terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Poderiam os micróbios anaeróbicos sobreviver na rarefeita atmosfera de Marte?

Poderiam os micróbios anaeróbicos sobreviver na rarefeita atmosfera de Marte?

http://www.eso.org/public/images/eso1509a/
Esta concepção artística mostra como Marte poderia ter sido há quatro bilhões de anos atrás. O jovem planeta poderia ter tido água suficiente para cobrir toda a sua superfície com uma camada liquida de cerca de 140 metros de profundidade, mas o mais provável é que o liquido se tenha juntado para formar um oceano que ocuparia quase metade do hemisfério norte de Marte, onde algumas zonas teriam atingido uma profundidade de mais de 1,6 quilômetros. Créditos: ESO/M. Kornmesser
Um novo estudo sugeriu que os micróbios, os organismos classificados como os mais simples e antigos da Terra, podem eventualmente sobreviver ao ar extremamente rarefeito de Marte.
A superfície de Marte é atualmente fria e seca, mas há uma abundância de evidências que sugerem que rios, lagos e mares já cobriram o Planeta Vermelho há bilhões de anos. Como a vida existe virtualmente onde quer que haja água líquida aqui na Terra, os cientistas sugeriram que a vida pode ter evoluído em Marte quando este era mais molhado e que a vida poderia ainda existir até mesmo na atualidade.
Rebecca Mickol, astrobióloga do Centro de Ciências Espaciais e Planetárias da Universidade do Arkansas em Fayetteville, autora principal do estudo, declarou:
Dos ambientes que encontramos aqui na Terra, existem determinados tipos de micro-organismo em quase todos. É difícil acreditar que não existam outros organismos lá fora em outros planetas ou até em luas.
Rebecca Mickol e seu time divulgaram as suas conclusões no artigo intitulado “Low Pressure Tolerance by Methanogens in an Aqueous Environment: Implications for Subsurface Life on Mars“, publicado na revista científica Origins of Life and Evolution of Biospheres.
https://astrobiology.nasa.gov/news/microbes-could-survive-thin-air-of-mars/
As estudantes Rebecca Mickol e Navita Sinha se preparam para inserir metanógenos na câmara Pegasus localizada o Laboratório W. M. Keck. Crédito: Universidade do Arkansas
Pesquisas predecessoras haviam detectado metano (CH4), que é a molécula orgânica mais simples, na atmosfera marciana. Embora haja outras maneiras abióticas de se produzir metano, como através da via atividade vulcânica, uma grande parte deste gás incolor, inodoro e inflamável presente na atmosfera da Terra é produzido pela existência da vida, por exemplo, pelo gado quando digere alimentos.
Rebecca Mickol declarou:
Um dos momentos mais excitantes, para mim, foi a detecção de metano na atmosfera marciana. Na Terra, a maioria do metano é produzido biologicamente por organismos que viveram no passado ou do presente. O mesmo pode ser verdade para Marte. Claro, existem uma pletora de alternativas possíveis para a existência do metano marciano e sua presença ainda é considerada controverso. Mas isso só aumenta a ansiedade por entender o contexto.
Na Terra, os micróbios conhecidos como metanógenos produzem metano, também conhecido como gás natural. Os metanógenos vivem tipicamente em pântanos, mas também podem ser encontrados nas entranhas dos bovinos, térmitas e outros herbívoros, bem como em matéria orgânica morta e em decomposição.
Os metanógenos estão entre os organismos mais simples e mais antigos da Terra. Estes micro-organismos são anaeróbios, isto é, não respiram oxigênio. Por outro lado, muitas vezes dependem de hidrogênio para energia e o dióxido de carbono é a fonte principal dos átomos de carbono que usam para criar moléculas orgânicas.
O fato dos metanógenos não necessitarem de oxigênio nem da fotossíntese significa que podem viver logo abaixo da superfície marciana, protegidos dos letais níveis de radiação ultravioleta na superfície Planeta Vermelho. Isto pode torná-los candidatos ideais para a vida em Marte.
