Quer guerra com a Coreia do Norte? Peça-a ao Congresso
por Daniel L. Davis [*]
Numa entrevista em meados de Outubro, um responsável não identificado do governo norte-coreano disse à CNN: "Antes que possamos iniciar conversações diplomáticas com a administração Trump queremos enviar uma mensagem clara de que a RDPC tem uma capacidade defensiva e ofensiva confiável para deter qualquer agressão dos Estados Unidos". Esta mensagem clara, disse o responsável, incluía dois passos. Primeiro a demonstração com êxito que possa alcançar a Costa Leste dos Estados Unidos. O segundo é uma detonação acima do solo.
O primeiro passo da "mensagem" da Coreia do Norte a Trump aparentemente foi cumprido com o teste de 29 de Novembro de um ICBM (o Hwasong-15 ). Aquele lançamento levou o conselheiro de segurança nacional H. R. McMaster a advertir que o risco de guerra estava "a aumentar dia a dia". O senador Lindsey Graham disse: "Estamos a aproximar-nos de um conflito militar" e que "estamos a esgotar o tempo" antes de uma guerra poder começar. (Uma semana antes, o senador explicara aquilo que pensava que dispararia uma guerra.) Se o limiar para a guerra é a confirmação de que a Coreia do Norte tem meramente a capacidade de atacar os Estados Unidos com uma arma nuclear – em oposição a um lançamento real ou iminente de uma tal arma – então um teste acima do solo poderia disparar a guerra. Kim Jong-un, entretanto, pode calcular que é necessário demonstrar esta capacidade para a sua sobrevivência. Responsáveis norte-coreanos acreditam que a fraqueza fatal de Saddam Hussein em 1991 e em 2003 foi não ter um dissuasor para impedir a invasão de forças dos EUA. Tivesse Saddam Hussein disposto de uma arma nuclear naquele tempo, ambos os ataques poderiam ter sido impedidos pela ameaça de ataques a forças estado-unidense ou da própria América. Kim pode raciocinar, assim, que deve demonstrar conclusivamente que tem tanto um míssil confiável como uma ogiva nuclear em funcionamento para impedir qualquer ataque dos EUA. Entretanto, se Trump ouvisse conselheiros falcões e ordenasse um ataque militar preventivo, ele pode incitar Pyongyang a utilizar uma das suas armas nucleares de alcance curto ou intermediário sobre o território dos EUA ou pessoal no exterior. É instrutivo recordar que em 1962, a maior parte dos líderes militares sénior da América aconselharam o presidente Kennedy a lançar um ataque militar preventivo antes de os mísseis soviéticos de longo alcance se tornarem operacionais – mas o que eles não sabiam naquele tempo era que a URSS já tinha mísseis nucleares plenamente operacionais que podiam ter devastado qualquer cidade no sul dos Estados Unidos. Se Kennedy tivesse então ouvido os falcões e aprovado o ataque preventivo, isto podia ter incitado Moscovo a trazer a guerra nuclear aos Estados Unidos continental, destruindo algumas cidades americanas como retaliação. Hoje, as agências de inteligência dos EUA não sabem quantos mísseis nucleares operacionais a Coreia do Norte já pode ter. Se o presidente Trump fosse ouvir os falcões e lançar ataques preventivos, a catástrofe nuclear evitada por Kennedy poderia agora ser lançada sobre cidadãos dos EUA. As apostas não poderiam ser mais altas – e uma guerra que pudesse impor perdas catastróficas à nação não pode ser deixada à decisão de uma única pessoa. O Congresso é o único corpo com poderes para declarar guerra. Portanto, é de suprema importância que o Congresso comece imediatamente a debater o assunto agora, enquanto ainda há tempo para considerar cuidadosamente qual o curso de acção a apoiar. O Congresso deve decidir o activador (trigger) para iniciar acção militar contra a Coreia do Norte. Será a mera posse de armas, ou deveríamos nós atacar apenas para evitar um ataque iminente? Qualquer análise custo-benefício mostra que a dissuasão funciona, de modo que deveríamos utilizar força militar só como um último recurso. O senador Graham e seus aliados acreditam que o custo de uma guerra preventiva é um preço que vale a pena pagar. Como explicado por Barry Posen no New York Times:
A possibilidade uma guerra contra a Coreia do Norte que pudesse transformar-se em nuclear é de tantas consequências que o Congresso não se atreve a abdicar da decisão para uma única pessoa. A América deve debater as duas opções políticas disponíveis. Por um lado, há a dissuasão e a diplomacia, baseada na nossa esmagadora superioridade convencional e nuclear. Por outro lado, a guerra preventiva, que seria catastrófica, custaria centenas de milhares de vidas humanas, prejudicaria seriamente a economia global e a nossa própria prosperidade, e mudaria a geopolítica para sempre – simplesmente para remover uma capacidade que de modo crível não será utilizada contra a Coreia do Sul, muito menos os Estados Unidos.
