Pablo Siris Seade / Venezuela: O ABC da Assembleia Nacional Constituinte
Venezuela: O ABC da Assembleia Nacional Constituinte
por Pablo Siris Seade
Este domingo 30 de Julho o povo venezuelano determinará através do seu voto a integração de uma Assembleia Nacional Constituinte. Mas fará muito mais do que isso: decidirá se vence o terrorismo fascista ou escolhe a paz como forma definitiva de resolver os assuntos do pais e avança rumo à construção de uma nova sociedade mais justa, livre e próspera.
1. O que é uma Assembleia Nacional Constituinte? É um mecanismo previsto nas constituições de vários países do mundo para a sua transformação. Normalmente o povo elege para integrá-la com um número extraordinário de pessoas (mais do dobro dos que tem o Poder Legislativo) a fim de considerar a referida modificação da Carta Magna. É mais profunda que as emendas ou reformas, as quais normalmente não afectam aspectos da Constituição e realizam modificações pontuais. 2. Quem pode convocar a ANC na Venezuela? O artigo 348 estabelece que pode ser convocada pelo Poder Executivo, por uma maioria especial do Poder Legislativo (dois terços), por uma maioria especial dos representantes dos municípios (novamente dois terços) ou directamente por não menos de 15% do eleitorado. O artigo seguinte assinala que o Presidente não pode de modo algum objectar ao resultado da mesma e que os outros Poderes do Estado "não poderão de forma alguma impedir as decisões da Assembleia Constituinte". A nova Constituição emanada da Assembleia que for eleita será plebiscitada e todo o povo poderá exprimir-se quanto à mesma. 3. Por que o presidente Nicolás Maduro convocou uma ANC? No último 1º de Maio o presidente venezuelano Nicolás Maduro convocou a ANC "com a finalidade primordial de garantir a preservação da paz do país diante das circunstâncias sociais, políticas e económicas actuais, em severas ameaças internas e externas de factores anti-democráticos e de marcada postura anti-pátria pairam sobre sua ordem constitucional". No decreto correspondente minci.gob.ve/... o presidente Maduro exprimiu os objectivos da referida convocatória. Estes são: 1. A paz como necessidade, direito e anseio da nação, o processo constituinte é uma grande convocatória a um diálogo nacional para conter a escalada de violência política, mediante o reconhecimento político mútuo e de uma reorganização do Estado, que recupere o princípio constitucional de cooperação entre os poderes público (...) 2. O aperfeiçoamento do sistema nacional rumo (...) ao novo modelo da economia pós petrolífera, mista, produtiva, diversificada, integradora, a partir da criação de novos instrumentos que dinamizem o desenvolvimento das forças produtivas, assim como a instauração de um novo modelo de distribuição transparente que satisfaça plenamente as necessidade de abastecimento da população. 3. Constitucionalizar as Missões e Grandes Missões Socialistas, desenvolvendo o Estado democrático, social, de direito e de justiça (...) 4. A ampliação das competências do Sistema de Justiça, para erradicar a impunidade dos delitos, especialmente aqueles que se cometem contra as pessoas (...); assim como os delitos contra a Pátria e a sociedade tais como a corrupção; o contrabando de extracção; a especulação; o terrorismo; o narcotráfico; a promoção do ódio social e a ingerência estrangeira. 5. Constitucionalização das novas formas da democracia participativa e protagónica, a partir do reconhecimento dos novos sujeitos do Poder Popular, tais como as Comunas e Conselhos Comunais, Conselhos de Trabalhadores e Trabalhadoras, entre outras formas de organização de base territorial e social da população. 6. A defesa da soberania e da integridade da nação e protecção contra o intervencionismo estrangeiro, ampliando as competências do Estado democrático, social, de direito e de justiça para a preservação da segurança cidadã, a garantia do exercício integral dos direitos humanos, a defesa da independência, da paz, da imunidade e da soberania política, económica e territorial da Venezuela. Assim como a promoção da consolidação de um mundo multipolar e multicêntrico que garanta o respeito ao direito e à segurança internacional. 7. Reivindicação do carácter pluricultural da Pátria, mediante o desenvolvimento constitucional dos valores espirituais que nos permitam reconhecer-nos como venezuelanos e venezuelanas, na nossa diversidade étnica e cultural como garantia de convivência pacífica no presente e rumo ao porvir (...) 8. A garantia do futuro, nossa juventude, mediante a inclusão de um capítulo constitucional para consagrar os direitos da juventude, tais como o uso livre e consciente das tecnologia de informação, o direito a um trabalho digno e libertador das suas criatividades, a protecção à mães jovens; o acesso a uma primeira habitação; e o reconhecimento à diversidade (...) 