Entretanto, a área mesmo logo abaixo da superfície de Marte está exposta a pressões atmosféricas extremamente baixas, normalmente consideradas inóspitas para a vida. A pressão sobre a superfície de Marte, em média e ao longo do ano marciano, varia de um centésimo a um milésimo da pressão da Terra, demasiadamente baixa para sustentar a água no estado líquido sobre a superfície. Neste ar tão rarefeito, a água ferve facilmente (em contraste, a pressão no ponto mais alto da superfície terrestre, o topo do Monte Evereste, é cerca de um-terço da pressão da Terra ao nível do mar).
https://astrobiology.nasa.gov/news/microbes-could-survive-thin-air-of-mars/
Os metanógenos contidos nestes tubos de ensaio, que também continham nutrientes para crescimento, areia e água, sobreviveram quando sujeitos a ciclos de esfriamento e aquecimento nos padrões marcianos. Crédito: Rebecca Mickol
Para saber se os metanógenos poderiam sobreviver a um ar extremamente rarefeito, Mickol e Timothy Kral (autor sênior do estudo e astrobiólogo da Universidade do Arkansas em Fayetteville) realizaram experiências com quatro espécies de metanógenos.
Os cientistas incluíram:
  1. Methanothermobacter wolfeii;
  2. Methanosarcina barkeri;
  3. Methanobacterium formicicum;
  4. Methanococcus maripaludis.
As experiências anteriores com base nestas quatro espécies, ao longo de mais de 20 anos, geraram uma grande quantidade de dados sobre estes organismos e sobre as suas taxas de sobrevivência em condições marcianas simuladas.
O conjunto mais recente de experiências, que levou cerca de um ano, envolveu o crescimento de micróbios em tubos de ensaio dentro de líquidos que serviam como representações dos fluídos potencialmente correndo em aquíferos marcianos subterrâneos. Os micróbios foram alimentados com gás hidrogênio e os líquidos foram cobertos com chumaços de algodão, por sua vez cobertos com solo que simulava o que pode ser encontrado à superfície de Marte. Os interiores de cada tubo de ensaio foram então submetidos a baixas pressões.
O oxigênio mata estes metanógenos e a manutenção de um ambiente livre deste elemento químico e sob baixa pressão “foi uma tarefa difícil,” comentou Mickol. Além disso, a água evapora rapidamente a baixa pressão, o que pode limitar o tempo de duração das experiências e também obstruir o sistema de vácuo.
Apesar destes problemas, os investigadores descobriram que todos estes metanógenos sobreviveram a exposições que variaram entre 3 e 21 dias e a pressões idênticas a seis milésimos da pressão à superfície da Terra.
Rebecca Mickol explicou:
Estas experiências mostram que, para algumas espécies, a baixa pressão pode não ter qualquer efeito na sobrevivência do organismo.
Os cientistas também estão medindo o metano para ver se os metanógenos crescem ativamente sob baixa pressão e se efetivamente produzem metano.
Rebecca Mickol adicionou:
O próximo passo é também incluir a temperatura. Marte é muito, muito frio, regularmente descendo abaixo dos -100º C durante a noite e, por vezes, ao meio-dia do dia mais quente do ano, a temperatura pode subir acima da temperatura de congelamento. Nós realizamos as nossas experiências a uma temperatura logo acima da do congelamento, mas a fria temperatura limitaria a evaporação dos meios líquidos e criaria um ambiente mais semelhante a Marte.
Mickol destacou que estas experiências não efetivamente provam que a vida existe em outros planetas:
Dito isto, com a abundância de vida na Terra, em todos os diferentes ambientes extremos aqui encontrados, é bem possível que exista vida, bactérias ou micro-organismos minúsculos, em algum outro lugar do Universo. Estamos apenas a tentar explorar essa ideia.