O povo deste país merece ouvir o presidente expor o seu caso publicamente e a seguir ter os seus representantes a debaterem abertamente a sabedoria de um tal curso de acção. Os americanos devem estar conscientes dos riscos que se lhes pede que assumam. Os custos potenciais da guerra nuclear são demasiado terríficos para serem impostos sobre um povo sem o seu consentimento.
19/Dezembro/2017
[*] Perito em Prioridades da Defesa e tenente-coronel do Exército dos EUA reformado em 2015 após 21 anos de serviço incluindo quatro deslocações em combate. O original encontra-se em nationalinterest.org/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
domingo, 31 de dezembro de 2017
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
Diante da mineração, qual a nossa teologia?
Diante da mineração, qual a nossa teologia?
No Seminário Ecoteologia e Mineração: espiritualidades, resistências e alternativas em defesa dos territórios, realizado pela Rede Igrejas e Mineração, no município de Mariana, MG, próximo à lama tóxica do crime continuado da VALE e Estado, dias 5, 6 e 7 de novembro de 2017, na Mesa de Diálogo “Mineração e Teologias em conflito: qual a nossa teologia?”, socializamos como pistas de reflexão e ação o que segue.
O estado de Minas Gerais se constitui de Minas e de Gerais. Na minha infância, há 50 anos, no noroeste de Minas Gerais, no meio de muitas águas, eu me sentia no meio de minas de água. No noroeste o inimigo n. 1 era o latifúndio e os latifundiários, atualmente é o agronegócio e o hidronegócio fomentado pelo Estado e pelo sistema do capital. No quadrilátero ferrífero e aquífero de Minas Gerais, no meio de carretas de minério e de uma infinidade de crateras de mineração, estamos nas minas de minério, onde o inimigo n. 1 são as grandes mineradoras, o Estado acumpliciado e o sistema do capital que continuam insistindo que “o que importa é exportar” minério e muitas outras commodities, dando continuidade ao processo de invasão e colonização iniciado em 1500, mas que se atualiza e se especializa cada vez mais nos dias atuais, produzindo, continuadamente, invasões e explorações, sepultamento de culturas, de pessoas e da natureza. Nesse contexto de injustiça socioambiental alarmante, a missão das Igrejas e das pessoas religiosas é desafiante.
A mineração golpeia os nossos povos, a mãe terra, a irmã água e todos os organismos vivos. No Brasil, em uma sociedade de classes antagônicas, há teologias antagônicas. A nossa teologia deve ser a partir dos injustiçados pela mineração. A mineração em grande porte é idolatria, é algo satânico, diabólico. É impossível ser pessoa seguidora de Jesus Cristo e de seu evangelho e ser, na prática, cúmplice das mineradoras.
No caso da destruição de Bento Rodrigues, há indícios de que as mineradoras Vale, BHP e Samarco estavam tramando comprar todas as casas dos moradores para no local ampliar a área de barragem de rejeitos. Quando as mineradoras e o Estado insistem em açambarcar territórios para ampliação da mineração é preciso recordar que toda reintegração de posse é uma desintegração de sonhos. Em uma sociedade desigual, com relações sociais de opressão não existe omissão, mas cumplicidade. Quem se omite se torna cúmplice dos opressores. Quem fica em cima do muro se abstendo de se comprometer com as causas e os destinos dos injustiçados, faz a pior opção, pois, na prática, fica do lado do opressor. Ações filantrópicas, ações de promoção humana e políticas de assistência social – algo típico dos moderados – criam uma fachada para o capitalismo como se houvesse algo de bom no capitalismo. A lógica e estruturação do capitalismo são competição, concorrência e acumulação de mais-valia, concentrando cada vez mais poder e riqueza em poucas mãos e marginalizando cada vez mais as classes trabalhadora e camponesa. Segundo István Mészáros, dois grupos são responsáveis pela reprodução do sistema do capital: a classe dominante e os moderados.