9. A preservação da vida no planeta, desenvolvendo constitucionalmente, com maior especificidade os direitos soberanos sobre a protecção da nossa biodiversidade e o desenvolvimento de uma cultura ecológica na nossa sociedade. 4. Como se escolheram os candidatos e quem os vota? A votação será organizada pelo Conselho Nacional Eleitoral e o sufrágio será universal, directo, secreto e voluntário. Cada município do país elegerá um constituinte, as capitais de estado terão dois representante o Distrito Capital sete, totalizando 364 constituintes que serão eleitos territorialmente. Para ser candidato, os pré candidatos deverão contar com o apoio de 3% dos inscritos no Registo Eleitoral do âmbito territorial correspondente. Apresentaram-se mais de 50 mil pré candidatos, dos quais cumpriram o requisito prévio cerca de cinco mil. Haverá também oito constituintes em representação dos povos originários da Venezuela, os quais elegerão de acordo com seus usos e costumes ancestrais. Será realizada também a eleição por sectores, à razão de um constituinte por cada 83 integrantes (aproximadamente) dos diversos sectores a considerar, o qual levará até 545 o número total de integrantes da ANC. Os sectores em que serão eleitos representantes para a ANC (além dos povos indígenas, já mencionados9 serão: trabalhadores, camponeses e pescadores, estudantes, pessoas com incapacidade, jubilados e pensionistas, empresários e – finalmente – conselhos comunais e comunas. Nos sectores, a candidatura será realizada por listas nacionais que contarão com o respaldo de 3% dos integrantes do padrão eleitoral correspondente ao referido sector, exceptuando os integrantes dos conselhos comunais e comunas que também serão eleitos territorialmente. 5. Por que se escolheu este mecanismo de eleição de candidatos? A Constituição da República Bolivariana da Venezuela estabelece nos seus diversos artigos que o Estado deve tender a uma democracia participativa e protagónica, coisa que ao longo dos 18 anos da Revolução Bolivariana foi um dos principais objectivos de todo o povo venezuelano. Por isso mesmo surgiram diversas formas de organização política territorial e sectorial como os conselhos comunais, as comunas (que agrupam várias destas), os conselhos de trabalhadores nas empresas de propriedade social, os conselhos de pessoas com incapacidade, o crescimento explosivo das organizações estudantis, entre outras. A convocatória à ANC, portanto, não pode senão reconhecer estas novas formas de organização social e contribuir para o seu desenvolvimento. 6. O que fará a ANC quando for instalada? A Constituição da República Bolivariana da Venezuela (cne.gob.ve/web/normativa_electoral/constitucion/indice.php ) assinala no seu artigo 347 que "O povo da Venezuela é o depositário do poder constituinte originário. No exercício do referido poder pode convocar uma Assembleia Nacional Constituinte com o objectivo de transformar o Estado, criar um novo ordenamento jurídico e redigir uma nova Constituição". O seja, que – diferentemente de outros países, mas tal como em 1999 – a ANC venezuelana depende só de si mesma e pode encarar todas as modificações do texto constitucional que entenda pertinentes com os objectos expressos mais acima no texto constitucional. A ANC considerará os diferentes projectos e contribuições que os constituintes coloquem, assim como os efectuem as cidadãs e cidadãos através de diferentes mecanismos de consulta que se estabeleceram. O resultado dos debates será referendado através de uma instância eleitoral convocada especificamente para esses efeitos. 7. Serão resolvidos os problemas da Venezuela quando for instalada a ANC? Não. Os problemas da Venezuela são o resultado da guerra com o imperialismo norte-americano e seus lacaios locais (e em alguns outros lugares) que procuram garantir para os Estados Unidos o controle do petróleo venezuelano como recurso estratégico, assim como provocar uma redistribuição negativa da renda que o petróleo produz para que volte ao domínio de umas poucas famílias. Entretanto, esta ampla instância de participação e debate nacional permitirá que a mais ampla expressão popular possa fazer valer suas opiniões e encontre instrumentos para garantir o anseio de paz do povo venezuelano e aprofundar o desenvolvimento produtivo do país e a justiça social. Diante daqueles que pretendem instaurar a violência e o terror como forma de dirigir os destinos do país, a oferta é dirimir democraticamente e através do voto os diferentes pontos de vista.