Fonte


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Filipe Diniz / Janeiro de 1937

Janeiro de 1937*

 Filipe Diniz     29.Ene.17     Colaboradores
No mês de Janeiro de 1937 concentraram-se decisões de vários países europeus e dos EUA que isolaram a Espanha republicana. Apenas lhe restou a longínqua URSS e a solidariedade internacionalista dos povos. A burguesia “democrática” traiu um povo em armas, cedeu perante a ameaça nazi-fascista, e capitularia pouco depois em Munique.

Há 80 anos a Guerra Civil de Espanha entrava num período decisivo. A sublevação franquista concentrava a ofensiva em Madrid. Dispunha de fortíssimo apoio militar da Alemanha nazi e da Itália fascista.
E que faziam nesse mês outros países? Eis algumas efemérides:
2 de Janeiro – a Grã-Bretanha e a Itália assinam um «acordo de cavalheiros» assegurando o mútuo respeito pelos direitos e interesses respectivos no Mediterrâneo e pela «independência e integridade» da Espanha.
8 de Janeiro – Roosevelt assina uma adenda ao Neutrality Act embargando o envio de armas para Espanha. Integra-se na linha do «pacto de não-intervenção» entre França e Inglaterra, que impede o governo republicano de lhes comprar armas. Desde 1936 que grandes empresas dos EUA forneciam aos franquistas viaturas e combustíveis em condições altamente favoráveis.
11 de Janeiro – os EUA invalidam todos os passaportes para Espanha. O Batalhão Lincoln, integrado nas Brigadas Internacionais, tivera já uma destacada intervenção na defesa de Madrid.
14 de Janeiro – o nazi Herman Göering reúne-se em Roma com Mussolini e Ciano para discutir a Guerra Civil em Espanha. Em Fevereiro desse ano as milícias fascistas italianas em Espanha (Corpo di Truppe Volontarie, CTV) têm 48 mil efectivos, quatro mil veículos, 542 canhões, 248 aviões.
21 de Janeiro – a França embarga o envio de armas e de voluntários para Espanha. No ano anterior, mais de 50 por cento da produção soviética de armamento fora enviada para Espanha.
31 de Janeiro – o Batalhão Dimitrov junta-se à XV Brigada Internacional.
Em muito lado, nos dias de hoje, boas almas se alarmam com a ameaça da extrema-direita e do fascismo. Em alguns casos já não se trata de simples ameaça. Mas muitas dessas boas almas conduzem uma linha de criminalização e repressão anticomunista, patrocinam políticas que fazem tábua rasa dos direitos dos trabalhadores e dos povos, empreendem ou participam em agressões militares contra países soberanos para desalojar governos que lhes desagradam.
A lição de Janeiro de 1937 é inteiramente actual. Não é na burguesia mas no movimento operário e popular que residem as forças determinantes para combater o fascismo. Foi assim no passado. É assim nos dias de hoje.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2252, 26.01.2017

domingo, 29 de janeiro de 2017

Nadine Borges / Atuação das Forças Armadas em presídios apaga incêndio com gasolina

Atuação das Forças Armadas em presídios apaga incêndio com gasolina


por Nadine Borges [*]
Foto Agência Brasil.A recente decisão do Governo Temer de destacar as Forças Armadas (FFAA) para atuar nos presídios não é apenas inconstitucional, é apagar incêndio com gasolina que por sinal já está custando quase R$ 5 [€1,48] o litro. A competência das FFAA serve para a defesa da pátria e para a garantia dos poderes constitucionais. O exército serve para manutenção da lei e da ordem e não para fazer varredura em presídios procurando celulares e armas. Isso, a polícia é competente para fazer com um detector de metais e uma capacitação mínima. Não é razoável a polícia militar retirar os presos das celas e deslocá-los internamente, para que o Exército entre nas celas vazias, e passe um pente fino procurando instrumentos cortantes, armas, telefones celulares…

Trata-se de mais um tapar o sol com peneira do governo ilegítimo de Michel Temer, nada além disso. O Governo anunciou o repasse de R$ 150 milhões [€ 44,3 milhões] para instalar bloqueadores de celulares e R$ 80 milhões [€23,6 milhões] para aparelhos de raio-X. Seremos todos sacrificados com o congelamento de gastos na saúde e educação nos próximos 20 anos, mas o Governo já repassou R$ 1,2 mil milhões [€354,4 milhões] para construir novos presídios. Estamos diante de uma repetição histórica conhecida: o caos fabricado (nas prisões entre facções) e um exército de salvadores para fingir que o problema será solucionado gastando mais dinheiro público, inclusive em prisões terceirizadas. Foi exatamente assim durante a ditadura militar e nada disso resolveu o problema da violência e do tráfico.