Devemos sempre cuidar da linguagem que utilizamos. Não há como fazer profecia com linguagem antiprofética e nem com prática antiprofética. Não podemos aceitar e nem navegar na linguagem das mineradoras e nem do sistema do capital. Temos que desconstruir as opressões da prática e as da linguagem das mineradoras e seus arautos. Por exemplo, não existe apenas conflito, mas violência, pois se fosse apenas conflito, dependendo do desfecho, poderia surgir algo positivo; as pessoas e os povos não são apenas atingidos, mas são violentados; os rios não estão secando, mas estão sendo secados. Não houve “crime de Mariana”, nem “crime de Bento Rodrigues”, não foi acidente, mas aconteceu crime hediondo/tragédia da mineradora VALE + Estado (3 poderes) + poder midiático – que sempre enaltece o crescimento econômico sem mostrar as desgraças socioambientais que gera); foi o maior crime ambiental da história; não aconteceu apenas dia 05 de novembro de 2015, mas continua acontecendo todos os dias há mais de 2 anos, já tendo mais de 50 pessoas mortas direta ou indiretamente por causa desse crime. Não obstante a barbárie das mortes, deparamo-nos com a destruição da história de um povo, da sua cultura, a destruição das histórias de vida, os conflitos familiares, a depressão, a amargura… Enfim, é latente a crueldade da lama tóxica que segue consumindo vidas e sonhos. O Estado não é apenas omisso, é também cúmplice.
Como integrante do Movimento Capão Xavier Vivo, logo após 2004, ano da Campanha da Fraternidade “Água, fonte de vida”, testemunhamos o julgamento de um Recurso de Agravo no TJMG que buscava impedir a Licença de Operação para a Mina Capão Xavier, da VALE, em Nova Lima, MG. Após um voto sensato do relator, que em nome dos princípios da cautela, e da prudência e em respeito ao art. 225 da Constituição Federal, defendia que a Mina Capão Xavier não podia iniciar a exploração do minério, os desembargadores, vogais 1 e 2, disseram que não entendiam nada de água e nem de minério. E que se o Governo de Minas tinha concedido o licenciamento ambiental, eles não tinham motivo para impedir a Licença de Operação da mina. Assim, por 2 x 1, o TJMG, na época, liberou o início da operação da Mina Capão Xavier. Seis anos depois, a Justiça Federal deu ganho de causa a uma Ação Popular que questionava a operação da Mina Capão Xavier, porque iria ferir de morte os 4 mananciais de abastecimento público de Capão Xavier, que abastecia 10% da população de Belo Horizonte. Mas era tarde demais! A mineradora Vale já tinha aberto uma cratera de quase 1 Km de diâmetro por 500 metros de profundidade. Esses julgamentos demonstram que juiz que pressupõe que o executivo é infalível e, por isso, não pode ser questionado, e justiça tardia consumam injustiças gritantes. Como dizia Rui Barbosa, “justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada”.
Por que ninguém do poder judiciário ainda não julgou e nem mandou prender os que mataram 20 pessoas dia 05 de novembro de 2017, no crime da mineradora Vale? Por que a caneta do judiciário pesa tanto contra o povo da periferia, sobretudo os pretos e pobres? Por que o Sistema de Justiça está mais preocupado em cadastrar e acusar pescadores acusando-os de crime de falsidade ideológica como vergonhosamente vem acontecendo em Governador Valadares e em outras regiões, em uma aparente defesa do patrimônio privado de quem causou, de fato, o pior crime da história da mineração?
Somente discurso não liberta, é necessário conviver com os injustiçados. Só teremos autoridade que inspira confiança, se convivermos com quem realmente padece nas mãos do poder opressor. Só ideias, por mais revolucionárias que sejam, não libertam; só conscientização também não. Para transformar para melhor, é necessário ação concreta que mude as condições objetivas e materiais. Medo e desânimo se combatem com lutas concretas. Quanto mais se luta mais coragem se adquire e menos medo se tem. A verdade que liberta é a palavra e a prática dos violentados que, agindo coletivamente, são capazes de enfrentar as mineradoras.
A lama tóxica do crime da mineradora VALE em Mariana e em todas as comunidades existentes ao longo da Bacia do ex-rio Doce e os golpeados continuam gritando por socorro. O ex-rio Doce se tornou metáfora de todos os rios que também estão sendo sacrificados no altar do deus mercado. Ação minerária é espada que apunhala a mãe terra. Pedir perdão ou as Samarco reiniciar sua operação em Mariana não resolve os graves problemas, nem faz diminuir os conflitos existentes. As Igrejas devem ser coerentes com o Evangelho de Jesus de Nazaré e não há outro caminho que não seja o da opção de luta com e pelos que são vítimas da ganância e da exploração das Mineradoras. Este clamor do povo, dos rios e da mãe terra tem que fazer parte de nossa teologia para que ela seja, de falto, uma ciência a partir da fé no Deus de Jesus Cristo, que não se calou diante das injustiças, mas foi preso político condenado à pena de morte mais cruel de sua época que era a morte de cruz.