28/Julho/2017
Ver também: O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
Mauricio Dias /A lição do general
Segurança Pública
A lição do general
O comandante do Exército responde a Brasília e ao governador Pezão: soldado na rua, diz ele, é “desgastante, perigoso, inócuo”
Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo
Jungmann fala em “surpresa”, daí a chance de contrapor a mentira
As Forças Armadas, o Exército particularmente, parecem reativas ao uso dos quartéis para o costumeiro objetivo de botar a tropa nas ruas. Ao longo dos últimos 30 anos, essa saída, perigosa obediência militar à mentira política, tem conduzido os presidentes da República e os governadores, todos eles, para o caminho do fracasso. Botar as tropas na rua é uma expressão que, em passado não muito distante, amedrontava os civis. Mas a história agora é outra.
Apoiado na falência econômica do estado e no aumento da criminalidade, o governador Luiz Fernando Pezão seguiu a rotina. Buscou a ajuda do governo federal, que, mais uma vez, ofereceu o uso das tropas. Na sexta-feira 28, militares passaram a atuar no estado. Um contingente de 10 mil homens, sendo 8,5 mil das Forças Armadas, iniciou a patrulha na região metropolitana da cidade.
Apoiado na falência econômica do estado e no aumento da criminalidade, o governador Luiz Fernando Pezão seguiu a rotina. Buscou a ajuda do governo federal, que, mais uma vez, ofereceu o uso das tropas. Na sexta-feira 28, militares passaram a atuar no estado. Um contingente de 10 mil homens, sendo 8,5 mil das Forças Armadas, iniciou a patrulha na região metropolitana da cidade.
Em um primeiro momento, no entanto, não se falou do contingente a ser mobilizado nem quando o seria. Algo aconteceu. Para tapar o sol com a peneira foi preciso, então, usar a balela.
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Leia mais: "Para combater a violência na cidade, produzimos violência nas favelas"Convocação do Exército expõe racha entre Temer e Rodrigo Maia
Recado dos quartéis
Recado dos quartéis
Os militares encarregaram como porta-voz o civil bom de papo Raul Jungmann, ministro da Defesa.
Ele inventou uma historinha. Tirou da manga a explicação de que as Forças Armadas agiriam a qualquer momento “de surpresa”.
Ele inventou uma historinha. Tirou da manga a explicação de que as Forças Armadas agiriam a qualquer momento “de surpresa”.
Para sustentar a afirmação, Jungmann olhou pelo retrovisor. Segundo disse, as ações realizadas anteriormente “só baixavam a febre e não resolviam o problema”.
Os militares têm sido usados, ilegalmente, pelo princípio constitucional de que são responsáveis pela garantia da lei e da ordem. Não cabe, entretanto, às Forças Armadas enfrentar problemas policiais. Quando isso ocorre, tornam-se força auxiliar das polícias militares. Uma inversão grotesca do preceito constitucional previsto no artigo 144.
Jungmann, espetado, tentou construir saída para um problema extremamente complicado. Disse ele: “Estamos mudando a cultura. As operações serão feitas sobre três pilares: inteligência, integração e surpresa. Surpresa, surpresa”.Diante dessa surpresa, é possível contrapor a mentira.
Pouco se vaza do que ocorre nos quartéis. Juntando, porém, uma coisa à outra é possível construir um vazamento. Durante audiência pública no Senado, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou que o uso de militares em atividades de segurança pública é “desgastante, perigoso, inócuo”.
A sagácia do general, cantada no Senado, favorece um episódio narrado por ele durante a ocupação da Favela da Maré, no Rio de Janeiro, em 2016: “Estamos aqui apontando arma para a população brasileira. Nós estamos numa sociedade doente”.
O general Villas Bôas travou a mentira, imaginada por Jungmann, ao se contrapor quanto ao uso das Forças Armadas como capitães-do-mato: “Nós não gostamos desse tipo de emprego. Não gostamos”.
Em sendo assim, viva o general!