A lógica de encarcerar pessoas até hoje não resolveu nada, pelo contrário, já temos quase 700 mil presos (maioria pobre, negra e jovem). Mais de 40% cumprindo prisão provisória, sem julgamento. Em outros países esse número não ultrapassa 10%. No Brasil prender gente, construir e privatizar presídio dá dinheiro e, por isso, somos a 4ª maior população carcerária do mundo. Daí vem o presidente Temer dizer, após o massacre no presídio de Manaus, que não houve responsabilidade objetiva dos agentes estatais porque o presídio é terceirizado.

O recado está dado: quem não aceitar as condições sub-humanas de aposentadoria com 50 anos no mínimo de contribuição, não ficar quietinho pagando quase R$ 5 [€1,48] para uma passagem de metrô, ficará sem emprego. E quem fica sem emprego, se for jovem, negro e pobre, será preso ou morto pelo tráfico e pela polícia, dentro ou fora das prisões.

Estamos em uma encruzilhada: o Governo vende um Plano de Segurança que é mais do mesmo, sem novidades para enfrentar o poder paralelo das facções dentro e fora dos presídios. A pergunta é: Quem manda nessas facções? A quem interessa não resolver o tráfico de armas e drogas fora das prisões, nas fronteiras, portos, aeroportos, ferrovias e rodovias? Porque não se investigam as movimentações bancárias?

É impossível não pensar em um acordo tácito das facções com o Poder Público, um poder formado por governadores, juízes, senadores que convivem harmoniosamente com o empresariado em seus jatinhos particulares[1] tomando vinhos e uísques caros em suas casas no Leblon e na Lagoa [2] .

Esse acordo não pode falhar, as facções criminosas exercem um poder territorial para fazer as vezes do Estado com a permissão dos governantes e dos empresários. O Governo dará tudo que pode para a iniciativa privada, a exemplo do que fez com alguns presídios. Depois, o próprio governo, transferirá verbas de fundos nacionais (compostas pelo suor dos trabalhadores) às prisões privatizadas ou não, tudo isso mediante propostas de emendas à constituição, as famosas PECs [3] . E assim será, as pessoas estarão sujeitas a um modelo maquiado pelas FFAA, as facções seguirão pagando pedágio [4] em troca de controle de território e as pessoas que acordam às 5h da manhã e desembarcam na [ferrovia] Central do Brasil continuarão acreditando que o melhor a ser feito é não questionar o modelo, sob pena de servir de modelo nas prisões. 
23/Janeiro/2017

[1] Há poucos dias morreu um ministro do Supremo Tribunal Federal num acidente com um jacto privado de um capitalista seu amigo.
[2] Bairros ricos no Rio de Janeiro.
[3] Proposta de Emenda Constitucional.
[4] Portagem. 


Ver também:
  • Governo quer omitir toda crítica ao sistema penitenciário, diz ex-membro do Conselho
  • "O Judiciário vem se consolidando como uma ilha conservadora", diz professora da Universidade de Brasília

    [*] Advogada, mestre e ex-presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro . Atualmente é coordenadora de relações externas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    O original encontra-se em www.brasildefato.com.br/... 


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • sábado, 28 de janeiro de 2017

    António Santos / Apocalipse: RTP (Stáline?!)

    Apocalipse: RTP

     António Santos     26.Ene.17     Outros autores
    Recentemente, explodiu nas televisões americanas um novo tipo de «documentário» a que chamam docufiction. Ficção apresentada como se abordasse uma realidade factual. É o caso da série da RTP dedicada a Stáline. Uma fraude documental com um objectivo ideológico preciso, no ano em que se celebra o centenário da Revolução de Outubro. A RTP, paga por todos nós, dá tempo de antena a propaganda que os nazis não desdenhariam.