Gilvander Luís Moreira, Minas Gerais
Assista também: “Depoimento de Marino no Seminário Ecoteologia e Mineração, em Mariana, de 06/11/2017.”https://www.youtube.com/watch?v=Ys_DEkRqDLk
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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
Um comboio descontrolado rumo à digitalização total da moeda e do trabalho
Um comboio descontrolado rumo à digitalização total da moeda e do trabalho
por Peter Koenig [*]
Há poucos dias estive num centro comercial à procura de uma máquina multibanco (ATM) para obter algum papel-moeda. Não havia multibanco. Uma semana antes ainda havia ali uma agência de um banco local – agora, desaparecera. O espaço vagado pelo banco fora substituído por um [café] Starbucks. Perguntei por ali – não havia mais caixas automáticas neste centro comercial – e este padrão está a repetir-se cada vez mais por toda a Suíça e Europa ocidental. As máquinas multibanco gradualmente desaparecem, não só dos centros comerciais como também das ruas. Será que a Suíça se tornará o primeiro país do mundo a ter moeda totalmente digital?
Este novo modelo de moeda sem numerário (cash) é progressiva mas brutalmente introduzido aos suíços e europeus – mas não lhes é contado o que está realmente a acontecer nos bastidores. Se dizem algo, é para contar à populaça que o pagamento se tornará muito mais fácil. Você simplesmente passa o seu cartão na máquina – e bingo. Não é preciso mais assinaturas, nem procurar mais por máquinas multibanco – a sua conta bancária é debitada directamente por qualquer quantia pequena ou grande que esteja a gastar. E naturalmente, de modo gradual, uma "pequena taxa" será cobrada pelos bancos. E você está impotente, pois uma alternativa com cash terá sido eliminada. O limite superior da quantia que pode gastar da sua conta bancária é estabelecido principalmente por si próprio, na medida em que não exceda a tolerância dos bancos. Mas a tolerância dos bancos é generosa. Se exceder o seu crédito, o saldo da sua conta silenciosamente desliza para o vermelho e no fim do mês você paga um juro substancial; ou juros sobre os juros não pagos – e assim por diante. E isso apesar de as taxas de juro interbancária estarem num nível historicamente baixo. O juro para bancos do Banco Central da Suíça, por exemplo, é até negativo – um dos poucos bancos centrais do mundo com juros negativos, os outros incluem o Japão e a Dinamarca. Quando recentemente conversei com o gerente de um banco de Genebra ele disse que está a ficar muito pior. "Já estamos a encerrar todas as máquinas multibanco, assim como a maior parte dos outros bancos". O que significa despedimentos de pessoal – o que naturalmente só aparece selectivamente no noticiário. Empregados de bancos e gerentes devem passar num exame da Comissão bancária suíça, para o qual eles têm de estudar centenas de horas extras em poucos meses para serem aprovados no teste – habitualmente planeado para fins-de-semana. Se você falhar estará fora, juntando-se às fileiras dos desempregados. A tendência é semelhante por toda a Europa. O gerente não revelou o assunto e a razão por trás deste "novo treino" – mas torna-se óbvio a partir da conversação que se seguiu que tinha tudo a ver com a ultrapassagem do povo pelos bancos através da eliminação do numerário. Estas são as minhas palavras, mas ele, um homem a par, estava tão preocupado como eu, se não mais. A vigilância é omnipresente. Agora, não só os nossos telefonemas e emails são espiados como as nossas contas bancárias também. E o que é pior é é que com uma economia sem numerário nossas contas estão vulneráveis a serem invadidas pelo estado, por ladrões, pela polícia, pela autoridade fiscal, por qualquer espécie de autoridade – e, naturalmente, pelos mesmos bancos em que você tem confiado durante toda a sua vida. Recorda-se dos "bail-ins" [1] testados pela primeira em Chipre em 2013? Bail-ins tornar-se-ão uma prática comum para qualquer banco que tiver abusado na sua cobiça pelo lucro e for à bancarrota, se for preciso todos aqueles depósitos dos clientes. Mesmo os accionistas não estão seguros. Isto foi decidido silenciosamente há uns dois anos atrás, tanto nos EUA como também pela máfia não eleita de colarinho banco, a Comissão Europeia (CE). O caso é "banks über alles" ("bancos acima de tudo"). E que país seria melhor adequado para introduzir a "vida sem numerário" senão a Suíça, o epicentro – juntamente com a Wall Street – da banca internacional? Os bancos darão as ordens no futuro, tanto na nossa economia pessoal como na do estado. Eles estão globalizados, seguem os mesmos princípios da desregulamentação à escala mundial. Eles estão em conluio com corporações globalizadas. Eles decidirão se você come