Os militares têm sido usados, ilegalmente, pelo princípio constitucional de que são responsáveis pela garantia da lei e da ordem. Não cabe, entretanto, às Forças Armadas enfrentar problemas policiais. Quando isso ocorre, tornam-se força auxiliar das polícias militares. Uma inversão grotesca do preceito constitucional previsto no artigo 144.
Jungmann, espetado, tentou construir saída para um problema extremamente complicado. Disse ele: “Estamos mudando a cultura. As operações serão feitas sobre três pilares: inteligência, integração e surpresa. Surpresa, surpresa”.Diante dessa surpresa, é possível contrapor a mentira.
Pouco se vaza do que ocorre nos quartéis. Juntando, porém, uma coisa à outra é possível construir um vazamento. Durante audiência pública no Senado, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou que o uso de militares em atividades de segurança pública é “desgastante, perigoso, inócuo”.
A sagácia do general, cantada no Senado, favorece um episódio narrado por ele durante a ocupação da Favela da Maré, no Rio de Janeiro, em 2016: “Estamos aqui apontando arma para a população brasileira. Nós estamos numa sociedade doente”.
O general Villas Bôas travou a mentira, imaginada por Jungmann, ao se contrapor quanto ao uso das Forças Armadas como capitães-do-mato: “Nós não gostamos desse tipo de emprego. Não gostamos”.
Em sendo assim, viva o general!
sexta-feira, 28 de julho de 2017
Atilio A. Borón / A CIA e a contra-revolução na Venezuela
A CIA e a contra-revolução na Venezuela
por Atilio A. Borón [*]
A sociedade capitalista tem como um dos seus traços principais a opacidade. Se nos antigos modos de produção pré-capitalistas a opressão e a exploração dos povos saltava à vista e adquiria inclusive uma expressão formal e institucional com hierarquias e poderes, no capitalismo prevalece a obscuridade e, com ela, o desconcerto e a confusão. Foi Marx que com a descoberta da mais-valia descobriu o véu que ocultava a exploração a que eram submetidos os trabalhadores "livres", emancipados do jugo medieval. E foi ele também que denunciou o fetichismo da mercadoria numa sociedade onde tudo se converte em mercadoria e portanto tudo se apresenta de modo fantasmagórico perante os olhos da população.
O que acaba de ser dito vem a propósito da negação do papel da CIA na vida política dos países latino-americanos, ainda que não só neles. O seu activismo permanente é inevitável e não pode passar desapercebido diante de um olhar minimamente atento. Apesar disso, quando se fala da crise na Venezuela – para tomar o exemplo que agora nos preocupa – e das ameaças que pairam sobre esse país irmão, nunca se nomeia a "Agência", salvo poucas e isoladas excepções. A confusão que com a sua opacidade e seu fetichismo gera a sociedade capitalista faz novas vítimas no campo da esquerda. Não deveria surpreender que a direita encoraje este encobrimento da CIA. A imprensa hegemónica – na realidade, a imprensa corrupta e canalha – nunca a menciona. É um tema tabu para estes impostores seriais. Nem a ela, a CIA, nem a nenhuma das outras quinze agências que constituem em conjunto o que nos Estados Unidos se denomina amavelmente como "comunidade de inteligência". Eufemismos à parte, é um terrível conglomerado de dezasseis bandos criminosos financiados com fundos do Congresso dos Estados Unidos e cuja missão é dupla: recolher e analisar informação e, sobretudo, intervir activamente nos diversos cenários nacionais com uma amplitude acção que vai desde o manejo e a manipulação da informação e o controle dos meios de comunicação até a captação de líderes sociais, funcionários e políticos, a criação de organizações de fachada dissimuladas como inocentes e insuspeitas ONGs dedicadas a causa humanitárias inobjectáveis até ao assassinato de líderes sociais e políticos incómodos e a infiltração – e destruição – em toda classe de organizações populares. Vários arrependidos e enojados ex-agentes da CIA descreveram tudo isto com todo pormenor, com nomes e datas, o que me dispensa de discorrer sobre o tema. [1] Que a direita seja cúmplice do encobrimento do protagonismo dos aparelhos de inteligência dos Estados Unidos é compreensível. Faz parte do mesmo bando