    Acabo de assistir a «O Demónio», o primeiro episódio da mini-série «Apocalipse: Estaline». Durante uma hora, Isabelle Clarke dedica o seu «documentário» a convencer-nos de que Estaline foi o que o título diz: um demónio. Veja-se: «Lénine e um punhado de homens lançaram a Rússia no caos. (…) Como os cavaleiros do Apocalipse, os bolcheviques semeiam morte e destruição para se manterem no poder. Continuarão durante 20 anos, até os alemães chegarem às portas de Moscovo». Estaline surge como um «louco», «sexualmente insaciável» e com uma «mentalidade próxima dos tiranos do Médio Oriente» [sic] que só Hitler pode parar. Num frenesim anacrónico, o espectador é levado de «facto» em «facto» sem direito a perguntas nem a explicações. Para trás e para a frente, dos anos quarenta para o final do século XIX, de 10 milhões de mortos na guerra civil russa para 5 milhões de mortos no «holodomor: a fome organizada por Estaline», o puzzle está feito para ser impossível de montar. Ao narrador basta descrever o que, a julgar pelas imagens de arquivo, é aparentemente indesmentível: «os camponeses ucranianos, vítimas das fomes estalinistas abençoam os invasores alemães. Mais tarde serão enforcados pelos estalinistas. A conjugação das imagens de arquivo colorizadas é tão brutal e convincente que somos tentados a concordar com as palavras do narrador: «Estaline declarou guerra ao seu próprio povo». São os «factos alternativos» de Trump aplicados à História.
    Só há dois problemas. Primeiro: Isabelle Clarke, a autora, admite que «Apocalipse: Estaline» não é História nem tem pretensões de querer sê-lo. Vou repetir, a autora admite que aquilo que fez não tem nada a ver com História. Podia terminar aqui. Mas, em segundo lugar, será que a RTP, canal público pago por todos nós para cumprir a missão de educar e informar, sabia que estava a comprar ficção em vez de História?
    Claramente a História, enquanto ciência social, passe a inelutável normatividade a que estamos presos, é incompatível com a calúnia e a propaganda ou, numa palavra, a demonização. «Apocalipse: Estaline - O Demónio» não disfarça a demonização, disfarça a ficção.
    Então, o que é «Apocalipse, Estaline»? Recentemente, explodiu nas televisões americanas um novo tipo de «documentário» a que chamam docufiction. Exemplos recentes são «Sereias: o cadáver encontrado» ou «Megalodon, o tubarão monstro vive». Em ambos, o documentário da Discovery Channel dá a palavra a cientistas, investigadores, professores e biólogos que explicam a descoberta científica de sereias, no primeiro caso e de um tubarão jurássico, no segundo. Durante uma hora, o espectador assiste a filmagens convincentes dos míticos criptídos e ouve especialistas, identificados como tal, debater as possíveis explicações para as descobertas serôdias. No final, em letra de efeitos secundários de bula de medicamento, admite-se, para quem ainda estiver a ver, que era tudo a fingir: os especialistas eram actores, as imagens eram fabricadas. «Apocalipse, Estaline» faz algo parecido: no final ficamos a saber a que «historiadores» foi beber inspiração: a romancista Svetlana Alexievitch, uma versão actualizada de Alexander Soljenitsyne; Robert Service, o mais proselitista e criticado dos historiadores-pop contemporâneos ou Pierre Rigoulot, um ex-trotskista transformado em neocon apoiante de Bush e fã confesso da guerra do Iraque. Trata-se contudo de menções honrosas e agradecimentos. Mas de onde vêm as citações? Onde foi buscar os números? Quais são as fontes? Raquel Varela coraria de vergonha alheia.
    Não se trata de admirar ou condenar Estaline, trata-se de não sermos tomados por parvos. «Apocalipse: Estaline» não é ficção nem História: é uma falsificação estupidificante e tóxica para o público. Como os novos «documentários» sobre sereias e tubarões jurássicos, que confundem ciência com ficção, a RTP acabou de confundir História com propaganda nazi.
    Este texto encontra-se em: http://manifesto74.blogspot.pt/2017/01/apocalipse-rtp.html#more
                    

    sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

    Denise Gentil / "É o próprio governo que provoca o déficit da Previdência", alerta economista