ou será escravizado. Eles são uma das três armas principais dos 0,1% para bater os 99,9% até à submissão. As outras duas ao serviço do mestre hegemónico do impulso para a Dominação Total (Full Spectrum Dominance) são a guerra-indústria da segurança e a cada vez mais insolente máquina de propaganda da mentira. A desregulamentação bancária tornou-se outra pouco divulgada regra da Organização Mundial de Comércio (OMC). Países que queiram aderir à OMC devem desregulamentar seu sector bancário, mantendo-o aberto à intromissão dos tubarões da moeda globalizada, os conglomerados controlados pelo sionismo. A redução de pessoal no mercado do emprego bancário está a aumentar. As notícias só informam sobre isso selectivamente, quando grandes volumes de empregos estão a ser eliminados. As estatísticas mentem por toda parte, na UE assim como em Washington. Por que assustar as pessoas? Elas ficarão bastante assustadas quando lhes forem oferecidos empregos e salários com os quais mal poderão sobreviver. O que já está a acontecer. Costumava ser uma táctica aplicada a países em desenvolvimento. Mantê-los escravizados pela dívida e baixos pagamentos, de modo que não tivessem tempo e energia para ganhar as ruas para protestar – tinham de procurar comida e trabalho, quaisquer que fossem os empregos subalternos que pudessem obter, para alimentar suas famílias. Isto está agora a atingir a Europa, o Ocidente em geral. Alguns países avançam mais neste caminho do que a Suíça. Experiências sem numerário estão em curso em outros lugares, especialmente em países nórdicos, onde lojas de departamento seleccionadas e supermercados já não recebem cash. Uma outra experiência monstruoso foi executada na Índia um ano atrás [2] , no último trimestre de 2016, onde de um dia para o outro 80% das notas de papel-moeda mais populares foram eliminadas e só podiam ser trocadas por novas notas por banco e através de contas bancárias. E isto num país quase de puro cash, onde metade da população não tem conta bancária e onde áreas rurais remotas não têm bancos. O povo foi enganado para que a introdução súbita tivesse o máximo efeito. A operação provocou fome maciça e milhares de pessoas morreram, pois subitamente deixaram de ter cash aceitável para comprar comida – tudo isso instigado pelo Projecto "Catalyst" da USAID, em conivência com os governantes e o banco central indiano. Era uma experiência. Foi um desastre. Se funcionasse na Índia com 1,3 mil milhões de pessoas, dois terços das quais vive em áreas rurais e a maior parte delas não tem conta bancária, o golpe poderia ser aplicado a qualquer país em desenvolvimento. Ver tambémIndia – Crime of the Century – Financial Genocide O que está em curso na Suíça é uma experiência com o topo superior de populações. Como é que a classe privilegiada receberá mudanças tão radicais na nossa rotina monetária diária? – Até agora não têm sido noticiados muitos protestos. Há um fraco referendo lançado por um grupo de pessoas, as quais querem que o Banco Central da Suíça seja a única instituição que possa fazer moeda, como nos "velhos dias". Embora seja uma ideia muito respeitável, o referendo não tem possibilidade na banca dos dias de hoje e no ambiente de dívida financeira, onde a juventude está a ser doutrinada com a ideia de que passar um cartão em frente a um olho electrónico é excelente (cool). Hoje, a maior parte da moeda é feita por bancos privados, como algures na Europa e nos EUA. A desregulamentação bancária à escala mundial, iniciada pela administração Clinton na década de 1990 – hoje uma regra para qualquer membro da Organização Mundial de Comércio – tornou tudo isto possível. A digitalização e a robotização estão apenas a começar. Balcões de pagamento com pessoal em supermercados estão a minguar; a maior parte deles são automáticos – e isso aconteceu desde o ano passado. – Para onde foram os empregados? – Perguntei a uma assistente que ajudava os clientes no auto-pagamento. "Eles juntaram-se às fileiras dos desempregados", disse ela com uma cara triste, tendo perdido vários dos seus colegas. "Isto também me atingirá, tão logo eles não precisem mais de mim para mostrar aos clientes como efectuar o pagamento por si próprio". Bitcoins A digitalização também inclui as criptomoedas, as moedas blockchain em torno – das quais a mais famosa é a Bitcoin. Isto traz a digitalização da moeda a um clímax. O sistema é complexo e parece prestar-se só para "peritos". Criptomoedas são moeda fiduciária (fiat money) [3] , baseadas sobre o nada, nem mesmo sobre o ouro. As criptos são electrónicas, invisíveis e altamente, mas muito altamente especulativas, um convite para gangsters e autores de fraudes. Com valores especulativos extremos, aparentemente é como se as