e protege com um muro de silêncio seus apaniguados e sicários. O que é absolutamente incompreensível é que representantes de alguns sectores da esquerda – nomeadamente o trotsquismo –, o progressismo e certa intelectualidade presa nos embriagantes vapores do pós-modernismo inscreva-se neste negacionismo em que não só a CIA desaparece do horizonte da visibilidade como também o imperialismo. Estas duas palavras, CIA e imperialismo, nem por sombras irrompem nos numerosos textos escritos por personagens daquelas correntes acerca do drama que hoje se desenvolve na Venezuela e que, diante dos seus olhos, parece ter como único responsável o governo bolivariano. Aqueles que se inscrevem nessa errónea – insanavelmente errónea – perspectiva de interpretação esquecem-se também da luta de classes, que brilha pela sua ausência sobretudo nas análises de supostos marxistas que não são senão "marxólogos", isto é, cultos doutores embriagados pelas palavras, como por vezes dizia Trotsky, mas que não compreendem a teoria nem muito menos a metodologia na análise marxista e por isso, diante dos ataques que sofre a revolução bolivariana, exibem uma gélida indiferença que, de facto, converte-se em complacência com os planos reaccionários do império. Toda esta horrível confusão, estimulada como dizíamos a princípio pela própria natureza da sociedade capitalista, dissipa-se quando se recorda as infindáveis intervenções criminosas que a CIA executou na América Latina (e onde fosse necessário) para desestabilizar processos reformistas ou revolucionários. Uma enumeração sumária a voo de pássaro, inevitavelmente incompleta, destacaria o papel sinistro desempenhado pela "Agência" na Guatemala, em 1954, ao derrubar o governo de Jacobo Arbenz organizando uma invasão dirigida por um coronel mercenário, Carlos Castillo Armas, o qual, depois de fazer o que lhe fora ordenado, foi assassinado três anos depois no Palácio Presidencial. Continuemos: o Haiti, em 1959, sustentando o então ameaçado regime de François Duvalier e garantindo a perpetuidade e o apoio a essa dinastia criminosa até 1986. Nem falemos do envolvimento intenso da "Agência" em Cuba, desde o princípio das Revolução Cubana, actividade que continua até o dia de hoje e que regista como um dos seus feitos principais a invasão de Playa Girón em 1961. Ou no Brasil, em 1964, assumindo um papel activíssimo no golpe militar que derrubou o governo de João Goulart e afundou esse país sul-americano numa ditadura brutal que perdurou por duas décadas. Em Santo Domingo, República Dominicana, em 1965, apoiando a intervenção dos marines lutando contra os patriotas dirigidos pelo coronel Francisco Caamaño Deño. Na Bolívia, em 1967, organizando a caça do Che e ordenando a sua execução covarde depois de caído ferido e capturado em combate. A CIA permaneceu no terreno e diante da radicalização política que se verificava na Bolívia conspirou para derrubar o governo de Juan J. Torres em 1971. No Uruguai, em 1969, quando a CIA enviou Dan Mitrione, um especialista em técnicas de tortura, para treinar os militares e a polícia a arrancar confissões aos Tupamaros. Mitrione foi justiçado por estes em 1970, mas a ditadura instalada pela "embaixada" desde 1969 perdurou até 1985. No Chile, desde princípios dos anos sessenta e intensificando a sua acção com a cumplicidade do governo democrata-cristão de Eduardo Frei. Na mesma noite em que Salvador Allende ganhou as eleições presidenciais de 4 de Setembro de 1970 o presidente Richard Nixon convocou com urgência o Conselho Nacional de Segurança e ordenou à CIA que impedisse por todos os meios a posse do líder chileno e, no caso de isso ser impossível, não poupar esforços nem dinheiro para derrubá-lo. "Nem um parafuso nem uma porca para o Chile" disse esse labrego que a seguir seria despejado da Casa Branca por um julgamento político. Na Argentina, em 1976, a CIA e a embaixada foram colaboradores activos da ditadura genocida do general Jorge R. Videla, contando inclusive com a ajuda descarada e o conselho do então secretário de Estado Henry Kissinger. Na Nicarágua, sustentando contra ventos e maré a ditadura somozista e, a partir do triunfo do sandinismo, organizado os "contra" recorrendo inclusive ao tráfico ilegal de armas e drogas a partir da própria Casa Branca para alcançar seus objectivos. Em El Salvador, desde 1980, para conter o avanço da guerrilha da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, envolvendo-se activamente durante os doze anos que durou a guerra civil a qual deixou um saldo de mais de 75 mil mortos. Em Granada, liquidando o governo marxista de Maurice Bishop. No Panamá, 1989, invasão orquestrada pela CIA para derrubar Manuel Noriega, um ex-agente que pensou poder tornar-se independente dos seus chefes, provocando pelo menos 3.000 mortos na população. No Peru, a partir de 1990, a CIA colaborou com o presidente Alberto Fujimori e seu chefe do Serviço de Inteligência, Vladimiro Montesinos, para organizar forças paramilitares a fim de combater o Sendero Luminoso, deixando um saldo fúnebre de milhares de vítimas. Dados estes antecedentes, alguém poderia pensar que a CIA permaneceu de braços cruzados diante da presença das FARC-EP e do ELN na Colômbia, onde os Estados Unidos contam com sete bases militares para a instalação das suas forças? Ou que não actua sistematicamente para corroer as bases de sustentação de governos como os de Evo Morales e, na altura, de Rafael Moreno e hoje de Lenin Moreno. O que se retirou para quartéis de inverno e deixou de actuar na Argentina, Brasil e em toda esta imensa região constituída pela América Latina e o Caribe, considerada como justa razão como a reserva estratégica do império. Só por um cúmulo de ignorância ou ingenuidade poderia pensar-se em tal coisa. Portanto, será alguém se pode surpreender com o protagonismo que a CIA está a ter hoje na Venezuela, o "ponto quente" do hemisfério ocidental? Podem os dirigentes norte-americanos – os reais, o deep state como dizem seus observadores mais lúcidos, não as carrancas de proa que despacham na Casa Branca – ser tão ineptos que se desinteressem da sorte que possa correr a luta colocada contra a Revolução Bolivariana no país que conta com a maiores reservas provadas de petróleo do mundo? Pode ser que para o trotsquismo latino-americano e outras correntes igualmente extraviadas na estratosfera política o MUD e o chavismo "sejam as mesma coisa" e [por isso] não provoque nessas correntes senão uma indiferença suicida. Mas os administradores imperiais, que sabem o que está em jogo, estão conscientes de que a única opção que têm para apoderar-se do petróleo venezuelano – objectivo não declarado mas excludente de Washington – é acabar com o governo de Nicolás Maduro deixando de lado qualquer escrúpulo a fim de obter esse resultado, desde queimar pessoas vivas a incendiar hospitais e infantários. Sabem também que a "mudança de regime" na Venezuela seria um triunfo extraordinário do imperialismo norte-americano porque, ao instalar em Caracas seus peões e lacaios, os mesmos que se orgulham da sua condição de lambe botas do império, esse país se converteria de facto num protectorado norte-americano, montando uma farsa pseudo-democrática – como a que já existe em vários países da região – que só uma nova onda revolucionária poderia chegar a desbaratar. E diante dessa opção, império versus chavismo, não há neutralidade que valha. Não nos é indiferente, não pode nos ser indiferente uma coisa ou a outra! Porque por mais defeitos, erros e deformações que haja sofrido o processo iniciado por Chávez em 1999; por mais responsabilidade que tenha o presidente Nicolás Maduro em evitar a desestabilização do governo, os acertos históricos do chavismo superam amplamente seus desacertos e pô-lo a salvo da agressão norte-americana e dos seus serventuários é uma obrigação moral e política inescapável para aqueles que dizem defender o socialismo, a autodeterminação nacional e a revolução anti-capitalista. E Isto, nada menos que isto, é o que está em jogo nos próximos dias na terra de Bolívar e de Chávez e, nesta encruzilhada, ninguém pode apelar à neutralidade ou à indiferença. Seria bom recordar a advertência que Dante colocou à entrada do Sétimo Círculo do Inferno: "Este lugar, o mais horrendo e ardente do Inferno, está reservado para aqueles que em tempos de crise moral optaram pela neutralidade". Tomar nota.