    Direito à Aposentadoria

    "É o próprio governo que provoca o déficit da Previdência", alerta economista

    por Mariana Haubert — publicado 27/01/2017 17h14
    Ao não cobrar sonegadores e conceder renúncias fiscais, a União alimenta o problema que diz combater, avalia Denise Gentil, da UFRJ
    Sérgio Amaral
    Denise Gentil
    "Essa reforma tem um conteúdo privatizante muito forte", avalia a economista Denise Gentil, da UFRJ


    De Brasília
    reforma da Previdência proposta por Michel Temer no fim de 2016 tem como objetivo oculto privatizar o setor. Essa é a avaliação da economista Denise Gentil, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
    Na avaliação dela, as exigências impostas aos trabalhadores são tão altas e as perspectivas de obter uma boa aposentadoria, com valor integral, foram reduzidas a tal ponto que estimularão a busca por fundos de previdência privada complementar.
    A economista alerta, ainda, para o esvaziamento da própria Previdência pública, uma vez que, ao não vislumbrar o acesso a um benefício digno ao fim da vida, muitas pessoas podem acabar optando por não contribuir ao longo dos anos.
    Em entrevista à CartaCapital, a professora explica que a reforma alterará o caráter da Seguridade Social passando a uma visão financeira do setor. Segundo ela, entre janeiro e outubro de 2016, os bancos venderam 21% a mais de planos nos fundos privados.
    Denise participou do seminário “Em defesa do direito à aposentadoria para todos”, realizado pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e Associação Nacional dos Participantes de Fundo de Pensão (Anapar), em Brasília, na sexta-feira 27, com a presença de centrais sindicais e outras entidades representativas.
    Confira, abaixo, a íntegra da entrevista:
    CartaCapital: A reforma da Previdência acabará, de acordo com a senhora, por pressionar o trabalhador a buscar outras alternativas de renda para garantir uma velhice tranquila. Por isso que a reforma induz a uma privatização do setor?Denise Gentil: Quando o governo anuncia uma reforma que vai exigir um tempo maior de contribuição e uma idade maior para a aposentadoria, ele sinaliza ao trabalhador que terá dificuldade para acessar essa aposentadoria e que, portanto, deve procurar uma previdência privada complementar. Essa reforma tem um conteúdo privatizante muito forte.
    O recado é: Quem não buscar os fundos de previdência complementar pode cair na pobreza.  A reforma também tem outro objetivo: achatar os gastos públicos. Ao fazer isso com a Previdência e com a Assistência Social, ela também vai liberar mais recursos para pagar juros. E os grandes proprietários de títulos públicos no Brasil são os mesmos dos fundos de previdência, que são os fundos dos bancos.
    CC: O governo anunciou a reforma como uma das soluções para a crise econômica, dentro do ajuste fiscal. Qual seria a melhor alternativa?DG: Se a reforma tivesse a ver com ajuste fiscal, o governo tentaria aumentar as receitas da Seguridade Social. Ao invés disso, busca comprimir os gastos. O governo poderia, por exemplo, abrir mão das renúncias fiscais em favor de empresas que não dão nada em contrapartida ou cobrar a dívida dos sonegadores da Previdência.
    "A União não cobra das empresas sonegadoras e ainda entrega a elas a possibilidade de pagarem menos tributos legalmente. Então, é próprio governo que provoca o déficit"
    Ou seja, a União não cobra das empresas sonegadoras e ainda entrega a elas a possibilidade de pagarem menos tributos legalmente. Então, é próprio governo que provoca o déficit. Não é o aumento dos gastos. O governo sabe que tem superávit. Tanto tem que ele faz desonerações tributárias, se dá o luxo de não cobrar sonegadores.
    CC: Então o déficit é uma falácia?
    DG: Sim. Em primeiro lugar, porque o déficit foi provocado pelo pagamento de juros, o maior gasto do orçamento do governo. Enquanto o déficit anunciado da Previdência pelo governo é de 149,7 bilhões de reais, o governo entrega ao setor privado algo em torno de 501 bilhões ao ano, ou seja, 8% do PIB. A conta não fecha, principalmente, pelo gasto com a dívida pública.
    O ajuste fiscal que pretende cortar os gastos da Previdência não vai resolver o problema das contas do governo porque, para isso, é preciso corrigir a política monetária. A verdadeira reforma teria que ser na política monetária e cambial do Brasil, porque é responsável pelo crescimento da dívida pública. A população precisa saber disso.
    CC: A reforma tramita no Congresso. A senhora acredita que pode haver grandes mudanças na proposta inicial ou não haverá muito debate?DG: O Congresso é muito conservador e favorável à reforma da Previdência, mas ele também é sensível aos apelos da população. Acredito, também, que os parlamentares têm uma boa dose de desconhecimento das suas consequências, porque uma reforma como essa não é favorável ao crescimento econômico. Isso impacta muito a sociedade, inclusive os empresários, porque ela vai reduzir drasticamente o consumo das famílias e isso tem impacto no crescimento do PIB.
    "O desemprego aumentou, o consumo das famílias caiu e a produção das empresas também. Então, não há porque ter essa expectativa de crescimento diante desse cenário"
    Se os congressistas tiverem o devido esclarecimento das consequências dessa reforma, do quanto eles perderão de voto... Os idosos são eleitores, os trabalhadores também. Será que o Congresso vai querer se indispor com a grande massa de eleitores? Precisa ter uma conta muito bem feita sobre o benefício e o custo de ser favorável a uma reforma da Previdência.
    CC: A análise do Tribunal de Contas da União sobre as contas apresentadas pelo governo poderá trazer resultados divergentes?DG: A sociedade espera do TCU clareza sobre isso, porque ele também é responsável por avaliar o quanto o governo desvia da Seguridade Social. Ele julga as contas do governo. Se o governo estiver praticando atos ilegais, tem de ser responsabilizado por isso dentro das leis. TCU tem que zelar pela verdade dos relatórios que são entregues pelo governo.
    CC: Alguns economistas têm dito que economia brasileira já dá sinais de melhora. A senhora concorda com essa análise?DG: O cenário não é de crescimento. O PIB deve fechar negativo em 4%, essa é a expectativa. O desemprego aumentou, o consumo das famílias caiu e a produção das empresas também. Então, não há porque ter essa expectativa de crescimento diante desse cenário. O governo diz que essas reformas sinalizam para o investidor e o setor produtivo que a economia vai crescer, mas não adianta anunciar ilusões. Ficções não funcionam. Na prática, tem que de haver mercado para as empresas investirem.