criptomoedas fossem concebidas para vigaristas e especuladores. A Bitcoin foi alegadamente inventada por Satoshi Nakamoto o qual poderia ser um pseudónimo de um homem ou um grupo de pessoas, que se suspeita viverem nos EUA. Acredita-se que a identidade de "Nakamoto" tenha origem na commonwealth [britânica], devido ao vocabulário utilizado nos seus escritos. Um dos seus associados próximos é aparentemente um codificador suíço, o qual é também membro activo da comunidade da criptomoeda. Diz-se que ele grafou o dispositivo para imprimir data e hora (time stamp) de mais de 500 intervenções de Nakamoto em fóruns. Tais "intervenções em fóruns" existem aos milhares, à escala mundial. Elas formam uma rede elaborada com base em algoritmos. O Bitcoin foi criado formalmente em Janeiro de 2009 com um montante fixo de 21 milhões de "moedas" ("coins"), das quais mais da metade já estão em circulação e um milhão, ou cerca de 4,75% (do total) podem ser rastreados a Nakamoto – o qual de acordo com o actual valor de mercado corresponde a cerca de US$15 mil milhões. No total de hoje a capitalização de mercado da Bitcoin é de mais de US$315 mil milhões. O mercado é altamente volátil. São comuns flutuações drásticas diárias, especialmente nos últimos 12 meses. Se um dos grandes possuidores de Bitcoin, como Nakamoto, capitalizasse o seu lucro vendendo uma grande porção dos seus haveres, o preço da Bitcoin estaria em queda livre, funcionando de modo quase semelhante ao mercado de acções regular. Em 24/Agosto/2010, quando a Bitcoin foi pela primeira vez transaccionada, o seu valor era de US$0,06. Em 24/Dezembro/2017, a moeda valia US$13.800, um aumento de 230.000%. Nos últimos doze meses, seu valor aumenta de cerca de US$800 em Dezembro/2016 para um pico próximo dos US$20 mil em Dezembro/2017, um aumento de aproximadamente 2.500%. Contudo, nos últimos sete dias, o preço caiu para US$5.160, isto é, em mais de 27%, e a tendência para ser de declínio; talvez um sinal de tomada rápida de lucro? Contudo, isto mostra quão instável é esta criptomoeda, aparentemente muito mais do que transaccionar acções corporativas na bolsa. O número de criptomoedas disponíveis na Internet em 27/Novembro/2017 estava acima dos 1300 e em crescimento. Uma nova criptomoeda pode ser criada a qualquer momento e por qualquer pessoa. Pela capitalização de mercado, a Bitcoin e actualmente a maior rede blockchain (rede de bases de dados, armazenagem de dados em diferentes lugares publicamente verificáveis), seguida pela Ethereum, Bitcoin Cash, Ripple e Litecoin. A Bitcoin pode ser a próxima bolha, deitando abaixo uma economia paralela que já tem os seus dedos fincados na nossa economia ocidental regular. As criptomoedas estão oficialmente proibidas na Rússia e na China, embora travar operações de criptomoeda por parte de indivíduos dificilmente seja possível. Elas não tocam o sistema bancário tradicional. Esta é a razão porque os grandes bancos as odeiam. Elas contornam os mamões (suckers) bancários, impedindo-os de fazerem lucros ainda mais altos a partir de comissões horrendas, contra as quais as pessoas como um todo são impotentes. Aqui está o valor positivo da Bitcoin. Ela escapa a controles da banca e do estado. Se economias de países fossem movimentadas com Bitcoins ou outra criptomoeda, elas escapariam a sanções dos EUA, as quais funcionam só porque divisas ocidentais são filhas adoptivas do US dólar, sujeitas portanto à hegemonia do dólar; o que significa que todas as transacções internacionais têm de passar através de um banco dos EUA. Um caso típico é o de "bloqueios bancários", quando Washington decide travar todas as transacções internacionais de um país até que ele se submeta às vontades do império. Trata-se de chantagem; totalmente ilegal, mas, a menos que haja uma alternativa monetária, o mundo (ocidental) está sujeito a este sistema. Um caso típico foi a Argentina, quando em Junho/2014 ela foi forçada por um juiz de Nova York a pagar a um Fundo Abutre com sede ali a quantia de US$1,6 mil milhões, uma sentença ilegal segundo uma resolução da ONU. A Argentina recusou-se a pagar, de modo que o juiz, interferindo numa nação soberana, bloqueou mais de US$500 milhões no pagamento da dívida da Argentina a credores, levando a Argentina à beira de uma segunda bancarrota em 13 anos. Finalmente, o neoliberal Macri negociou com os Abutres um acordo para o pagamento em excesso de US$400 milhões. Esta chantagem estado-unidense não teria sido possível se a Argentina tivesse sido capaz de fazer suas transacções externas em Bitcoins ou outra criptomoeda. A Venezuela está actualmente a utilizar uma criptomoeda nacional para algumas das suas transacções externas, escapando dessa forma ao estrangulamento das