26/Julho/2017
[1] Ver John Perkins, Confesiones de un gángster económico. La cara oculta del imperialismo norteamericano (Barcelona: Ediciones Urano, 2005). Edição original: Título original: Confessions of an Economic Hit Man First publicado por Berrett-Koehler Publishers, Inc., San Francisco, CA, USA. O livro de Perkins pode ser descarregado em resistir.info/livros/livros.html . Ver também o texto pioneiro de Philip Agee, de 1975, Inside the company, publicado na Argentina sob o título La CIA por dentro. Diario de un espía (Buenos Aires: Editorial Sudamericana 1987) [*] Sociólogo, argentino. Ver também: O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
quinta-feira, 27 de julho de 2017
Conflito agrário no Porto do Açu: até hoje faltavam os presos políticos, agora não mais
Conflito agrário no Porto do Açu: até hoje faltavam os presos políticos, agora não mais
A criação deste blog em meados de 2011 foi bastante motivada pelo escabroso processo de desapropriações promulgadas pelo (des) governo de Sérgio Cabral em prol do conglomerado de empresas pré-operacionais do ex-bilionário Eike Batista. Durante o auge daquele rumoroso processo não faltaram cenas de agricultores sendo submetidos a situação constrangedoras nas mãos de policiais militares que davam apoioao aos oficiais de justiça encarregados de cumprir os mandados de imissão de posse (ver imagem abaixo de um desses casos).
Entretanto, as situações constrangedoras e prisões que ocorreram no período que marcou o auge das desapropriações não tiveram a mesma envergadura que marca a prisão dos agricultores Vilson e Vitor Almeida e do militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), David Wigg Mendonça. É que diferente do período, os três foram mantidos presos, mesmo após a finalização da reintegração de posse decidida pelo juiz Paulo Maurício Simão Filho da 1a. Vara Cível de São João da Barra.
Esseas prisões têm uma clara conotação política no sentido de intimidar e conter a revolta existente no V Distrito de São João da Barra contra os abusos cometidos contra centenas de famílias de agricultors pobres. Nesse sentido, temos a primeira instância de prisões políticas no âmbito desse processo inconcluso de tomada de terras para fins até agora meramente especulativos.
Chamo a atenção em particular para o caso do Sr. Vilson Almeida (imagem abaixo) que é o real proprietário da área que foi reintegrada no dia de ontem sob a força de numerosa guarnição militar e com a presença ostensiva de seguranças privados de empresa contratada pela atual controladora do Porto do Açu, a Prumo Logística Global. É que o Sr. Vilson Almeida é uma pessoa bastante respeitada pela comunidade, e sua prisão certamente aumentará o grau de inconformismo já existente em relação às desapropriações promovidas pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) para beneficiar inicialmente Eike Batista e agora o fundo de “private equity” EIG Global Partners.
Estas prisões foram tão emblemáticas que estão alcançando uma repercussão em nível nacional, o que não deixa de ser mais um ineditismo no conflito agrário que vem marcando a implantação do Porto do Açu [Aqui!, Aqui!, Aqui! e Aqui!].
Uma coisa que sempre me intriga é sobre como reagiriam empresas multinacionais, cujos sistema de governança corporativa vedam a interação com empreendimentos marcados pelo tipo de conflito social ocorrendo no Porto do Açu, se fossem convidados a vir investir neste empreendimento. Pelo pouco que sei dessa seara, simplesmente não viriam. Se isto for mesmo o caso, é provável que estas prisões políticas acabem se transformando num imenso tiro pela culatra por parte de quem as idealizou. A ver!
Blog do Pledlowski
Exército do Iêmen derrubou aeronave e 15 helicópteros da coalizão saudita
O vice-representante do exército do Iêmen, general de brigada Aziz Rashid, revelou à Sputnik os detalhes do incidente, durante o qual uma aeronave de reconhecimento da coalizão liderada pela Arábia Saudita foi derrubada nesta terça-feira.
© AFP 2017/ MOHAMMED HUWAIS
Segundo o general, "recentemente o exército conseguiu recuperar e tornar funcional um radar".
"Isso possibilitou a detecção eficiente do deslocamento da aviação da coalizão, mesmo em baixas altitudes, o que limitou de forma considerável as capacidades do inimigo. Foi um grande salto para o exército do Iêmen", comemorou o militar.
O general disse que a destruição da aeronave de reconhecimento da coalizão demonstrou a eficiência do funcionamento do sistema de radar. Ele acrescentou que esta não seria a primeira operação do tipo. Mais cedo, o exército iemenita já abateu 15 helicópteros inimigos em seu território. Desta vez, no entanto, a aeronave foi abatida em território da Arábia Saudita, explicou Aziz Rashid.
"Conseguimos ter acesso aos destroços da aeronave. Graças a isso obtivemos muita informação, coletada pela nave. São fotografias da disposição das forças militares no Iêmen, bem como um mapa de ataques planejados contra as nossas posições", revelou o general.