    A Verdade/Chapa União e Luta, da FUP, vence eleição do Sindipetro CE/PI


    Chapa União e Luta, da FUP, vence eleição do Sindipetro CE/PI

    chapa CEOcorreu, nos dias 18,19 e 20 de janeiro, a eleição para escolha da nova gestão do Sindicato dos Petroleiros do Ceará/Piauí. Duas chapas concorreram no pleito: União e Luta (Chapa 01), apoiada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e pelo Movimento Luta de Classes (MLC) e a Avançar nas Lutas (Chapa 02 ), apoiada pela CTB e pela Conlutas.
    A Chapa 01 foi formada por companheiros e companheiras que lideraram as mudanças no sindicato nos últimos três anos, promovendo diversas paralisações, greves e conquistando vitórias. A chapa também é formada por novos membros que reúnem as melhores condições para fortalecer a categoria dos petroleiros em todas as bases do sindicato.
    A Chapa União e Luta obteve 200 votos, enquanto a chapa 02, 186 votos, com apenas três votos nulos em todo o pleito. A nova diretoria assumirá a gestão do sindicato para o triênio 2017-2020.
    A nova diretoria eleita terá pela frente grandes embates e desafios, em especial pela privatização da Petrobras que está em curso a partir da política de desmonte do patrimônio público promovida pelo governo federal e das ações do Sr. Pedro Parente, presidente da empresa que, na verdade, representa os interesses das petrolíferas estrangeiras e dos capitalistas brasileiros.
    A vitória da Chapa 01 representa a disposição da categoria em lutar de todas as maneiras pela ampliação dos seus direitos e em defesa da Petrobras, tendo como referência a FUP  para assegurar a unidade da categoria em nível nacional.
    Redação Ceará
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