sanções de Washington. Tivessem cidadãos gregos e cipriotas tido uma criptomoeda alternativa ao euro, não teriam sido sujeitos ao controle de cash imposto pelo Banco Central Europeu. Por outro lado, o financiamento de organizações terroristas, como o ISIS, não pode ser interrompido, se o grupo terrorista negociar em criptomoeda. – Isto mostra, para o bem e para o mal, que Bitcoins, ou criptomoedas são por agora únicas na resistência à censura e à chantagem, ou a qualquer espécie de interferência autoritária externa em transacções monetárias electrónicas. Viver sem numerário Se a Suíça – um país onde até há pouco tempo a maior parte da pessoas ia pagar suas contas mensais em cash na agência de correio mais próxima – aceitar a mudança para a moeda digital, então nós, no mundo ocidental, estamos numa rota rápida para a escravização total pelas instituições financeiras. Isto vai a par, naturalmente, com o resto do sistemático e cada vez mais rápido avanço da opressão e robotização dos 99,9% pelos 0,1%. Estamos actualmente em encruzilhadas, onde ainda podemos tanto decidir seguir o discurso de uma nova era monetária electrónica, com cada vez menos a dizer acerca do produto do nosso trabalho, nossa moeda; ou, Nós o Povo, resistiremos a um sistema bancário/financeiro que tem pleno controle sobre nossos recursos financeiros e que pode literalmente esfaimar-nos até à submissão ou a morte, se não nos comportarmos. A fim de resistir precisamos de um sistema monetário alternativo ou uma rede monetária, afastada da hegemonia do euro-dólar. Ainda mais importante é a ascensão de uma outra economia, de outro esquema de pagamentos e transferência que já existe no Oriente, o Chinese International Payment System (CIPS), de facto um substituto do SWIFT, que é totalmente privado e ligado ao US dólar e a bancos dos EUA. O mundo precisa de uma economia multipolar, baseada no produto real de um país ou sociedade, como é o caso na China e na Rússia, não um sistema baseado na moeda fiduciária como é a actual economia ocidental. Será que a Suíça, a fortaleza da finança mundial, juntamente com Nova York, Londres e Hong Kong, resistirá à tentação do aumento de lucro, poder e controle oferecido pela moeda digital? – Nós, o Povo, ainda temos a possibilidade de decidir ou por continuar a apodrecer numa economia da fraude, baseada em guerras e cobiça – para a moeda digital, exacerbada pelas criptomoedas, é uma nova ferramenta para uma nova fonte de maximização de lucros nas costas do povo comum; ou optarmos por um futuro honesto e por uma vida que nos deixe livre para tomarmos decisões políticas e financeiras numa sociedade plena de cash. Para esta última alternativa devemos acordar para ver a propaganda da fraude a desenrolar-se perante os nossos olhos – e resistir ao ataque dos robots e moeda electrónica que está a ser desencadeado sobre nós.
26/Dezembro/2017
[*] Economista NR [1] Sobre o bail-in em Chipre ver: Pensa que o seu dinheiro está seguro numa conta bancária? Pense bem. , Alto risco no sistema financeiro , Crise: algumas perguntas e respostas , O comboio do Euro descarrila , Acerca das taxas de rendimento negativas [2] Acerca da brutal desmonetização efectuada na Índia ver: Desmonetização e taxas de empréstimos bancárias , A desmonetização de notas de dinheiro , Taxas de juro e utilização de papel-moeda , A desmonetização e a questão da inflação [3] Parece discutível classificar a Bitcoin como moeda fiduciária. Esta, por definição, não tem limite máximo de emissão e a Bitcoin tem um limite máximo inscrito no seu próprio algoritmo. O original encontra-se em thesaker.is/runaway-train-towards-full-digitization-of-money-and-labor/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
As novas sanções à Coreia do Norte
As novas sanções à Coreia do Norte
– ONU continua a reboque do governo estado-unidense
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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
Catalunha: a saída é a República Popular
A direita espanhola insistiu durante a campanha eleitoral na necessidade de que os catalães votassem massivamente para barrar o independentismo. E assim o fizeram, com uma participação histórica de 81,94% do eleitorado. O resultado deu uma maioria absoluta dos assentos (70) às forças independentistas, apesar de seu percentual de votos (47,49%) ter sido menor que o dos partidos contrários à independência. Destaca-se aí o enfraquecimento do partido de esquerda CUP (Candidatura de Unidad Popular), que passou de dez para quatro deputados, consequência de se achar um revolucionário bolchevique quando não se passa de um pequeno burguês radicalizado. Ao final, explodem as contradições, a farsa é descoberta e o custo político é notável.
As eleições demonstraram que o nacionalismo catalão é sólido e está fortemente arraigado em setores muito amplos da sociedade catalã. A demonização do independentismo difundida pelos meios de comunicação da oligarquia é radicalmente falsa. O nacionalismo catalão tem profundas raízes históricas. Os escritores e jornalistas espanhóis deveriam ler, para melhor se informar, alguns livros de história da Espanha e da Catalunha, mas seria pedir demais que os profissionais da mentira e do ódio reflitam sobre esse tema.
Não somos partidários da independência da Catalunha, mas defendemos o direito à autodeterminação. Denunciamos as manipulações grosseiras sobre a questão catalã difundidas pela maior parte dos jornais, TVs e rádios. O tratamento da mídia sobre a Catalunha tem assumido caracteres claramente fascistas.
O Partido Popular passou a ser uma força quase marginal na Catalunha. A prisão de dirigentes independentistas e a aplicação do artigo 155 (que dá ao governo poder de intervir nas regiões autônomas do país) foram absolutamente contraproducentes, como prova o resultado eleitoral. Em consequência, os populares(PP) pagaram nas urnas por sua miserável atitude repressiva e por suas mentiras. Esta débâcle afetaram sem dúvida o futuro político do primeiro-ministro Rajoy.
Ao contrário, os Ciudadanos obtiveram um ressonante triunfo eleitoral. Um discurso que unificava o catalanismo, o espanholismo e o europeísmo, somado a uma boa dose de habilidade política por parte de Inés Arrimadas, deram ao Ciudadanos mais de um milhão de votos. que ninguém se engane. Sobre o rosto amável e aparentemente sensato de alguns de seu dirigentes, flui o discurso reacionário da direita espanhola, de uma oligarquia que aposta claramente por um solução de substituição diante do desgaste do PP. Muitos desses votos provém de setores populares, que não estão com o processo soberanista, mas não encontram uma alternativa de esquerda. Quando isso acontece, quando falta uma referência de classe, a demagogia de uma direita fascitizada abre caminho entre os trabalhadores.
O reformista PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) se estanca eleitoralmente e suas expectativas de crescimento se frustraram, algo lógico quando se apoia o artigo 155 ao mesmo tempo em que se critica Rajoy. A quadratura do círculo tampouco existe na política.
Em relação ao Podemos e seus aliados, retrocederam ligeiramente em relação às eleições de 2015. Em que pese suas ambiguidades e piruetas políticas, não sofreram um castigo eleitoral importante, mas é certo que a ilusão que o partido despertou nas pessoas começa a diluir-se.
Diante desses resultados, um governo minimamente democrático deveria pôr em liberdade os presos políticos catalães, suspender o artigo 155 imediatamente e iniciar negociações para realizar um referendo sobre a autodeterminação. Entretanto, a monarquia e a Constituição de 1978 são o maior obstáculo para que o povo catalão possa exercer seu direito de decidir. As leis e a Constituição da oligarquia oprimem as classes populares da Espanha, sufocam os direitos civis mais elementares e geram empobrecimento e precariedade. É urgente organizar uma alternativa de classe, uma alternativa de esquerda, para superar esse regime corrupto e despótico. Devemos frear a ofensiva ideológica lançada pela oligarquia par enfrentar aos trabalhadores espanhóis com os trabalhadores catalães, alimentando os piores sentimentos chauvinistas.
A direita afirma que na democracia todas as opções são possíveis se se expressam pacificamente. Não é verdade. No atual marco jurídico e constitucional não se pode celebrar um referendo de autodeterminação, nem tampouco estabelecer um Estado laico e a separação entre os poderes. A oligarquia dita as regras do jogo e as modifica aos seus caprichos.
As forças independentistas devem tirar lições políticas do que aconteceu durante o processo soberanista. Empenhar-se em repetir a experiência só provocará uma expansão do espanholismo fascista. A única saída é formar um bloco popular com o objetivo fundamental de proclamar a República Popular e Federal.
Fazemos um chamamento a todas as forças políticas de esquerda para construir a unidade em torno de um programa que tenha como eixo central a ruptura política com a monarquia, e propomos trabalhar unidos na organização de uma consulta popular para decidir entre a monarquia e a República.
Partido Comunista da Espanha (marxista-leninista)
Madri, 21 de dezembro de 2017
F2 : A Verdade
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